domingo, 26 de maio de 2024

Crítica - Furiosa: Uma Saga Mad Max (2024)

TítuloFuriosa: Uma Saga Mad Max ("Furiosa: A Mad Max Saga", Austrália, 2024)
Diretor: George Miller
Atores principaisAnya Taylor-Joy, Chris Hemsworth, Tom Burke, Alyla Browne, George Shevtsov, Lachy Hulme, Nathan Jones, Josh Helman, David Collins, Angus Sampson
Nota: 8,0

"Igual" mas ao mesmo tempo diferente de Mad Max 4, George Miller acerta de novo

Nove anos depois da estréia de um dos filmes de maior nota aqui em meu blog, Mad Max: Estrada da Fúria (2015), o diretor George Miller retorna com uma prequela do mesmo, Furiosa: Uma Saga Mad Max. Não tivemos a mesma atriz de Furiosa e o ator de Immortan Joe de volta para este filme, porém alguns outros atores retornaram.

Na história, vemos Furiosa ainda criança (Alyla Browne) morando em um local ainda verde e não estragado pela devastação que o planeta se encontra. Porém, quando seu mundo é invadido por alguns motoqueiros da gangue do Dr. Dementus (Chris Hemsworth), ela é capturada e passa a viver com o bando. Mas Dementus quer continuar expandir seus domínios e poder, e posteriormente, seu caminho se encontra com o de Immortan Joe (Lachy Hulme), um líder ainda mais poderoso com ele. Os conflitos entre ambos afetarão diretamente a vida de Furiosa, que acabará presa na Cidadela de Immortan. Depois de algum tempo, e agora adulta, Furiosa (Anya Taylor-Joy) aproveitará tudo o que aprendeu para enfim se vingar de Dementus.

Se nove anos atrás Miller surpreendeu entregando um espetáculo único, agora ele surpreende um pouco ao não nos decepcionar e entregar um filme praticamente tão bom quanto. Fotografia, coreografias, tudo continua extraordinário, e este Furiosa: A Mad Max Saga certamente é outro épico de ação que entra para a história. Porém, ainda assim, comparando com o filme anterior, ele é mais... comportado.

Em Mad Max: Estrada da Fúria temos praticamente duas horas de ação sob quatro rodas e uma trilha sonora muito barulhenta. E em Furiosa: A Mad Max Saga também temos tudo isso, mas não ocupando o filme todo. Claro, novamente temos várias cenas de ação sob rodas de tirar o fôlego, mas agora temos mais história, mais diálogos, mais localidades. E isto aliás é bem surpreendente para mim, que imaginava que não iria ver história nenhuma, já que se fez propaganda que a Furiosa fala apenas 30 vezes no filme todo. Pois é, ela não fala tanto, mas há vários personagens, e vários diálogos.

Em outras palavras agora há mais roteiro, e um pouco menos de ação e barulho. Há momentos em que até não há trilha sonora... uma direção completamente oposta ao filme anterior. E ainda sobre o roteiro, apesar de algumas falhas e clichês, em mais de uma vez ele não seguiu o caminho que eu esperava, me surpreendendo. Outro ponto positivo.

Anya Taylor-Joy ficou muito bem como Furiosa, o que mais uma vez comprova o quão boa e versátil atriz ela é. E outro que vai muito bem é Chris Hemsworth, que com uma prótese no nariz e um sotaque estranho em nenhum momento nos lembra o Thor, mostrando que também é bom ator. Inclusive, recomendo assistirem o filme no idioma original, para ouvirem o sotaque diferente dele.

Se em Mad Max 4 o filme nos mostra como é o mundo apocalíptico dentro da Cidadela, este Furiosa nos mostra como é o mundo fora dela, um filme completando o outro. E se na história anterior tivemos um pouco de crítica social, aqui isto é esquecido, mas pelo menos o personagem de Furiosa é desenvolvido, como se esperaria de um filme leva seu nome.

Para quem ficou encantado anos atrás com Mad Max: Estrada da Fúria, é um deleite constatar que podemos ter agora uma experiência similar. Ainda que Furiosa: A Mad Max Saga seja um pouco inferior ao filme anterior, é um privilégio ter a oportunidade de ver novamente um mundo de Mad Max de George Miller nos cinemas. Nota: 8,0.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Conheça Hitman - a HQ precursora de The Boys - que agora está completa no Brasil e é a verdadeira obra prima de Garth Ennis


O grande criador e roteirista de quadrinhos norte-irlandês Garth Ennis é mundialmente conhecido pelos seus trabalhos com Preacher, suas marcantes passagens pelas revistas do Justiceiro (The Punisher) e Hellblazer, e mais recentemente com The Boys, que virou uma famosa série de TV.

Mas se a grande maioria das pessoas considera Preacher (que é realmente muito boa) como sua criação máxima, eu discordo. Para mim a melhor HQ de Ennis é Hitman, cujo personagem apareceu pela primeira vez num quadrinho da DC Comics em 1993, e ganhou sua revista própria mensal em Abril de 1996. Assim como The BoysHitman mistura muito humor com violência, mas que como veremos a seguir, também traz várias outras qualidades (além de ter surgido muitos anos antes de The Boys e ser muito superior a ele).

Na história de Hitman acompanhamos a vida de Tommy Monaghan, um ex-fuzileiro que mora no "Caldeirão", um bairro irlandês de Gotham City (sim, a mesma cidade do Batman). Porém um dia ele foi mordido por um parasita alienígena, e ao invés de morrer, acabou ganhando dois poderes: telepatia e visão de raios-x (sendo que este último deu o efeito colateral de deixar seus olhos completamente pretos). A partir de então Tommy, que já atuava como mercenário (por isso o nome de Hitman, que significa assassino de aluguel), passou a ser ainda melhor em sua profissão, inclusive se arriscando a matar super vilões. Ah sim: apesar de matar pessoas, Monaghan tem um curioso código de honra, e portanto ele só mata "gente ruim", ou seja, criminosos e vilões.

