domingo, 14 de setembro de 2014

Crítica - Hércules (2014)

TítuloHércules ("Hercules", EUA, 2014)
Diretor: Brett Ratner
Atores principais: Dwayne Johnson, Ian McShane, John Hurt, Rufus Sewell, Aksel Hennie, Ingrid Bolsø Berdal, Reece Ritchie, Tobias Santelmann

Catastrófico em seu início, filme melhora e encerra como aceitável

Se há uma frase que pode definir este Hércules é que ele é mal dirigido. Dividindo-o em início, meio e fim, o início é simplesmente pavoroso, tecnicamente falando. Mas depois o filme melhora bem, e atinge em seu "meio" o seu auge, até piorar novamente em sua conclusão, onde repete os mesmos erros do início mas felizmente não na mesma intensidade. Porém, sobre os erros do diretor Brett Ratner, falo depois.

Estrelado por Dwayne "The Rock" Johnson, esta nova versão do mítico "Filho de Zeus" chega a ser inovadora ao desprezar o mitológico e investindo no racional, trazendo Hércules como um mercenário, um humano, e não um semi-deus repleto de poderes. Porém, seus "12 Trabalhos" já eram lenda e divulgados em seu próprio tempo. Por isto, aproveitando de sua fama, Hércules consegue melhores contratos para trabalhar.

Uma virtude do filme é justamente deixar o espectador o tempo todo em dúvida: seria Hércules um humano comum? Ou ele é mesmo o filho de Zeus? A trama explora esta questão, mas nunca traz a resposta. Isto dá ao filme um tom crível de tensão nas batalhas. Por exemplo, ainda sobre os "12 trabalhos", o filme dá a entender que só alguns deles existiram... porém não somente foram superestimados, como ele teve ajuda de sua equipe para realizá-los.

Equipe esta que talvez seja o melhor do filme, mesmo que eles abusem dos diálogos clichê, seus amigos são bem distintos e bastante carismáticos. O seu braço-direito Autolycus (Rufus Sewell), a amazona Atalanta (a bela norueguesa Ingrid Bolsø Berdal) e o adivinho Amphiaraus (Ian McShane) são quem mais se destacam. Seu sobrinho contador de histórias Iolaus (Reece Ritchie) também aparece bastante, porém mais irrita do que agrada. Curiosamente, embora os nomes de sua equipe citados venham todos de personagens da mitologia grega, apenas Amphiaraus e Iolaus foram representados sem muitas distorções, sendo ainda que apenas o último realmente teve alguma relação com Hércules nos contos gregos.

Na história, vemos uma Trácia em guerra civil, e então o Rei Cotys (John Hurt) contrata Hércules e seus amigos para derrotar o cruel Rhesus (Tobias Santelmann), seu inimigo. É então que Hércules treina o exército de Cotys e participa de duas batalhas ao ar livre. Tanto o treinamento quanto as duas batalhas citadas acontecem no "meio do filme", que já citei ser a parte do filme que vale seu ingresso. Bonitas visualmente, usando na maneira certa ação e humor, aqui Hércules lembra os bons filmes de ação e aventura dos anos 80, mas jamais consegue um tom "épico", embora tente.

Dentre os "prós" do filme, é inegável que o figurino e os cenários são bem feitos, belos. A parte externa do palácio de Cotys foi construída de verdade para o filme, uma estrutura gigantesca, impressionante, que certamente contribuiu para a veracidade visual de Hércules.

Mas voltando aos "contras" do filme, no começo da história vemos Iolau narrando os encontros de Hércules com a Hidra e Javali de Erimanto. As cenas, que aparecem nos trailers, são curtíssimas, e só por isto, decepcionantes. Entretanto, vendo-as em 3D é simplesmente impossível entender o que acontece na tela. Pedaços da Hidra se jogam a frente do espectador sem nenhuma harmonia ou lógica. O mesmo desrespeito acontece nos diálogos entre os personagens. Por algum motivo estúpido, Brett Ratner decide filmar todas as conversas entre duas pessoas colocando a câmera atrás das costas de uma delas, e exagerando no close. O resultado, em 3D, é que vemos a pessoa "de costas" desfocada e dividida ao meio, flutuando na frente do espectador. O primeiro terço de Hércules é simplesmente a pior coisa que vi em 3D até hoje.

Mais ainda, sobre as cenas de ação. Brett Ratner parece ter copiado de Michael Bay a mesma incompetência de realização do mise-en-scène. Cenas a distância com cenas em close são alternadas rapidamente mas não se "encaixam". Quem assiste não consegue "visualizar o todo" nunca. Não conseguimos "ver" geograficamente tudo o que está acontecendo. As tais duas batalhas ao ar livre, as quais elogiei anteriormente, levaram elogio principalmente por ter um mise-en-scène bem mais aceitável, até bom, mas não isento de erros. Por exemplo, há um momento que Hércules grita para trazerem as carroças e, após a cena voltar para ele, o herói está "magicamente" em cima de uma.

Para finalizar, após falar tanto do diretor, preciso falar de Dwayne Johnson. Li relatos de como o ator se dedicou a este projeto... como se fosse a grande chance de sua vida. De fato, sua preparação física chega a assustar. Por cerca de 8 meses "The Rock" se isolou e treinou como nunca, o resultado é que sem efeitos especiais ele é tão mais forte que os demais atores que realmente parece "sobre humano". Mas se o visual foi apropriado, sua atuação nem tanto. Como sempre, Dwayne Johnson está carismático, atua bem como "ator de ação", mas não consegue atuar em dramas. Mas nem isto Brett Ratner percebeu, e o filme tenta trazer dor à história de Hércules, mostrando seu sofrimento pela perda da família. Um erro tanto em termos de atuação quanto em termos de história.

Me simpatizo com The Rock justamente pela sua dedicação e carisma. Mas o seu sonho de ter em Hércules seu grande filme fracassou com um diretor tão inapropriado para a empreitada. Mesmo assim, o filme tem seus momentos, e chega a divertir bem em seu meio. Nota: 6,0.

