sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Crítica - O Brutalista (2024)

Título
: O
 Brutalista ("The Brutalist", Canadá / EUA / Reino Unido, 2024)
Diretor: Brady Corbet
Atores principais: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Raffey Cassidy, Ariane Labed, Stacy Martin, Emma Laird, Isaach de Bankolé, Alessandro Nivola
Nota: 6,0

Grandiosidade faz com que filme se perca em sua história

Tendo estreado nos cinemas brasileiros na Quinta-feira passada, O Brutalista entra na véspera da cerimônia do Oscar como um dos favoritos a levar o Oscar de Melhor Filme 2025.

A história de O Brutalista, fictícia, nos apresenta László Tóth (Adrien Brody), um judeu-húngaro sobrevivente do Holocausto e arquiteto modernista (leia mais sobre isto no meu P.S. ao final deste artigo), que imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial consegue emigrar para os Estados Unidos, mesmo que isto signifique separar de sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) e de sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy). Algum tempo após chegar nos EUA, ele acaba sendo contratado pelo milionário Harrison Van Buren (Guy Pearce), para comandar um enorme e ambicioso projeto.

Dada esta descrição inicial, é difícil classificar O Brutalista. Ele é bem longo (quase 3h30min de projeção) e por opção bem ousada de seu diretor/roteirista Brady Corbet, acaba tratando de muitos assuntos. Aqui vemos a luta e questionamentos de um refugiado judeu, a busca do sonho americano, a crueldade e arrogância da classe rica, e ainda comentar de passagem sobre racismo, brigas de casal, vício em opióides e até... História e Arquitetura.

Em termos da trama, parece que temos dois filmes distintos. No primeiro ato, onde os personagens são apresentados, O Brutalista ainda consegue se manter interessante para o espectador. Porém no segundo ato, quando Erzsébet e Zsófia chegam aos EUA, a história parece se perder completamente, com o roteiro não sabendo mais que história contar. E, deixando claro, isto nem é culpa das novas personagens que chegaram. Até porque depois que Felicity Jones chega, ela acaba fazendo a única personagem interessante que resta em O Brutalista, já que nesta parte dois o personagem de Adrien Brody entra em uma descendente e se torna rapidamente intragável.

Portanto depois de um primeiro ato bem interessante e promissor, a única coisa que salva do roteiro segundo ato - confuso e com várias bizarrices - é que pelo menos ele não é previsível. Se prepare para situações incomuns. Por outro lado, se o roteiro de O Brutalista derrapa, ele vai muito bem em outros aspectos técnicos.

A fotografia (o que inclui os diversos modos de filmagem) e a trilha sonora de O Brutalista são ambas bem impressionantes. E inclusive, ambas são fundamentais para que este filme possa ser classificado como "épíco" mesmo sem ter cenas grandiosas de ação, ou mesmo de cenografia.

O Brutalista está indicado a 10 prêmios do Oscar 2025 e tem boas chances de levar alguns deles, ainda que uma certa polêmica possa prejudicar suas chances: trata-se do fato do uso de Inteligência Artificial no uso de um "aperfeiçoamento" no sotaque húngaro dos atores. Você pode aprovar ou reprovar, achar hipocrisia ou não, mas o fato é que "hoje" parte de Hollywood ainda não vê IA com bons olhos. Gostei bastante da atuação de Guy Pearce aqui, pra mim é a melhor atuação dele desde Amnésia (de 2000), só que não acho que ele leve o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante... todo mundo fala que o irmão de Macaulay Culkin, Kieran Culkin, é quem vai levar esta.

O Brutalista é outro filme desta safra do Oscar 2025 que é adorado pela crítica especializada mas que não vejo como agradar tanto o público em geral. Muito longo, muito lento, e até chato, seus pontos positivos vão mais pela trama inusitada e aspectos técnicos excelentes do que pela história em si. Nota: 6,0.


P.S.: por que Brutalista? É de se imaginar que o filme se chama "O Brutalista" porque o roteiro quer associar László Tóth com o estilo Brutalista. E faria sentido. O Brutalismo é um estilo arquitetônico que surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Suas principais características são o concreto exposto, sem adorno, e o uso de formas geométricas gigantes e ousadas.

O problema, é que segundo a comunidade arquitetônica o filme não mostra quase nada da arquitetura Brutalista, e quando o faz, faz de modo errado. Mais uma polêmica pro filme lidar...

O prédio do MASP, na cidade de SP, é um exemplo da arquitetura Brutalista

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Crítica - Emilia Pérez (2024)


Título
Emilia Pérez (idem, Bélgica / França, 2024)
Diretor: Jacques Audiard
Atores principais: Zoe Saldaña, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez, Adriana Paz, Edgar Ramírez, Mark Ivanir, Eduardo Aladro, Emiliano Hasan
Nota: 6,0

Entretenimento não tão ruim, mas artificial

Enquanto desfilava pelos festivais de Cinema, Emilia Pérez era um dos filmes do ano. Elogiado pela crítica especializada, e sendo promovido com caminhões de dinheiro pela Netflix, que ainda está em busca de vencer uma da principais estatuetas do Oscar (ainda que neste filme ela só esteja distribuindo, não o produziu). O filme recebeu nada menos que 13 indicações ao Oscar 2025, e por isso despontava como o favorito a levar o prêmio de Melhor Filme. Mas foi só o público geral começar a assisti-lo, e os problemas começaram...