Na página 4 de sua primeira edição, enquanto ainda está se apresentando, Hitman mata uma equipe inteira de super-vilões, a "Shadow-Force". Quer algo mais pré-The Boys que isso?

Já no primeiro arco de histórias de sua revista mensal, Tommy é contratado para matar o Coringa, e lá vai o Batman para intervir e tentar salvar o Palhaço do Crime. Os dois heróis se estranham, claro, e na verdade o Coringa nem estava presente na jogada, tudo foi uma armação dos Arkannone, os "Lordes Infernais das Armas", que querem recrutar Tommy para seu exército o quanto antes, dado seu potencial assassino... especialmente manuseando pistolas e metralhadoras.

Enfrentar os Arkannone ou outros demônios é um tema recorrente em Hitman, porém temos outros assuntos recorrentes, como Tommy enfrentando mafiosos, histórias de guerra, histórias de assassinos profissionais; mas um tema especialmente frequente é... "bastidores". Em primeiro lugar, as histórias de Hitman mostram bastidores de Gotham City, em um segundo nível, do universo da DC Comics, e em terceiro nível, os bastidores do mundo dos quadrinhos em geral. E é por isso que este título é especialmente interessante não só para quem gosta de uma boa história de super-herói que une bastante humor, aventura e violência, mas também quem é fã do Batman e do universo das HQs. Por isso também vemos Tommy também em aventuras com personagens como Mulher-Gato, Superman, Lanterna Verde, Lobo e Etrigan, dentre outros.

E assim acompanhamos Hitman por 61 edições (e mais vários especiais), que também contam com temas bastante presentes nas melhores obras de Garth Ennis, como por exemplo, a cultura irlandesa, romance (de Tommy com a policial Deborah), amizade (com seu grande amigo Natt "Boné"), e humor nonsense. E por falar em nonsense, nada representa mais isso que os personagens Baytor e o grupo de heróis Seção 8.

Os integrantes da "temível" Seção 8 (para os vilões, claro!)

A Seção 8 é nada menos que um grupo de oito malucos, amigos de bar, que saem para lutar contra o crime. E obviamente, são os principais personagens cômicos da série. Eles não tem super poderes, mas cada um possui sua habilidade bizarra especial. Citarei três deles como exemplo: Sixpack (o gorduchinho do centro da foto acima) tem o "poder" de estar sempre bêbado, aguentar beber muito e ser bastante corajoso; o Defenestrador é um brutamontes especialista em arremessar os inimigos pela janela (daí seu nome), e o curioso é que ele sempre carrega uma "janela portátil" consigo para sempre poder dar seu golpe preferido; já o Maçaricão tem o "poder" de soldar cachorros mortos nos inimigos (sim, é essa bizarrice que você leu). Para saber detalhes dos oito personagens, você pode também clicar aqui e ver esta outra matéria).

Já Baytor é... bem, ele é o "Lorde Infernal da Insanidade", e em uma das aventuras de Monaghan, ele e alguns amigos descem ao Inferno e acabam encontrando Baytor, que por sua vez acaba seguindo o grupo de volta para a superfície da Terra quando a história acaba. Acontece que Baytor é tão insano, que nem é bom ou mau (mesmo sendo um Lorde do Inferno). Ele é um ser antropomórfico que sequer tem olhos ou nariz, e apenas fala (ou melhor, grita) o tempo todo: "Eu sou Baytor!!". E sem saber o que fazer com Baytor no nosso mundo, os amigos de Tommy acabam colocando ele para ser atendente de bar, como se vê abaixo.

Sou bem melhor que o Groot... Eu sou BAYTOR!

Mas apesar de ser divertidíssimo e da alta qualidade, Hitman também tem uns problemas... sendo escrito na década de 90, hoje ele está um pouco datado. Duplamente datado, eu diria: na obra você verá algumas críticas a cultura pop da época - especialmente a indústria das HQs - que eram específicas daquele momento temporal. O mesmo pode se dizer de algumas piadas, politicamente incorretas, que hoje já entendemos como de mal gosto.

Finalizando as apresentações, durante sua publicação, de certa forma Hitman venceu dois Eisner Awards (o "Oscar" dos quadrinhos). Pois em 1998 Garth Ennis venceu o prêmio de melhor escritor do ano pela soma de seus trabalhos (nos quais estavam sendo publicados Hitman e Preacher), e em 1999 a edição 34 de Hitman venceu o prêmio de "Melhor História em uma Edição". Nesta revista, vemos Tommy consolando o Superman após este não conseguir salvar um astronauta da morte (particularmente nem acho a história muito boa, é um bocado patriótica... enfim...).

E o melhor de tudo para quem quiser ler esta maravilha é que desde meados de 2023 a Panini lançou por aqui o 4º e último encadernado que cobre praticamente tudo o que foi publicado sobre o Hitman até hoje. São edições de luxo, capa dura, cerca de 400 páginas cada, e a coleção completa não só trazem todas as 61 edições mensais (pela primeira vez no Brasil!) como outras edições especiais, as quais incluem uma com sua origem, uma edição homenagem aos filmes faroeste de Sergio Leone, e encontros extras com Batman, Superman, Liga da Justiça e Lobo (esta história é imperdível para os fãs do Czarniano).

