terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Crítica - Matrix Resurrections (2021)

Título: Matrix Resurrections ("The Matrix Resurrections", EUA, 2021)
Diretor: Lana Wachowski
Atores principais: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Jessica Henwick, Jonathan Groff, Neil Patrick Harris, Jada Pinkett Smith, Priyanka Chopra Jonas, Toby Onwumere
Nota: 5,0

Filme corrige erro de 18 anos, mas de modo ruim e repetitivo

Enfim a crítica de Matrix Ressurrections, uma das mais solicitadas para este blog desde que o filme estreou nos cinemas nacionais, em 22 de Dezembro. Aliás ele continua nos cinemas, mas já está há poucos dias de estrear no Brasil pela HBO Max (será em 28 de Janeiro). Pelo menos o Cinema Vírgula chegou na frente dos streamings rs.

Antes de iniciar meus comentários, alerto que o texto terá enormes spoilers do filme Matrix Revolutions (2003) e spoilers moderados do filme atual em questão, o Ressurrections. Contarei algumas coisas que acontecem até o meio da trama, mas nada depois disto... não vou revelar o final. E a propósito, se você não assistiu a trilogia Matrix original, nem faz sentido assistir esse filme.

Vamos lá: voltando um pouco no tempo, Matrix Revolutions acabou da pior maneira possível: após três longos filmes e os sacrifícios derradeiros tanto de Neo (Keanu Reeves) quanto de Trinity (Carrie-Anne Moss), a saga Matrix não termina... a guerra entre humanos e máquinas não tem vencedores, nem perdedores, e nem empate... apenas uma trégua; ou seja, horas e horas de filmes para não se concluir nada. Péssimo.

O primeiro ato de Matrix Ressurrections mostra um Thomas Anderson (Reeves) como um famoso desenvolvedor de jogos... ou melhor de uma trilogia de jogos mundialmente famosa de nome "Matrix", cuja história são os filmes que conhecemos. Ele se encontra casualmente em um café com uma mulher de nome Tiffany (Moss) e se pergunta o tempo todo, confuso, se algo está errado, se aquele é mesmo o mundo real. É então que temos 50 enfadonhos minutos com Mr. Anderson tendo dezenas (literalmente) de flashbacks dos filmes anteriores misturados com muita metalinguagem.

Aparentemente Lana Wachowski achou uma idéia genial criticar seu próprio estúdio e seus próprios fãs dentro da história e cria várias cenas para misturar real e ficção, como por exemplo, uma em que o chefe de Thomas pede para que ele faça o jogo de Matrix 4, "pois a Warner decidiu que ele será feito com ou sem ele"; ou ainda, uma cena em que o time de marketing da empresa de jogos faz piadas sobre a necessidade de "um novo equivalente ao Bullet Time" para o game. Sim, essas cenas contam o que a franquia Matrix sofreu na vida real, mas não faz nenhum sentido trazê-las para o filme (leia meu PS no final do texto para mais detalhes). A última experiência similar que vi alguém fazer isso, foi o (na época) igualmente presunçoso M. Night Shyamalan com seu A Dama na Água (2006), e o resultado foi igualmente catastrófico.

Então, é revelado que Neo está mesmo em uma nova Matrix, e... olha só... se passaram 60 anos após os eventos de Matrix 3 e a trégua entre máquinas e humanos foi de fato cumprida! E isso é bom, pois minimiza o erro que foi o desfecho de 18 anos atrás. Matrix Ressurrections passa então a ter outro contexto, um em que o objetivo é bem mais simples, libertar Neo e Trinity da Matrix (e, é claro, explicar como eles estão vivos novamente). O filme melhora então a partir daí, depois de um primeiro ato horroroso? Sim, mas só um pouco.

A melhora é tímida, e basicamente porque vemos mais Neo e Trinity juntos na tela. A química entre os dois continua funcionando décadas depois e é uma das melhores coisas de Matrix Ressurrections. Já as cenas de ação, que aumentam em quantidade, são patéticas de tão mal feitas: as lutas são tão genéricas e tão mal coreografadas que os golpes dos lutadores claramente nem acertam os adversários; os tiroteios são tão absurdos e sem mira que parece que estamos vendo um filme B dos anos 80. Com exceção dos últimos 20 minutos do filme, em mais nenhum momento temos a sensação de que qualquer um dos "mocinhos" irá sequer se machucar, quanto mais morrer. Ridículo. Se pensarmos o quanto a trilogia Matrix foi revolucionária e definidora em termos de filmes de ação, chega a ser ofensivo ver esta porcaria que foi entregue.

E o desleixo com a trilogia inicial acontece em outras partes... personagens (por exemplo, Morpheus está completamente descaracterizado), fotografia... vejam, nos filmes anteriores apenas pelas cores já conseguíamos diferenciar o mundo real do mundo dentro da Matrix; o que não acontece aqui em Matrix 4. A história é longa, repetitiva... vemos uma mesma cena de filmes anteriores várias vezes... tudo é cansativo e perde o impacto a cada repetição.

Matrix Ressurrections também decepciona no que ele "poderia ser" e não foi. Afinal, pensem no quanto tivemos de evolução tecnológica em 20 anos, e isso poderia ser incorporado de maneira inteligente para dentro dessa "nova" Matrix de 2021? Entretanto, admito, esta oportunidade não foi desperdiçada por completo. Ao incorporar as "redes sociais" dentro da Matrix (agora os humanos são mais "controláveis", e permitem enxames de robôs atacantes), tivemos pelo menos uma analogia interessante que valeu a pena.

Que este Matrix 4 seja realmente o fim de um ciclo, o desfecho desta franquia, pois apesar de todos os muitos defeitos deste filme citados por mim ao longo deste texto, ao menos ele trouxe um final satisfatório. Ainda é um final "aberto", que não encerra a história em definitivo... mas ainda assim, 18 anos depois, certamente é um final mais fechado e coerente do que o final de Matrix Revolutions. Por isso, e APENAS por isso, a realização de Matrix Resurrections não foi um desperdício completo. Nota: 5,0.



PS: somando as histórias contadas por Lana Wachowski e James McTeigue (co-produtor do filme), de fato a Warner já estava há vários anos tentando convencer as irmãs Wachowski a fazer novos filmes de Matrix, e ambas sempre recusavam veementemente. Em 2017 o estúdio finalmente se decidiu por um reboot sem elas e contratou Zak Penn (Os Vingadores) para escrever o roteiro. Porém, Lana perdeu os pais em 2019, e disse que a idéia de reviver Neo e Trinity (já que não poderia reviver os pais)  a ajudou a lidar com o luto, e isso a fez bolar uma história e querer fazer um filme.

Matrix Ressurrections dividiu a opinião dos críticos em visões bem opostas, sendo que parte dos que gostaram do filme, curiosamente levantam a teoria de que Lana fez o filme de maneira "ruim" de propósito, como protesto a pressão que ela sofreu pelo estúdio e fãs, e a elogiam pela coragem de fazer isso. Conhecendo as Wachowski eu confesso que não descarto completamente esta tese... mas, duvido. É só olhar as estatísticas: dentre 8 filmes dirigidos por Lana, ela só mandou bem em 2. Sem contar que um ato como esse, se descoberto, iria queimar sua reputação para sempre dentro da Indústria. E já a Warner... bem, a especialidade da Warner é ter franquias boas e fazer filmes porcarias com elas... basta ver o que fazem com os filmes da DC. Conclusão, unir Wachowski e Warner em 2021 não poderia resultar em algo muito diferente disso não...

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