... mas antes de entrar nesse tema, vamos falar sobre o que Emilia Pérez se trata. É um filme musical que se passa no México atual, onde temos um dos maiores chefes do narcotráfico do país, Juan "Manitas" (Karla Sofía Gascón), que resolve abandonar sua vida atual e ser a pessoa que sempre quis ser desde que nasceu, uma mulher. Então, ele contrata Rita (Zoe Saldaña) que o ajuda em todo o complexo plano que culmina em seu "sumiço" do México e cirurgia de redesignação de gênero para o feminino. Anos depois, e já estabelecida como Emilia, ela retorna ao seu país, onde acaba ajudando vítimas do tráfico, mas também entra em conflitos com sua antiga esposa, Jessi (Selena Gomez).

Como entretenimento, Emilia Pérez não é ruim. Produzido de modo dançante, dinâmico, colorido (e brega), ele foi feito justamente para agradar. Pelo tipo de história que conta, e repleto de diálogos, nem deveria ser um musical... porém seu diretor, o francês Jacques Audiard, queria que o filme fosse uma "Ópera", e então temos vários diálogos em que as pessoas começam a cantarolar do nada, e param de cantarolar igualmente da mesma forma, sem nenhuma explicação; ou ainda, em que qualquer evento banal pode virar um "mini clipe", algo como se fosse um vídeo do TikTok, com dançarinos brotando do além. E apesar de tanto nonsense, ainda assim há alguns momentos musicais bons. Aliás, importante destacar, há bem menos musical em Emilia Pérez do que eu esperava.

Os dois personagens principais, o de Zoe Saldaña e o de Karla Sofía Gascón acabam sendo suficientemente interessantes, e na verdade, Zoe Saldaña é a melhor coisa de Emilia Pérez. De QUALQUER uma das 13 indicações ao Oscar que este filme recebeu, a única que não será injusto ele vencer será a de Melhor Atriz Coadjuvante para Zoe.

Mas se Emilia Pérez não é tão ruim e é até aceitável (mas bem cafona), seu problema é que ele é muito artificial. Ao começar de sua produção, que tenta vender um México mas mal tem integrantes mexicanos ou até mesmo falantes de espanhol. Algo que me impressionou bastante é como todos os cenários do filme são genéricos. Embora as cenas de Emilia Pérez se passem se passem no México (e alguns países da Europa) dos dias atuais, as localidades são tão sem identidade (e tudo é filmado em plano fechado justamente para não percebermos detalhes do ambiente) que o filme igualmente poderia dizer que as cenas estavam acontecendo, por exemplo, na Austrália nos anos 2000.

Outro ponto que deixa Emilia Pérez artificial é que se trata de uma história fictícia. E para piorar, o personagem Manitas / Emilia Pérez é apresentado como um herói. Oras, é totalmente aceitável mostrar uma história de arrependimento e redenção, mas é complicado pegar tão leve com alguém responsável por tantas mortes e atrocidades. A trama também é bem inverossímil: quando Manitas ressurge no México como Emilia Pérez, e ela aparece em rede nacional investindo seu dinheiro e em campanha para recuperar a história de mortos e desaparecidos pelo tráfico, ninguém questiona sobre seu passado, ou a impede de revirar tantos "esqueletos do armário". Como assim?? Isso jamais aconteceria no mundo real.

Ah, sim. Agora vamos falar da repercussão de Emilia Pérez quando foi assistido pelo público em geral: os mexicanos odiaram, pois se sentiram ofendidos pela caracterização estereotipada, e pelo modo "leve e cômico" que o tema das mortes pelo narcotráfico no país foram tratados; a comunidade trans também reclamou dos estereótipos e erros mostrados no filme e o rejeitou. E todas as acusações são justas, infelizmente.

Há uma cena bem emblemática que resume e exemplifica o parágrafo acima. No meio do filme, há um momento em que Emilia está ao lado de seu filho - que não sabe que ela é seu pai - e então o garoto comenta: "você tem o mesmo cheiro do papai", sendo que o cheiro de uma pessoa trans muda após a terapia hormonal. E logo em seguida, a criança começa a cantarolar que pessoas (de trabalho similares ao seu pai) cheiram a "menta, mezcal, guacamole e cigarro".

E como nada que já esta ruim não pode piorar, alguns de seus realizadores se mostraram ser péssimas pessoas: o diretor Jacques Audiard deu declarações racistas e xenófobas, como por exemplo: "O espanhol é um idioma de países modestos, de países em desenvolvimento, de pobres e migrantes.". Já Karla Sofía Gascón teve tweets antigos revelados, e bem... descobrimos que ela simplesmente falava mal do mundo inteiro, menos da comunidade trans. Sobrou para os negros, árabes, pro pessoal do Oscar, e até pra sua colega de filme, Selena Gomez. Seus tweets foram tão graves e geraram tanta repercussão negativa que no começo de Fevereiro Karla foi removida oficialmente pela Netflix de toda promoção oficial do filme.