PS: não custa ressaltar que assisti em 3D por falta de opção, já que nos cinemas da minha cidade só chegaram cópias 2D dubladas. Ao continuar desta maneira, com 3Ds tão ruins, pode chegar o momento em que eu só aceite ver legendado 2D e não os encontre para assistir. Espero que este momento nunca chegue. Me ajudem. Se ajudem! Nos cinemas, nada de filmes dublados!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Os melhores diretores da atualidade


Agora que vocês chegaram até meu post, posso dizer que o título correto não é bem este. Não sou tão pretensioso. A definição mais correta do título deste post é: "diretores cujos filmes me fazem ir ao cinema simplesmente por serem feitos por eles".

Confiram a lista abaixo, o texto está repleto de indicações de filmes. Vale muito a pena ver! Ah, a ordem da lista é alfabética por sobrenomes, simples assim. Sem mais delongas, vamos a lista dos...

Os Melhores Diretores da Atualidade

Quem: Woody Allen
Porque: com quase 80 anos de idade, este nova-iorquino é incansável. Sua carreira de diretor já atingiu a marca de 50 filmes, e desde 1977 ele faz pelo menos um filme por ano. Fazer tantos filmes assim em tão pouco tempo o faz, digamos assim, um diretor pouco detalhista, mas ainda sim, muito bom. Já seus roteiros, sua principal qualidade, são ótimos! É por isto mesmo que Woody escreve todos seus filmes. Geralmente escrevendo sobre relacionamentos / romances, e detentor de um humor sarcástico único, ele é o recordista de indicações ao Oscar como roteirista: foram 16 (até 2014). Embora seu auge e suas experimentações técnicas já tenham ficado no passado, seus filmes continuam a ser agradáveis, em geral merecedores de no mínimo uma nota 7,0. Seus últimos trabalhos, detentores desta classificação: Ponto Final: Match Point (2005), O Sonho de Cassandra (2007), Vicky Cristina Barcelona (2008), Tudo Pode Dar Certo (2009), Meia-Noite em Paris (2011), Blue Jasmine (2013) e Magia ao Luar (2014).

Quem: Pedro Almodóvar
Porque: aclamado diretor espanhol, desde o início de sua consagração internacional com Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988) tem entregado novos filmes a cada 2 anos, e em alto nível. Sempre com personagens marcantes (principalmente femininos), e roteiros cheio de reviravoltas, seu trabalho sempre traz algo diferente, seja na história em si, ou na maneira de contá-la. Recentemente ele vem alternando bastante os gêneros de seus filmes. Ele não agradou com seu último trabalho, a comédia Os Amantes Passageiros (2013). Mas antes deste filme fez o excepcional A Pele que Habito (2011), que é um suspense/horror bem forte. Dois anos antes tivemos o bom Abraços Partidos (2009), um romance/thriller, e antes deste o delicioso Volver (2006), uma comédia/drama. O que será que virá a seguir?

Quem: Wes Anderson
Porque: seus filmes são inconfundíveis: visualmente, por exemplo, é comum ele usar uma câmera fixa e seus personagens ficarem de frente para ela, expondo seus pontos de vista... as cenas parecem pinturas. Mas principalmente, seus filmes possuem uma enormidade de personagens bizarros, caricatos, e... divertidíssimos. Com seu Os Excêntricos Tenenbaums (2001), ele despontou para a fama, renovando o chamado "cinema independente americano". Mais de uma década depois, seus filmes continuam ótimos. Seus dois últimos trabalhos são os excelentes Moonrise Kingdom (2012) e O Grande Hotel Budapeste (2014). Considero Moonrise Kingdom o melhor de seus filmes, por ser ao mesmo tempo muito engraçado e comovente.

Quem: Darren Aronofsky
Porque: suas histórias são dramas fortes, e ilustrados por uma fotografia sempre espetacular. Apesar de ter feito quatro obras-primas em sequencia: Réquiem Para um Sonho (2000), Fonte da Vida (2006), O Lutador (2008) e Cisne Negro (2010), a Academia só o reconheceu tardiamente: sua primeira indicação para melhor diretor no Oscar só veio com Cisne Negro e ele não levou. Uma pena, para mim ele já deveria ter levado a estatueta para casa. Por exemplo, considero o excepcional Fonte da Vida como facilmente um dos mais belos filmes deste século. Seu filme mais recente foi também o seu mais fraco: Noé (2014). Mesmo assim, como se pode ver na minha crítica, é um filme acima da média.

Quem: Ethan e Joel Coen
Porque: os chamados "Irmãos Coen" são outros nomes desta lista que costumeiramente são roteiristas de seus trabalhos. E que roteiros! Em geral retratando a jornada de algum personagem em busca de redenção, as situações enfrentadas pelos atores são extremamente imprevisíveis e surtadas. Personagens "esquisitos", humor negro, sarcasmo, com pitadas de cenas de ação e violência; todas estas são características comuns de seus filmes. Isto sem falar da trilha sonora e da fotografia, sempre excelentes. Admito que a filmografia deles é um tanto irregular. Não gosto muito, por exemplo, de seus títulos vendidos como comédia, como por exemplo: O Amor Custa Caro (2003), Matadores de Velhinhas (2004) e Queime Depois de Ler (2008). Mas mesmo estes são diferentes, acima da média. Agora, quando o título é drama/policial, aí não tem erro: Fargo (1996 - 7 indicações ao Oscar), Onde os Fracos Não Têm Vez (2007 - 8 indicações ao Oscar), e o recente Bravura Indômita (2010 - 10 indicações ao Oscar) são seus melhores filmes, e geniais. Onde os Fracos Não Têm Vez é outro filme que considero como um dos melhores deste século. Mas, um alerta para quem for assistir: não conheço uma mulher sequer que tenha gostado dele.
Quem: Alfonso Cuarón
Porque: mesmo mexicano, o que conheço deste talentosíssimo diretor vem dos cinemas de Hollywood. Apenas assisti 3 de seus filmes, e isto foi mais de que suficiente para me tornar seu fã de carteirinha. O primeiro deles, o infantil/comercial Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004) me chamou a atenção por ser, a meu ver, o melhor dirigido dentre os 8 filmes da franquia. Em seguida veio Filhos da Esperança (2006): ficção científica, de roteiro razoável... mas filmado de maneira magistral: nele, há pelo menos dois planos-sequência (cenas longas sem cortes) de ação espetaculares. De deixar qualquer cinéfilo boquiaberto. Mas sua excelência técnica não pararia aí. Demorou 7 anos, mas seu filme seguinte, Gravidade (2013) trouxe planos-sequência ainda mais longos e geniais. OK, é verdade que em todos estes planos-sequência citados Cuarón dependeu de recursos digitais para concluí-los. Mas os planos são tão difíceis, tão complexos de serem filmados, que o uso do computador não retira absolutamente nada de seus méritos.