A foto do início deste artigo mostra a capa das duas primeiras edições encadernadas de luxo, e a foto abaixo mostra a capa das duas últimas edições, fechando a coleção. Os 4 volumes continuam sendo facilmente encontrados para compra em lojas virtuais. Fica a recomendação. ;)

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Conheça Megalópolis, o novo filme de Francis Coppola, que ele planejou por mais de 40 anos!!!


Para os cinéfilos de plantão, hoje, 16 de Maio, foi um dia especial. Afinal tivemos dentro do Festival de Cannes a primeira exibição pública do filme Megalópolis, escrito e dirigido pelo aclamado cineasta Francis Ford Coppola, a mesma mente por trás da trilogia de filmes de O Poderoso Chefão, e de Apocalypse Now.

É que este Megalópolis está longe de ser um filme qualquer. Em teoria, Coppola começou a planejá-lo no começo dos anos 80, logo após ter terminado Apocalypse Now, de 1979. E já no seu nascimento os problemas para realizá-lo começaram... como Apocalypse Now foi simplesmente um desastre em termos de estouro de orçamento e infinitos problemas de produção, os estúdios perderam a confiança no diretor estadunidense, e então eles não iriam se arriscar em bancar outro projeto megalomaníaco do mesmo.

Megalópolis se trata de uma ficção científica, onde em um futuro onde Nova York foi destruída, seu atual prefeito e um inovador arquiteto batalham por prestígio e por recuperá-la. Mais ainda, a história é ao mesmo tempo uma fábula baseada na Roma Antiga, então, boa parte dela (inclusive referências visuais e culturais) vêm desta época.

Segundo o cineasta, o mais perto que o projeto ficou de ser realizado foi em 2001, onde a pré-produção foi oficialmente iniciada e atores como Paul Newman, Uma Thurman, Robert De Niro, Nicolas Cage, Leonardo DiCaprio, Russell Crowe, e Kevin Spacey chegaram a fazer alguns ensaios. Porém o ataque às torres do World Trade Center em setembro de 2001 cancelaram tudo. Não só pelo impacto logístico e financeiro, mas também, porque seria muito inadequado filmar algo sobre a destruição de Nova York depois daquela tragédia.

Megalópolis e Coppola em Cannes. Agora vai?

Afastado dos grandes estúdios de cinema há muitos anos, Francis Coppola filmou e produziu Megalópolis com seus próprios recursos. Diz ter gasto US$ 120 milhões, o que significa parte considerável de sua fortuna pessoal, e também, revela de modo surpreendente o quanto foi importante para ele ter este seu sonho realizado.

O filme conta com um elenco bem famoso, com nomes como Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Shia LaBeouf, Jon Voight, Jason Schwartzman, Talia Shire, Laurence Fishburne e Dustin Hoffman. E apesar de todos estes nomes  - inclusive o maior de todos, o dele mesmo, Coppola - ainda não é garantido que ele chegue por aqui.

Em Abril o filme foi apresentado para as grandes distribuidoras de cinema e streaming do planeta, e nenhuma se interessou em comprar os direitos de Megalópolis por acreditarem que ele não será um sucesso comercial. Por enquanto ele só tem distribuição garantida para alguns cinemas da Europa.

O próximo passo era ver se alguma grande distribuidora mudaria de idéia dependendo da reação do público, críticos e imprensa hoje... em Cannes. E a reação inicial foi... mista. A sessão inicial de Megalópolis terminou com o público aplaudindo o filme por quase 10 minutos, porém as críticas publicadas a seguir eram em geral "8 ou 80"... ou elogiando muito, ou falando muito mal, sendo mais pro segundo caso. Em geral indo na linha que o filme não é mesmo comercial, que é muito maluco, confuso, mas grandioso.

Por enquanto sigo curioso rs. E vocês? Abaixo segue o teaser oficial do filme, feito pelo próprio Coppola. Como vocês podem ver, ele tem os créditos da "American Zoetrope" que é justamente o estúdio de cinema criado por Francis Ford Coppola (décadas atrás) para produzir seus próprios filmes.


domingo, 12 de maio de 2024

Precisamos falar do seriado Hacks e de Jean Smart


Uma das melhores séries de comédia + drama que assisti nos últimos anos e que ainda faltava comentar aqui no Cinema Vírgula era Hacks (e que em algum momento também teve o nome traduzido para Medíocres, mas desistiram desse nome), do streaming Max (antigo HBO Max). Eu assisti suas duas primeiras temporadas (de 2021 e 2022) e adorei, mas como achava que o seriado havia se encerrado, acabei não escrevendo a respeito...

Mas eis que para minha surpresa a HBO renovou Hacks para uma terceira temporada, que acaba de estrear mundialmente! Então, bora comentar sobre esta série magnífica.

Hacks conta principalmente sobre a inusitada amizade e colaboração entre duas mulheres: Deborah Vance (Jean Smart), uma veterana e muito bem sucedida comediante, que já está há muitos anos como atração fixa de um cassino de Las Vegas, e que vê sua estabilidade em risco quando este cassino não quer mais renovar seu contrato, em detrimento de uma nova atração musical jovem; e Ava Daniels (Hannah Einbinder), uma jovem e reconhecidamente talentosa escritora de comédias, porém que não consegue mais encontrar trabalho devido a um tweet insensível e de ser péssima para ser relacionar com pessoas. Após alguns eventos, o agente de Ava sugere para as duas trabalharem juntas, e com Deborah querendo montar um novo show com material totalmente inédito, a dupla acaba aceitando a parceria à contragosto, e elas começam a se aventurar juntas fazendo uma turnê pelos EUA.