Concluindo, Emilia Pérez não é esse 8 ou 80 em que se dividiu a Internet. É um filme que os pseudointelectuais acharam uma grande obra de arte, mas que para nós mortais, é como se fosse uma animada peça teatral para passarmos o tempo. Em suma, Emilia Pérez peca principalmente pelo compromisso com a realidade. Algo muito importante no momento em que passamos atualmente, e que sobra em seu concorrente Ainda Estou Aqui. Nota: 6,0

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #034 - Akira Kurosawa e o Efeito Rashomon


O cineasta japonês Akira Kurosawa, um dos grandes nomes do Cinema de todos os tempos, é popularmente mais lembrado pelo seu filme Os Sete Samurais (1954), cuja história inclusive é frequentemente "copiada" por Hollywood (a última "cópia" famosa foram os recentes e PAVOROSOS filmes Rebel Moon de Zack Snyder).

Porém a lista de filmes de Kurosawa que marcaram a história do Cinema vai bastante além d"Os Sete Samurais", "Kagemusha, a Sombra de um Samurai" (1980) e "Ran" (1985) - o motivo de eu ter citado estes dois últimos é que eles completam a "trinca" de filmes mais premiados internacionalmente deste diretor.

Quero falar de Rashomon, de 1950, que foi tão revolucionário em termos de roteiro, que sua influência foi muito além do Cinema, como veremos a seguir.

Na história de Rashomon, que se passa no Japão medieval, temos o encontro de um lenhador, um sacerdote e um transeunte se abrigando de uma forte tempestade em um portão em ruínas. Dois deles foram testemunhas de um julgamento ocorrido dias atrás, de um bandido que teria assassinado um samurai e estuprado sua esposa. Eles acabam conversando sobre os depoimentos apresentados no julgamento, que foram três: o do bandido, o da mulher, e o do samurai (através de uma médium). Mas também ouvem um quarto depoimento, o do lenhador, que acaba confessando ter visto o crime. O curioso é que cada uma das 4 histórias possui diferenças bem relevantes entre elas.

De cara, Rashomon já traz características muito incomuns para a época, como por exemplo, contar sua história de forma não-linear. Além disto, em cada uma das quatro histórias, o comportamento de cada um dos personagens (e atores) é completamente diferente.

Mas a grande e mais revolucionária idéia do filme é que Rashomon se encerra sem dizer qual das quatro histórias é a "correta", o que faz com que tanto os personagens quanto os espectadores se despeçam frustrados e confusos.

E se pararmos para refletir no que estas contradições e frustrações significam... o quanto elas são tão presentes no mundo real... Se considerarmos tudo isso pra valer, será que é possível confiar verdadeiramente em qualquer pessoa?


O impacto Rashomon

Antes de Rashomon o mundo não dava muito atenção a filmes japoneses, porém a partir dele, tanto o Cinema Japonês como Akira Kurosawa passaram a ter relevância internacional. E por exemplo, já de cara o filme venceu o prêmio máximo do Festival de Veneza em 1951, o Leão de Ouro, e venceu também em 1952 o Oscar de Melhor Filme em Língua não-Inglesa.

Kurosawa
No cinema, são incontáveis os filmes que passaram a usar as idéias de Rashomon em seus roteiros. E isso em uma ou duas etapas: a primeira, mais óbvia e direta, é contar uma mesma história por pontos de vistas diferentes; e a segunda, é de encerrar filmes sem nos contar "a verdade", seja porque seu desfecho é ambíguo, múltiplo, aberto ou incompleto.

E não é só isso. O filme Rashomon foi tão revolucionário que passou a ser usado / citado / estudado em outras áreas da ciência humana, e até virou um termo: "Efeito Rashomon". Ele é estudado por exemplo na biologia, antropologia, filosofia e direito.

O "Efeito Rashomon" pode ser descrito como o modo em que as pessoas descrevem um mesmo evento de uma maneira diferente e contraditória, seja porque interpretam o mundo de modo diferente, e / ou descrevem em defesa de interesse próprio, ao invés de descrever uma verdade objetiva.

Como exemplos de filmes bem mais recentes que usam o "Efeito Rashomon" temos Herói (2002), Garota Exemplar (2014) e Anatomia de Uma Queda (2023), todos ótimos! Entretanto fica a ressalva que destes, apenas o último acaba se mantendo fiel ao não revelar uma "versão única e correta" em seu fim.

E vocês já tinham ouvido falar do "Efeito Rashomon"? E do filme? Se não o assistiram, fica a recomendação, mesmo sendo em branco e preto e feito na década de 50, está facilmente na minha lista de melhores filmes orientais que já assisti até hoje.



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Dupla Crítica Filmes de Animação - Wallace & Gromit: Avengança (2024) e Robô Selvagem (2024)


Desta vez vamos com as críticas de duas das animações que estão entre as cinco indicadas ao Oscar de Melhor Filme de Animação 2025. E uma delas é a que (por enquanto) estou torcendo para vencer o prêmio! Saiba qual delas continuando com a leitura abaixo. Caso queira ser preparar para o Oscar e assistir os filmes antes da cerimônia (em 02 de Março), Wallace & Gromit: Avengança está disponível na Netflix. Já Robô Selvagem, como não está mais nos cinemas, por enquanto só pode ser alugado, ou no Prime Video, ou no Apple TV+ ou no YouTube.



