sábado, 21 de fevereiro de 2015

O final de Two and a Half Men - Um ego vale muito mais que um seriado


Nesta quinta feira foi ao ar nos EUA o último episódio do seriado Two and a Half Men. Um episódio duplo na verdade, correspondendo ao 15º e 16º episódios da derradeira 12ª temporada.

Uma breve história sobre Two and a Half Men

Iniciada em 2003, a série era composta pelos "dois homens" Charlie Harper (Charlie Sheen) e Alan Harper (Jon Cryer) e o "meio homem", ou melhor, o ainda criança Jake (Angus T. Jones). Firmemente baseada no personagem de Sheen, a trama da série baseava-se no fato dele ser um irrepreensível bon vivant. Mulherengo e alcoólatra, sua fonte de dinheiro nunca se esgotava, e por mais que ele aprontasse, no final tudo acabava bem para Charlie Harper. Já o pobre Alan, mesmo sendo muito mais ético e honesto que o irmão, sempre se dava mal não importa o que fizesse.

Apesar do humor barato, Two and a Half Men foi muito bem sucedido em público e crítica. Porém, com o passar dos anos, se o bom resultado financeiro que o show trazia pouco se abalava, nos bastidores a estabilidade era trocada pelo caos.

Em uma triste mistura da vida com a arte, Charlie Sheen também passou a abusar de bebidas, drogas e mulheres na vida real, o que começou a cada vez mais interferir no seu trabalho (atrasos e cancelamentos na gravações passaram a ser frequentes), e finalmente, culminou com Charlie batendo de frente com o todo poderoso produtor da série, Chuck Lorre.

Após surtos e trocas de acusações públicas, Charlie Sheen foi demitido em pleno andamento da 8ª temporada. Ela, que deveria totalizar 24 episódios acabou sendo interrompida após o 16º.

Two and a Half Men quase foi cancelado, mas sobreviveu. Sai Charlie e entra o milionário Walden Schmidt (interpretado por Ashton Kutcher). Segundo a trama, Charlie Harper morreu atropelado por um trem, enquanto passava sua lua de mel com Rose (Melanie Lynskey), que por sua vez, dá uma indireta que aquilo não foi um "acidente", e sim, sua vingança.

Walden de certa forma é uma versão "bom caráter" do protagonista anterior. Assim como Charlie, Walden também tem dinheiro "ilimitado", não trabalha, e passa o tempo todo atrás de bebidas, mulheres e... maconha. Mas a grande diferença é que o personagem de Kutcher vai atrás do sexo feminino buscando um relacionamento duradouro. Ele respeita as mulheres, e em linhas gerais, para qualquer assunto, tenta "fazer o bem". Para antagonizar com Walden, o ex-bonzinho Alan Harper passou a ser um parasita mal caráter cujos episódios de remorso passaram a ser cada vez mais raros.

O resultado é que a qualidade da série caiu bastante. A  audiência também caiu: com Charlie Sheen no elenco, Two and a Half Men foi em boa parte do seu tempo a série de TV mais assistida nos EUA. Sem ele, esta marca jamais voltou a acontecer. Mesmo assim, a tal queda de audiência não foi proporcionalmente tão grande (cerca de 30%), o que manteve o seriado com o status de ser bastante lucrativo.

Anos depois, foi a vez de Angus T. Jones deixar a série. Ao mesmo tempo que os primeiros episódios da 10ª temporada iam ao ar, Angus deu uma polêmica entrevista para um website cristão demonizando o seriado. Agora se dizendo convertido pelo Cristianismo, ele declarou que o seriado era um mal exemplo para as pessoas, e que se arrependia de ter participado daquilo. Mesmo não sendo "demitido" por isto, suas participações durante a temporada corrente ficaram cada vez menores até que ele parou de aparecer em Two and a Half Men em definitivo.

