Iñárritu e seu Birdman são os grandes vencedores
E mais um Oscar se encerra. Após extensas 3h40min de transmissão, a 87ª edição da glamourosa premiação da Academia teve Birdman como grande vencedor da noite, abocanhando os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia.
Se nos dois anos anteriores a Academia optou por escolher seu melhor filme considerando motivos políticos (12 Anos de Escravidão em 2014 e Argo em 2013), desta vez ela repete 2012 (O Artista) ao premiar quem homenageou a própria indústria do Cinema.
Empatados no número de indicações (nove), O Grande Hotel Budapeste e Birdman também mantiveram o empate no número de Oscars obtidos: quatro cada um. Entretanto, o filme de Wes Anderson só levou os chamados prêmios técnicos, menos badalados.
Das minhas previsões para as 8 principais categorias, acertei 6. Não acertei tudo principalmente porque minha teoria de que a Academia iria "dividir" os prêmios entre Alejandro Iñárritu, Wes Anderson e Richard Linklater não se concretizou. Enquanto Iñárritu ficou com 3 Oscars só para ele, Anderson e Linklater saíram de mãos abanando.
Fechando este bloco de comentários "gerais", ainda destaco os Oscars vencidos por Whiplash - foram três, mais do que eu esperava - e com isto o filme de Damien Chazelle foi o terceiro maior vencedor desta edição. Nenhum outro filme levou mais de um Oscar para casa além do três citados anteriormente.
As pequenas surpresas
A cerimônia não teve grandes surpresas nem grandes injustiças. Aliás, as grandes injustiças aconteceram ANTES da cerimônia, como por exemplo as esnobadas aos filmes Selma, Garota Exemplar, O Abutre, etc.
Uma das principais surpresas foi que o fraquíssimo (mas grande favorito) Como Treinar Seu Dragão 2 não venceu (para minha felicidade). Quem levou foi Operação Big Hero, que se não é nenhuma maravilha, é ao menos bem divertido e bem melhor que a desprezível continuação caça-níqueis dos dragões da DreamWorks, Ah: eu não assisti, mas os críticos citam O Conto da Princesa Kaguya como aquele que era disparado o melhor dos cinco finalistas.
E como comentei anteriormente, Whiplash levou mais prêmios do que eu esperava; em contrapartida, eu esperava que os bastante estadunidenses Foxcatcher e Sniper Americano tivessem melhor sorte.
Sobre a transmissão e outras considerações
Acompanhei a cerimônia através do canal TNT e gostei do que vi. Domingas Person e Rubens Ewald Filho fizeram uma apresentação discreta mas ao mesmo tempo interessante. Sobre o casal de tradutores, como é tradição a tradutora mandou muito bem; e também mantendo a tradição, o tradutor foi mal; mesmo assim, melhor que no ano anterior. Voltarei a falar sobre o famoso crítico acima ainda neste post.
Estreante no Oscar como apresentador, Neil Patrick Harris decepcionou, mas não foi uma tragédia. Gostei de sua participação inicial (um número musical razoável porém com excepcionais efeitos especiais) e seu número de "mágica" final, onde ele mostrou ao público suas previsões sobre os vencedores. E só. A maioria de suas piadas foram sem graça e elas não conquistaram nem o público local. Uma das poucas piadas engraçadas foi: "Benedict Cumberbatch é como o John Travolta pronuncia Ben Affleck". Em defesa de Neil, pelo menos ele enrolou bem menos que sua antecessora, Ellen DeGeneres.
Pelo roteiro "oficial" a cerimônia foi a burocracia de sempre, sem trazer emoções. Restou aos convidados mudar isto. Após a apresentação musical da canção de Selma, centenas de pessoas choraram, comovidas. Outro indício que Selma merecia mais indicações. Também houve espaço para protestos. Em seu discurso de agradecimento pelo Oscar de Atriz Coadjuvante, Patricia Arquette clamou pela igualdade salarial entre homens e mulheres, no que foi aplaudida de pé por Meryl Streep. Já o rapper Common em seu discurso de agradecimento pelo Oscar de Melhor Canção (Glory, de Selma), protestou dizendo que o racismo continua hoje forte como nunca: "existem hoje mais homens negros presos do que escravos na época da escravidão".
E por falar em Meryl Streep, ela foi a responsável por uma das cenas que mais me desagradou. Ao ir no microfone anunciar os artistas falecidos de 2014, ao invés da atriz simplesmente ler seu texto, ela "atuou" no discurso, fazendo caras e bocas emocionadas. Não me comoveu. Achei uma atitude egoísta e inadequada.
E por falar em Meryl Streep, ela foi a responsável por uma das cenas que mais me desagradou. Ao ir no microfone anunciar os artistas falecidos de 2014, ao invés da atriz simplesmente ler seu texto, ela "atuou" no discurso, fazendo caras e bocas emocionadas. Não me comoveu. Achei uma atitude egoísta e inadequada.
O Oscar de Melhor Ator
O jovem britânico Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo) foi merecidamente o vencedor do Oscar de Melhor Ator, derrotando seu principal concorrente Michael Keaton (Birdman). Para mim a performance de Eddie foi irretocável, enquanto a de Keaton, irregular. Mesmo sendo justa a escolha, fiquei com um pouco de dó de Keaton... afinal, a equipe de Birdman levou todos os principais prêmios... menos ele. Isto sem contar que com seus 63 anos, há boas chances de que esta indicação tenha sido sua primeira e última.
