Aproveitei o Carnaval para maratonar dois ótimos lançamentos da Netflix. Ambos são seriados bem curtos, com episódios de cerca de 30 minutos, com Boneca Russa contando com 8 episódios e After Life contando com 6.
Recomendo ambos para serem assistidos e abaixo segue uma breve descrição e opinião sobre cada um deles.
Boneca Russa (2019)
Boneca Russa não possui lá um enredo muito original: a história começa com Nadia (Natasha Lyonne) se arrumando no banheiro de uma casa onde ela está celebrando seu 36º aniversário. Algumas horas depois ela morre atropelada e... volta ao passado, para o banheiro onde tudo começou.
Se trata portanto de mais uma história de loop temporal, da mesma forma como temos o clássico Feitiço do Tempo (1993), ou os mais recentes - e também muito bons - No Limite do Amanhã (2014) e A Morte te dá Parabéns (2017).
No mínimo tão bom quanto os títulos que citei anteriormente, o principal diferencial de Boneca Russa é sua personagem principal, Nadia. Dá para descrevê-la como sendo uma "jovem Dercy Gonçalves", dados sua voz rouca, a enorme quantidade de palavrões, e ao seu jeito "doido" em geral. Além disso, Nadia é uma programadora de computadores, entende bem de física, e portanto ao invés de "surtar" com as repetições temporal, fica testando teorias para reverter o processo.
Outro aspecto do roteiro que gostei bastante são as pequenas participações dos personagens secundários... dependendo da repetição eles fazem coisas boas ou ruins; e a vida é isso mesmo: ninguém é o totalmente mau ou totalmente bom.
Para quem curte histórias bem humoradas de loop temporal, Boneca Russa é imperdível!
After Life (2019)
O público brasileiro em geral não conhece Ricky Gervais, comediante inglês de 57 anos, que teve seu primeiro grande sucesso como criador e protagonista do seriado The Office (2001) britânico (que posteriormente foi copiado pelo The Office estadunidense de Steve Carell que conhecemos).
Gervais também faz stand-ups e já participou de alguns filmes hollywoodianos, como por exemplo, O Primeiro Mentiroso (2009), que também conta com nomes como Jennifer Garner, Jonah Hill, Rob Lowe e Tina Fey.
Ricky Gervais é ateu, vegetariano, e seu humor é bastante sarcástico, politicamente incorreto e pessimista. Bastante crítico à sociedade, ele é inteligente e um excelente comediante.
Feitas todas as apresentações, After Life é uma série bem mais dramática e melancólica do que se poderia imaginar, mesmo vindo de Gervais. Na história, Tony (Ricky Gervais) é um jornalista que perde sua esposa para o câncer, e com isto, perde também seu sentido de viver. Após fracassar em se suicidar, ele resolve "fazer e falar o que bem entender" até chegar sua morte, já que não vê mais sentido nessa vida.
Reforçando, After Life é mais drama e crítica social do que comédia, embora a série conte com vários momentos onde o humor de Ricky Gervais aparece. E tirando algumas (poucas) cenas que considero de mau gosto, a história é bastante emocionante e otimista.
Não é só Tony que está mal. Ao seu lado estão pessoas igualmente perdidas e "quebradas", e o roteiro de After Life une estas pessoas de maneira bela e surpreendente. É como se Ricky Gervais quisesse compensar décadas de críticas e pessimismo em relação a humanidade: apesar de tanta coisa ruim, ainda temos muita coisa boa dentro de nós.
After Life é diferente, não é para qualquer público, mas ainda assim excelente. Uma das mais gratas surpresas que tive em produções originais Netflix.