Além das duas protagonistas, a trama principal conta com mais dois personagens importantes: "DJ" (Kaitlin Olson), a filha "problemática" de Deborah, e Marcus (Carl Clemons-Hopkins), empresário e "faz-tudo" de Deborah, bastante dedicado e competente, que entra em crise ao perceber que dedicou toda sua vida ao trabalho, e entra no dilema de querer mudar isso justamente quando a carreira de Deborah também entra em crise.

Hacks é um seriado que consegue o tempo todo misturar humor, drama, e cenas bem emocionantes. E as duas protagonistas estão o tempo todo lutando contra o sistema, brigando contra o machismo, contra o etarismo, ou simplesmente, brigando por fazer o que é o moralmente correto.

Mas além das justas lutas das protagonistas contra o mundo, ambas possuem seus problemas pessoais e emocionais, também muito bem abordados pelo roteiro. Ava tem problemas de comunicação com os pais, não consegue ter relacionamentos afetivos... Já a relação de Deborah com sua filha comove e é muito bem demonstrada, mostrando os dois lados da moeda. O melhor de tudo, entretanto, é mesmo Deborah Vance. Apesar da comediante ser vaidosa e egoísta (e ela é sim egoísta), ao mesmo tempo ela se importa genuinamente com Ava, DJ e Marcus, e essa dualidade é mostrada de maneira tão crível e emocionante... isto só é possível graças a um ótimo roteiro e as excelentes atuações de Jean Smart.

O que me vem a questão... por que Jean Smart não é melhor reconhecida pelo seu talento?

Ela até já recebeu várias premiações ao longo de sua carreira, mas todas por papéis na TV. Ela já ganhou alguns Emmys, sendo o primeiro em 2000, de "Melhor Atriz Convidada em Série de Comédia", por um episódio de Frasier.

Jean Smart em Uma Família Extraordinária (Wildflower) de 2022

Mas nas premiações de filmes ela continua ausente, o que considero injusto... E olhem que ultimamente ela têm participado (e muito bem) até de filmes grandes. Por exemplo, recentemente ela esteve nos ótimos Babilônia (2022) e Uma Família Extraordinária (2022). No mesmo ano de 2022 ela recebeu (e venceu) sua primeira indicação ao Globo de Ouro. Porém, não foi por nenhum dos dois filmes acima, e sim, por Hacks... ela venceu o prêmio de "Melhor atriz de Comedia ou Musical" (lembrando que o Globo de Ouro premia tanto TV quanto Cinema).

O episódio final da segunda temporada de Hacks encerra os ciclos apresentados dos personagens e por isso mesmo achei que não teríamos mais episódios. Por isso nem tenho idéia do que pode ser o assunto da terceira temporada, que ainda não comecei a ver. Porém, para minha surpresa e felicidade, as primeiras críticas que estão saindo nas mídias especializadas estão dizendo que Hacks voltou ainda melhor!

E você conhece Jean Smart de algum filme ou série? Já tinha ouvido falar de Hacks? escreva nos comentários.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Crítica Netflix - A Batalha do Biscoito Pop-Tart ("Unfrosted", EUA, 2024)

Título
A Batalha do Biscoito Pop-Tart ("Unfrosted", EUA, 2024)
Diretor: Jerry Seinfeld
Atores principais: Jerry Seinfeld, Melissa McCarthy, Jim Gaffigan, Max Greenfield, Hugh Grant, Amy Schumer, Peter Dinklage, Christian Slater, James Marsden, Jack McBrayer, Thomas Lennon
Nota: 6,5

Seinfeld estréia como diretor com filme ágil e divertido

Após quase quatro anos sem produzir novo material de comédia, Jerry Seinfeld está de volta, agora estreando como diretor, mas também produzindo e co-roteirizando o maluco e totalmente fictício A Batalha do Biscoito Pop-Tart.

Na história, que se passa nos anos 60, As empresas de alimentos Kellogg's e Post dominam o mercado de cereais para café da manhã, entretanto com a Kellogg's tendo a clara liderança. Porém a Post aparenta estar prestes a lançar um produto que pode mudar isto, o que faz um dos principais funcionários da Kellogg's, Bob Cabana (Jerry Seinfeld) e o dono da empresa Edsel Kellogg III (Jim Gaffigan) não medirem esforços para lançarem algo revolucionário antes, o que viria ser os Pop-Tarts (para saber um pouco mais sobre o que é um Pop-Tart, clique aqui, onde já expliquei a respeito, recomendo).

Se A Batalha do Biscoito Pop-Tart fosse avaliado pela quantidade de piadas, seria uma das melhores comédias de todos os tempos, afinal, literalmente não ficamos mais do que 5 segundos em cena sem alguma piadinha sendo disparada em tela, seja ela dita por algum personagem, ou alguma piada visual. Temos portanto, literalmente centenas de gracejos, dos mais diversos temas... muitos são trocadilhos com o mundo dos cereais, mas vários outras são piadas cotidianas, ou da cultura pop em geral. Há também uma quantidade gigantesca de personagens que são trazidas para o filme, e um exemplo emblemático da enorme mistura de assuntos, piadas e personagens é ter o ator Jon Hamm aparecendo e fazendo paródia de si mesmo interpretando uma "cópia" de seu personagem da famosa série Mad Men, que também se passa nos anos 60.