Uma coisa é ter pena do americano, e ser imparcial na medida do possível. Outra coisa, é a reação que teve Rubens Ewald Filho no episódio. O famoso crítico nacional sempre tenta ser politicamente correto no Oscar, elogiando a todos. Porém, de maneira cômica, seu controle sempre falha uma vez por transmissão, e seu "alvo" da vez foi Eddie Redmayne, que "teve a coragem" de roubar o prêmio de seu queridinho Michael Keaton. Ele acusou Redmayne de ser "uma figura estranha" (como se isto interferisse na qualidade de sua atuação). Mais ainda, considerou a atuação do britânico como "fraca, ruim", e em que momento nenhum o fez lembrar de Stephen Hawking. Mais ainda: ele emendou dizendo que em O Destino de Júpiter o ator tem uma das piores atuações da história do Cinema.
Com todo respeito ao sr. Ewald, ao qual o fato de uma atuação ser boa ou ruim ser algo consideravelmente subjetiva, acusar Redmayne de não se parecer com Stephen Hawking beira a loucura. Ah: isto não é uma crítica ao comportamento de Rubens Ewald Filho. Crítico competente, simpático, e uma verdadeira enciclopédia do Cinema, estes "chiliques" já fazem parte de sua persona pública e certamente são um tempero a mais nas transmissões do Oscar.
Uma coisa é ter pena do americano, e ser imparcial na medida do possível. Outra coisa, é a reação que teve Rubens Ewald Filho no episódio. O famoso crítico nacional sempre tenta ser politicamente correto no Oscar, elogiando a todos. Porém, de maneira cômica, seu controle sempre falha uma vez por transmissão, e seu "alvo" da vez foi Eddie Redmayne, que "teve a coragem" de roubar o prêmio de seu queridinho Michael Keaton. Ele acusou Redmayne de ser "uma figura estranha" (como se isto interferisse na qualidade de sua atuação). Mais ainda, considerou a atuação do britânico como "fraca, ruim", e em que momento nenhum o fez lembrar de Stephen Hawking. Mais ainda: ele emendou dizendo que em O Destino de Júpiter o ator tem uma das piores atuações da história do Cinema.
Com todo respeito ao sr. Ewald, ao qual o fato de uma atuação ser boa ou ruim ser algo consideravelmente subjetiva, acusar Redmayne de não se parecer com Stephen Hawking beira a loucura. Ah: isto não é uma crítica ao comportamento de Rubens Ewald Filho. Crítico competente, simpático, e uma verdadeira enciclopédia do Cinema, estes "chiliques" já fazem parte de sua persona pública e certamente são um tempero a mais nas transmissões do Oscar.
Como a votação do Oscar funciona?
Em meu post anterior sobre o Oscar, eu relatei que mesmo sendo o favorito, Birdman tinha grandes chances de não levar o prêmio maior. Agora, como prometido, vou explicar o porquê. É que eu entendia que Birdman tinha uma parcela considerável de rejeição, o que não é nada bom para quem quer levar o Oscar de Melhor Filme. Vamos entender então como a votação funciona, e porque Birdman poderia ter perdido?
Em linhas gerais, o processo funciona assim. Na "primeira fase", todos os votantes votam apenas nas categorias que lhe dizem respeito. Por exemplo: a pessoa é um diretor, então ela só vota no Oscar de Direção. Outro exemplo: a pessoa é uma ator, então só vota nas categorias de atuação. E assim sucessivamente.
Em linhas gerais, o processo funciona assim. Na "primeira fase", todos os votantes votam apenas nas categorias que lhe dizem respeito. Por exemplo: a pessoa é um diretor, então ela só vota no Oscar de Direção. Outro exemplo: a pessoa é uma ator, então só vota nas categorias de atuação. E assim sucessivamente.
Há algumas exceções para a regra acima. Melhor Filme Estrangeiro, Documentário, Curtas-Metragens e Animação possuem algumas regras mais específicas. Porém, o mais importante dentre as exceções: para a categoria de Melhor Filme, TODOS votam.
Finalizada a primeira fase, então são revelados todos os finalistas (ou melhor - os "indicados") de todas as categorias e uma nova etapa de votação é aberta. Em geral, os votantes tem entre 2 a 3 semanas para registrar seus votos. Agora, TODOS podem votar em TODAS as categorias.
Finalmente, o processo da votação para o Oscar de Melhor Filme é diferente. Para ele, todos os votantes listam todos os filmes indicados em sua ordem de preferência. Exemplo: neste Oscar de 2015 eram 8 candidatos. Então, cada membro da Academia escreve a sua lista dizendo quem é seu preferido, quem é seu segundo lugar, e assim sucessivamente até escrever seu oitavo e último preferido.
E então inicia a apuração. Ela usa um sistema "estranho", o qual reproduzo abaixo copiado de um texto de 2011 de Marco Tomazzoni, o qual o original pode ser visto aqui.
O que podemos concluir do processo acima? Que o sistema é feito para impedir que um filme "divisor de opiniões" ganhe. Por exemplo, se um filme polêmico é o "número 1" de muita gente, mas ao mesmo tempo ele é "o último" na opinião de muitos, é quase impossível que um filme deste ganhe.
E digo mais, na prática, quanto mais concorrida for a disputa, maiores são as chances de que o vencedor final não seja quem teve mais votos como "primeira opção", e sim, quem teve mais votos como "segunda opção". Vejam que no exemplo acima o filme "A", que tinha recebido mais votos como "primeira opção" não foi quem levou. E isto acontece com certa frequência. Porém, claro, se a concorrência não é tão grande, e o "número 1" mais votado tenha uma parcela bem expressiva do total de votos, é ele quem leva.
Conclusões
Sem grandes surpresas e injustiças, o Oscar 2015 mostrou-se bastante burocrático e longo. Muito longo. Passou da hora dele se reinventar.
E vocês? O que acharam da cerimônia? Gostaram? Sim, não, por que? Escrevam nos comentários e até o Oscar 2016!