Bem vindo ao Cinema Vírgula! Com foco principal em notícias e críticas de Cinema e Filmes, este blog também traz informações de Séries de TV, Quadrinhos, Livros, Jogos de Tabuleiro e Videogames. Em resumo, o melhor da Cultura Pop.
quarta-feira, 12 de março de 2025
O Carnaval acabou... E agora?
segunda-feira, 10 de março de 2025
Curiosidades Cinema Vírgula #036 - Sabiam que a "espada de Excalibur" existe na vida real?
Ainda sobre a Excalibur, há duas versões sobre sua origem. Uma dela, mais tardia (meados do Séc. 13), diz que Arthur a recebeu de presente da Dama do Lago, uma fada (ou se preferir, bruxa) de nome Viviane (ou se preferir, Nimue), sendo uma esta uma espada mágica e indestrutível forjada na mítica ilha de Avalon. Outra, diz que a espada ficava encravada em uma pedra, e que ninguém conseguia tirá-la de lá. E apenas quem merecesse ser o "verdadeiro Rei da Inglaterra" conseguiria realizar a façanha. Então um Arthur ainda jovem tentou removê-la da pedra e o fez com facilidade, tornando-se Rei. A primeira referência desta versão é de um poema francês de 1200, onde Arthur retira uma espada de uma bigorna que está em uma pedra de um cemitério de uma igreja.
Esta segunda explicação para a origem inspirou, por exemplo, a criação do livro infanto-juvenil The Sword in the Stone (1938) do escritor britânico T. H. White, que por sua vez foi adaptada em 1963 pela Disney em um filme de animação chamado A Espada Era a Lei, que é de onde tiro a imagem-título acima. Quem ainda não viu esse desenho, recomendo muito. Além de divertidíssimo, tem uma das batalhas mágicas mais épicas da história, entre o Mago Merlin e a Madame Min.
Galgano Guidotti e a "Excalibur" real
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A "Espada na Pedra" do mundo real |
Em 1148 nascia Galgano Guidotti, filho de um senhor feudal, e que na vida adulta era um cavaleiro impiedoso que também vivia uma vida, digamos... impura. Até que, segundo a lenda, por volta de 1180, ele começou a ter sonhos com Arcanjo Miguel, que lhe dizia para mudar de vida. Em um sonho em específico, Miguel o levou à colina de Montesiepi, e disse para Guidotti construir uma casa para a glória de Deus, desistir de suas posses mundanas e viver como um eremita.
Ainda no sonho, Guidotti retrucou dizendo que isso seria tão difícil quanto cortar uma pedra com sua espada, e para "provar" seu ponto, resolveu cortar uma pedra ao seu lado. Porém sua espada cortou a pedra como se fosse manteiga.
Continuando a história contada pela tradição local, dias depois Guidotti estava cavalgando, e seu cavalo passou a recusar suas ordens e acabou o levando à Montesiepi, ou seja, onde as imagens do seu sonho ocorreram. Entendendo como um sinal divino, um comovido Galgano quis colocar uma cruz no local. Porém ele não tinha uma cruz com ele e, em vez disso, mergulhou sua espada em uma pedra próxima. A espada, que deslizou dentro da pedra facilmente, ficou com a maior parte da lâmina enfincada, e com isto o que restou para fora da pedra ficou parecendo uma cruz.
Para decepção de sua família, Galgano Guidotti viveu o resto de sua curta vida (ele morreu em 1181) como um eremita e dedicado a Deus, conforme os sonhos lhe haviam pedido. Em 1185 o Papa Lúcio III santificou o homem (desde então São Galgano) e uma capela redonda foi construída em volta da espada para preservá-la, onde ela está até hoje.
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Cappella di San Galgano a Montesiepi |
Também dizem as lendas que muitos tentaram retirar a espada de Galgano da pedra, e não conseguiram. E que entre sua morte e a construção da capela, um ladrão tentou roubar a espada mas foi completamente devorado por lobos, sobrando-lhe apenas as mãos e braços. Os ossos da mãos e braços do "ladrão" também se encontram conservadas dentro da Capela de Montesiepi.