Quem: David Fincher
Porque: Fincher tem nome como diretor de videoclipes. Já trabalhou com Madonna, Michael Jackson, Aerosmith, e mais recentemente, Justin Timberlake. Porém, como diretor de filmes ele é muito melhor. E para mim particularmente, ele é sinônimo de filmes de suspense / investigação policial. Afinal, ele fez o ótimo, marcante e icônico Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995) e na década seguinte faria Zodíaco (2007).
Mas apesar do rótulo que lhe dei, a verdade é que Fincher sempre faz filmes bons, e é bastante eclético, indo bem além dos filmes policiais. Dentre seus trabalhos de maior nome: Clube da Luta (1999), O Quarto do Pânico (2002), O Curioso Caso de Benjamin Button (2008), A Rede Social (2010), Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011). Só filme bacana! Seu mais novo filme fará sua estreia ainda neste ano, em outubro, e se chama Garota Exemplar. Claro que vou assistir. Mas tendo Ben Affleck como ator principal, preconceituosamente digo que existe uma pequena possibilidade deste ser o primeiro filme dele que não me agrade tanto. Vamos aguardar.

Quem: Christopher Nolan
Porque: sempre fazendo filmes de ficção / ficção científica, contando a história de maneira não-linear, com roteiros inteligentes que contam geralmente com uma ótima reviravolta no final, este diretor inglês é provavelmente o diretor atualmente mais cultuado pela comunidade "nerd". Além disto, hoje ele também é o diretor que melhor filma para o formato das telas gigantes do iMax. Nolan é mais um diretor desta lista cujos filmes sempre estão acima da média. Quer exemplos? Amnésia (2000), a Trilogia Batman (2005 / 2008 / 2012), o genial O Grande Truque (2006) e A Origem (2010). Seu próximo filme, Interestelar, chega aos cinemas em novembro. Pouco sabemos sobre ele... conta com Matthew McConaughey como ator principal e ele viajará ao espaço para "salvar a Terra" (do quê, ainda ninguém sabe...). Mesmo assim, dos filmes que restam para estrear em 2014, Interestelar é de longe o que mais aguardo.

Quem: Martin Scorcese
Porque: assim como Woody Allen, Scorcese também é de Nova York, também já passou a marca de 50 filmes, e os dois são os únicos "velhinhos" da minha lista. Mas as semelhanças param aí, já que Allen tem descendência judia e Scorcese é descendente de italianos católicos; características distintas que respectivamente marcariam suas obras. Sendo o diretor vivo que mais recebeu indicações de direção ao Oscar (8, até 2014), Martin fez muito sucesso nos anos 70 e 80 e seus filmes se caracterizavam pelo uso de muitos palavrões, muitas cenas de violência (eram filmes sobre crime, e/ou terror psicológico), e também, dentre outras coisas, tinha em comum a parceria com o ator Robert de Niro. Dentre seus principais clássicos: Taxi Driver (1976), Touro Indomável (1980) e Os Bons Companheiros (1990). Depois do bom Cassino (1995), Martin Scorcese deu uma sumida... e me deixou chocado quando voltou aos holofotes com Gangues de Nova York (2002). Apesar das 10 indicações ao Oscar, considero este filme abominável, horroroso, terrível, pavoroso; de longe o pior filme que já assisti deste diretor. E ele continuou não me agradando com os filmes seguintes, os  razoáveis O Aviador (2004) e Os Infiltrados (2006). Como Scorcese está na minha lista então? Fácil: de 2010 pra cá ele voltou a me encantar. Ilha do Medo (2010) é um ótimo filme de suspense. A Invenção de Hugo Cabret (2011) é um belíssimo "filme família" que conta a história do igualmente esquecido e genial diretor Georges Méliès. E finalmente, seu último trabalho, O Lobo de Wall Street (2013), uma divertidíssima comédia. O fato de Martin ter encontrado no ótimo ator Leonardo DiCaprio o seu novo parceiro de filmes só reforça a qualidade dos mesmos.

Quem: Quentin Tarantino
Porque: Duas coisas se podem falar sobre Tarantino: ele é doido. E um dos maiores cinéfilos que existe. Seus filmes são grandes homenagens ao próprio Cinema. De citações de roteiro, passando por músicas e elementos visuais, cada trabalho seu possui tantas referências a filmes antigos que só alguém igualmente fanático por cinema para captá-las todas... ou quase. Há outras características marcantes em seus filmes: bastante violência (porém, em geral banalizada através do humor), diálogos afiados, roteiros repletos de reviravoltas e situações imprevisíveis, e músicas que sempre garantem excepcionais discos de trilha sonora após o lançamento. Até agora, em sua carreira, foram oito filmes como diretor (todos também roteirizados por ele). Tarantino errou em apenas um: o fraco e cansativo À Prova de Morte (2007). Mas todos os demais são ótimos, e divertidíssimos: Cães de Aluguel (1992), Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), Jackie Brown (1997), Kill Bill: Volumes 1 e 2 (2003 / 2004), Bastardos Inglórios (2009) e Django Livre (2012). Seu próximo filme sera um faroeste de nome The Hateful Eight, que deverá chegar aos cinemas no fim de 2015 / início de 2016.