O resultado final de tantas piadas sendo metralhadas na cara do espectador é um filme divertido, dinâmico, e para toda a família... mas que também, não se arrisca, e pouco tem de memorável. O mais próximo disso são as participações de Hugh Grant, que quebram um pouco o ritmo alucinado do filme e é, de fato engraçado. A Batalha do Biscoito Pop-Tart acaba cumprindo seu papel de divertir e entreter, mas não espere nada mais do que ficar com um sorriso no rosto. Nota: 6,5


PS: segundo Seinfeld, aparentemente Hugh Grant é um pouco como seu personagem na vida real, já que o comediante deu algumas entrevistas "falando mal" de seu companheiro de filmagem, dizendo que é difícil trabalhar com Grant, que ele leva tudo a sério, que eles brigaram várias vezes, que ele quer trabalhar tudo certinho, e deu um exemplo de que mesmo após já terem oferecido o papel pra o Hugh, ele fez questão de gravar um vídeo caseiro interpretando o personagem e mandar para ele (Jerry) avaliar. Mas, contemporizando, Jerry disse que quando não está no modo trabalho, Hugh Grant é um cara ótimo, que eles jantaram algumas vezes juntos, e que ele foi uma das companhias mais agradáveis para se jantar que já teve na vida.

domingo, 28 de abril de 2024

Curiosidades Cinema Vírgula #021 - Saiba o que é Typecasting e conheça atores que sofreram com ele


Reparem nas quatro pessoas da imagem acima. Qual o nome das duas primeiras? Embora elas sejam as fotos dos atores Ralph Macchio e Matt Leblanc, e não as dos seus personagens, aposto que ao vê-las você não pensou nos nomes reais deles, e sim, em "Daniel San" e "Joey".

E agora, vamos as duas pessoas seguintes. Não importa em que filme ou seriado você viu Michael Cera atuar, mas aposto que o personagem dele era alguém tímido que em qualquer cena aparece constrangido e louco para sair de lá; e não importa em que filme você assistiu Michelle Rodriguez... ela fazia o papel de uma mulher corajosa / valentona / boca-suja (e que tem boas chances de morrer no final). Tudo isso é Typecasting.

Typecasting é o nome que se dá ao processo em que um ator ou atriz se torna fortemente identificado a um determinado personagem, ou a um tipo de personagem com as mesmas características.

Há quem consiga aceitar o ocorrido e lucrar milhões com isto. Porém, muitas vezes isto nem é opção... temos vários exemplos em que um determinado ator ou atriz fica tão fortemente associado com certo papel, que depois dele fica muito difícil encontrar trabalho para atuar com qualquer outro personagem. Ou seja, é praticamente uma aposentadoria forçada.


O elenco clássico de Star Trek. Acima, da Esq. para Dir: George Takei (Sr. Sulu), Nichelle Nichols (Tenente Uhura) e James Doohan (Scotty); E Abaixo: Walter Koenig (Sr. Chekov), DeForest Kelley (Dr. McCoy), William Shatner (Capitão Kirk) e Leonard Nimoy (Sr. Spock)

O elenco clássico de Jornada nas Estrelas (Star Trek)

Um exemplo muito famoso de Typecasting é o elenco do seriado original de Star Trek. Após a fama, todos eles ficaram enormemente associados aos personagens que fizeram. Com exceção de William Shatner e Leonard Nimoy, nenhum outro ator conseguiu emprego que não fosse associado a Jornada nas Estrelas. E mesmo sendo uma exceção, Leonard Nimoy se incomodava demais com a fama de seu personagem, e por isso em 1975 ele até chegou a lançar, como sua primeira autobiografia o livro intitulado "Eu Não Sou Spock".

Shatner conseguiu trabalhar em vários seriados, mini-séries e filmes. Por exemplo na década de 80 ele foi um policial na série Carro Comando (5 temporadas) e nos anos 2000 um advogado em Justiça Sem Limites (também 5 temporadas). Mas os outros integrantes do grupo... Walter Koenig teve uma participação relevante em uma temporada no também seriado de ficção espacial Babylon 5 e mais nada; George Takei acabou encontrando espaço sendo dublador de animações. E foi só isto... o restante do grupo viveu apenas com o dinheiro vindo de convenções, homenagens e participações especiais relacionadas a Jornadas nas Estrelas.


Cena do excelente Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Jim Carrey e Adam Sandler

O maior exemplo que vivenciei de uma pessoa lutando contra o Typecasting foi Jim Carrey. A primeira metade dos anos 90 serviu para consolidar Carrey como o melhor e maior astro da comédia mundial da época, e com isso veio a fama, o dinheiro, o prestigio. Mas aparentemente isso não era tudo... após alguns anos no topo, Jim queria também ser reconhecido pela sua habilidade na atuação, e quis provar para o mundo que era capaz de papéis que não fossem com o objetivo de fazer rir. Então ele tentou mudar o rumo de sua filmografia atuando em vários filmes de drama, como por exemplo: O Show de Truman - O Show da Vida (1998), O Mundo de Andy (1999), Cine Majestic (2001) e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004). E ele até conseguiu levar dois Globos de Ouro para casa, um por O Show de Truman e outro por O Mundo de Andy. Mas nunca foi sequer indicado ao Oscar e, em geral, não foi muito elogiado e admirado pela imprensa em sua fase "séria", o que lhe gerou uma decepção que perdura até hoje.

Um outro comediante que tenta ser reconhecido pelo seu talento como ator é Adam Sandler. E vejam como são as coisas... embora Sandler seja notadamente inferior a Carrey tanto atuando em comédias como em dramas, eu não duvido que em breve ele receba a indicação ao Oscar que Jim nunca recebeu. É que Adam Sandler tem seus trunfos. Primeiro, uma lista enorme de amigos que estão sempre fazendo "lobby" a seu favor: David Spade, Kevin James, Drew Barrymore, Chris Rock, Steve Buscemi, Rob Schneider, Salma Hayek e Maya Rudolph são algum deles. E segundo, nada menos que a poderosa Netflix. Seus 3 filmes "sérios" até agora foram produzidos por ela: Jóias Brutas (2019), Arremessando Alto (2022) e O Astronauta (2024).