A Ciência não pode comprovar estes relatos lendários, mas as análises feitas em 2001 por cientistas da Universidade de Pavia atestam que tanto a espada como os ossos são de fato do Século 12, ou seja, estão de acordo com a época vivida por Galgano Guidotti.
Também não é possível afirmar que há uma relação entre a lenda Arturiana da espada de Excalibur e a história de São Galgano. Entretanto, os primeiros textos em que a Excalibur aparece como sendo retirada de uma pedra, aparecem apenas algumas décadas depois da morte de Galgano Guidotti. Portanto, dá para desconfiar que isto não seja apenas "coincidência".
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Galgano Guidotti e sua espada em detalhe |
sábado, 8 de março de 2025
Especial Dia Internacional da Mulher: CINCO jogos de tabuleiros modernos feitos por mulheres e que são sucessos mundiais!
8 de Março! Dia Internacional da Mulher! E novamente temos artigo especial aqui no Cinema Vírgula! Porém ao invés de trazer uma "mini-biografia" de alguma mulher memorável, como já fiz das incríveis Hedy Lamarr, Roberta Williams ou Lucille Ball, desta vez apresento jogos de tabuleiro modernos para vocês conhecerem e se divertirem.
São cinco jogos bem diferentes entre eles, cada um de uma designer mulher distinta, todos bastante conhecidos mundialmente, e que também podem ser comprados em lojas especializadas aqui no Brasil. Vamos a eles!
Wingspan (2019, Elizabeth Hargrave)
Começando pelo jogo que continua sendo um dos mais populares da atualidade, criado pela estadunidense Elizabeth Hargrave, que estreou no mundo dos boardgames lançando justamente este Wingspan. Seu jogo rapidamente virou um grande sucesso, e hoje já ultrapassou a marca de de 2,4 MILHÕES de cópias vendidas no mundo todo.
Wingspan é um jogo onde você coleciona pássaros, e o faz através de compra de cartas e gestão de recursos, que são ovinhos e "comidinhas" como insetos e peixes. O jogo é muito bonito, e apesar da dificuldade média (não é tanto para iniciantes), certamente agrada todos os gostos e gêneros.
A foto título deste artigo nos mostra Elizabeth Hargrave recebendo por Wingspan o prêmio do Kennerspiel des Jahres 2019, equivalente ao "Oscar" dos Jogos de Tabuleiro na categoria "Jogo Expert do Ano".
Wingspan joga de 1 a 5 jogadores, com cada partida durando cerca de 1h. O jogo custa cerca de R$ 550. Entretanto, existe uma versão mais barata do jogo, de nome Wingspan Asia, que é exclusiva para DOIS jogadores e custa menos de R$ 300.
Salada de Pontos (2019, Molly Johnson)
Agora vamos com um jogo mais leve, bastante premiado internacionalmente e diversão para toda a família. Trata-se de Salada de Pontos, feito pela estadunidense Molly Johnson em pareceria com mais outros dois criadores.
Salada de Pontos é um jogo de seleção de cartas rápido, simples e divertido para toda a família. Ele funciona assim: em cada rodada, você pode escolher dentre as opções da mesa (ver foto acima) pegar uma carta de pontuação, ou duas cartas de vegetais (e assim que você as pega, o grid de cartas é reposto com novas cartas). O "desafio" do jogo é que as cartas de pontuação podem dar pontos positivos ou negativos de acordo com determinados vegetais, e as vezes também as opções que estão disponíveis na mesa não são as melhores para os vegetais que você já tem. Na prática, tudo acaba sendo muito dinâmico e estratégico, com você tendo que fazer combinações de regras e vegetais que te favoreçam e ao mesmo tempo impeçam que outro jogador consigam cartas que poderão ser útil para ele.
Salada de Pontos joga de 2 a 6 jogadores, com cada partida durando cerca de 20 min. O jogo custa cerca de R$ 90 e vem dentro de uma caixinha metálica.