Quem: Lars von Trier
Porque: o último nome da minha lista é este polêmico dinamarquês. Aliás, dá para se dizer que ele querer chocar as pessoas é uma de suas características, que inclusive ultrapassam seus filmes: no Festival de Cannes em 2011 ele fez uma declaração "perdoando" Hitler. Foi merecidamente expulso do evento. Apesar de algumas idiotices como esta (aliás ele voltou atrás dizendo ter sido uma piada), os filmes que já vi dele são excelentes. Ainda não conheço sua fase "européia", de onde se destacam os premiados Europa (1991), Ondas do Destino (1996) e Dançando no Escuro (2000). Comecei a acompanhá-lo em 2004, quando assisti seu ótimo Dogville (2003), onde ele iniciou sua fase trabalhando com estrelas hollywoodianas, que dura até hoje. Dogville, aliás, é um dos filmes mais "pesados" que já vi. Lembro bem de tê-lo assistido na mesma semana que o forte A Paixão de Cristo (2004), de Mel Gibson. E acreditem, assistir Dogville foi bem mais difícil. Depois de Dogville ele fez os bons Manderlay (2005), Ninfomaníaca: Volume 1 e 2 (2013). Mas vejo em Melancolia (2011) outra obra-prima. Belíssimo visualmente, o sentimento de melancolia transborda para o espectador, e seu final é surpreendentemente belo.

E vocês? Quem são seus diretores favoritos? Sentiram falta de alguém? Comentem! Quero conhecer a sua lista!

PS: a foto no topo deste post traz os diretores Peter Jackson e Steven Spielberg. E apesar deles fazerem parte deste texto, nenhum do dois está na minha lista, e isto foi proposital. Embora ambos tenham entrado merecidamente para a História do Cinema com seus clássicos, hoje nem de longe estão entre os melhores diretores "da atualidade". Não concordam? Ou querem mais detalhes sobre esta minha afirmação? Só me questionando através dos comentários. :)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Crítica - Lucy (2014)


TítuloLucy ("Lucy", França, 2014)
Diretor: Luc Besson
Atores principais: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Min-sik Choi

Apesar dos altos e baixos, Lucy pelo menos entretém

Dá para esperar grande coisa de um filme cuja premissa principal é estupidamente incorreta? Toda a história se baseia na máxima que "o ser humano utiliza 10% da capacidade do seu cérebro"... o que é uma enorme bobagem, uma teoria absurda que surgiu há quase 2 séculos. Seria o equivalente a fazer um filme que afirma de maneira séria que a Terra é quadrada.

Mas, respondendo minha própria pergunta, sim, eu tinha certa expectativa para assistir Lucy. Não pelo roteiro, mas pelo diretor: esperava estar diante de um novo O Quinto Elemento (1997), um ótimo filme de ação dirigido pelo mesmo Luc Besson. O resultado é que Lucy é bem inferior ao O Quinto Elemento, e curiosamente, apesar de ser mesmo um filme de ação, ele praticamente não possui quase nenhuma cena de ação decente (explico isto depois), porém mesmo assim ele diverte e entretém.

Na história, Lucy (Scarlett Johansson), é uma garota normal, mas que acidentalmente é capturada por um grande traficante de drogas internacional, Mr. Jang (Min-sik Choi). Ela é então chantageada para aceitar virar uma "mula", traficando uma nova droga experimental dentro do intestino. Mas a droga vaza dentro de seu corpo e então Lucy passa a progressivamente aumentar a porcentagem de uso do cérebro, desenvolvendo super-poderes. E ao mesmo tempo que ela parte em vingança, ela entra em contato com o renomado cientista Professor Norman (Morgan Freeman) em busca de auxílio e orientação.

O problema de Lucy são seus muitos altos e baixos. Ou melhor, ele começa "no alto" e termina "em baixa". Uma de suas principais qualidades é seu clima constante de tensão, que envolve o expectador. Vale ressaltar que os poderes desenvolvidos por Lucy são tão absurdos, tão grandiosos, que fica evidente que nada de mal vai acontecer com a protagonista. Seus adversários são assassinos profissionais mas mesmo assim se tornam, portanto, inofensivos. As lutas e perseguições são fracas, repetitivas e desnecessárias. Porém o filme obtém sua "emoção" de outro lugar. Na verdade, aprendemos que Lucy tem apenas 24hs de vida. Portanto, o ótimo clima de "tensão" que comentei acima vem não do que os inimigos poderão fazer com ela, mas sim, se Lucy conseguirá fazer tudo o que precisa antes de morrer.

Ainda sobre os poderes adquiridos por Lucy, ultra-exagerados, requerem um alto número de efeitos especiais. E os efeitos de computador não são lá grande coisa, embora não cheguem a incomodar. Há alguns poderes que simplesmente ofendem a inteligência de quem assiste o filme. Mas ao mesmo tempo, há qualidades nestes poderes: alguns são tão surpreendentes que deixam o espectador com a agradável sensação do nunca saber "o que vai acontecer em seguida". Neste aspecto, Lucy é doido e imprevisível no bom sentido.

Como eu disse anteriormente, Lucy começa bem e termina mal. A cena inicial é ótima em termos de suspense. A primeira conversa de Lucy com sua mãe, e a primeira conversa de Norman com Lucy são bem escritas, até emocionante. Pena que nenhum destes trechos de "roteiro inteligente" foi reservado a conclusão do filme, que não me agradou. Aliás, conforme os poderes de Lucy aumentam, o filme fica cada vez pior para se assistir, e seu final então é bastante insatisfatório.

Irregular, Lucy não só é pior, como é completamente diferente de O Quinto Elemento. Mesmo assim, desconsiderando sua parte final, é interessante o suficiente para divertir o expectador. São 89 minutos de pura adrenalina. E de doidices de Luc Besson. Argumentos interessantes para assistir o filme. Nota: 5,0

Atualizado em 15/02/15: após refletir, abaixei a nota do filme de 6,0 para 5,0. Acho que a presença da Scarlett Johansson fez eu dar uma nota maior que Lucy merecia.

domingo, 31 de agosto de 2014

Crítica: Magia ao Luar (2014)

Título: Magia ao Luar ("Magic in the Moonlight", EUA, 2014)
Diretor: Woody Allen
Atores principais: Colin Firth, Emma Stone, Howard Burkan

Mais um agradável filme de Woody Allen

Assim como fizera recentemente em Meia-Noite em Paris (2011), Woody Allen retorna a França, nos anos de 1920. Porém diferentemente do filme citado, em Magia ao Luar estamos no campo, e a ambientação pouco faz diferença ao filme, já que sua trama é atemporal.

