segunda-feira, 3 de março de 2025

Brasil vence o primeiro Oscar de sua história!


O dia 02 de Março de 2025 entra para a História do Cinema Brasileiro ao se tornar o dia onde nosso país venceu sua primeira estatueta do Oscar.

E a conquista veio através do Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui. O filme  nacional ainda estava indicado em mais duas categorias, a de Melhor Filme e a de Melhor Atriz, porém perdeu ambas para Anora. É importante ressaltar que isso não diminui em nada esta grande vitória, temos que comemorar bastante!!

Para quem ainda não viu, no vídeo abaixo temos toda a sequência do momento da entrega do nosso primeiro Oscar!

sábado, 1 de março de 2025

O Oscar 2025 será NESTE domingo! Conheça aqui os favoritos e minha análise sobre as chances brasileiras!


Neste 02 de Março de 2025, amanhã, um Domingo de Carnaval(!), teremos a cerimônia de entrega do 97º Academy Awards, vulgo Oscars 2025. Abaixo segue a lista dos 10 filmes que disputam o prêmio máximo de Melhor Filme, ordenados pelo número somado de indicações recebidas (entre parênteses). Você pode clicar nos links dos nomes para ler as críticas feitas aqui pelo Cinema Vírgula. Dos 10 nomes acabei não assistindo 3, com o detalhe que Um Completo DesconhecidoNickel Boys estrearam no Brasil apenas nesta Quinta-feira(!), o primeiro deles nos cinemas, e o segundo no Prime Video:
Dentre os filmes que receberam múltiplas indicações, mas não a de Melhor Filme, lideram em número Nosferatu (4), Sing Sing (3) e Robô Selvagem (3).

Esta edição tem um interesse bem especial para nós brasileiros, afinal, nosso Ainda Estou Aqui, de Walter Salles e Fernanda Torres, estará disputando as estatuetas de Melhor Filme, Melhor Atriz (para Fernanda Torres) e Melhor Filme Internacional.

E a Rede Globo está acreditando que vai dar "samba", afinal, não só decidiu após muitos anos voltar transmitir o Oscar ao vivo (ao invés de um atraso de algumas horas para não interferir na sua programação), como optou transmitir o Oscar na TV aberta apesar dos desfiles de Carnaval! Mas será que o Brasil tem chance mesmo de ganhar algum dos prêmios e levar para casa nosso histórico primeiro Oscar? Vejam a seguir o que acho das chances brasileiras em cada uma das 3 categorias.


O Oscar de Melhor Filme

Não vejo a menor chance de Ainda Estou Aqui levar o prêmio máximo. E o mesmo digo para Emilia Pérez, que descarto devido sua alta rejeição e polêmicas. Como já expliquei no passado, esta categoria é diferente, e muitas vezes não vence o "melhor votado", e sim, o "menos rejeitado". Exatamente por isso, acredito que o Oscar de Melhor Filme vai ficar entre Anora ou Conclave, que são, dentre os filmes de maior número de indicações, que não possuem nenhuma polêmica jogando contra.

Entretanto, a meu ver, ainda há um terceiro candidato correndo por fora que pode levar esta tão cobiçada estatueta. Trata-se de O Brutalista, cuja campanha se enfraqueceu pelo uso de IA. Se ele vencer, é porque a Academia optou por passar uma mensagem mais política, pró imigrantes e antinazismo, em recado ao governo Trump.

Mas é um cenário improvável. Aliás, eu estou imaginando que durante a cerimônia do Oscar teremos sim algumas cutucadas contra Trump, mas ficará só nisso, acredito numa edição menos politizada desta vez... o próprio fato do apresentador escolhido ser Conan O'Brien, menos combativo, me passa essa sensação. Dito tudo isto, estou apostando em uma vitória para Anora.


O Oscar de Melhor Atriz

Mais uma vez Karla Sofía Gascón e seu Emilia Pérez ficam de fora do páreo, e não somente porque Karla falou todas aquelas atrocidades em seu Twitter anos atrás, mas também porque ela disse que "pessoas da equipe de Fernanda Torres" estavam ativamente ajudando a difamá-la. Atitude essa que quase a excluiu da disputa pelo prêmio (pelas regras do Oscar, um candidato não pode falar mal dos concorrentes, sob pena de eliminação).

E aí o bicho pega, por que a disputa é tripla e acirradíssima entre Mikey Madison (Anora), Demi Moore (A Substância) e nossa Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui). As três dividiram os prêmios de Melhor Atriz ao longo da temporada de premiações, o que deixa tudo indefinido. E cada uma tem seus motivos particulares para ser a escolhida:

Demi Moore, pela sua idade e carreira, ao nunca ter vencido a estatueta e estar meio sumida do estrelato há um certo tempo, sua vitória seria uma daquelas histórias de redenção e superação que Hollywood tanto ama; já Fernanda Torres é provavelmente quem entregou uma atuação mais completa das três concorrentes, além de que sua vitória seria uma reparação à injustiça feita com sua mãe em 1999... e a Academia também gosta de histórias de "corrigir erros"; finalmente Mikey Madison representa uma nova geração e Anora, que se como imagino vá levar o Oscar de Melhor Filme, faz todo sentido para o evento que este filme leve várias estatuetas. Então, a de Melhor Atriz também poderia ser uma delas.

Estou torcendo muito muito muito pela Fernanda Torres, acho que ela tem chances reais, ainda mais se o Brasil não levar o Oscar de Melhor Filme Internacional. Mas ainda assim, acho que aqui vai dar Demi Moore. 


