sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Crítica - O Mestre (2012)

Título: O Mestre ("The Master", EUA, 2012)
Diretor: Paul Thomas Anderson
Atores principais:  Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams
Nota: 7,0

“O filme sobre Cientologia que não fala sobre Cientologia”

As primeiras notícias de O Mestre datam do início de 2010, onde o diretor Paul Thomas Anderson procurava investidores para filmar seu script sobre "o fundador de uma religião similar a Cientologia". A idéia era contar uma história inspirada em  L. Ron Hubbard, o controverso fundador da religião que faz sucesso em Hollywood.

Era óbvio que falar da Cientologia não iria ganhar muitos interessados na indústria do cinema estadunidense. Dito e feito, mesmo após muitas revisões de roteiro o filme não foi aceito por nenhum grande estúdio. E a história, que originalmente tinha no fundador da tal religião seu foco principal (o fictício Lancaster Dodd, personagem interpretado por Philip Seymour) foi totalmente modificada para se basear no ex-marinheiro Freddie Quell (personagem interpretado por Joaquin Phoenix), alguém que fosse levado a receber ajuda via idéias "do mestre".

O resultado de tantas mudanças foi um filme que embora seja muito bom tecnicamente, mal fala sobre a Cientologia. A (não) abordagem do tema chega a ser covarde, e a história como um todo, frustrante. Ataques a Cientologia até são bastante frequentes, porém sem muita força ou relevância, contrabalanceados pela imagem de seu fundador que é apresentado como alguém essencialmente bem intencionado. E a tal "religião" sequer nos é apresentada de maneira clara. O filme basicamente nos retrata o relacionamento, quase um bromance entre Dodd e Quell, nas tentativas incessantes do primeiro em curar o segundo do alcoolismo e de sua obsessão por sexo.

Por outro lado, O Mestre possui também seus atrativos. A fotografia é muito bonita e o diretor usa e abusa da câmera para filmar de diversos ângulos e locações diferentes. A trilha sonora também chama a atenção. Boas músicas de época (pós 2a guerra mundial) mescladas com composições inéditas atuais escritas pelo músico John Greenwood da banda Radiohead.

Mesmo que a história não empolgue, outro ponto positivo é a contraposição/desenvolvimento que o diretor cria para os dois personagens principais. Paul Thomas Anderson nos apresenta gradualmente, com maestria, que discípulo e mestre possuem frustrações muito similares, ambos procuram um sentido para a vida. A diferença entre eles é basicamente a exteriorização de suas respectivas personalidades: Dodd é investigativo, contido e pacífico; já Quell é explosivo e violento. Esta comparação é mostrada com frequência, as vezes até em uma mesma imagem, como na ótima cena onde os dois estão encarceirados.

Mas o que mais faz O Mestre valer a pena são as atuações do trio Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, todos eles indicados ao Oscar 2013. Os três atuam muito bem, e fazem personagens diferentes dos que estão acostumados.

E se elogiei muito o ator Daniel Day-Lewis pela sua atuação em Lincoln, aqui Joaquin Phoenix também tem uma atuação bem acima da média. Passando por uma transformação física ainda maior que Day-Lewis, Phoenix está bastante envelhecido, magro (também corcunda), e cria um personagem perturbado, cheio de novos tiques (ele passa o filme todo sem mover o lado direito da boca) e trejeitos (como por exemplo, frequentemente apoiar as mãos nos quadris, que torna seu personagem ao mesmo tempo frágil e insolente).

É uma pena que atuações tão boas, cenas de desenvolvimento dos personagens muito bem feitas, e outros atributos técnicos elogiáveis se percam em uma história morna que acabou sem nenhuma relação com seu propósito original. As qualidades de O Mestre são suficientes para agradar admiradores do cinema. Mas fica nisto. Nota: 7,0.

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