"Quando mais é menos".
Agora sim, a aguardada crítica sobre o filme, ignorando seus 48 fps (se quiser ver minhas impressões sobre o HRF, clique aqui).
Temos em "O Hobbit - Uma Jornada Inesperada" mais uma adaptação dos livros de J.R.R. Tolkien. Na verdade, Hobbit é o primeiro livro do autor dentro do universo da Terra Média, escrito cerca de 17 anos antes de "A Sociedade do Anel". Aqui o herói que dá nome à aventura é o hobbit Bilbo Bolseiro, tio de Frodo.
Se pararmos para pensar: o roteiro original vem de J.R.R. Tolkien, que dispensa comentários. A direção vem de Peter Jackson, que já mostrou bastante competência com a trilogia do Senhor dos Anéis. Com esta dupla, era pouco provável que Hobbit desse errado. E não deu. "O Hobbit - Uma Jornada Inesperada" é um bom filme, no pior dos casos um bom entretenimento. Todo o encanto, aventura, e qualidade técnica que vimos nos filmes do Senhor dos Anéis está de volta.
Aliás, tecnicamente, temos duas novidades bem interessantes: primeiro, a filmagem a 48 fps; e segundo, várias cenas com tomadas aéreas "de curta/média distância". Desta maneira, conseguimos desfrutar as paisagens e as batalhas de uma maneira inédita e privilegiada, onde temos uma completa noção de onde/como se passam as ações.
Tudo isto serve para agradar os olhos. E "O Hobbit" também é eficiente em agradar o coração, pois nele também temos as esperadas cenas com dose certa de emoção e heroísmo. Para fechar o pacote, só faltaria a parte de agradar a mente (roteiro). E é aí que a aventura de Bilbo falha, e bastante.
A ganância dos envolvidos com a trilogia nos cinemas fez que um livro infantil fosse dividido em TRÊS longos filmes. Obviamente, muita coisa extra livro precisaria ser acrescentada para preencher três produções. E é uma pena que são exatamente as partes "extra livro" que enfraquecem a trama.
Logo de cara, temos DUAS introduções ao filme. A primeira, totalmente irrelevante, só serve para mostrar Frodo, ou seja, fazer uma ponte entre as duas trilogias. Ainda para reforçar a ligação entre as duas trilogias, temos aparições de personagens extra-Hobbit, como por exemplo Saruman, Galadriel e o mago Radagast. A participação destes personagens sob justificativa de uma "grande e misteriosa força do mal" descaracterizam a obra original, dando a Hobbit um tom muito mais sombrio do que a aventura "leve" do livro.
Radagast aliás, é um dos pontos mais baixos do filme. Sua participação abrupta não somente quebra totalmente o ritmo da história, como é um personagem exageradamente caricato, deslocado do mundo apresentado.
A necessidade de "fazer o tempo passar" fica evidente nos diálogos - alguns repetitivos e desnecessários - e principalmente nas batalhas. Sim, batalhas com trolls, orcs, gigantes de pedra... tudo isto está no texto de Tolkien. Mas o que deveriam ser batalhas simples foi realizado de maneira tão grandiosa, tão inverossímil, tão carregada de efeitos especiais que remetem aos piores momentos da nova trilogia do Star Wars de George Lucas.
Curiosamente, este "inchaço" não pode ser creditado exclusivamente à ganância de Hollywood. Parte da culpa é do diretor Peter Jackson. Afinal, o lucro com três filmes já estava definido e garantido, e ele poderia simplesmente fazer cada filme com cerca de uma hora e meia. Mesmo assim Jackson fez questão de fechar o primeiro filme da trilogia com absurdos 169 minutos! (E isto não é surpresa pra mim... Lembram?).
Apesar de seus defeitos repito que "O Hobbit - Uma Jornada Inesperada" ainda consegue ser um bom filme, e vai agradar quem gostou de "O Senhor dos Anéis". Devido sua longa duração, a história chega a cansar um pouco, mas isto é amenizado devido ao constante encantamento que temos explorando novos trechos do universo de Tolkien. O primeiro filme Hobbit é definitivamente inferior a qualquer um dos três "Senhor dos Anéis", mesmo assim, ainda diverte. Nota: 7,0.