Diretor: Kleber Mendonça Filho
Atores principais: Maeve Jinkings, Irandhir Santos, W.J. Solha, Gustavo Jahn
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=wweuSi_krNs
Nota: 6,0
Angustiante e fiel retrato do Brasil atual, filme peca ao
não ir além disto
O Som ao Redor, filme brasileiro indicado ao Oscar deste
ano, é um filme bem diferente do que estamos acostumados. Ao começar pelo seu
nome, no filme não há trilha sonora. O que mais ouvimos são os ruídos das
ruas... seja um cão latindo, um CD tocado alto pelo vendedor, ou seja, os
irritantes barulhos urbanos que bem conhecemos. Ironicamente nem sempre o som foi
bem capturado pela equipe técnica: em algumas cenas não se consegue ouvir
direito o que os personagens falam.
Aqui a trama se passa em Recife, em um bairro de classe
média, onde a família de seu Francisco (W.J. Solha) é proprietária de boa parte
dos imóveis da região e portanto “manda” no local.
O filme nos convida a conhecer diversos personagens e
sub-tramas deste conjunto de ruas. Um local – que infelizmente predomina no
Brasil de hoje – feio, onde só se vê prédios e casas espremendo-se umas às
outras sem nenhuma harmonia, e onde a violência se faz presente, quando vivemos
trancados e com medo em casa, gastando dinheiro em aparelhos e serviços de segurança,
fazendo do lar uma prisão.
Dentre os diversos personagens apresentados, e diversas
tramas paralelas, duas se destacam. Na primeira, vemos Bia (Maeve Jinkings),
casada e mãe de dois filhos, infeliz e esmagada pelo mundo ao redor. Na outra,
temos Clodoaldo (Irandhir Santos) chegando ao bairro e oferecendo serviço de
vigilância particular nas ruas para os moradores em troca de uma mensalidade.
Sua chegada causa dois conflitos: primeiro, a discussão
entre os próprios moradores em relação a sua chegada... se ela seria algo bom
ou ruim. E segundo, Clodoaldo bate de frente com Francisco. Explico: o neto de
Francisco, Dinho (Yuri Holanda) é um dos principais furtadores da região... e o
poderoso Francisco faz uma ameaça bem clara a Fernando: “jamais mexa com
Dinho”. Nota-se portanto que mesmo nos dias de hoje ainda temos “os
coronéis latifundiários” mandando em tudo, estando acima da lei.
O Som ao Redor também expõe outros assuntos, como por
exemplo, a vida das empregadas domésticas, os conflitos com vizinhos ao se
viver em comunidade, e toda a tensão gerada pelo convívio entre todas estas
pessoas.
O filme nos apresenta todos estes assuntos passando com
muita eficiência seu sentimento ao espectador. Claustrofóbico, angustiante, ao
ser filmado com muitos closes e muitos ambientes fechados, O Som ao Redor passa
com maestria o sentimento de opressão a quem o assiste.
Apesar desta perfeita descrição do Brasil, da classe média e
de suas angústias, O Som ao Redor peca por não ir além disto. Suas tramas não
possuem desfecho... apenas nos são apresentadas. Mais ainda, diversas cenas
desnecessárias são jogadas a esmo ao longo da projeção, tornando cansativo um
filme que poderia ser mais curto.
Apresentando com maestria seus personagens e ambiente, mas
pouco os desenvolvendo, O Som ao Redor acaba sendo um filme regular, que
poderia ser mais dinâmico e ousado. Nota: 6,0.