Wallace & Gromit: Avengança (2024)
Diretores: Merlin Crossingham, Nick Park
Atores principais (vozes): Ben Whitehead, Peter Kay, Lauren Patel, Reece Shearsmith, Diane Morgan

A franquia Wallace & Gromit é beeem conhecida pelos britânicos, mas curiosamente, apesar de sua boa qualidade, não faz muito sucesso por aqui no Brasil. Seu estúdio, a Aardman Animations, especializada em stop-motion de "bonecos de massinha", também tem outros personagens que já chegaram em nossos cinemas, como por exemplo Piratas Pirados! e A Fuga das Galinhas.

Em 2005 a Aardman lançou a Wallace & Gromit nos cinemas pela primeira vez: Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais e... levou o Oscar de Melhor Animação de 2006! Mas eles demoraram longos 19 anos para voltarem com a dupla às telonas. E embora mais uma vez estejam no páreo para levar a cobiçada estatueta dourada, acho que desta vez não vencerão...

Na história de Wallace & Gromit: Avengança, novamente vemos o atrapalhado inventor Wallace e seu fiel e inteligente cachorro Gromit tentando ajudar a vizinhança de alguma ameaça, digamos, animal. O filme começa com uma cena do passado, onde vemos Wallace e Gromit prendendo o pinguim Feathers McGraw após este roubar o valioso Diamante Azul do museu da cidade. Então há um corte para os dias atuais e vemos o pinguim vilão planejando ao mesmo tempo: fugir da prisão, se vingar de seus captores e roubar novamente a famosa pedra preciosa.

Wallace & Gromit: Avengança tem uma história interessante, e apesar da opção por cores escuras e clima sombrio, acaba sendo bem humorado e com várias boas piadas. A história é meio que um amálgama de aventura policial com James Bond para toda a família, e como resultado final, um bom passatempo. Como "defeito", o filme peca por ser bom em praticamente tudo mas não ser ótimo ou memorável em praticamente nada. Por isso que não aposto em sua vitória na vindoura cerimônia dos Oscars. E também por isso, ele leva Nota: 7,0.



Robô Selvagem (2024)
DiretorChris Sanders
Atores principais (vozes): Lupita Nyong'o, Pedro Pascal, Kit Connor, Bill Nighy, Stephanie Hsu, Matt Berry, Ving Rhames, Mark Hamill, Catherine O'Hara

A história deste Robô Selvagem, que se passa em um futuro próximo, mostra a história da robô de serviços Rozzum 7134, que devido um acidente aéreo, acaba caindo em uma floresta isolada, tendo que (sobre)viver por lá. Com o tempo, "Roz" acaba se tornando amiga da raposa Astuto e mãe adotiva do filhote de ganso Bico-Vivo. Confesso que o trailer de Robô Selvagem me enganou, pois em nenhum momento dele vemos que os animais falam (o que é o caso), já que Roz rapidamente "aprende" a falar com os bichos da floresta. E isto de fato deixa o filme bem mais "fábula" do que a ficção científica que eu imaginava, porém, de maneira nenhuma isto é um defeito.

A história de Robô Selvagem é bastante emocionante, e trata de amizade, superação, e para "Roz", os desafios vão além dela ter que aprender viver sozinha no meio do nada: ela também precisa aprender a ser mãe. Já aviso, ao assistir, preparem seus lenços! Robô Selvagem adapta uma série de livros infanto-juvenis de mesmo nome, do autor estadunidense Peter Brown, cujo 4º volume será publicado neste ano de 2025.

Direção e roteiro ficaram a cargo de Chris Sanders, que também esteve por trás da criação de obras como Lilo & Stitch, Os Croods e Como Treinar o Seu Dragão. Como história, talvez este Robô Selvagem seja seu melhor trabalho. Já em termos de animação propriamente dita, o filme é bom, mas não alcança a perfeição dos desenhos da Pixar, ou mesmo de alguns desenhos da própria DreamWorks (que fez este Robô Selvagem).

Por enquanto Robô Selvagem é o meu filme queridinho para o Oscar de Melhor Filme de Animação 2025, pois é o que mais gostei. Porém eu ainda não assisti o filme letão Flow, que também é de animaizinhos e também está sendo bastante elogiado. Nota: 8,0.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #033 - Conheça os dois prêmios Oscar que o Brasil "venceu" mas não levou

Daqui pouco menos de duas semanas, mais precisamente no Domingo dia 02 de Março, teremos a cerimônia de entrega do Oscars 2025, e nós brasileiros estamos na expectativa de, com as 3 Indicações conquistadas por Ainda Estou Aqui, ver o Brasil levar aquele que está sendo amplamente divulgado como sua primeira estatueta do Oscar.

Porém o que nem todos sabem é que há pelo menos duas estatuetas que não são consideradas vitórias brasileiras, mas poderiam... e a seguir comento sobre elas.


Em 1960, o filme Orfeu Negro (1959), que no Brasil também tem o nome de Orfeu do Carnaval, venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Aliás, o filme também venceu a Palma de Ouro (Festival de Cannes) de 1959 e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 1960.