Na história, Stanley (Colin Firth) é secretamente um dos maiores mágicos do mundo, e publicamente, um ranzinza "desmascarador de charlatões". Logo após um de seus shows seu amigo de infância Howard (Simon McBurney), também mágico, diz ter encontrado uma garota que se diz médium, mas que apesar de seus esforços, não consegue desmascará-la. E pior, ela está prestes a ganhar bastante dinheiro de uma rica família, cuja matriarca (Jacki Weaver) e filho (Hamish Linklater), acreditam cegamente nos poderes da moça.

É então que Stanley parte para a França, com a nobre missão de "salvar inocentes". Ao chegar, conhece a tal médium, a bela Sophie (Emma Stone) e, aos poucos, também testemunha seus poderes, o que lhe deixa perplexo. Curioso observar a decisão de Woody Allen de, ao mesmo tempo que nos mostra que os poderes da garota são verdadeiros, faz que tanto ela quanto sua mãe (Marcia Gay Harden) se comportem como vigaristas, se mostrando interessadas no dinheiro de suas "vítimas", o que inteligentemente deixa o espectador o tempo todo em dúvida.

O velho Stanley é arrogante, científico, ateu, e ao mesmo tempo, extremamente irônico, e ataca Sophie com suas piadas o tempo todo. Mas este perfil o torna um personagem muito engraçado e divertido. O personagem de Colin Firth torna o filme bastante agradável para se assistir. Isto somado, é claro, aos diálogos inteligentes, as paisagens bucólicas, e também, por que não, à boa atuação de Emma Stone.

Também passando o tempo todo por assuntos como religião, fé, vida após a morte - mas tudo de maneira cotidiana - Magia ao Luar não consegue deixar de flertar com o romance. O que pra mim enfraqueceu um pouco o filme, que poderia ficar apenas na comédia, mas força ao fazer Sophie se interessar por Stanley. De qualquer forma, é um bonito romance, e certamente satisfatório para o público.

Tecnicamente falando, Woody Allen comete alguns deslizes que até chegam a ser costumeiros, já que ele é pouco detalhista. Algumas cenas, principalmente as externas, aparecem um pouco fora de foco, e, embora bastante apropriada, a trilha sonora é bem repetitiva. Mais uma vez, o forte de Allen é seu roteiro, com ótimo humor, surpresas, é ótimos diálogos.

Se traz um Woody Allen "automático", Magia ao Luar é um pouco diferente ao trazer personagens mais carismáticos que o de costume. Como resultado final, o filme se apresenta como uma comédia romântica bem agradável para se assistir. Nota: 7,0

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Crítica - Os Mercenários 3 (2014)

Título: Os Mercenários 3 ("The Expendables 3", EUA / França, 2014)
Diretor: Patrick Hughes
Atores principais: Sylvester Stallone, Jason Statham, Harrison Ford, Arnold Schwarzenegger, Mel Gibson, Wesley Snipes, Dolph Lundgren, Randy Couture, Terry Crews, Kelsey Grammer, Glen Powell, Antonio Banderas, Victor Ortiz, Ronda Rousey, Kellan Lutz, Jet Li

Trazendo mais do mesmo, franquia se mostra esgotada

Imagino que você já conheça a franquia Os Mercenários. Se não conhece, leia sobre ela aqui, em minha crítica do segundo filme.

Após dois anos, Stallone retorna com sua trupe aos cinemas. Sabendo muito bem que não seria o roteiro que convenceria o público para mais um filme, Sylvester e o produtor Avi Lerner tentaram trazer mais nomes de ação de "peso". Procuraram por Steven Seagal, Nicolas Cage, Chuck Norris, Jackie Chan, Milla Jovovich, Clint Eastwood, Harrison Ford e Wesley Snipes. Porém, só os dois últimos vieram. A solução foi trazer Mel Gibson, Antonio Banderas, e vários nomes jovens desconhecidos. Embora não dito oficialmente, entendo ser bem provável que todos estes novatos foram o "plano B" para o elenco. Por exemplo, a lutadora de UFC Ronda Rousey - que aqui como atriz é péssima - muito provavelmente herdou o papel que seria da Jovovich.

Para piorar, dois nomes importantes não voltaram: Chuck Norris e Bruce Willis. Quanto a este último, que não renovou por não chegar em acordo financeiro pela participação, recebeu duras críticas de Stallone, que o chamou de "ganancioso".

Não contando com os atores "ideais" portanto, Os Mercenários 3 aposta na quantidade. De novo. E trazendo mais personagens do que nunca. No topo desta matéria vejam que são 16 os nomes que dividem a atenção do expectador.

Assim como no filme anterior, Os Mercenários 3 começa com a adrenalina no alto, com uma longa e muito boa cena de ação. E por falar em Os Mercenários 2, desta vez uma de suas maiores falhas foi corrigida: quase todos os personagens são igualmente desenvolvidos, tendo cada um "seus momentos em cena". A lamentar, foi a maneira que isto foi atingido: não foi melhorando o roteiro (pelo contrário, conseguiram piorar), mas simplesmente, aumentando o tamanho do filme! São 2h06min de projeção contra 1h43min dos dois episódios anteriores.

A história (se é que podemos considerar que há alguma) se divide em três atos. O primeiro, onde os Mercenários "velhos" tentam matar o vilão Mel Gibson mas falham; o segundo, onde Stallone troca seus antigos parceiros por um um grupo "sangue novo", causando conflito entre os dois times; e o terceiro, onde todos se juntam para "a batalha final" contra o ex-William Wallace.

Dos três atos, apenas o primeiro entretém. Os outros dois também possuem alguns bons momentos, tanto de ação quanto de humor, mas em geral, são bastante repetitivos e portanto, cansativos. O ato final se encerra com um tiroteio que dura mais de 20 minutos, sem parar. Praticamente impossível não se cansar assistindo.