Com a audiência caindo constante e lentamente, Jake foi "substituído" por Jenny (Amber Tamblyn), uma filha desconhecida de Charlie, que por sua vez era a versão feminina do mesmo, com os mesmos vícios e defeitos. Não deu certo. Então, para a 12ª e enfim última temporada, Jenny foi deixada de lado, e Walden Schmidt adotou uma criança, fazendo que finalmente a série voltasse a significar seu título: Two and a Half Men.

O episódio final de Two and a Half Men

Como contarei a partir daqui sobre o que acontece no último episódio, spoiler alert!: recomendo que você só continue a leitura após ter assistido o episódio ou se não importar em saber como ele termina.

O episódio anterior (14º) deixou tudo programado para que o seriado terminasse com um duplo final feliz amoroso. Walden Smith já estava namorando a atendente social Ms. McMartin (Maggie Lawson) e Alan Harper acabara de pedir Lyndsey (Courtney Thorne-Smith) em casamento.

E o que o desfecho fez em relação a isto? NADA. Ignorou completamente a continuidade da série e se preocupou com apenas uma coisa: a volta de Charlie Harper.

Logo no começo do episódio aprendemos que Charlie não morreu, e estava sendo mantido em cativeiro por Rose dentro de um poço, de um jeito bem parecido como vimos no filme O Silêncio dos Inocentes. Ao conseguir escapar após 4 anos preso, Charlie prepara sua volta, e o faz mandando ameaças de morte a Alan e a Walden, o que não faz absolutamente o menor sentido. Esqueça, aliás, obter qualquer sentido lógico na "trama" do episódio. Quando Charlie foge, Rose reúne os familiares do ex-protagonista e lhes conta a verdade... e também conta que agora Charlie quer se "vingar deles"(????!!!!). E não é que o fato dela deixar uma pessoa presa por 4 anos em cativeiro não incomodou ninguém da família? Tudo é tão absurdo que no desfecho desta cena, a mãe de Charlie (Holland Taylor) corre atrás de Rose buscando se proteger do seu filho.

Outra grande surpresa é que o episódio final é bastante metalinguístico. São vários os momentos em que os atores falam com os expectadores, comentam sobre o seriado, zombam da crítica e do público... Atores e personagens se alternam várias vezes ao longo da história. Mas principalmente, o que o episódio faz questão de fazer é cutucar Charlie Sheen. As tais "ameaças" de morte escritas por Charlie tem parte do seus textos copiados de declarações reais que o ator deu em seus surtos psicóticos contra Chuck Lorre. E mais, quando Rose relembra sobre como foi a vida de Charlie nestes últimos 4 anos, as cenas são feitas com desenho animado, e o personagem de Charlie chega a ter seu nariz transformado em um aspirador de pó quando o mesmo passa a cheirar cocaína.

Sim. Eu disse "animação" no parágrafo seguinte. Que foi um recurso utilizado porque o verdadeiro Charlie Sheen NÃO aparece em nenhum momento do episódio. As negociações para que ele voltasse existiram, mas não deram certo. Isto não impediu que Chuck Lorre fosse desonesto a respeito. Afinal, toda a propaganda feita por ele em torno do episódio final era baseado no "mistério" se Charlie voltaria ou não. Oras bolas, todo o EPISÓDIO final foi baseado nisto.

Na cena final, quando vemos o suposto Charlie Sheen, de costas, voltando pra casa, um piano cai sobre ele, matando-o. Então a câmera se abre, mostrando que aquilo é um estúdio, e vemos Chuck Lorre na cadeira de diretor rindo e comemorando, dizendo: "vitória!". Então um piano também cai sobre ele e o seriado termina. Ou melhor, ainda não termina. Em seu tradicional letreiro "Chuck Lorrie Productions" com que ele encerra cada episódio que produz, o texto mais uma vez tira sarro de Charlie Sheen sobre "porque as negociações para trazê-lo não deram certo".

