Já disse aqui em posts passados que
The Boys, série exclusiva do Amazon Prime, é um dos melhores seriados da atualidade, e merecidamente vem ganhando cada vez mais público.
Ainda que a segunda temporada tenha sido pior que a primeira, The Boys continua bem acima da média das produções de séries atuais. Após assistir todos os episódios no Prime, li os sete primeiros encadernados de história dos quadrinhos que originaram a série (ou seja, as revistas do número 01 a 47 mais a minissérie Herogasm). E agora trago aqui minhas impressões gerais sobre as HQs e as suas principais diferenças em relação à Serie de TV.
The Boys: os quadrinhos
Começo já falando sobre o elefante na sala: os quadrinhos de The Boys são bem inferiores em qualidade comparando com a série de TV. A trama apresentada pelas duas mídias é bastante diferente e vocês já saberão porquê.
Os quadrinhos não são ruins, mas ao mesmo tempo estão longe de ser uma grande obra. As HQs são piores, primeiramente, por ter muito (mesmo) mais apelo sexual, violência, machismo e um bocado de homofobia. É um título que escorre testosterona pelas páginas. Billy Bruto (ou melhor, Billy Butcher) é o "machão dos sonhos": "comedor", violento, sempre está certo, sempre se dá bem.
Quando a revista foi criada por Garth Ennis e Darick Robertson em 2006, o mundo era outro: mais preconceituoso e menos politicamente correto. Seria inimaginável alguém se arriscar a transcrever este espirito para a TV dos dias atuais. Além disso, o tom do humor escolhido para a TV é bem mais leve, baseado em piadas, no bizarro e no inesperado; já nas HQs o humor é menos frequente, e quando ocorre, geralmente é mais "pesado" e até escatológico.
Uma característica das HQs - pouco presente na TV até agora - é trazer referencias históricas do mundo real à trama. Por exemplo, nos quadrinhos a empresa vilã Vought-American é na verdade a uma evolução da empresa Vought do mundo real, uma empresa de aeronaves que surgiu em 1917 e produziu vários modelos militares para o exército dos EUA; seus aviões foram bastante usados na 2ª Guerra Mundial e na Guerra do Vietnã. Comprada nos anos 90 pelo grupo empresarial Carlyle, hoje a Vought apenas produz componentes para aviões, tanto militares quanto comerciais.
Sabem aquele desastre de avião que aparece na série de TV e que Os Sete deixam cair de propósito para encobrir os erros que eles cometeram na tentativa de resgate? Pois bem, nos quadrinhos esse avião não é uma nave qualquer. É um dos aviões que foi usado nos atentados de 11 de Setembro, mais especificamente aquele que na vida real bateu no 2º prédio das Torres Gêmeas, mas que nos quadrinhos devido as atrapalhadas dos heróis derrubou a Ponte do Brooklyn.
As principais diferenças entre a Série de TV e os Quadrinhos
Uma enorme diferença, já de cara, é que desde o início dos quadrinhos os The Boys agem sob ordens e proteção da CIA; além disto, eles usam o Composto-V neles mesmos para enfrentar os supers de igual para igual. Este cenário traz uma explicação bem mais convincente do porquê o Capitão Pátria (Homelander) simplesmente não mata Billy Butcher: ele é um funcionário da CIA, conhece vários segredos sujos d'Os Sete, e se fosse morto seria um grande problema político tanto para ele quanto para a Vought.
Nos quadrinhos a Vought-American já está consolidada dentro do poder político dos EUA, sendo parceira do alto escalão governamental. Portanto os The Boys são como a nossa Polícia Federal, precisam agir discretamente, dentro da lei, e contra o sistema vigente.
A maioria dos fãs da série de TV que conhecem os quadrinhos acreditavam que na 2ª temporada o time iria oficialmente para a CIA, mas isto não aconteceu. Será que vai enfim acontecer na 3ª temporada? Eu diria que eles passarem a trabalhar para a CIA é muito provável... mas usarem o Composto-V iria exigir bem mais explicações e desculpas, pois na mitologia que criaram na série um adulto não pode usar a droga sem correr sérios riscos de morte.