EXIT (2016 a 2025, Inka Brand)
A alemã Inka Brand é responsável, junto com seu marido Markus Brand, pela maior franquia de jogos de "Escape Rooms de bolso" do mundo todo. Trata-se da série EXIT, da qual já comentei aqui no Cinema Vírgula anos atrás.
Internacionalmente já foram lançados mais de 40 jogos diferentes desta série, sendo que aqui para o Brasil a editora Devir já trouxe pouco mais da metade deles: 24. Os temas são diversos. Por exemplo, os dois primeiros jogos da série se chamam EXIT: O Jogo - A Cabana Abandonada (2016) e EXIT: O Jogo - O Laboratório Secreto (2016), mas também há jogos baseados em franquias famosas, como por exemplo EXIT: O Jogo - Senhor dos Anéis: Sombras sobre a Terra Média (2022) e EXIT: O Desaparecimento de Sherlock Holmes (2022). A foto acima é de componentes da versão do jogo do Sherlock Homes.
Cada edição do jogo nos traz uma história, onde os jogadores devem resolver uma série de enigmas em até 60 minutos, para evitar que "algo ruim aconteça". Tudo do jogo vêm em uma pequena caixa, onde temos geralmente alguns livretos, cartas e um disco de papel repleto de combinações que é usado como "guia" para os enigmas apresentados. Os desafios em geral são bem criativos, mas ao mesmo tempo bem difíceis. É um jogo que só pode ser jogado uma vez, já que geralmente você vai inutilizar (cortar) os componentes enquanto o joga.
Qwirkle (2006, Susan McKinley Ross)
Qwirkle é um jogo que aparentemente demora para convencer as pessoas... afinal, embora tenha sido criado em 2006, só foi receber reconhecimento internacional em 2011, e só foi lançado no Brasil em... olhem só, ano passado, 2024! Porém, ele "demora" mas faz sucesso, já que já vendeu mais de 5 MILHÕES de cópias pelo mundo todo.
Criado pela estadunidense Susan McKinley Ross, neste jogo temos peças de 6 cores e 6 formatos diferentes, e a cada vez que colocamos um grupo deles na mesa, pontuamos pelo número de repetições de cor ou formato. Por exemplo, se na mesa já tenho 2 peças amarelas em linha, e em meu turno eu coloco mais 2 peças amarelas em seu lado, faço 4 pontos. Após isso reponho na minha mão as peças que gastei, e assim o jogo vai até que todas as peças se acabem.
O jogo é simples, para toda a família (inclusive crianças), roda de 2 a 4 jogadores e cada partida dura cerca de 30 min. Seu preço é de R$ 130.
As Ruínas Perdidas de Arnak (2020, Mín)
A designer checa Michaela "Mín" Štachová forma junto com seu marido Michal "Elwen" Štach a dupla "Mín & Elwen", sendo este jogo a maior criação deles até o momento.
Em As Ruínas Perdidas de Arnak somos aventureiros explorando terras selvagens em buscas de artefatos de civilizações antigas. O jogo é lindíssimo, com um tabuleiro gigante e repleto de cartas e componentes (que faz o preço do jogo ficar um pouco salgado, como veremos mais adiante).
Ele mistura as mecânicas de Alocação de Trabalhadores com Construção de Baralho, e apesar das regras consideravelmente simples, o jogo é bastante "apertado", sendo que em cada turno você tem poucas opções (recursos) disponíveis, e pontuar é difícil. Acaba sendo o jogo mais "pesado" (no sentido de complexidade) desta lista toda, bem estratégico, e reitero que suas regras não são difíceis de entender, o mais complicado mesmo é "dominar o jogo". Para quem gosta de jogos assim, ele é bem bacana e divertido.
As Ruínas Perdidas de Arnak joga de 1 a 4 jogadores, com cada partida durando cerca de 2h. O jogo custa cerca de R$ 600.