Usando à exaustão a mesma fórmula dos dois filmes anteriores, o pensamento que me veio assim que a projeção termina foi: "Ok, legalzinho. Mas agora chega". Infelizmente, por mais esgotada que a franquia esteja, Sylvester Stallone ainda cogita um 4º filme. Se ele vier, que tenha uma completa renovação em sua receita. Mas duvido que esta renovação aconteça. Nota: 5,0

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Crítica - Guardiões da Galáxia (2014)

Título: Guardiões da Galáxia ("Guardians of the Galaxy", EUA, 2014)
Diretor: James Gunn
Atores principais: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Lee Pace

Visualmente impressionante, com muita ação e humor

Após consolidar-se nos últimos anos como sinônimo de bons filmes e boas bilheterias, reconheçamos que é bem difícil atualmente que a Marvel entregue um filme que não faça sucesso. Mesmo assim, não está errado dizer que o lançamento de Guardiões da Galáxia tinha seu risco. Para começar, direção e roteiro nas mãos do pouco experiente James Gunn, cuja carreira contava com apenas uma direção (Super, de 2010, mas já sendo um filme de super-herói), e como roteiro mais relevante o horroroso Scooby-Doo 2 - Monstros à Solta, de 2004.

Mais ainda, os Guardiões são um grupo muito pouco conhecido dentro das histórias em quadrinhos. Fizeram suas principais aparições na década de 70 e por lá ficaram abandonados até serem ressuscitados somente em 2008, em uma revista própria que atingiu vendas medianas.

Ignorando qualquer previsão desfavorável, Guardiões da Galáxia já estreou batendo recorde de bilheteria (melhor estreia de agosto dos cinemas estadunidenses) e é um filme muito divertido; sem sombra de dúvidas, o melhor da Marvel desde Os Vingadores (2012).

Desta vez, a história contada é uma aventura espacial, repleta de ação, cuja trama não tem muita importância: cinco fora-da-lei: Peter Quill (Chris Pratt), Gamora (Zoe Saldana), Drax (Dave Bautista), Groot (Vin Diesel - vozes) e Rocket (Bradley Cooper - vozes) são os "mocinhos" que se unem para impedir que o "vilão malvado" Ronan (Lee Pace) obtenha um artefato mágico cujo poder é suficiente para destruir planetas.

Notem que dentre todos citados acima, apenas Peter (que se autodenomina "Star-Lord") é terráqueo. E ainda, neste universo alienígena, tanto Groot quanto Rocket são 100% animação por computador. E incrivelmente bem feitas!

O primeiro grande elogio para Guardiões da Galáxia vai para seu visual. Começando pela perfeição dos dois personagens animados citados no parágrafo anterior, passando pelos ótimos efeitos especiais usados tanto nas batalhas quanto na criação dos mundos extraterrestres exibidos, e terminando na grande variedade de cores e modelos nos figurinos, a maioria bem convincente.

O outro grande elogio para Guardiões da Galáxia vai pelo resgate do melhor dos filmes de aventura dos anos 80: boas cenas de ações mescladas com bom senso de humor. O assunto "humor" retomarei depois. Agora, ainda sobre o clima oitentista, é imprescindível destacar a excelente trilha sonora, composta de hits pop dos anos 70/80, e que é praticamente um personagem do filme, chegando até a ser representada fisicamente pela fita cassete que Peter Quill ouve o tempo todo.

Se nenhuma atuação empolga, elas também não comprometem (a atuação mais fraca é a do Dave Bautista). Mesmo assim, os personagens são outro ponto alto da produção. Primeiro porque mesmo com um roteiro raso, ele tem o mérito de conseguir desenvolver seus vários heróis de maneira equilibrada e adequada. E segundo porque o enorme carisma dos personagens supera a atuação dos atores. É impossível não se divertir - e muito - com Groot e Rocket. Particularmente, só não gostei da Gamora. Nos quadrinhos ela é "a maior assassina do universo", já no filme, após sua prisão, ela aparenta fragilidade e pouca personalidade.

O filme também possui alguns defeitos, em geral, no roteiro: além da trama principal simplória, também não foi desta vez que escapamos de ver um "par romântico" sendo formado exclusivamente para agradar o público, mesmo em detrimento da história.

Agora sim, humor: antes dos cinco protagonistas se juntarem, o filme chega até ser sério. Mas depois que eles se encontram, o humor rola solto. E são mesmo muitas piadas, a maioria delas muito boas, principalmente as que subvertem os clichês do gênero e nos trazem ações contrárias ao esperado. Temia que Guardiões da Galáxia fizesse tantas piadas que se perdesse. Felizmente, isto não aconteceu. Entretanto, houve dois ou três momentos em que o humor "passou do ponto" e que me incomodaram. Seria mais ou menos assim: as cenas cômicas que ocorrem devido os personagens serem naturalmente insanos ou atrapalhados, funcionam. Mas as cenas cômicas que ocorrem quando os personagens do nada esquecem que estão com a vida em risco, e resolvem virar humoristas para entreter o público ao redor, estas não funcionam. Mas foram poucas as deste tipo.

Li críticas e comentários comparando Guardiões da Galáxia com Indiana Jones e Star Wars. Em relação ao primeiro, discordo. A primeira cena é, de fato, quase uma cópia de uma cena clássica de Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida. Mas para aí. Não tem há nada de Indiana depois. Já quanto a Star Wars, aí sim a comparação faz mesmo sentido. Do figurino até aos personagens (por exemplo, a relação entre Rocket e Groot é mesma que existe entre Han Solo e Chewbacca), muita coisa se parece. Entretanto, há diferenças suficientes para afirmar que Guardiões está longe de ser uma cópia. Digamos que Guardiões parece com um Star Wars sem misticismo, sem as filosofias da "Força" como plano de fundo... e com super-heróis. Ah, e quando comparo com Star Wars, a comparação só faz sentido em relação a trilogia clássica, por ser igualmente oitentista e de qualidade. Não dá para falar o mesmo da trilogia nova...