 

The Rock, Dave Bautista e John Cena

Brutamontes apenas em filmes de ação

Os dois maiores astros "brutamontes" dos Cinemas nos anos 80 foram certamente Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone. Pelo físico invejável de ambos, eles basicamente participavam de filmes de ação. Acho curioso que quando os dois tentaram sair do Typecasting, eles tomaram caminhos completamente diferentes. Schwarzenegger sequer tentou o drama e foi pra comédia... e até não foi mal (por exemplo Irmãos Gêmeos (1988) e Um Tira no Jardim de Infância (1990)). Já Stallone quando enveredou na comédia foi um retumbante fracasso, disparadamente os piores filmes de sua carreira (lembram de Pare! Senão Mamãe Atira (1992)?). Ele se deu melhor nos dramas, principalmente com as franquias Rocky e Creed, e inclusive ganhou duas indicações de atuação a Oscar por isso.

Um exemplo bem recente de "brucutus" que sofrem com Typecasting e também reagiram de forma diferente a isto são Dwayne "The Rock" Johnson, Dave Bautista e John Cena, todos eles ex-lutadores de Luta Livre profissional dos EUA (WWE). Dwayne tentou atuar em filmes de ação, em comédias, em dramas, e apesar das atuações pífias em geral fez bastante bilheteria e dinheiro... então, hoje em dia parece que nem se preocupa mais em atuar, só é ele mesmo nos filmes... Já John Cena, após fracassar em vários filmes de ação "sérios", parece ter enfim se encontrado nas comédia de ação, com o ótimo seriado Pacificador.

E finalmente, Dave Bautista é um dos mais famosos e recentes casos de alguém de encarar a difícil missão de brigar contra o Typecasting. Após alguns papéis como brutamontes, seja em ação ou comédias de ação (vide a trilogia dos Guardiões da Galáxia) ele também tem tentado filmes de outros gêneros, como de drama (Batem à Porta (2023)) e ficção científica (Blade Runner 2049 (2017) e Duna (2021)), e continua tentando cada vez mais fugir do papel de "valentão burro". Será que ele vai conseguir algum dia? Só o tempo dirá...



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? É só clicar aqui!

PS 2: Para conhecer outros termos interessantes do mundo do cinema, clique aqui.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Assisti Bombástica: A História de Hedy Lamarr (2017)


Um dos artigos deste ano que mais me impressionou quando fiz minhas pesquisas para escrevê-lo, foi o que contou um resumo da história da atriz e inventora Hedy Lamarr, que publiquei no dia 8 de Março, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

No final daquele texto, comentei que havia um documentário feito sobre ela há alguns anos atrás, mas que não ficou famoso, nem chegou aos cinemas. Trata-se de Bombástica: A História de Hedy Lamarr, de 2017 (Bombshell – The Hedy Lamarr Story no original).

Pois bem, eu acabei assistindo este documentário no Youtube dias atrás e posso dizer que ele é ótimo! Recomendo muito para todos assistirem! E, porque assisti-lo, duas coisas aconteceram. A primeira, foi a criação deste texto, onde irei contar muito rapidamente sobre o que o filme se trata. E a segunda, é que aprendi coisas novas sobre Hedy Lamarr e com isso revisei meu texto escrito em Março. Ele recebeu algumas pequenas correções, novas fotos, mas principalmente, foi ampliado em 3 parágrafos, contando novas passagens muito interessantes.

Portanto, quem já leu, convido a ler novamente meu texto Especial Dia Internacional da Mulher: Atriz e inventora, conheça a incrível (e conturbada) história de Hedy Lamarr. E quem ainda não leu, se prepare para ler e se surpreender!



Sobre o documentário Bombástica: A História de Hedy Lamarr

Apesar de ser uma produção modesta para os padrões de um filme atual (US$ 1,5 milhões), o documentário Bombástica: A História de Hedy Lamarr (veja o trailer oficial - em inglês - no vídeo acima) teve o envolvimento de alguns nomes famosos de Hollywood. Por exemplo, a atriz Susan Sarandon é uma das produtoras executivas; a atriz Diane Kruger e os cineastas Peter Bogdanovich e Mel Brooks são alguns que aparecem em vários momentos dando opiniões.

Seus filhos Anthony Loder e Denise Loder-DeLuca também aparecem bastante e dão importantes depoimentos. E enquanto as pessoas contam a história de Hedy, como em todo bom documentário, há diversas filmagens e fotos ilustrando o que está sendo falado.

E por falar nos filhos de Hedy, o documentário cita apenas a primeira metade daquele que provavelmente é o aspecto mais sombrio de Lamarr. No segundo casamento dela, em 1939, com o roteirista e produtor Gene Markey, o casal acabou adotando um bebê ao qual deram o nome de James Markey; mas a dupla mal se via e eles se separaram pouco mais de dois anos depois. Em 1943 Hedy já estava com seu terceiro marido, o ator britânico John Loder, com quem ela teria Anthony e Denise.

Um novo divórcio viria em 1947, e quando James completou 11 anos, ele foi enviado para uma escola militar pois era "muito indisciplinado", e posteriormente o treinador de esportes de lá ligou para Lamarr perguntando se o menino poderia ficar morando com ele e a esposa. E ela, em teoria magoada por não ser mais "querida" pelo filho, aceitou mas cortou contato com ele. A partir de então James falou algumas vezes com a mãe por telefone e só. O filme Bombástica vai até aí. O que ele não conta é que em 2001 se descobriu que James Markey na verdade era filho biológico de Hedy com John Loder, ou seja, James foi fruto de um caso amoroso anos antes de Lamarr e Loder se casarem. Em outras palavras, hoje dá para arriscar a dizer que o casamento de Hedy Lamarr com John Loder foi uma tentativa dela de "arrumar as coisas erradas do passado", mas infelizmente não deu certo.