Jenga (1983, Leslie Scott)
Achou que minha lista iria parar nos cinco jogos modernos?? Achou errado!!! Aqui vai um jogo extra. Jenga não é um jogo de tabuleiro moderno, mas não poderia deixar de ficar de fora neste Dia Internacional da Mulher.
Não preciso explicar pra você como Jenga funciona, pois você certamente já jogou esta pequena e divertida maravilha. Criado pela britânica (porém nascida na Tanzânia) Leslie Scott, mesmo com seu jogo sendo plagiado incontavelmente por aí, segundo matéria do The New York Times o Jenga original conta com mais de 90 MILHÕES de cópias vendidas pelo planeta.
Nas últimas décadas Jenga também foi vendido com outras versões especiais (e com regras/mecânicas adicionais), como por exemplo esta abaixo do Super Mario, de 2020. Infelizmente, nenhuma delas chegou ao Brasil.
Nas lojas brasileiras você consegue encontrar o Jenga original por cerca de R$ 100. Já os clones mal feitos dele, dá pra achar por menos de R$ 40.
E Feliz Dia Internacional da Mulher a todas as leitoras do Cinema Vírgula!
segunda-feira, 3 de março de 2025
Curiosidades Cinema Vírgula #035 - Conheça quais são as grandes premiações internacionais do Cinema e quais filmes brasileiros já brilharam nelas!
Provavelmente o segundo maior prêmio do mundo do Cinema, a Palma de Ouro é entregue em Cannes, na França. O Festival de Cannes se iniciou em 1946, sendo que seu prêmio máximo de "melhor filme", a Palma de Ouro, começou a ser entregue em 1955. O primeiro e único filme brasileiro a vencer este prêmio é o Pagador de Promessas, de 1962, escrito e dirigido por Anselmo Duarte, filme este que também foi o primeiro a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional.
Curiosidade: a primeira edição deste Festival era para acontecer em 1939, inclusive tendo Louis Lumière como presidente. O Festival inclusive chegou a ter a primeira noite de eventos, porém no dia seguinte, em 01 de Setembro, a Alemanha invadiu a Polônia, e a programação então foi adiada... depois cancelada... com o Festival de Cannes retornando apenas décadas depois.
O Festival Internacional de Veneza é o festival de Cinema em vigor mais antigo do mundo, sendo iniciado em 1932. Já seu prêmio máximo de "melhor filme", o Leão de Ouro, passou a ser entregue a partir de 1949. O Brasil nunca conseguiu levar um Leão de Ouro para casa, mas em 1981, o filme Eles Não Usam Black-tie, de Leon Hirszman e Gianfrancesco Guarnieri venceu o Grande Prêmio do Júri, que é o segundo prêmio mais importante do evento, logo abaixo do Leão de Ouro. É a única premiação do Festival de Veneza levada por brasileiros até hoje.
Curiosidade: a origem do Festival de Veneza não é muito "elogiável", já que ele foi criado pelo empresário e político Giuseppe Volpi para desenvolver o cinema Italiano... mas também para ajudar a promover o governo fascista em vigor na época.
Urso de Ouro (Festival de Berlim)
Globo de Ouro
Encerrando a minha lista de maiores premiações internacionais do Cinema, chego ao Globo de Ouro, segunda maior premiação estadunidense. Que aliás, é uma premiação bem diferente das outras. Primeiro, porque ela é dada pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, ou seja, são jornalistas estrangeiros que fazem especificamente a cobertura de notícias de Los Angeles para o mundo. Segundo que é uma premiação que premia Cinema e TV... e terceiro, que eles separam as premiações de Cinema em duas categorias: temos os filmes "de Drama", e os filmes "de Comédia ou Musical".
O evento existe desde 1944, e seu(s) prêmio(s) máximo(s) são o Globo de Ouro para Melhor Filme de Drama, e Globo de Ouro para Melhor Filme de Comédia ou Musical. O Brasil nunca levou nenhum destes prêmios, mas já levou dois Globos de Ouro pra casa. Em 1998, Central do Brasil com Fernanda Montenegro venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme em Língua Estrangeira. E agora mesmo, na mais recente edição de 2024, sua filha Fernanda Torres levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Dramático. Na foto inicial do artigo podemos ver a atriz exibindo seu inédito troféu.