O resultado? Nenhum personagem de Two and a Half Men teve seu desfecho. O que aconteceu com Walden, Alan, Berta, Evelyn, Jake, Louis, Ms. McMartin, Lyndsey? Não sabemos. Porque para Chuck Lorre o seriado não importa. O que mais importa é fazer um episódio para lembrar a Charlie Sheen que ELE venceu, que é ele quem importa.

A única coisa boa do final de Two and a Half Men foram os convidados especiais. As participações de Arnold Schwarzenegger, John Stamos e Christian Slater foram certamente inesperadas e divertidas. Mas isto é muito pouco para o desrespeito final de Chuck Lorre com seu público. O final de Two and a Half Men entra na briga para ser um dos piores e mais desrespeitosos de todos os tempos.

PS: quem ainda não conhece, na foto, ao centro, o sr. ego Chuck Lorre.

10 comentários:

Anônimo disse...

Discordo totalmente de sua análise sobre esse episódio duplo final. Achei engraçadíssimo, talvez o melhor dos últimos 4 anos. Não achei nem um pouco desrespeitoso, muito ao contrário.

Fernando disse...

Two and a Half Men acabou na 9 temporada quando charlie saiu, o resto foi só uma porcaria pra fazer os fans perderem tempo.

Ivan disse...

De fato, deveria ter parado lá. Mas na época a série era lucrativa demais para não tentarem continuar, infelizmente. Abraços!

Talita Saviñón disse...

Eu gostei bastante do último episódio, até fiquei na expectativa do Charlie aparecer. Mas no fim, acabei rindo do que o Chuck fez. A única coisa chata que achei depois que o Charlie Sheen saiu, foi a mudança de Alan. Ele ficou um nojinho, fazendo coisas nada a ver com ele. Eca. E ele era o meu favorito da série. Ainda vejo a série quando passa na Warner, acho até legalzinho o Walden, mas eu preferiria que o Alan tivesse no comando e conseguido conquistar algo na vida. É um porre quando um personagem fracassado não consegue nada... E só se fode. AFF

Ivan disse...

Olá! De fato, quando o Charlie saiu o personagem do Alan mudou... e pra pior. Antes, ele era uma pessoa de caráter, que "abusava" da hospitalidade do irmão por realmente não ter dinheiro. Depois, ele acabou sendo um "malandro", que só queria se aproveitar do Walden. Abraços!

Unknown disse...

Pra mim a série acabou na 8 temporada.

Ana disse...

Concordo.
O final foi genial! Não vi qualquer arrogância do diretor. Muito pelo contrário. Ele demonstrou que na briga entre ele e o Charlie Sheen, não houve nenhum vencedor.
De fato, senti falta do desfecho dos personagens e, embora ache que Charlie Sheen fez falta, a crítica foi muito injusta com a nova fase de Two and a Half Men.
Sem dúvida alguma, a série merecia pelo menos mais uma ou duas temporadas.

RR disse...

Infelizmente o seriado perdeu o rumo e deturpou os personagens. Uma pena!!! Esse final, então, ridículo!!! Antes tivesse deixado de produzir e não haver desfecho!!! Tipo Caverna do Dragão !!! O que houve em suma foi só uma briga de egos onde quem perdeu de verdade foi o público em geral!!! Lamentável!!!Um seriado que marcou época e terminou de forma pífia!!! Só vi o episódio final hoje, 03/06/2020. Será por quê??? Acho que a resposta já foi dada!!!

Anônimo disse...

A série terminou com a saída do Charlie,o resto é puro lixo pra encher linguiça

Anônimo disse...

Concordo com essa crítica... Charlie é meu personagem favorito, e o que foi feito na série foi um total desrespeito à ele. A briga foi com o ATOR, e quem foi prejudicado foi o PERSONAGEM. Muito nada a ver.
Amo o Ashton Kutcher (ator que fez o Walden) e acho o trabalho dele muito bom, mas essa série em especial ficou boa até a 8° temporada! Como eu disse... Nada contra o novo ator/personagem... É que tiraram o personagem Charlie de uma forma totalmente desnecessária e desrespeitosa

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