O Oscar de Melhor Filme Internacional

E finalmente, o Oscar para os que não são estadunidenses. Por tudo que Ainda Estou Aqui é bom e Emilia Pérez não é; por tudo que Ainda Estou Aqui foi elogiado e Emilia Pérez criticado, o filme brasileiro deveria ser o franco favorito. Porém, infelizmente, não é o caso. Nesta categoria, Emilia Pérez ainda é forte concorrente.

Apesar de toda a repercussão negativa que Emilia Pérez recebeu nos últimos dois meses - e por motivos justos - o filme francês continuou vencendo a maioria dos prêmios de "Melhor Filme Internacional" deste mesmo período. Bem preocupante. Em outras palavras, o lobby e o dinheiro da Netflix continuam falando bem forte nas premiações. Somando-se a isso, o fato de que a atriz Karla Sofía Gascón, que está "sumida" do público há um bom tempo para evitar novas polêmicas, ter confirmado sua presença na cerimônia, não seria um sinal de que Emilia Pérez vai vencer algum prêmio? - perguntaria meu lado conspiracionista rs.

Ainda assim quero manter meu otimismo e apostar que será aqui que o Brasil vencerá seu primeiro Oscar. Acho que nesta categoria vai dar Ainda Estou Aqui. Se perdermos aqui, sonho em ver Fernanda Torres vencendo sua categoria mais tarde... de um jeito ou de outro, quero manter o otimismo de que o Brasil vai encerrar este Oscar levando alguma estatueta para casa.


E o que mais??

Não vou dar meus palpites para todas as categorias restantes, mas vou dar meus pitacos para mais algumas principais.

Melhor Direção: Coralie Fargeat(*) (A Substância); Melhor Atriz Coadjuvante: Zoe Saldaña (Emilia Pérez); Melhor Ator: Adrien Brody(*) (O Brutalista); Melhor Ator Coadjuvante: Kieran Culkin (A Verdadeira Dor); Melhor Trilha Original: Wicked; e Melhor Animação: Flow.

(*)Comentários: para Melhor Direção, os favoritos são, em ordem: Sean Baker (Anora) e Brady Cobert (O Brutalista) em segundo. Mas eu vou apostar na Coralie para ser "a maior surpresa" deste Oscar; para Melhor Ator, está rolando nos EUA um boato meio bizarro... que muitos votantes não votaram no Ralph Fiennes (Conclave) porque achavam que ele já tinha vencido o Oscar antes, e só depois de votarem, descobriram - em arrependimento - não ser o caso... E o pior de toda esta história é que Adrien Brody já venceu o Oscar antes! Se não fosse por esse rumor, confesso que teria apostado em Ralph como vencedor, porém, não é mais o caso.


Lembrando, a cerimônia do Oscar será neste Domingo, 2 de Março, a partir das 21h (horário de Brasília) no tapete vermelho e às 22h a entrega dos prêmios. Com transmissão na TV aberta pela Rede Globo, e pela TNT / Max em canais fechados.


E vocês, quais são seus palpites? Acham que o Brasil leva algo? Deixem nos comentários!

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Crítica - O Brutalista (2024)

Título
: O
 Brutalista ("The Brutalist", Canadá / EUA / Reino Unido, 2024)
Diretor: Brady Corbet
Atores principais: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Raffey Cassidy, Ariane Labed, Stacy Martin, Emma Laird, Isaach de Bankolé, Alessandro Nivola
Nota: 6,0

Grandiosidade faz com que filme se perca em sua história

Tendo estreado nos cinemas brasileiros na Quinta-feira passada, O Brutalista entra na véspera da cerimônia do Oscar como um dos favoritos a levar o Oscar de Melhor Filme 2025.

A história de O Brutalista, fictícia, nos apresenta László Tóth (Adrien Brody), um judeu-húngaro sobrevivente do Holocausto e arquiteto modernista (leia mais sobre isto no meu P.S. ao final deste artigo), que imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial consegue emigrar para os Estados Unidos, mesmo que isto signifique separar de sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) e de sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy). Algum tempo após chegar nos EUA, ele acaba sendo contratado pelo milionário Harrison Van Buren (Guy Pearce), para comandar um enorme e ambicioso projeto.

Dada esta descrição inicial, é difícil classificar O Brutalista. Ele é bem longo (quase 3h30min de projeção) e por opção bem ousada de seu diretor/roteirista Brady Corbet, acaba tratando de muitos assuntos. Aqui vemos a luta e questionamentos de um refugiado judeu, a busca do sonho americano, a crueldade e arrogância da classe rica, e ainda comentar de passagem sobre racismo, brigas de casal, vício em opióides e até... História e Arquitetura.

Em termos da trama, parece que temos dois filmes distintos. No primeiro ato, onde os personagens são apresentados, O Brutalista ainda consegue se manter interessante para o espectador. Porém no segundo ato, quando Erzsébet e Zsófia chegam aos EUA, a história parece se perder completamente, com o roteiro não sabendo mais que história contar. E, deixando claro, isto nem é culpa das novas personagens que chegaram. Até porque depois que Felicity Jones chega, ela acaba fazendo a única personagem interessante que resta em O Brutalista, já que nesta parte dois o personagem de Adrien Brody entra em uma descendente e se torna rapidamente intragável.