Brasil vence o primeiro Oscar de sua história!
E a conquista veio através do Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui. O filme nacional ainda estava indicado em mais duas categorias, a de Melhor Filme e a de Melhor Atriz, porém perdeu ambas para Anora. É importante ressaltar que isso não diminui em nada esta grande vitória, temos que comemorar bastante!!
Para quem ainda não viu, no vídeo abaixo temos toda a sequência do momento da entrega do nosso primeiro Oscar!
sábado, 1 de março de 2025
O Oscar 2025 será NESTE domingo! Conheça aqui os favoritos e minha análise sobre as chances brasileiras!
Neste 02 de Março de 2025, amanhã, um Domingo de Carnaval(!), teremos a cerimônia de entrega do 97º Academy Awards, vulgo Oscars 2025. Abaixo segue a lista dos 10 filmes que disputam o prêmio máximo de Melhor Filme, ordenados pelo número somado de indicações recebidas (entre parênteses). Você pode clicar nos links dos nomes para ler as críticas feitas aqui pelo Cinema Vírgula. Dos 10 nomes acabei não assistindo 3, com o detalhe que Um Completo Desconhecido e Nickel Boys estrearam no Brasil apenas nesta Quinta-feira(!), o primeiro deles nos cinemas, e o segundo no Prime Video:
- Emilia Pérez (13 indicações)
- O Brutalista (10)
- Wicked (10)
- Um Completo Desconhecido (8)
- Conclave (8)
- Anora (6)
- Duna: Parte 2 (5)
- A Substância (5)
- Ainda Estou Aqui (3)
- Nickel Boys (2)
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
Crítica - O Brutalista (2024)
Tendo estreado nos cinemas brasileiros na Quinta-feira passada, O Brutalista entra na véspera da cerimônia do Oscar como um dos favoritos a levar o Oscar de Melhor Filme 2025.
A história de O Brutalista, fictícia, nos apresenta László Tóth (Adrien Brody), um judeu-húngaro sobrevivente do Holocausto e arquiteto modernista (leia mais sobre isto no meu P.S. ao final deste artigo), que imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial consegue emigrar para os Estados Unidos, mesmo que isto signifique separar de sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) e de sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy). Algum tempo após chegar nos EUA, ele acaba sendo contratado pelo milionário Harrison Van Buren (Guy Pearce), para comandar um enorme e ambicioso projeto.
Dada esta descrição inicial, é difícil classificar O Brutalista. Ele é bem longo (quase 3h30min de projeção) e por opção bem ousada de seu diretor/roteirista Brady Corbet, acaba tratando de muitos assuntos. Aqui vemos a luta e questionamentos de um refugiado judeu, a busca do sonho americano, a crueldade e arrogância da classe rica, e ainda comentar de passagem sobre racismo, brigas de casal, vício em opióides e até... História e Arquitetura.
Em termos da trama, parece que temos dois filmes distintos. No primeiro ato, onde os personagens são apresentados, O Brutalista ainda consegue se manter interessante para o espectador. Porém no segundo ato, quando Erzsébet e Zsófia chegam aos EUA, a história parece se perder completamente, com o roteiro não sabendo mais que história contar. E, deixando claro, isto nem é culpa das novas personagens que chegaram. Até porque depois que Felicity Jones chega, ela acaba fazendo a única personagem interessante que resta em O Brutalista, já que nesta parte dois o personagem de Adrien Brody entra em uma descendente e se torna rapidamente intragável.
Portanto depois de um primeiro ato bem interessante e promissor, a única coisa que salva do roteiro segundo ato - confuso e com várias bizarrices - é que pelo menos ele não é previsível. Se prepare para situações incomuns. Por outro lado, se o roteiro de O Brutalista derrapa, ele vai muito bem em outros aspectos técnicos.