Vejam: estamos falando de um filme com atores brasileiros, falado em português, filmado no Brasil, com roteiro baseado em uma peça de Vinícius de Moraes, e de uma co-produção entre Brasil, França e Itália. Mas apesar de tudo isso, este Oscar é computado como tendo ido para a França, já que para as regras da época (e não só do Oscar, mas também nas de Cannes e do Globo de Ouro), o que valia era a nacionalidade do diretor do filme, que no caso, se tratava do francês Marcel Camus.

Hoje, as regras para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro são outras. Cada país indica apenas um filme para a Academia, e um dos seus critérios de elegibilidade (que no caso também "comprova sua nacionalidade") é: "o país candidato deve confirmar que a produção artística do filme foi, em grande medida, realizada por cidadãos ou indivíduos residentes em seu país.". Já quanto a Orfeu, ele chegou a ter uma nova versão nos cinemas, de nome apenas Orfeu (1999), dirigido por Cacá Diegues, que faleceu semana passada, em 14 de fevereiro de 2025, aos 84 anos.


Já em 1993 Luciana Arrighi venceu o Oscar de Melhor Direção de Arte (que hoje tem o nome de Oscar de Melhor Design de Produção) pelo filme Retorno a Howards End (1992). Ela nasceu em 1940 na cidade do Rio de Janeiro e viveu no Brasil até os 2 anos de idade. Mas... não é brasileira.

Filha de um diplomata italiano com uma modelo australiana, ela tem a cidadania destes dois países, porém não tem a cidadania brasileira. Até poderia ter se o quisesse (as leis brasileiras lhe garantem este direito), mas não tem. Após sair do Brasil, Luciana passou sua infância na Austrália, e após se formar por lá, foi para a Europa, onde trabalhou e estudou em diversos países, trabalhando em filmes, na TV (pelo canal inglês BBC), teatro e ópera.

Por não ter cidadania brasileira e se considerar "australiana", o Oscar de Retorno a Howards End também não é "nosso". Luciana Arrighi também recebeu mais duas indicações ao Oscar de Melhor Direção de Arte, que no caso, acabou não vencendo. Foram pelos filmes Vestígios do Dia (1993) e Anna e o Rei (1999). Ainda viva e com seus 85 anos, você pode ver uma foto de Luciana no topo deste artigo.



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #032 - Sabia que John Wick só existe graças a Eva Longoria?


Uma das mais bem sucedidas franquias de filmes de ação recentes é John Wick, estrelada pelo ator Keanu Reeves, que conta a história de um assassino lendário e aposentado mas que sempre, por um motivo ou outro, é "forçado" voltar ao submundo do crime e entrar em atividade.

Até agora já tivemos quatro filmes: John Wick: De Volta ao Jogo (2014), John Wick: Um Novo Dia para Matar (2017), John Wick 3: Parabellum (2019) e John Wick 4: Baba Yaga (2023). Mas também já tivemos uma minissérie para TV de nome O Continental: Do Mundo de John Wick e para este ano de 2025 teremos nos cinemas seu primeiro filme derivado: Bailarina, com a atriz Ana de Armas no papel principal. Somados, os 4 primeiros filmes gastaram US$ 235 milhões para serem produzidos... porém lucraram US$ 1 bilhão apenas nas bilheterias. Nada mal!

O que poucos sabem é que esta história de sucesso poderia nem ter começado, se não fosse uma pessoa improvável... a atriz Eva Longoria, que embora até tenha feito um ou outro filme de ação, está longe de ser associada a qualquer produção do gênero.

O primeiro filme de John Wick era uma produção independente que teve dificuldades para começar. Quando o roteiro caiu no colo de Keanu Reeves, ele ligou para Chad Stahelski e David Leitch, que foram coordenadores de dublês na Trilogia Matrix (e Chad também foi o dublê de Keanu no primeiro filme), para que a dupla coreografasse e dirigisse as cenas de ação. Porém os dois responderam que só topariam ser "os" diretores da produção toda, o que ganhou apoio do ator. Posteriormente foi o que acabou se concretizando, até porque John Wick estava até com dificuldades de encontrar alguém para a direção, já que não haviam muitos interessados em assumir "mais um filme de pancadaria de Keanu Reeves".

John Wick tinha orçamento previsto de US$ 20 milhões, e segundo Chad Stahelski, eles estavam a 5 dias de iniciar as filmagens quando perderam US$ 6 milhões em financiamento. O cancelamento do filme foi colocado em pauta e um dos motivos disto não ter acontecido foi o medo de receber processos. Foi então que Eva Longoria entrou para salvar o dia. A atriz estava buscando novos modos de investimento - nunca havia sido produtora de filmes antes - e foi procurada por um agente da CAA (a agência de talentos que a representava) que a recomendou investir os 6 milhões que filme precisava. O pior, segundo Eva, é que o agente que fez a recomendação nem era o agente dela, e sim um desconhecido. Ainda assim, apesar de tantas incertezas, ela fez a aposta em John Wick e fechou o negócio.

Ao ser questionada sobre o quanto ela já recebeu de volta destes US$ 6 milhões investidos, ela apenas respondeu sorrindo que "mais que o dobro", e disse que um dos seus maiores arrependimentos foi ter saído da franquia e produzido apenas o primeiro dos filmes.