Portanto depois de um primeiro ato bem interessante e promissor, a única coisa que salva do roteiro segundo ato - confuso e com várias bizarrices - é que pelo menos ele não é previsível. Se prepare para situações incomuns. Por outro lado, se o roteiro de O Brutalista derrapa, ele vai muito bem em outros aspectos técnicos.

A fotografia (o que inclui os diversos modos de filmagem) e a trilha sonora de O Brutalista são ambas bem impressionantes. E inclusive, ambas são fundamentais para que este filme possa ser classificado como "épíco" mesmo sem ter cenas grandiosas de ação, ou mesmo de cenografia.

O Brutalista está indicado a 10 prêmios do Oscar 2025 e tem boas chances de levar alguns deles, ainda que uma certa polêmica possa prejudicar suas chances: trata-se do fato do uso de Inteligência Artificial no uso de um "aperfeiçoamento" no sotaque húngaro dos atores. Você pode aprovar ou reprovar, achar hipocrisia ou não, mas o fato é que "hoje" parte de Hollywood ainda não vê IA com bons olhos. Gostei bastante da atuação de Guy Pearce aqui, pra mim é a melhor atuação dele desde Amnésia (de 2000), só que não acho que ele leve o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante... todo mundo fala que o irmão de Macaulay Culkin, Kieran Culkin, é quem vai levar esta.

O Brutalista é outro filme desta safra do Oscar 2025 que é adorado pela crítica especializada mas que não vejo como agradar tanto o público em geral. Muito longo, muito lento, e até chato, seus pontos positivos vão mais pela trama inusitada e aspectos técnicos excelentes do que pela história em si. Nota: 6,0.


P.S.: por que Brutalista? É de se imaginar que o filme se chama "O Brutalista" porque o roteiro quer associar László Tóth com o estilo Brutalista. E faria sentido. O Brutalismo é um estilo arquitetônico que surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Suas principais características são o concreto exposto, sem adorno, e o uso de formas geométricas gigantes e ousadas.

O problema, é que segundo a comunidade arquitetônica o filme não mostra quase nada da arquitetura Brutalista, e quando o faz, faz de modo errado. Mais uma polêmica pro filme lidar...

O prédio do MASP, na cidade de SP, é um exemplo da arquitetura Brutalista

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Crítica - Emilia Pérez (2024)


Título
Emilia Pérez (idem, Bélgica / França, 2024)
Diretor: Jacques Audiard
Atores principais: Zoe Saldaña, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez, Adriana Paz, Edgar Ramírez, Mark Ivanir, Eduardo Aladro, Emiliano Hasan
Nota: 6,0

Entretenimento não tão ruim, mas artificial

Enquanto desfilava pelos festivais de Cinema, Emilia Pérez era um dos filmes do ano. Elogiado pela crítica especializada, e sendo promovido com caminhões de dinheiro pela Netflix, que ainda está em busca de vencer uma da principais estatuetas do Oscar (ainda que neste filme ela só esteja distribuindo, não o produziu). O filme recebeu nada menos que 13 indicações ao Oscar 2025, e por isso despontava como o favorito a levar o prêmio de Melhor Filme. Mas foi só o público geral começar a assisti-lo, e os problemas começaram...

... mas antes de entrar nesse tema, vamos falar sobre o que Emilia Pérez se trata. É um filme musical que se passa no México atual, onde temos um dos maiores chefes do narcotráfico do país, Juan "Manitas" (Karla Sofía Gascón), que resolve abandonar sua vida atual e ser a pessoa que sempre quis ser desde que nasceu, uma mulher. Então, ele contrata Rita (Zoe Saldaña) que o ajuda em todo o complexo plano que culmina em seu "sumiço" do México e cirurgia de redesignação de gênero para o feminino. Anos depois, e já estabelecida como Emilia, ela retorna ao seu país, onde acaba ajudando vítimas do tráfico, mas também entra em conflitos com sua antiga esposa, Jessi (Selena Gomez).

Como entretenimento, Emilia Pérez não é ruim. Produzido de modo dançante, dinâmico, colorido (e brega), ele foi feito justamente para agradar. Pelo tipo de história que conta, e repleto de diálogos, nem deveria ser um musical... porém seu diretor, o francês Jacques Audiard, queria que o filme fosse uma "Ópera", e então temos vários diálogos em que as pessoas começam a cantarolar do nada, e param de cantarolar igualmente da mesma forma, sem nenhuma explicação; ou ainda, em que qualquer evento banal pode virar um "mini clipe", algo como se fosse um vídeo do TikTok, com dançarinos brotando do além. E apesar de tanto nonsense, ainda assim há alguns momentos musicais bons. Aliás, importante destacar, há bem menos musical em Emilia Pérez do que eu esperava.

Os dois personagens principais, o de Zoe Saldaña e o de Karla Sofía Gascón acabam sendo suficientemente interessantes, e na verdade, Zoe Saldaña é a melhor coisa de Emilia Pérez. De QUALQUER uma das 13 indicações ao Oscar que este filme recebeu, a única que não será injusto ele vencer será a de Melhor Atriz Coadjuvante para Zoe.

Mas se Emilia Pérez não é tão ruim e é até aceitável (mas bem cafona), seu problema é que ele é muito artificial. Ao começar de sua produção, que tenta vender um México mas mal tem integrantes mexicanos ou até mesmo falantes de espanhol. Algo que me impressionou bastante é como todos os cenários do filme são genéricos. Embora as cenas de Emilia Pérez se passem se passem no México (e alguns países da Europa) dos dias atuais, as localidades são tão sem identidade (e tudo é filmado em plano fechado justamente para não percebermos detalhes do ambiente) que o filme igualmente poderia dizer que as cenas estavam acontecendo, por exemplo, na Austrália nos anos 2000.