A fotografia (o que inclui os diversos modos de filmagem) e a trilha sonora de O Brutalista são ambas bem impressionantes. E inclusive, ambas são fundamentais para que este filme possa ser classificado como "épíco" mesmo sem ter cenas grandiosas de ação, ou mesmo de cenografia.
O Brutalista está indicado a 10 prêmios do Oscar 2025 e tem boas chances de levar alguns deles, ainda que uma certa polêmica possa prejudicar suas chances: trata-se do fato do uso de Inteligência Artificial no uso de um "aperfeiçoamento" no sotaque húngaro dos atores. Você pode aprovar ou reprovar, achar hipocrisia ou não, mas o fato é que "hoje" parte de Hollywood ainda não vê IA com bons olhos. Gostei bastante da atuação de Guy Pearce aqui, pra mim é a melhor atuação dele desde Amnésia (de 2000), só que não acho que ele leve o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante... todo mundo fala que o irmão de Macaulay Culkin, Kieran Culkin, é quem vai levar esta.
O Brutalista é outro filme desta safra do Oscar 2025 que é adorado pela crítica especializada mas que não vejo como agradar tanto o público em geral. Muito longo, muito lento, e até chato, seus pontos positivos vão mais pela trama inusitada e aspectos técnicos excelentes do que pela história em si. Nota: 6,0.
P.S.: por que Brutalista? É de se imaginar que o filme se chama "O Brutalista" porque o roteiro quer associar László Tóth com o estilo Brutalista. E faria sentido. O Brutalismo é um estilo arquitetônico que surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Suas principais características são o concreto exposto, sem adorno, e o uso de formas geométricas gigantes e ousadas.
O problema, é que segundo a comunidade arquitetônica o filme não mostra quase nada da arquitetura Brutalista, e quando o faz, faz de modo errado. Mais uma polêmica pro filme lidar...
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O prédio do MASP, na cidade de SP, é um exemplo da arquitetura Brutalista |
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
Crítica - Emilia Pérez (2024)
Enquanto desfilava pelos festivais de Cinema, Emilia Pérez era um dos filmes do ano. Elogiado pela crítica especializada, e sendo promovido com caminhões de dinheiro pela Netflix, que ainda está em busca de vencer uma da principais estatuetas do Oscar (ainda que neste filme ela só esteja distribuindo, não o produziu). O filme recebeu nada menos que 13 indicações ao Oscar 2025, e por isso despontava como o favorito a levar o prêmio de Melhor Filme. Mas foi só o público geral começar a assisti-lo, e os problemas começaram...
... mas antes de entrar nesse tema, vamos falar sobre o que Emilia Pérez se trata. É um filme musical que se passa no México atual, onde temos um dos maiores chefes do narcotráfico do país, Juan "Manitas" (Karla Sofía Gascón), que resolve abandonar sua vida atual e ser a pessoa que sempre quis ser desde que nasceu, uma mulher. Então, ele contrata Rita (Zoe Saldaña) que o ajuda em todo o complexo plano que culmina em seu "sumiço" do México e cirurgia de redesignação de gênero para o feminino. Anos depois, e já estabelecida como Emilia, ela retorna ao seu país, onde acaba ajudando vítimas do tráfico, mas também entra em conflitos com sua antiga esposa, Jessi (Selena Gomez).
Como entretenimento, Emilia Pérez não é ruim. Produzido de modo dançante, dinâmico, colorido (e brega), ele foi feito justamente para agradar. Pelo tipo de história que conta, e repleto de diálogos, nem deveria ser um musical... porém seu diretor, o francês Jacques Audiard, queria que o filme fosse uma "Ópera", e então temos vários diálogos em que as pessoas começam a cantarolar do nada, e param de cantarolar igualmente da mesma forma, sem nenhuma explicação; ou ainda, em que qualquer evento banal pode virar um "mini clipe", algo como se fosse um vídeo do TikTok, com dançarinos brotando do além. E apesar de tanto nonsense, ainda assim há alguns momentos musicais bons. Aliás, importante destacar, há bem menos musical em Emilia Pérez do que eu esperava.