E que bom que John Wick foi salvo por Eva Longoria e feito por Chad Stahelski e David Leitch. Pois se o filme Matrix (1999) - de onde Stahelski, Leitch e Reaves vieram - causou uma revolução nos filmes de ação e na cultura Pop, dá sim para dizer que John Wick também causou sua (pequena) revolução.

Se Matrix apostou na câmera lenta, John Wick subverteu tudo isso e apostou na velocidade, e mais ainda, deu ainda mais destaque para as coreografias. Ao contrário dos tão comuns cortes rápidos dos filmes modernos de ação, muitas das cenas de combate são filmadas em planos longos e sem cortes. E as brigas, além de bastante coreografadas, utilizam-se também de vários objetos, remetendo a filmes orientais, como se fossem uma violenta apresentação de dança. Tudo isso iria influenciar várias obras de ação subsequentes.

Terminando este artigo de curiosidades, segue o trailer do futuro filme Bailarina, que não terá pela primeira vez na franquia a direção Chad Stahelski. Será que vai manter o padrão dos demais John Wick?



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Crítica - Anora (2024)

Título
Anora (idem, EUA, 2024)
Diretor: Sean Baker
Atores principaisMikey Madison, Mark Eydelshteyn, Yura Borisov, Karren Karagulian, Vache Tovmasyan, Aleksei Serebryakov, Darya Ekamasova, Luna Sofía Miranda, Lindsey Normington
Nota: 7,0

Filme vencedor da Palma de Ouro é incomum e comovente

Anora é um filme independente de baixo orçamento (apenas US$ 6 milhões), que está há duas semanas nos cinemas brasileiros. Foi o grande vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2024 (sendo que um filme estadunidense não ganhava este prêmio desde 2011), e recebeu 6 indicações ao Oscar, dentre elas a de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz.

Antes de qualquer coisa Anora é um filme... diferente. Afinal, suas 2h09min de projeção são de ação e tensão frenéticas, e apesar dos personagens não contarem piadas e de várias situações pesadas, em muitas cenas o filme faz rir. Não a toa Anora é vendido como uma "comédia dramática".

Na trama, Anora (Mikey Madison), ou "Ani", é uma jovem stripper que mora em Nova Iorque e sabe falar russo. Em seu trabalho, ela acaba conhecendo o jovem Ivan "Vanya" Zakharov (Mark Eydelshteyn), filho de um  milionário russo, que se interessa por ela e acaba a contratando para ser sua "namorada" por uma semana. Os dois acabam vivendo um romance e se casando em Las Vegas. Quando os pais de Ivan descobrem o que aconteceu, seus "capangas" correm em direção ao casal para forçar a anulação do casamento, o que gera muita tensão e correria.

A principal qualidade de Anora é que mesmo sendo um filme estadunidense, ele é bem diferente do padrão que estamos acostumados. Não só pela mistura de gêneros e temas que citei anteriormente, mas também pelo modo que é filmado. A câmera não para, corremos o tempo todo ao lado de Ani, por todo lugar que ela vai, e olha que ela dá um rolê bem grande. Ainda assim, não se trata de filmagem em primeira pessoa.

Anora não deixa de ser um conto de fadas da vida real, onde Ani, uma pessoa pobre, chama a atenção de um "príncipe rico" que pode mudar sua vida completamente, "salvando-a" da miséria. Mas ainda que este "conto de fadas" de Anora seja bem mais real, ou seja, você assiste todo o filme torcendo pela protagonista, mas no fundo sabe que as chances de um final feliz são baixas, para mim o roteiro toma uma certa liberdade poética ao fazer os "capangas" da família de Ivan serem tão "bonzinhos". Ok, eu entendo que os russos não estavam no país deles, e que não necessariamente por serem milionários eles saem por aí cometendo crimes... mas ainda assim, no mundo verdadeiramente real, para mim Anora teria um tratamento bem pior.

Como conclusão, não vejo Anora como um filme excepcional, a ponto de merecer vencer o Oscar de Melhor Filme, mas ainda assim, ele vale a muita a pena assistir por ser fora do padrão. Quanto a atuação de Mikey Madison, a mesma coisa... não é excepcional mas está muito bem. É muito bacana ver ela brigar com unhas e dentes (e convencer que está fazendo isso) para manter sua posição e com isso comover o espectador.

Ah, a cena final de Anora é excelente e muito impactante. Você vai se lembrar dessa minha frase quando ver o filme. Nota: 7,0

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #031 - Conheça aqui a PRIMEIRA história escrita de Ficção Científica!


Você e um grupo de 50 companheiros partem em viagem, e fazem uma surpreendente viagem a Lua, onde ao chegar, se deparam com uma guerra entre os alienígenas habitantes da Lua contra os alienígenas habitantes do reino do Sol, em uma disputa que começou pela colonização do planeta Vênus. Ao retornar para a Terra, antes de conseguirem retornar para casa, acabam passando por vários locais novos e inexplorados, como por exemplo uma cidade habitada por lâmpadas "vivas" autônomas e conscientes, e de quebra descobrem um novo continente.