A provável "cereja do bolo" de Bombástica: A História de Hedy Lamarr são os áudios de uma entrevista inédita e até então "perdida", que ela deu ao repórter Fleming Meeks da Forbes Magazine, em 1990, repassando sobre toda sua vida em 4 fitas cassetes de gravação. Então, temos a oportunidade de também ouvir a própria Lamarr através de sua voz dar a sua versão em boa parte dos acontecimentos.

E ainda que Hedy tenha se despedido desta vida de um jeito um bocado triste e melancólico, me emocionei com as últimas palavras dela nesta entrevista, as quais reproduzirei aqui. Ela recita partes de um poema de nome The Paradoxical Commandments ("Os Mandamentos Paradoxais"), escrito em 1968 por Kent M. Keith, professor e escritor estadunidense.

A seguir, com tradução minha para o português, os trechos que ela recitou. Se você quiser ler o poema completo no idioma original, basta clicar neste link. Fiquem então com estes conselhos de Hedy Lamarr. ;)


As pessoas são ilógicas, irracionais e egocêntricas.
Ame-as mesmo assim.

Se você fizer o bem, as pessoas irão te acusar de segundas intenções egoístas.
Faça o bem mesmo assim.

Os maiores homens e mulheres com as maiores ideias podem ser derrubados pelos menores homens e mulheres com as menores mentes.
Pense grande mesmo assim.

O que você gasta anos construindo pode ser destruído durante uma noite.
Construa mesmo assim.

Dê ao mundo o melhor que você tem e você levará um chute nos dentes.
Dê ao mundo o melhor que você tem mesmo assim.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Crítica - Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (2024)

TítuloGhostbusters: Apocalipse de Gelo ("Ghostbusters: Frozen Empire", Canadá / EUA, 2024)
Diretor: Gil Kenan
Atores principaisMckenna Grace, Paul Rudd, Carrie Coon, Finn Wolfhard, Kumail Nanjiani, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Bill Murray, William Atherton, Emily Alyn Lind, James Acaster, Logan Kim, Celeste O'Connor, Patton Oswalt, Annie Potts
Nota: 6,0

Caça-Fantasmas continua a divertir, mas precisa parar de querer ser 10 filmes em um

Três anos depois do ótimo Ghostbusters: Mais Além (2021), temos uma sequência para o semi-reboot da franquia Ghostbusters, misturando a "clássica" e a "nova" geração, e trazendo muitas homenagens e saudosismos.

Sendo continuação direta do filme anterior, desta vez as formações novas e antigas dos Caça-Fantasmas precisam se unir para impedir que uma antiga e poderosa entidade de nome Garraka, cujos poderes vêm do frio, liberte e lidere um exército de fantasmas para destruir a humanidade.

Vamos primeiro às boas notícias: mais uma vez temos aventura, humor e fantasmas de maneira divertida como todo Caça-Fantasmas. E pensando no futuro da franquia, temos novidades, como o agora rico Winston (Ernie Hudson) ter secretamente criado uma equipe de pesquisadores para estudar e aperfeiçoar novos equipamentos para a luta contra os espíritos. Além disso, pela primeira vez vemos um fantasma aparentemente "humano e bonzinho", Melody (Emily Alyn Lind), o que leva o filme a um importante questionamento: o que acontece com os fantasmas enquanto eles estão aprisionados? É ruim? Eles sofrem?

E, como no filme anterior, o melhor dele é a neta de Egon, Phoebe Spengler (Mckenna Grace), não só pelo carisma e delicadeza da jovem atriz, mas principalmente, porque seu personagem parece ser o único que realmente entende o legado de ser uma Caça-Fantasmas e o levar a sério.

Mas apesar da diversão de sempre, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é ao mesmo tempo o filme mais sério, menos engraçado e menos assustador de toda a franquia. Um dos motivos disso é seu excesso de diálogos e personagens. A foto do início deste artigo dá uma pequena amostra da quantidade de atores que precisam dividir a tela...

Porém mais que isso, o verdadeiro problema é que Ghostbusters: Apocalipse de Gelo quer contar muitas histórias ao mesmo tempo. Ao invés de focar apenas na história de aventura de "salvar o mundo do fantasma da vez", o roteiro ao mesmo tempo também quer comentar sobre adolescentes ficando adultos, o personagem de Paul Rudd querer ser aceito como pai, a "nova" geração com dificuldades em assumir o cargo enquanto a "velha" geração não quer aceitar a aposentadoria, fora as muitas homenagens aos filmes dos anos 80 (além do monte de personagens que voltaram em Ghostbusters: Mais Além, desta vez também voltou o prefeito Walter Peck (William Atherton)).

É muito assunto para um filme só... e o resultado é um roteiro um bocado cansativo que acaba não discutindo nenhum dos temas com nenhuma profundidade.