Com muitos acertos e poucos erros, Guardiões da Galáxia é diversão pura dentro do gênero aventura. Encerrando com mais uma comparação, Guardiões não é melhor nem pior que Os Vingadores. Guardiões é mais "estável" que Vingadores, pois tem menos altos e baixos. Mas ambos tem o mesmo ótimo nível e valem seu ingresso. Nota: 8,0

PS 1: o 3D de Guardiões é bom. Não bom o suficiente para justificar assisti-lo em 3D, mas bom o suficiente para se divertir um pouquinho a mais que no 2D.

PS 2: como sempre, há uma cena após o término dos créditos. A cena em questão, curtíssima, nada tem a ver com o universo dos Guardiões. Se trata de uma piadinha feita por um personagem, já esquecido, dos anos 80. Para quem conheceu o personagem, a cena agrada. Para quem não o conhece, não vale a pena. E ponto final. Ou melhor, SERIA ponto final se, na semana seguinte à estreia do filme, a Marvel não resolvesse lançar - tanto física como digitalmente - algumas histórias em quadrinhos deste mesmo personagem! Estavam achando que o personagem estava lá apenas para nos fazer ri? Sabem nada, inocentes. É puro dinheiro. Pura ganância. Pô, Marvel... podia ter disfarçado melhor nesta...

segunda-feira, 28 de julho de 2014

O incrível primeiro longa-metragem de animação (ou quase isto)


Que tal um pouco de história do Cinema? O primeiro longa metragem da história, em live-action (filmagem de pessoas reais), foi filmado surpreendentemente ainda no século XIX, em 1897, apenas 2 anos depois da primeira exibição cinematográfica dos irmãos Lumière, com seu curta La Sortie de l'usine Lumière à Lyon ("A Saída da Fábrica Lumière em Lyon").

Este filme, estadunidense, intitulado The Corbett-Fitzsimmons Fight é considerado documentário, já que basicamente registrava a luta (real) de boxe ocorrida entre os dois lutadores cujo nomes aparecem no título. Foram incríveis 1h e 40min de projeção.

O próximo grande passo seguinte aconteceu em 1906, na Austrália, com o filme The Story of the Kelly Gang. Com cerca de 60 min, foi o primeiro drama em longa-metragem e nos trazia a narrativa da vida de Ned Kelly, polêmico criminoso do país no final dos anos 1870. A partir de 1910 os longas começaram a ser produzidos em maior quantidade. Por exemplo, por volta de 1915, a produção anual nos EUA já chegava na casa das centenas.

Já estava na hora, portanto, dos longa-metragens chegarem às animações. O nome do filme que levaria o título de "primeiro longa-metragem" da animação é alvo de controvérsia. Para alguns, foi Creation, filme estadunidense de 1915, feito por Pinto Colvig. Curiosidade: Colvig é muito mais famoso por outros dois fatos: ele foi o primeiro intérprete do palhaço Bozo, e também, a primeira voz do Pateta, da Disney.

Para a maioria, o primeiro longa foi argentino, denominado El Apóstol, feito em 1917 por Quirino Cristiani. A animação era uma pesada sátira ao então presidente "hermano" da época, Hipólito Yrigoyen. Foi sucesso de público e crítica, e a técnica utilizada foi a de animação de recortes.

Creation e El Apóstol compartilham uma essencial semelhança: nenhum deles sobreviveu ao tempo, infelizmente. O que nos leva ao filme que é o verdadeiro tema deste post.

O longa-metragem de animação mais antigo e que ainda existe é um filme alemão de 1926, intitulado Die Abenteuer des Prinzen Achmed ("As Aventuras do Príncipe Achmed"), escrito e dirigido por Lotte Reiniger.

A história é baseada em alguns contos do clássico "Livro das Mil e Uma Noites", em especial, do conto The Story of Prince Ahmed and the Fairy Paribanou. Com cerca de 65 minutos de duração, o filme levou cerca de 4 anos para ser feito. Toda esta demora tem uma explicação: inventada pelo próprio Reiniger, a técnica utilizada foi a de animação de silhuetas, que consiste em uma técnica de stop-motion onde cada quadro é uma "foto" da projeção de cartões de papel contra a luz. Para entender melhor como foi feito, só mesmo assistindo:

O resultado é algo visualmente espetacular. E qualquer um pode conferir esta preciosidade histórica e visual no YouTube. No vídeo abaixo você assiste o filme completo (o filme é mudo, e as poucas partes escritas possuem legendas em inglês). É só clicar abaixo... e se impressionar!






segunda-feira, 21 de julho de 2014

Crítica - Sob a Pele (2013)

Título: Sob a Pele ("Under the Skin", EUA / Reino Unido / Suiça, 2013)
Diretor: Jonathan Glazer
Atores principais: Scarlett Johansson, Jeremy McWilliams, Adam Pearson

Em filme lento e angustiante, a nudez de Scarlett fica em segundo plano

Sob a Pele é apenas o 3º filme do diretor inglês Jonathan Glazer, de 49 anos, que começou sua carreira na direção chamando atenção com Sexy Beast (2000), que chegou a ter uma indicação a Oscar. Misturando drama, terror e ficção científica, Sob a Pele é um daqueles filmes preconceituosamente chamados de "filme de arte", e certamente seria ignorado pelo grande público se não fosse por um detalhe: trazer a nudez total de Scarlett Johansson, assunto que "bombou" na Internet. E olhe que apesar de toda a repercussão, mesmo assim o filme veio ao Brasil em poucas salas. Por exemplo, em Campinas-SP onde moro, há mais de 50 salas de cinema e Sob a Pele só foi exibida em uma delas. Por 5 dias.

Se serve de consolo, as pessoas que iriam aos cinemas pelas cenas de nudez sairiam decepcionadas. Scarlett é belíssima, sem dúvida, mas suas cenas sem roupa são curtas, muito mais tensas do que sexy, e ainda, não são exatamente o foco do filme. Ah, mas não são cenas gratuitas. Elas se encaixam perfeitamente no contexto do filme.

Na história - levemente baseada num livro de Michel Faber de mesmo nome - Scarlett Johansson é uma alienígena recém chegada à Terra, e que utiliza beleza e sedução para atrair vítimas masculinas para sua casa, onde são mortas e cuja carne é aparentemente levada ao seu planeta de origem (o destino dos corpos não é claramente explicado, como muita coisa no filme também não é). Ela é auxiliada por um motociclista (Jeremy McWilliams), também alienígena, que também observa/avalia de longe seu trabalho.