Outro ponto que deixa Emilia Pérez artificial é que se trata de uma história fictícia. E para piorar, o personagem Manitas / Emilia Pérez é apresentado como um herói. Oras, é totalmente aceitável mostrar uma história de arrependimento e redenção, mas é complicado pegar tão leve com alguém responsável por tantas mortes e atrocidades. A trama também é bem inverossímil: quando Manitas ressurge no México como Emilia Pérez, e ela aparece em rede nacional investindo seu dinheiro e em campanha para recuperar a história de mortos e desaparecidos pelo tráfico, ninguém questiona sobre seu passado, ou a impede de revirar tantos "esqueletos do armário". Como assim?? Isso jamais aconteceria no mundo real.

Ah, sim. Agora vamos falar da repercussão de Emilia Pérez quando foi assistido pelo público em geral: os mexicanos odiaram, pois se sentiram ofendidos pela caracterização estereotipada, e pelo modo "leve e cômico" que o tema das mortes pelo narcotráfico no país foram tratados; a comunidade trans também reclamou dos estereótipos e erros mostrados no filme e o rejeitou. E todas as acusações são justas, infelizmente.

Há uma cena bem emblemática que resume e exemplifica o parágrafo acima. No meio do filme, há um momento em que Emilia está ao lado de seu filho - que não sabe que ela é seu pai - e então o garoto comenta: "você tem o mesmo cheiro do papai", sendo que o cheiro de uma pessoa trans muda após a terapia hormonal. E logo em seguida, a criança começa a cantarolar que pessoas (de trabalho similares ao seu pai) cheiram a "menta, mezcal, guacamole e cigarro".

E como nada que já esta ruim não pode piorar, alguns de seus realizadores se mostraram ser péssimas pessoas: o diretor Jacques Audiard deu declarações racistas e xenófobas, como por exemplo: "O espanhol é um idioma de países modestos, de países em desenvolvimento, de pobres e migrantes.". Já Karla Sofía Gascón teve tweets antigos revelados, e bem... descobrimos que ela simplesmente falava mal do mundo inteiro, menos da comunidade trans. Sobrou para os negros, árabes, pro pessoal do Oscar, e até pra sua colega de filme, Selena Gomez. Seus tweets foram tão graves e geraram tanta repercussão negativa que no começo de Fevereiro Karla foi removida oficialmente pela Netflix de toda promoção oficial do filme.

Concluindo, Emilia Pérez não é esse 8 ou 80 em que se dividiu a Internet. É um filme que os pseudointelectuais acharam uma grande obra de arte, mas que para nós mortais, é como se fosse uma animada peça teatral para passarmos o tempo. Em suma, Emilia Pérez peca principalmente pelo compromisso com a realidade. Algo muito importante no momento em que passamos atualmente, e que sobra em seu concorrente Ainda Estou Aqui. Nota: 6,0

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #034 - Akira Kurosawa e o Efeito Rashomon


O cineasta japonês Akira Kurosawa, um dos grandes nomes do Cinema de todos os tempos, é popularmente mais lembrado pelo seu filme Os Sete Samurais (1954), cuja história inclusive é frequentemente "copiada" por Hollywood (a última "cópia" famosa foram os recentes e PAVOROSOS filmes Rebel Moon de Zack Snyder).

Porém a lista de filmes de Kurosawa que marcaram a história do Cinema vai bastante além d"Os Sete Samurais", "Kagemusha, a Sombra de um Samurai" (1980) e "Ran" (1985) - o motivo de eu ter citado estes dois últimos é que eles completam a "trinca" de filmes mais premiados internacionalmente deste diretor.

Quero falar de Rashomon, de 1950, que foi tão revolucionário em termos de roteiro, que sua influência foi muito além do Cinema, como veremos a seguir.

Na história de Rashomon, que se passa no Japão medieval, temos o encontro de um lenhador, um sacerdote e um transeunte se abrigando de uma forte tempestade em um portão em ruínas. Dois deles foram testemunhas de um julgamento ocorrido dias atrás, de um bandido que teria assassinado um samurai e estuprado sua esposa. Eles acabam conversando sobre os depoimentos apresentados no julgamento, que foram três: o do bandido, o da mulher, e o do samurai (através de uma médium). Mas também ouvem um quarto depoimento, o do lenhador, que acaba confessando ter visto o crime. O curioso é que cada uma das 4 histórias possui diferenças bem relevantes entre elas.

De cara, Rashomon já traz características muito incomuns para a época, como por exemplo, contar sua história de forma não-linear. Além disto, em cada uma das quatro histórias, o comportamento de cada um dos personagens (e atores) é completamente diferente.

Mas a grande e mais revolucionária idéia do filme é que Rashomon se encerra sem dizer qual das quatro histórias é a "correta", o que faz com que tanto os personagens quanto os espectadores se despeçam frustrados e confusos.

E se pararmos para refletir no que estas contradições e frustrações significam... o quanto elas são tão presentes no mundo real... Se considerarmos tudo isso pra valer, será que é possível confiar verdadeiramente em qualquer pessoa?