Ainda assim, apesar de seus excessos, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo deve agradar os fãs da franquia e, se tiver boa bilheteria mundial, deverá receber mais uma continuação, a qual eu espero REALMENTE, tenha menos personagens, e abracem de vez o tempo presente. Nota: 6,0

O filme tem tantos personagens que a principal e melhor deles, Phoebe Spengler pela Mckenna Grace, não estava na cena da foto-título deste artigo. E como é bacana ver que ela é fã da franquia desde criança. Deve ser muito bom fazer parte do seu sonho.


domingo, 21 de abril de 2024

Crítica - Guerra Civil (2024)

TítuloGuerra Civil ("Civil War", EUA / Reino Unido, 2024)
Diretor: Alex Garland
Atores principaisKirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Nick Offerman, Jefferson White, Stephen McKinley Henderson, Nick Offerman, Sonoya Mizuno, Nelson Lee, Jesse Plemons
Nota: 7,0

Road movie bom e tenso, mas falta um algo mais

Acaba de estrear no mundo todo o filme Guerra Civil, que promete causar polêmica principalmente nos EUA, afinal, ele se baseia em um fictício futuro próximo onde os Estados Unidos estão em plena guerra interna: as "Forças Ocidentais Separatistas", composta por alguns estados e lideradas pelo Texas e Califórnia, lutam para derrubar do poder o atual governo dos EUA. Não é detalhado em nenhum momento os motivos para o conflito, porém é citado que o atual Presidente age como um ditador, não respeita a democracia, e se encontra atualmente no terceiro mandato seguido.

Na história, o conflito está caminhando para o fim, e a dupla de jornalistas de guerra Lee Smith (Kirsten Dunst) e Joel (nosso brasileiro Wagner Moura) planejam se deslocar de Nova York até a capital Washington DC para conseguir uma entrevista exclusiva com o Presidente (Nick Offerman), antes que ele seja morto ou deposto. Junto a eles se juntam Sammy (Stephen McKinley Henderson) um velho jornalista do The New York Times, e Jessie (Cailee Spaeny), uma jovem e inexperiente fotógrafa que sonha ser uma fotojornalista de guerra tão famosa quanto Lee.

Porém a jornada não será fácil, primeiro, claro, por estarmos em plena guerra; mas para piorar, o exército do governo estadunidense não tem sido muito tolerante com a imprensa. Estamos então diante de um road movie bem tenso, com várias cenas de violência, e com um sentimento de angústia, urgência e tensão muito bem executados.

Para minha surpresa, mais do que focar no conflito em si, Guerra Civil foca na vida dos profissionais de imprensa que fazem a cobertura de dentro dos conflitos. É realmente chocante e surpreendente constatar como é o trabalho destas pessoas. O perigo que elas se expõe é quase igual a dos soldados em batalha, e para você também sentir isso com as ótimas sequencias de ação e imagem que temos no filme, recomendo fortemente que você vá ver Guerra Civil nos cinemas, e não na sua casa.

Vamos agora as minhas primeiras ressalvas. Claro que os jornalistas de guerra podem morrer a qualquer momento. Mas será que é mesmo como está mostrado no filme? Lee dá bronca na novata várias vezes que ela tem que se cuidar, usar capacete e colete; porém, o grupo todo faz isso poucas vezes... capacetes? Uma vez no filme todo. Aliás, em Guerra Civil não faria mesmo diferença, pois assim como em muitos filmes do gêneros, mesmo estando de colete, para qualquer soldado, basta um tiro e eles morrem instantaneamente. Outra coisa que não me convence são os soldados permitirem o pessoal de imprensa caminhar o tempo todo ao lado deles. Eles não fazem barulho? Não atrapalham movimentação? Linha de tiro? Uma coisa é, você como jornalista estar a metros da ação, ou há segundos depois da ação. Agora, estar o tempo todo dentro da ação... não faz muito sentido.

Cada local onde o grupo passa durante sua jornada rende imagens e situações bem fortes e interessantes, de fato, o filme é bom tanto quanto em roteiro quanto em imagens. A fotografia é excelente, tanto que sou obrigado a fazer outra crítica... para mim há um certo fetiche pelas cenas de guerra, armas, violência... ok, entendo que houve a tentativa do diretor de demonstrar o valor e a beleza no trabalho de um fotógrafo ao conseguir a "imagem perfeita", porém, entendo que haveria outras maneiras de se explorar isto.

Guerra Civil acaba sendo visual demais, a meu ver. Há poucos diálogos, pouco debate sobre o que realmente está acontecendo. Nas entrelinhas, a mensagem até é simples, que aquele conflito é o resultado final de tudo que a extrema direita vêm plantando ao longo de anos nos EUA e mundo... mas o roteiro é bastante cuidadoso em não levantar esse debate. Até a escolha dos estados líderes da "insurgência": Texas (tradicionalmente conservador) e Califórnia (tradicionalmente liberal) estarem do mesmo lado é proposital para não haver polarizações. É como se o filme fosse criado para trazer esse assunto à tona, mas na hora de sua entrega, saísse a francesa...

O mais fraco de Guerra Civil é seu desfecho, a meu ver. O final é clichê e o comportamento de seus personagens um pouco incoerente. Como pontos altos, temos suas várias cenas de ação e tensão, e a atuação de Kirsten Dunst. Como ela está excelente aqui... ela parece mesmo ser a tal fotojornalista Lee, de tão convincente.

Eu estava com uma alta expectativa por Guerra Civil e talvez por isso tenha ficado um pouco decepcionado. Ele teve oportunidade de fazer algo marcante, mas na hora "h" se esquivou ou apelou para o senso comum. De qualquer forma, é uma experiência cinematográfica bem impressionante e um filme muito bom. Se não saí do cinema extremamente satisfeito, pelo menos é como dizem, mais importante que o destino é a viagem. Nota: 7,0

O Zorro que não é Zorro, e a parceria de Johnny Depp que não é com Tim Burton

Hoje, 3 de outubro, foi divulgado o primeiro trailer oficial do filme The Lone Ranger , provisoriamente traduzido (e de maneira aceitável) ...