Diretor: José Padilha
Atores principais: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Abbie Cornish, Jackie Earle Haley, Samuel L. Jackson
Ótimas idéias, não tão bem executadas
A história você já conhece: Alex Murphy (Joel Kinnaman) é um
policial de Detroit que é seriamente ferido por bandidos, sendo as chances de
sua sobrevivência quase nulas. A solução? Ser inserido em um corpo mecânico
graças a um experimento da OmniCorp, uma gigantesca multinacional.
A premissa principal é a mesma, e a discussão “seria RoboCop máquina ou homem?”
é tão boa e tão competente quanto a do filme original, de 1987. Porém as
semelhanças entre a obra do brasileiro José Padilha e a do holandês Paul
Verhoeven param por aí: o novo RoboCop é bem diferente de seu antecessor.
O RoboCop de Padilha é maior: estamos falando de política
internacional. Se em 1987 a OmniCorp pensava em conquistar Detroit, aqui a empresa
tenta conquistar os Estados Unidos. Segundo a história, robôs militares da OmniCorp “pacificam”
outros povos ao redor do mundo, mas não conseguem vender seus robôs dentro dos
EUA, pois existe uma lei que impede que máquinas militares operem no país. São
bilhões de dólares que deixam de serem lucrados pela companhia. E é assim então
que surge a idéia de RoboCop: fazer um “homem dentro da máquina” é a maneira
que a OmniCorp vê para burlar a lei e colocar “máquinas” nas ruas.
A idéia é ótima, e muito bem explorada ao longo do filme. Porém
fora as ideias centrais, há muita coisa ruim neste novo RoboCop.
A começar pelo elenco: como presidente da OmniCorp, a
atuação de Michael Keaton é catastrófica. Canastrão ao extremo, parece estar o
tempo todo declamando o roteiro. Uma das piores atuações que já vi. E tudo ao
seu redor é ruim. As “reuniões maléficas para dominar o mundo” são constantes,
clichês, e quebram totalmente o ritmo do filme.
RoboCop também mudou. Se por um lado é genial ver ele
utilizando a invasiva tecnologia de câmeras e redes ao seu favor, por outro ele ganha status de “super-homem”, sendo extremamente superior aos seus inimigos,
mesmo mecânicos, o que é um grande exagero. Para piorar, a nova armadura preta não
convence sempre. Em alguns momentos ele parece um robô, mas em outros, parece ser
apenas um cara dentro de uma armadura.
As cenas de ação também são ruins: são sempre com visão de
primeira pessoa, parecendo um jogo de videogame. As cenas são muito rápidas e
escuras, você simplesmente não consegue perceber de verdade o que está acontecendo.
Você apenas ouve os tiros, vê os vilões no chão e imagina o que aconteceu...
Falta também a RoboCop um pouco de foco... o filme trata ao mesmo tempo de política internacional, corrupção na polícia, manipulação da mídia, questionamento da humanidade de RoboCop, grandes corporações, vingança, emprego da tecnologia ... ufa! Tantos assuntos diferentes abordados ao mesmo tempo acabam deixando o espectador (e até o próprio personagem) um pouco
confusos. Esta variedade é ao mesmo tempo um grande defeito e uma grande virtude.
Fechando a parte de personagens e atuações, Gary Oldman atua bem, mas seu personagem Dr. Norton é irregular e contraditório. Já a esposa de Alex (interpretada pela bela Abbie Cornish), ao contrário do filme original, aqui encontra seu espaço.
Fechando a parte de personagens e atuações, Gary Oldman atua bem, mas seu personagem Dr. Norton é irregular e contraditório. Já a esposa de Alex (interpretada pela bela Abbie Cornish), ao contrário do filme original, aqui encontra seu espaço.
Para fazer seu filme, Padilha trouxe mais compatriotas para
trabalhar com ele: Lula Carvalho (Fotografia), Daniel Rezende (Edição) e Pedro
Bromfman (Trilha sonora), cujas participações para mim foram respectivamente: boa,
razoável e ruim.
Em sua estreia em Hollwood o diretor José Padilha entrega no
final das contas uma obra com tantos altos e baixos que na média acaba se
tornando um filme mediano. Uma pena que novidades tão boas como as que ele
trouxe se percam em meio de tantos problemas de execução.
Me pergunto o quanto destes
problemas são culpa do brasileiro ou inferência dos produtores. Boatos da interferência dos mesmos foram muitos e certamente ocorreram. Por exemplo, eles fixaram a censura em PG-13 (maiores de treze anos), limitando nosso diretor. Mas digo isto: o final do filme surpreende ao trazer uma forte crítica, não só ao
governo dos EUA, mas ao Estados Unidos como um todo. Se os produtores deixaram
uma crítica desta passar, talvez nem tudo seja culpa deles. Nota: 6,0.