O impacto Rashomon

Antes de Rashomon o mundo não dava muito atenção a filmes japoneses, porém a partir dele, tanto o Cinema Japonês como Akira Kurosawa passaram a ter relevância internacional. E por exemplo, já de cara o filme venceu o prêmio máximo do Festival de Veneza em 1951, o Leão de Ouro, e venceu também em 1952 o Oscar de Melhor Filme em Língua não-Inglesa.

Kurosawa
No cinema, são incontáveis os filmes que passaram a usar as idéias de Rashomon em seus roteiros. E isso em uma ou duas etapas: a primeira, mais óbvia e direta, é contar uma mesma história por pontos de vistas diferentes; e a segunda, é de encerrar filmes sem nos contar "a verdade", seja porque seu desfecho é ambíguo, múltiplo, aberto ou incompleto.

E não é só isso. O filme Rashomon foi tão revolucionário que passou a ser usado / citado / estudado em outras áreas da ciência humana, e até virou um termo: "Efeito Rashomon". Ele é estudado por exemplo na biologia, antropologia, filosofia e direito.

O "Efeito Rashomon" pode ser descrito como o modo em que as pessoas descrevem um mesmo evento de uma maneira diferente e contraditória, seja porque interpretam o mundo de modo diferente, e / ou descrevem em defesa de interesse próprio, ao invés de descrever uma verdade objetiva.

Como exemplos de filmes bem mais recentes que usam o "Efeito Rashomon" temos Herói (2002), Garota Exemplar (2014) e Anatomia de Uma Queda (2023), todos ótimos! Entretanto fica a ressalva que destes, apenas o último acaba se mantendo fiel ao não revelar uma "versão única e correta" em seu fim.

E vocês já tinham ouvido falar do "Efeito Rashomon"? E do filme? Se não o assistiram, fica a recomendação, mesmo sendo em branco e preto e feito na década de 50, está facilmente na minha lista de melhores filmes orientais que já assisti até hoje.



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Dupla Crítica Filmes de Animação - Wallace & Gromit: Avengança (2024) e Robô Selvagem (2024)


Desta vez vamos com as críticas de duas das animações que estão entre as cinco indicadas ao Oscar de Melhor Filme de Animação 2025. E uma delas é a que (por enquanto) estou torcendo para vencer o prêmio! Saiba qual delas continuando com a leitura abaixo. Caso queira ser preparar para o Oscar e assistir os filmes antes da cerimônia (em 02 de Março), Wallace & Gromit: Avengança está disponível na Netflix. Já Robô Selvagem, como não está mais nos cinemas, por enquanto só pode ser alugado, ou no Prime Video, ou no Apple TV+ ou no YouTube.



Wallace & Gromit: Avengança (2024)
Diretores: Merlin Crossingham, Nick Park
Atores principais (vozes): Ben Whitehead, Peter Kay, Lauren Patel, Reece Shearsmith, Diane Morgan

A franquia Wallace & Gromit é beeem conhecida pelos britânicos, mas curiosamente, apesar de sua boa qualidade, não faz muito sucesso por aqui no Brasil. Seu estúdio, a Aardman Animations, especializada em stop-motion de "bonecos de massinha", também tem outros personagens que já chegaram em nossos cinemas, como por exemplo Piratas Pirados! e A Fuga das Galinhas.

Em 2005 a Aardman lançou a Wallace & Gromit nos cinemas pela primeira vez: Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais e... levou o Oscar de Melhor Animação de 2006! Mas eles demoraram longos 19 anos para voltarem com a dupla às telonas. E embora mais uma vez estejam no páreo para levar a cobiçada estatueta dourada, acho que desta vez não vencerão...

Na história de Wallace & Gromit: Avengança, novamente vemos o atrapalhado inventor Wallace e seu fiel e inteligente cachorro Gromit tentando ajudar a vizinhança de alguma ameaça, digamos, animal. O filme começa com uma cena do passado, onde vemos Wallace e Gromit prendendo o pinguim Feathers McGraw após este roubar o valioso Diamante Azul do museu da cidade. Então há um corte para os dias atuais e vemos o pinguim vilão planejando ao mesmo tempo: fugir da prisão, se vingar de seus captores e roubar novamente a famosa pedra preciosa.

Wallace & Gromit: Avengança tem uma história interessante, e apesar da opção por cores escuras e clima sombrio, acaba sendo bem humorado e com várias boas piadas. A história é meio que um amálgama de aventura policial com James Bond para toda a família, e como resultado final, um bom passatempo. Como "defeito", o filme peca por ser bom em praticamente tudo mas não ser ótimo ou memorável em praticamente nada. Por isso que não aposto em sua vitória na vindoura cerimônia dos Oscars. E também por isso, ele leva Nota: 7,0.



Robô Selvagem (2024)
DiretorChris Sanders
Atores principais (vozes): Lupita Nyong'o, Pedro Pascal, Kit Connor, Bill Nighy, Stephanie Hsu, Matt Berry, Ving Rhames, Mark Hamill, Catherine O'Hara

A história deste Robô Selvagem, que se passa em um futuro próximo, mostra a história da robô de serviços Rozzum 7134, que devido um acidente aéreo, acaba caindo em uma floresta isolada, tendo que (sobre)viver por lá. Com o tempo, "Roz" acaba se tornando amiga da raposa Astuto e mãe adotiva do filhote de ganso Bico-Vivo. Confesso que o trailer de Robô Selvagem me enganou, pois em nenhum momento dele vemos que os animais falam (o que é o caso), já que Roz rapidamente "aprende" a falar com os bichos da floresta. E isto de fato deixa o filme bem mais "fábula" do que a ficção científica que eu imaginava, porém, de maneira nenhuma isto é um defeito.