O enredo acima faz parte de um livro que, para muitos, se trata da primeira história de Ficção Científica da Literatura. Antes de revelar o nome desta obra, lanço o desafio: quando e onde vocês acham que ela foi escrita? Vou até dar dicas. Seria no começo do Renascimento Europeu (entre meados do século XIV e o fim do século XVI), quando a Idade Média se encerrava e a Ciência começava realmente a crescer? Ou seria ainda antes... que tal no Século IX do Mundo Árabe, onde a astronomia e matemática se desenvolvera mais rapidamente, e obras literárias incríveis de fantasia como por exemplo As Mil e Uma Noites já eram compiladas?

Nem um, nem outro. A trama em questão é narrada na obra História Verdadeira, escrita em meados do Séc. II d.C. por Luciano de Samósata (Síria), em grego. Sua intenção ao publicar sua História Verdadeira foi ironizar e criticar as fontes históricas contemporâneas e antigas que descreviam acontecimentos fantásticos e míticos como se fossem verídicos.

A épica jornada narrada em História Verdadeira é recheada de absurdos, e além dos eventos que descrevi no primeiro parágrafo deste artigo, temos por exemplo nossos aventureiros sendo engolidos por uma baleia gigante, onde lá dentro eles encontram uma civilização de homens-peixe; se envolvem em uma batalha entre um povo de gigantes; encontram um mar de leite com ilhas de queijo; viajam por vários lugares e acabam encontrando personagens históricos ou mitológicos como Homero, Ulisses, Sócrates, Pitágoras e Heródoto.

Vivendo dentro de uma baleia...

Ou seja, para nossos conceitos, há bem mais fantasia que Ficção Científica em História Verdadeira, mas ainda assim ela é considerada a primeira obra deste gênero por contemplar conceitos como viagens interplanetárias, encontro com alienígenas, colonização de planetas, atmosfera artificial, criaturas vivas feitas de tecnologia humana, desejo explícito dos protagonistas por aventura e exploração e etc.

Ah sim, e como sabemos que Luciano de Samósata escreveu História Verdadeira com este objetivo que eu contei pra vocês linhas acima? Porque ele mesmo diz isso nos primeiros parágrafos do livro! Ele cita A Odisséia, de Homero, como uma das mais importantes obras de charlatanismo, e ainda declara que sua história a seguir é toda inventada, tudo mentira: "Mas minha mentira é muito mais honesta do que a deles, pois embora eu não diga a verdade em nada mais, pelo menos serei verdadeiro ao dizer que sou um mentiroso.".

Curiosamente, apesar de tudo, ainda havia alguns leitores do mundo romano que, quando História Verdadeira saiu, acharam que sua história era real. Assim como temos hoje o fenômeno "se recebi no WhatsApp é verdadeiro", antes havia o "se foi publicado em um livro (ou pergaminhos), é verdadeiro". E no séculos XVI e XVII, quando a Europa explorava "terras inexploradas" ao longo do globo, História Verdadeira voltou a chamar a atenção das pessoas. Por exemplo, hoje os estudiosos acreditam que As Viagens de Gulliver, escrita pelo irlandês Jonathan Swift (1667 - 1745), tenha sido bastante influenciada por por esta obra.

Obs.: sendo um bom satírico e piadista, Luciano de Samósata encerrou sua História Verdadeira com um "... O que aconteceu no outro mundo eu contarei a vocês nos livros seguintes.", livros que ele obviamente nunca escreveu nem quis escrever. ;)



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #030 - Indiana Jones e a Última Cruzada acertou a localização do "Santo Graal" !!??


Para celebrar a marca de 30 artigos de curiosidades, volto a trazer algo sobre minha franquia de filmes favorita.

Para quem não está familiarizado com a trama do filme Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) - e que para mim é um dos melhores filmes de Aventura de todos os tempos - sua história é uma corrida em busca pelo artefato conhecido como Santo Graal, que no contexto deste filme, seria o cálice usado por Jesus Cristo na Última Ceia.

Segundo Indiana, o sagrado objeto está localizado na cidade de Petra, Jordânia, mais especificamente dentro do edifício de nome Al-Khazneh ("Câmera do Tesouro"), um dos mais imponentes daquela cidade.

E o filme termina (o que vou falar a seguir é um spoiler considerável, mas poxa, o filme tem quase 40 anos...) com cerca de uma dezena de pessoas morrendo lá dentro, e... com o Cálice também permanecendo por lá.

Este histórico prédio tem cerca de 40m de altura e acredita-se que ele foi construído no Séc I d.C. sob reinado do rei nabateu Aretas IV, com o propósito de servir como mausoléu. Entretanto, quando Al-Khazneh foi redescoberto por historiadores modernos ele já estava vazio. Em 2003 duas pequenas tumbas com esqueletos incompletos foram encontradas lá dentro e mais nada... Mas isso mudou ano passado, em Agosto de 2024.

Bem na frente da entrada de Al-Khazneh, um grupo de arqueólogos jordanianos e estadunidenses encontraram uma larga tumba, e ao escavarem, encontraram cerca de 12 esqueletos e mais alguns artefatos funerários de bronze, ferro e cerâmica.

E o mais impressionante, foi a descoberta - amplamente divulgada nos sites e revistas especializados do mundo todo - de que um destes esqueletos estava praticamente "segurando" um recipiente de cerâmica, recipiente esse muito parecido com o cálice usado no filme Indiana Jones e a Última Cruzada (vejam a foto abaixo).