O fato dos The Boys serem muito mais uma "polícia" do que um grupo de "justiceiros" independentes refletem em consideráveis diferenças entre as aventuras apresentadas nos Quadrinhos e na TV. Nas HQs os "Garotos" são menos preocupados com o "global", muitos de seus arcos de história são acontecimentos "locais"... ou seja, eles não estão contra os supers para salvar o mundo, estão mais preocupados com a tarefa do dia, realizando missão por missão, devagar e sempre, para um dia ter alguma oportunidade de chegar nos alvos principais: Os Sete. Não se trata de salvar o mundo, e sim, de "comer pelas beiradas" para um dia realizar uma vingança pessoal contra Os Sete e a Vought.
E finalmente, outra grande diferença é que nas HQs a esposa de Billy está de fato morta desde o início da série. Ela foi estuprada pelo Homelander e morta durante o parto pelo próprio bebê, que por sua vez é morto por Billy em um misto de espanto, desespero e raiva.
Já analisando as diferenças sobre como são os personagens nos quadrinhos e nas HQs, aí as duas obras são mais semelhantes, ainda que possuam algumas diferenças, claro:
A maneira com que Hughie Campbell perde a namorada e entra pros The Boys é igual... porém ele é menos "medroso" que na TV. Já a história da Luz-Estrela (Starlight) também é bem parecida nos quadrinhos e TV, inclusive a parte dela ser inocente e se envolver romanticamente com Hughie. Porém nas HQs ela não é abusada/chantageada sexualmente pelo Profundo (Deep), mas sim pelo trio Capitão Pátria (Homelander), Trem-Bala (A-Train) e Black Noir.
Ainda sobre Hughie e Luz-Estrela, uma diferença considerável para a TV é que nas revistas eles passam bastante tempo juntos sem um saber das atividades do outro... Hughie chega a surtar quando descobre que Annie é super-heroína, e isso não antes de Billy Butcher tentar matá-lo quando descobre o relacionamento da dupla, e acha que o rapaz é um infiltrado da Vought.
As divergências sobre a composição d'Os Sete também são consideráveis: nas HQs o Trem-Bala tem pele branca, o Black Noir tem basicamente os mesmos poderes do Capitão Pátria, e o Profundo é o personagem de pele negra, mas usa um escafandro, que cobre completamente seu rosto.
Mais ainda, o Translúcido simplesmente não existe nas HQs, em seu lugar aparece o "Jack from Jupiter", paródia do Caçador de Marte da DC Comics. E Hughie de fato mata um super já no começo de sua jornada, porém não se trata de ninguém d'Os Sete, e sim de um integrante do grupo "The Teenage Kix", que é um dos 4 outros grupos "B" de super-heróis patrocinados pela Vought dos quadrinhos.
Finalizando a lista de principais diferenças entre HQ e TV, lembram que eu disse que os quadrinhos são mais machistas? Pois é, lá a série é um mundo de homens e a quantidade de personagens masculinos é bem maior. Por exemplo o principal agente da Vought das HQs é James Stillwell (e não a Madelyn Stillwell da TV, interpretada por Elisabeth Shue).
Uma das diferenças mais gritantes é em relação a Stormfront, que ao contrário da "Tempesta" da TV, nos quadrinhos também é um personagem masculino. Nas HQs ele é um alemão que lutou na 2ª Guerra e é abertamente nazista; porém ele é praticamente desconhecido do grande público. Curiosamente, se suas características mudaram bastante, sua "saga" dentro da série não: tanto na TV quanto nos Quadrinhos ele/ela quase mata A Fêmea em seu primeiro encontro, e posteriormente leva uma surra do grupo, com direito a icônica cena de estar caído/caída ao chão e sendo chutado violentamente pelos "mocinhos".
E por falar nA Fêmea, é sobre ela a última diferença que trago aqui. Nas HQs sua origem é abertamente uma homenagem aos quadrinhos de Asterix: sua mãe era funcionária da Vought e a levava escondida no trabalho quando criança, até que um dia, assim como Obelix caiu num "barril de Poção Mágica", A Fêmea caiu em um "barril de resíduos do Composto-V".
E você, já conhece The Boys? O da TV, o dos quadrinhos, ou ambos? Sabiam de todas estas diferenças? Escreva nos comentários!