A história de Robô Selvagem é bastante emocionante, e trata de amizade, superação, e para "Roz", os desafios vão além dela ter que aprender viver sozinha no meio do nada: ela também precisa aprender a ser mãe. Já aviso, ao assistir, preparem seus lenços! Robô Selvagem adapta uma série de livros infanto-juvenis de mesmo nome, do autor estadunidense Peter Brown, cujo 4º volume será publicado neste ano de 2025.

Direção e roteiro ficaram a cargo de Chris Sanders, que também esteve por trás da criação de obras como Lilo & Stitch, Os Croods e Como Treinar o Seu Dragão. Como história, talvez este Robô Selvagem seja seu melhor trabalho. Já em termos de animação propriamente dita, o filme é bom, mas não alcança a perfeição dos desenhos da Pixar, ou mesmo de alguns desenhos da própria DreamWorks (que fez este Robô Selvagem).

Por enquanto Robô Selvagem é o meu filme queridinho para o Oscar de Melhor Filme de Animação 2025, pois é o que mais gostei. Porém eu ainda não assisti o filme letão Flow, que também é de animaizinhos e também está sendo bastante elogiado. Nota: 8,0.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #033 - Conheça os dois prêmios Oscar que o Brasil "venceu" mas não levou

Daqui pouco menos de duas semanas, mais precisamente no Domingo dia 02 de Março, teremos a cerimônia de entrega do Oscars 2025, e nós brasileiros estamos na expectativa de, com as 3 Indicações conquistadas por Ainda Estou Aqui, ver o Brasil levar aquele que está sendo amplamente divulgado como sua primeira estatueta do Oscar.

Porém o que nem todos sabem é que há pelo menos duas estatuetas que não são consideradas vitórias brasileiras, mas poderiam... e a seguir comento sobre elas.


Em 1960, o filme Orfeu Negro (1959), que no Brasil também tem o nome de Orfeu do Carnaval, venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Aliás, o filme também venceu a Palma de Ouro (Festival de Cannes) de 1959 e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 1960.

Vejam: estamos falando de um filme com atores brasileiros, falado em português, filmado no Brasil, com roteiro baseado em uma peça de Vinícius de Moraes, e de uma co-produção entre Brasil, França e Itália. Mas apesar de tudo isso, este Oscar é computado como tendo ido para a França, já que para as regras da época (e não só do Oscar, mas também nas de Cannes e do Globo de Ouro), o que valia era a nacionalidade do diretor do filme, que no caso, se tratava do francês Marcel Camus.

Hoje, as regras para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro são outras. Cada país indica apenas um filme para a Academia, e um dos seus critérios de elegibilidade (que no caso também "comprova sua nacionalidade") é: "o país candidato deve confirmar que a produção artística do filme foi, em grande medida, realizada por cidadãos ou indivíduos residentes em seu país.". Já quanto a Orfeu, ele chegou a ter uma nova versão nos cinemas, de nome apenas Orfeu (1999), dirigido por Cacá Diegues, que faleceu semana passada, em 14 de fevereiro de 2025, aos 84 anos.


Já em 1993 Luciana Arrighi venceu o Oscar de Melhor Direção de Arte (que hoje tem o nome de Oscar de Melhor Design de Produção) pelo filme Retorno a Howards End (1992). Ela nasceu em 1940 na cidade do Rio de Janeiro e viveu no Brasil até os 2 anos de idade. Mas... não é brasileira.

Filha de um diplomata italiano com uma modelo australiana, ela tem a cidadania destes dois países, porém não tem a cidadania brasileira. Até poderia ter se o quisesse (as leis brasileiras lhe garantem este direito), mas não tem. Após sair do Brasil, Luciana passou sua infância na Austrália, e após se formar por lá, foi para a Europa, onde trabalhou e estudou em diversos países, trabalhando em filmes, na TV (pelo canal inglês BBC), teatro e ópera.

Por não ter cidadania brasileira e se considerar "australiana", o Oscar de Retorno a Howards End também não é "nosso". Luciana Arrighi também recebeu mais duas indicações ao Oscar de Melhor Direção de Arte, que no caso, acabou não vencendo. Foram pelos filmes Vestígios do Dia (1993) e Anna e o Rei (1999). Ainda viva e com seus 85 anos, você pode ver uma foto de Luciana no topo deste artigo.



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #032 - Sabia que John Wick só existe graças a Eva Longoria?


Uma das mais bem sucedidas franquias de filmes de ação recentes é John Wick, estrelada pelo ator Keanu Reeves, que conta a história de um assassino lendário e aposentado mas que sempre, por um motivo ou outro, é "forçado" voltar ao submundo do crime e entrar em atividade.

Até agora já tivemos quatro filmes: John Wick: De Volta ao Jogo (2014), John Wick: Um Novo Dia para Matar (2017), John Wick 3: Parabellum (2019) e John Wick 4: Baba Yaga (2023). Mas também já tivemos uma minissérie para TV de nome O Continental: Do Mundo de John Wick e para este ano de 2025 teremos nos cinemas seu primeiro filme derivado: Bailarina, com a atriz Ana de Armas no papel principal. Somados, os 4 primeiros filmes gastaram US$ 235 milhões para serem produzidos... porém lucraram US$ 1 bilhão apenas nas bilheterias. Nada mal!