O filme pode ser dividido em duas partes, a primeira é onde vemos a personagem de Scarlett à caça. Ela escolhe homens solteiros, sozinhos, cujo "sumiço" passaria despercebido. Já aí temos uma interessante análise humana. Pois algumas de suas vítimas se interessam por ela, outras não, algumas são supérfluas, outras não.

Então acontece algo imprevisto: a alienígena encontra como presa um jovem portador de neurofibromatose, que possui um rosto inflado e deformado. Solitário, impossibilitado de qualquer contato com mulheres devido sua doença, algo faz a personagem de Scarlett questionar suas ações, o que a leva a libertá-lo imediatamente antes de seu assassínio. Curiosamente, o ator que faz este papel, Adam Pearson, realmente possui a deformidade. O que vemos não é maquiagem, e sim, seu rosto verdadeiro, fato que torna o filme ainda mais comovente.

É então que entramos na segunda e última parte, onde a alienígena precisa fugir do seu ex-comparsa e, ao mesmo tempo, começa a "descobrir" seu corpo humano, passando por experiências distintas durante sua fuga. De caçadora, ela se torna a presa. E em vários níveis. Então acompanhamos sua jornada até ao marcante desfecho.

Extremamente lento, praticamente sem diálogos, mas dando bastante destaque para a fotografia e trilha sonora, Jonathan Glazer filma de uma maneira que fica no meio termo entre Stanley Kubrick e Lars Von Trier. É uma câmera, digamos, contemplativa. De certa maneira, vemos o mundo ao redor com o mesmo estranhamento da personagem principal, a alienígena de Scarlett, que aliás atua bem, mas não a ponto de impressionar.

Um pouco perturbador, Sob a Pele definitivamente não é o filme que agrada o grande público, mas que apesar da trama simples, tem seus méritos pela experiência sensorial e, principalmente, por nos levar a questionar a natureza humana, e também, o eterno conflito da beleza interior vs beleza exterior. Nota: 7,0

domingo, 6 de julho de 2014

Crítica - O Grande Hotel Budapeste (2014)

Título: O Grande Hotel Budapeste ("The Grand Budapest Hotel", Alemanha / EUA, 2014)
DiretorWes Anderson
Atores principaisRalph Fiennes, Tony Revolori, F. Murray Abraham, Jude Law, Saoirse Ronan, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Mathieu Amalric, Edward Norton, Tilda Swinton, Jason Schwartzman, Tom Wilkinson, Léa Seydoux, Bill Murray, Harvey Keitel

Mais um divertido filme de Wes Anderson

Dentre os poucos diretores da atualidade que produzem os tais filmes "autorais", o estadunidense Wes Anderson é definitivamente um deles. Seus filmes possuem muitas características em comum, mas, principalmente, são filmes de um humor rápido e de personagens bizarros, e que sempre nos divertem muito.

Como sempre, a história é contada de maneira acelerada, com muitos cortes, várias cenas onde os atores aparecem estáticos e milimetricamente no centro da tela, como tudo se fosse uma pintura. Cores fortes, cenários improváveis, bastante coloridos, e muitos, muitos personagens, todos eles no mínimo excêntricos. Repare acima na lista de atores principais e perceba que também em O Grande Hotel Budapeste não há economia em personagens. Ótimos nomes de Hollywood aparecem mais uma vez reforçando a qualidade das obras de Wes Anderson.

O Grande Hotel Budapeste começa com um interessante exercício de narrativa, em camadas. Vemos uma menina, na fictícia república de Zubrowka de hoje, abrindo o livro sobre o hotel símbolo de seu país, e então somos transportados ao prefácio escrito pelo "autor" (Tom Wilkinson), que por sua vez, quando o livro começa, nos transporta aos anos 60 nos explicando sobre sua entrevista com o dono do hotel, o milionário Moustafa (F. Murray Abraham), que conta sua história.

E são as aventuras do jovem Moustafa na década de 30 - na época um jovem mensageiro de nome Zero (Tony Revolori) - e seu chefe, o concierge Monsieur Gustave H. (Ralph Fiennes), que são a verdadeira trama do filme. Ao longo da projeção, vemos como a propriedade do hotel passou para Gustave, que por sua vez, passou para Zero.

Notem que por mudar para a década de 30, o formato da tela vai para 1,37:1 (um formato quase quadrado, emulando o cinema daquela época, artifício também utilizado em O Artista). Estes "detalhes" são cuidados com esmero em O Grande Hotel Budapeste. O figurino e o cenário são muito bem feitos, nos convencendo da volta ao passado.

Com diálogos afiados e bastante humor, os 100 minutos de projeção passam num piscar de olhos, o que é um ótimo sinal. Comparando com o que considero as melhores obras do diretor, os filmes Os Excêntricos Tenenbaums (2001) e Moonrise Kingdom (2012), O Grande Hotel Budapeste é o melhor tecnicamente. Por outro lado, o roteiro não me cativou tanto. Ao contrário dos outros dois filmes citados, aqui a história envolve muito mais cenas de ação, e o sentimento dos personagens não é tão aprofundado, o que nos leva a um certo distanciamento dos protagonistas. Mesmo assim, o lado emocional não é descartado. Por exemplo, é trágica a situação de Monsieur Gustave, um homem "civilizado" que perde tudo com a chegada da guerra.

Contando com um enorme e talentoso elenco coadjuvante (e com ótimas atuações dos protagonistas Tony Revolori e Ralph Fiennes), se para mim O Grande Hotel Budapeste não é a melhor obra de Wes Anderson, no mínimo mostra que ele está tecnicamente cada vez melhor. E mais, reforça que seus filmes são sempre divertidos, imperdíveis. Quem ainda não conhece o trabalho deste diretor, corra aos cinemas! Você não irá se arrepender. Nota: 7,0

Crítica Netflix - I Am Mother (2019)

Título :  I Am Mother (idem, Austrália, 2019) Diretor : Grant Sputore Atores principais :  Clara Rugaard, Hilary Swank, Luke Hawker, R...