Os dois personagens principais, o de Zoe Saldaña e o de Karla Sofía Gascón acabam sendo suficientemente interessantes, e na verdade, Zoe Saldaña é a melhor coisa de Emilia Pérez. De QUALQUER uma das 13 indicações ao Oscar que este filme recebeu, a única que não será injusto ele vencer será a de Melhor Atriz Coadjuvante para Zoe.
Mas se Emilia Pérez não é tão ruim e é até aceitável (mas bem cafona), seu problema é que ele é muito artificial. Ao começar de sua produção, que tenta vender um México mas mal tem integrantes mexicanos ou até mesmo falantes de espanhol. Algo que me impressionou bastante é como todos os cenários do filme são genéricos. Embora as cenas de Emilia Pérez se passem se passem no México (e alguns países da Europa) dos dias atuais, as localidades são tão sem identidade (e tudo é filmado em plano fechado justamente para não percebermos detalhes do ambiente) que o filme igualmente poderia dizer que as cenas estavam acontecendo, por exemplo, na Austrália nos anos 2000.
Outro ponto que deixa Emilia Pérez artificial é que se trata de uma história fictícia. E para piorar, o personagem Manitas / Emilia Pérez é apresentado como um herói. Oras, é totalmente aceitável mostrar uma história de arrependimento e redenção, mas é complicado pegar tão leve com alguém responsável por tantas mortes e atrocidades. A trama também é bem inverossímil: quando Manitas ressurge no México como Emilia Pérez, e ela aparece em rede nacional investindo seu dinheiro e em campanha para recuperar a história de mortos e desaparecidos pelo tráfico, ninguém questiona sobre seu passado, ou a impede de revirar tantos "esqueletos do armário". Como assim?? Isso jamais aconteceria no mundo real.
Ah, sim. Agora vamos falar da repercussão de Emilia Pérez quando foi assistido pelo público em geral: os mexicanos odiaram, pois se sentiram ofendidos pela caracterização estereotipada, e pelo modo "leve e cômico" que o tema das mortes pelo narcotráfico no país foram tratados; a comunidade trans também reclamou dos estereótipos e erros mostrados no filme e o rejeitou. E todas as acusações são justas, infelizmente.
Há uma cena bem emblemática que resume e exemplifica o parágrafo acima. No meio do filme, há um momento em que Emilia está ao lado de seu filho - que não sabe que ela é seu pai - e então o garoto comenta: "você tem o mesmo cheiro do papai", sendo que o cheiro de uma pessoa trans muda após a terapia hormonal. E logo em seguida, a criança começa a cantarolar que pessoas (de trabalho similares ao seu pai) cheiram a "menta, mezcal, guacamole e cigarro".
E como nada que já esta ruim não pode piorar, alguns de seus realizadores se mostraram ser péssimas pessoas: o diretor Jacques Audiard deu declarações racistas e xenófobas, como por exemplo: "O espanhol é um idioma de países modestos, de países em desenvolvimento, de pobres e migrantes.". Já Karla Sofía Gascón teve tweets antigos revelados, e bem... descobrimos que ela simplesmente falava mal do mundo inteiro, menos da comunidade trans. Sobrou para os negros, árabes, pro pessoal do Oscar, e até pra sua colega de filme, Selena Gomez. Seus tweets foram tão graves e geraram tanta repercussão negativa que no começo de Fevereiro Karla foi removida oficialmente pela Netflix de toda promoção oficial do filme.