O que poucos sabem é que esta história de sucesso poderia nem ter começado, se não fosse uma pessoa improvável... a atriz Eva Longoria, que embora até tenha feito um ou outro filme de ação, está longe de ser associada a qualquer produção do gênero.

O primeiro filme de John Wick era uma produção independente que teve dificuldades para começar. Quando o roteiro caiu no colo de Keanu Reeves, ele ligou para Chad Stahelski e David Leitch, que foram coordenadores de dublês na Trilogia Matrix (e Chad também foi o dublê de Keanu no primeiro filme), para que a dupla coreografasse e dirigisse as cenas de ação. Porém os dois responderam que só topariam ser "os" diretores da produção toda, o que ganhou apoio do ator. Posteriormente foi o que acabou se concretizando, até porque John Wick estava até com dificuldades de encontrar alguém para a direção, já que não haviam muitos interessados em assumir "mais um filme de pancadaria de Keanu Reeves".

John Wick tinha orçamento previsto de US$ 20 milhões, e segundo Chad Stahelski, eles estavam a 5 dias de iniciar as filmagens quando perderam US$ 6 milhões em financiamento. O cancelamento do filme foi colocado em pauta e um dos motivos disto não ter acontecido foi o medo de receber processos. Foi então que Eva Longoria entrou para salvar o dia. A atriz estava buscando novos modos de investimento - nunca havia sido produtora de filmes antes - e foi procurada por um agente da CAA (a agência de talentos que a representava) que a recomendou investir os 6 milhões que filme precisava. O pior, segundo Eva, é que o agente que fez a recomendação nem era o agente dela, e sim um desconhecido. Ainda assim, apesar de tantas incertezas, ela fez a aposta em John Wick e fechou o negócio.

Ao ser questionada sobre o quanto ela já recebeu de volta destes US$ 6 milhões investidos, ela apenas respondeu sorrindo que "mais que o dobro", e disse que um dos seus maiores arrependimentos foi ter saído da franquia e produzido apenas o primeiro dos filmes.

E que bom que John Wick foi salvo por Eva Longoria e feito por Chad Stahelski e David Leitch. Pois se o filme Matrix (1999) - de onde Stahelski, Leitch e Reaves vieram - causou uma revolução nos filmes de ação e na cultura Pop, dá sim para dizer que John Wick também causou sua (pequena) revolução.

Se Matrix apostou na câmera lenta, John Wick subverteu tudo isso e apostou na velocidade, e mais ainda, deu ainda mais destaque para as coreografias. Ao contrário dos tão comuns cortes rápidos dos filmes modernos de ação, muitas das cenas de combate são filmadas em planos longos e sem cortes. E as brigas, além de bastante coreografadas, utilizam-se também de vários objetos, remetendo a filmes orientais, como se fossem uma violenta apresentação de dança. Tudo isso iria influenciar várias obras de ação subsequentes.

Terminando este artigo de curiosidades, segue o trailer do futuro filme Bailarina, que não terá pela primeira vez na franquia a direção Chad Stahelski. Será que vai manter o padrão dos demais John Wick?



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Crítica - Anora (2024)

Título
Anora (idem, EUA, 2024)
Diretor: Sean Baker
Atores principaisMikey Madison, Mark Eydelshteyn, Yura Borisov, Karren Karagulian, Vache Tovmasyan, Aleksei Serebryakov, Darya Ekamasova, Luna Sofía Miranda, Lindsey Normington
Nota: 7,0

Filme vencedor da Palma de Ouro é incomum e comovente

Anora é um filme independente de baixo orçamento (apenas US$ 6 milhões), que está há duas semanas nos cinemas brasileiros. Foi o grande vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2024 (sendo que um filme estadunidense não ganhava este prêmio desde 2011), e recebeu 6 indicações ao Oscar, dentre elas a de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz.

Antes de qualquer coisa Anora é um filme... diferente. Afinal, suas 2h09min de projeção são de ação e tensão frenéticas, e apesar dos personagens não contarem piadas e de várias situações pesadas, em muitas cenas o filme faz rir. Não a toa Anora é vendido como uma "comédia dramática".

Na trama, Anora (Mikey Madison), ou "Ani", é uma jovem stripper que mora em Nova Iorque e sabe falar russo. Em seu trabalho, ela acaba conhecendo o jovem Ivan "Vanya" Zakharov (Mark Eydelshteyn), filho de um  milionário russo, que se interessa por ela e acaba a contratando para ser sua "namorada" por uma semana. Os dois acabam vivendo um romance e se casando em Las Vegas. Quando os pais de Ivan descobrem o que aconteceu, seus "capangas" correm em direção ao casal para forçar a anulação do casamento, o que gera muita tensão e correria.

A principal qualidade de Anora é que mesmo sendo um filme estadunidense, ele é bem diferente do padrão que estamos acostumados. Não só pela mistura de gêneros e temas que citei anteriormente, mas também pelo modo que é filmado. A câmera não para, corremos o tempo todo ao lado de Ani, por todo lugar que ela vai, e olha que ela dá um rolê bem grande. Ainda assim, não se trata de filmagem em primeira pessoa.