Clicando aqui, você pode encontrar a matéria original do grupo que fez a descoberta que, vejam só, era acompanhada e filmada para o programa Excavation Unknown da Discovery Channel. Segundo as palavras de Josh Gates, apresentador e que acompanhava a escavação: "Quando avistamos o que parecia ser um cálice, todos nós simplesmente congelamos. Parecia quase idêntico ao Santo Graal apresentado em Indiana Jones e a Última Cruzada, situado no antigo edifício diretamente acima da tumba. Foi o momento derradeiro da vida imitando a arte."

Porém, o tal "Graal" descoberto por eles em Petra não é bem um cálice, e sim, a parte superior de uma jarra quebrada, que posteriormente foi datada como sendo do Séc I d.C., o que gerou algumas críticas de outros arqueólogos que também trabalham na famosa cidade Jordaniana. A "reclamação" é que eles também descobrem tumbas igualmente importantes, mas não ficam tentando se ligar a filmes de Hollywood para chamar atenção...

O grupo de arqueólogos que descobriu a tumba, no programa Excavation Unknown

A imponente fachada do Al-Khazneh em foto recente

O interior real do Al-Khazneh é bem diferente do que vimos em Indiana Jones e a Última Cruzada. Na verdade, ele é até pequeno, composto apenas de uma grande câmara principal quadrada e duas câmaras laterais.




PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Crítica - Conclave (2024)


Título
Conclave (idem, EUA / Reino Unido, 2024)
Diretor: Edward Berger
Atores principais: Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castellitto, Isabella Rossellini, Lucian Msamati, Carlos Diehz, Brían F. O'Byrne
Nota: 7,0

Bom filme de suspense dá suas cutucadas na Igreja de um jeito não convencional

Estreando agora nos cinemas brasileiros, e cotado como um dos grandes favoritos para vencer o Oscar de Melhor Filme 2025 (ainda que com suas 8 indicações, ele seja apenas 4º o mais indicado entre os concorrentes), Conclave é um filme de suspense baseado no livro de mesmo nome escrito em 2016 pelo inglês Robert Harris.

A história se baseia em um fictício conclave (!) realizado em um período contemporâneo, onde vemos o Colégio de Cardeais isolado e reunido para eleger um novo Papa, já que o anterior morreu subitamente de um ataque cardíaco. O reitor e cardeal britânico Thomas Lawrence (Ralph Fiennes) é eleito para organizar e liderar as novas eleições, que por sua vez, traz como principais candidatos a sucessão o liberal Aldo Bellini dos Estados Unidos (Stanley Tucci), o conservador Joshua Adeyemi da Nigéria (Lucian Msamati), o moderado Joseph Tremblay do Canadá (John Lithgow), e o conservador Goffredo Tedesco da Itália (Sergio Castellitto).

Com 62 anos e agora com 3 indicações ao Oscar (ele acaba de ser indicado a Melhor Ator por sua atuação neste filme), Ralph Fiennes sempre se mostrou um ator bom e versátil e, mesmo não estando excepcional aqui, está bem, e a meu ver das três indicações que recebeu da Academia até hoje, esta é sua melhor atuação.

Conclave conta com ótima produção e fotografia, mas o seu forte mesmo é seu roteiro, com vários mistérios paralelos. Que segredos o Papa escondia? Sua morte foi mesmo natural? Joseph Tremblay teria ou não sido recentemente expulso da Igreja? E quem será o novo Papa? Afinal o Cardeal Vincent Benitez (Carlos Diehz) é um impostor? As histórias e respostas para cada uma destas perguntas ocorrem em paralelo, em clima crescente de suspense, tudo bem encaixado e trazido de modo bem interessante para o espectador (obs.: eis um bom exemplo de Edição bem feita, ela também ganhou indicação ao Oscar).

Outro aspecto curioso de Conclave é ver que os personagens principais do filme, ou seja, os Cardeais envolvidos na eleição, não são necessariamente pessoas más ou boas, aliás, nem necessariamente tão religiosas... mais do que tudo ele são seres bem humanos e... políticos. Aqui vemos a liderança da Igreja apresentada como uma instituição muito politizada, com cada Cardeal defendendo sua proposta de mundo.

Mas se o roteiro de Conclave meio que poupa julgar cada indivíduo, o mesmo não acontece em relação a Igreja como instituição, e é aí que o filme começa a degringolar, flertar com clichês, e caminhar para uma conclusão onde tudo se encerraria de um jeito bem inverossimilmente feliz. Entretanto vemos a seguir não uma, mas duas reviravoltas que voltam a colocar o filme no caminho certo (ou pelo menos não no caminho mais previsível possível) e também concluem a história causando reflexões ao espectador.

Como resultado final, Conclave encerra de maneira satisfatória. Traz uma boa história, infelizmente se perde bem perto de seu desfecho, mas se recupera consideravelmente em suas cenas finais. Ao mesmo tempo, é um filme bem incomum ao unir política com suspense, e mesmo sem ter cenas de ação, ser bem sucedido no clima de tensão e mistério o tempo todo. Nota: 7,0.

Você PRECISA conhecer Supergirl: Mulher do Amanhã (e tem Brasileira envolvida!)

Tom King é um dos principais escritores de quadrinhos da DC Comics da última década. E na minha opinião, bastante irregular... já que entre...