Concluindo, Emilia Pérez não é esse 8 ou 80 em que se dividiu a Internet. É um filme que os pseudointelectuais acharam uma grande obra de arte, mas que para nós mortais, é como se fosse uma animada peça teatral para passarmos o tempo. Em suma, Emilia Pérez peca principalmente pelo compromisso com a realidade. Algo muito importante no momento em que passamos atualmente, e que sobra em seu concorrente Ainda Estou Aqui. Nota: 6,0
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Curiosidades Cinema Vírgula #034 - Akira Kurosawa e o Efeito Rashomon
Porém a lista de filmes de Kurosawa que marcaram a história do Cinema vai bastante além d"Os Sete Samurais", "Kagemusha, a Sombra de um Samurai" (1980) e "Ran" (1985) - o motivo de eu ter citado estes dois últimos é que eles completam a "trinca" de filmes mais premiados internacionalmente deste diretor.
Quero falar de Rashomon, de 1950, que foi tão revolucionário em termos de roteiro, que sua influência foi muito além do Cinema, como veremos a seguir.
Na história de Rashomon, que se passa no Japão medieval, temos o encontro de um lenhador, um sacerdote e um transeunte se abrigando de uma forte tempestade em um portão em ruínas. Dois deles foram testemunhas de um julgamento ocorrido dias atrás, de um bandido que teria assassinado um samurai e estuprado sua esposa. Eles acabam conversando sobre os depoimentos apresentados no julgamento, que foram três: o do bandido, o da mulher, e o do samurai (através de uma médium). Mas também ouvem um quarto depoimento, o do lenhador, que acaba confessando ter visto o crime. O curioso é que cada uma das 4 histórias possui diferenças bem relevantes entre elas.
De cara, Rashomon já traz características muito incomuns para a época, como por exemplo, contar sua história de forma não-linear. Além disto, em cada uma das quatro histórias, o comportamento de cada um dos personagens (e atores) é completamente diferente.
Mas a grande e mais revolucionária idéia do filme é que Rashomon se encerra sem dizer qual das quatro histórias é a "correta", o que faz com que tanto os personagens quanto os espectadores se despeçam frustrados e confusos.
E se pararmos para refletir no que estas contradições e frustrações significam... o quanto elas são tão presentes no mundo real... Se considerarmos tudo isso pra valer, será que é possível confiar verdadeiramente em qualquer pessoa?
O impacto Rashomon
Antes de Rashomon o mundo não dava muito atenção a filmes japoneses, porém a partir dele, tanto o Cinema Japonês como Akira Kurosawa passaram a ter relevância internacional. E por exemplo, já de cara o filme venceu o prêmio máximo do Festival de Veneza em 1951, o Leão de Ouro, e venceu também em 1952 o Oscar de Melhor Filme em Língua não-Inglesa.
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Kurosawa |
E não é só isso. O filme Rashomon foi tão revolucionário que passou a ser usado / citado / estudado em outras áreas da ciência humana, e até virou um termo: "Efeito Rashomon". Ele é estudado por exemplo na biologia, antropologia, filosofia e direito.
PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
Dupla Crítica Filmes de Animação - Wallace & Gromit: Avengança (2024) e Robô Selvagem (2024)
A história deste Robô Selvagem, que se passa em um futuro próximo, mostra a história da robô de serviços Rozzum 7134, que devido um acidente aéreo, acaba caindo em uma floresta isolada, tendo que (sobre)viver por lá. Com o tempo, "Roz" acaba se tornando amiga da raposa Astuto e mãe adotiva do filhote de ganso Bico-Vivo. Confesso que o trailer de Robô Selvagem me enganou, pois em nenhum momento dele vemos que os animais falam (o que é o caso), já que Roz rapidamente "aprende" a falar com os bichos da floresta. E isto de fato deixa o filme bem mais "fábula" do que a ficção científica que eu imaginava, porém, de maneira nenhuma isto é um defeito.
Conheça Frieren, Anime de fantasia medieval que acaba de estrear na Netflix e é (um justo) sucesso mundial
Estreou na Netflix neste 1º de Março a primeira temporada completa do Anime Frieren e a Jornada para o Além . Trata-se da adaptação para TV ...

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A Trilogia Baztán é uma série de livros da escritora espanhola Dolores Redondo, que alcançou fama em diversos países e é uma das publicações...
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