Anora não deixa de ser um conto de fadas da vida real, onde Ani, uma pessoa pobre, chama a atenção de um "príncipe rico" que pode mudar sua vida completamente, "salvando-a" da miséria. Mas ainda que este "conto de fadas" de Anora seja bem mais real, ou seja, você assiste todo o filme torcendo pela protagonista, mas no fundo sabe que as chances de um final feliz são baixas, para mim o roteiro toma uma certa liberdade poética ao fazer os "capangas" da família de Ivan serem tão "bonzinhos". Ok, eu entendo que os russos não estavam no país deles, e que não necessariamente por serem milionários eles saem por aí cometendo crimes... mas ainda assim, no mundo verdadeiramente real, para mim Anora teria um tratamento bem pior.

Como conclusão, não vejo Anora como um filme excepcional, a ponto de merecer vencer o Oscar de Melhor Filme, mas ainda assim, ele vale a muita a pena assistir por ser fora do padrão. Quanto a atuação de Mikey Madison, a mesma coisa... não é excepcional mas está muito bem. É muito bacana ver ela brigar com unhas e dentes (e convencer que está fazendo isso) para manter sua posição e com isso comover o espectador.

Ah, a cena final de Anora é excelente e muito impactante. Você vai se lembrar dessa minha frase quando ver o filme. Nota: 7,0

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #031 - Conheça aqui a PRIMEIRA história escrita de Ficção Científica!


Você e um grupo de 50 companheiros partem em viagem, e fazem uma surpreendente viagem a Lua, onde ao chegar, se deparam com uma guerra entre os alienígenas habitantes da Lua contra os alienígenas habitantes do reino do Sol, em uma disputa que começou pela colonização do planeta Vênus. Ao retornar para a Terra, antes de conseguirem retornar para casa, acabam passando por vários locais novos e inexplorados, como por exemplo uma cidade habitada por lâmpadas "vivas" autônomas e conscientes, e de quebra descobrem um novo continente.

O enredo acima faz parte de um livro que, para muitos, se trata da primeira história de Ficção Científica da Literatura. Antes de revelar o nome desta obra, lanço o desafio: quando e onde vocês acham que ela foi escrita? Vou até dar dicas. Seria no começo do Renascimento Europeu (entre meados do século XIV e o fim do século XVI), quando a Idade Média se encerrava e a Ciência começava realmente a crescer? Ou seria ainda antes... que tal no Século IX do Mundo Árabe, onde a astronomia e matemática se desenvolvera mais rapidamente, e obras literárias incríveis de fantasia como por exemplo As Mil e Uma Noites já eram compiladas?

Nem um, nem outro. A trama em questão é narrada na obra História Verdadeira, escrita em meados do Séc. II d.C. por Luciano de Samósata (Síria), em grego. Sua intenção ao publicar sua História Verdadeira foi ironizar e criticar as fontes históricas contemporâneas e antigas que descreviam acontecimentos fantásticos e míticos como se fossem verídicos.

A épica jornada narrada em História Verdadeira é recheada de absurdos, e além dos eventos que descrevi no primeiro parágrafo deste artigo, temos por exemplo nossos aventureiros sendo engolidos por uma baleia gigante, onde lá dentro eles encontram uma civilização de homens-peixe; se envolvem em uma batalha entre um povo de gigantes; encontram um mar de leite com ilhas de queijo; viajam por vários lugares e acabam encontrando personagens históricos ou mitológicos como Homero, Ulisses, Sócrates, Pitágoras e Heródoto.

Vivendo dentro de uma baleia...

Ou seja, para nossos conceitos, há bem mais fantasia que Ficção Científica em História Verdadeira, mas ainda assim ela é considerada a primeira obra deste gênero por contemplar conceitos como viagens interplanetárias, encontro com alienígenas, colonização de planetas, atmosfera artificial, criaturas vivas feitas de tecnologia humana, desejo explícito dos protagonistas por aventura e exploração e etc.

Ah sim, e como sabemos que Luciano de Samósata escreveu História Verdadeira com este objetivo que eu contei pra vocês linhas acima? Porque ele mesmo diz isso nos primeiros parágrafos do livro! Ele cita A Odisséia, de Homero, como uma das mais importantes obras de charlatanismo, e ainda declara que sua história a seguir é toda inventada, tudo mentira: "Mas minha mentira é muito mais honesta do que a deles, pois embora eu não diga a verdade em nada mais, pelo menos serei verdadeiro ao dizer que sou um mentiroso.".

Curiosamente, apesar de tudo, ainda havia alguns leitores do mundo romano que, quando História Verdadeira saiu, acharam que sua história era real. Assim como temos hoje o fenômeno "se recebi no WhatsApp é verdadeiro", antes havia o "se foi publicado em um livro (ou pergaminhos), é verdadeiro". E no séculos XVI e XVII, quando a Europa explorava "terras inexploradas" ao longo do globo, História Verdadeira voltou a chamar a atenção das pessoas. Por exemplo, hoje os estudiosos acreditam que As Viagens de Gulliver, escrita pelo irlandês Jonathan Swift (1667 - 1745), tenha sido bastante influenciada por por esta obra.

Obs.: sendo um bom satírico e piadista, Luciano de Samósata encerrou sua História Verdadeira com um "... O que aconteceu no outro mundo eu contarei a vocês nos livros seguintes.", livros que ele obviamente nunca escreveu nem quis escrever. ;)



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

Você PRECISA conhecer Supergirl: Mulher do Amanhã (e tem Brasileira envolvida!)

Tom King é um dos principais escritores de quadrinhos da DC Comics da última década. E na minha opinião, bastante irregular... já que entre...