Diretor: Spike Jonze
Atores principais: Joaquin Phoenix, Rooney Mara, Amy Adams, Scarlett Johansson
Uma obra completa sobre as dificuldades do amar
Em sua superfície, Ela até parece ficção científica. Ou um
romance pastelão. A história: Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um escritor
que acabou de se separar de sua esposa (Rooney Mara) compra um inovador
programa de computador, intitulado “SO1”, que promete ser o suprassumo da
inteligência artificial. O programa possui uma personalidade própria, que se
intitula Samantha (a voz de Scarlett Johansson), e passa a interagir com Theodore
24hs por dia. E não demora muito para eles se apaixonarem.
Mas Ela não é nenhum nem outro. Ela é um drama, que percorre por todos os sentimentos que passamos em termos de
relacionamentos: do não ter relacionamento (solidão), ao extremo de ter um
relacionamento feliz.
A premissa é que por Samantha não ser real, o relacionamento
possuirá limitações e problemas. Porém se esta premissa é “óbvia”, o desdobramento
da história não tem nada de clichê. Ao invés de demonstrar as limitações “físicas”,
Ela nos traz uma viagem pelos sentimentos dos personagens:
Theodore, solitário e romântico, viu um casamento
inicialmente muito feliz se desmoronar aos poucos. E mesmo se relacionando com a
“personalidade perfeita”, não consegue ser totalmente feliz. E acompanhamos
todo seu sofrimento, suas dúvidas, sua paixão. Com a câmera focando o tempo
todo em Theodore em planos fechados, e com um tom quase monocromático de
marrom, nos sentimos tão deprimidos e separados do mundo exterior como ele.
Já de Samantha acompanhamos todo seu aprendizado emocional.
Extremamente “humana”, compartilhamos com ela a emoção de se ter o primeiro
amigo, de se ter o primeiro amor, e de ser uma estranha no mundo dos humanos.
O filme ainda permite um tempinho para mostrar outro tipo de
amor: o entre amigos, que Theodore possui em relação a sua amiga Amy (Amy
Adams), que também tem suas próprias desilusões amorosas.
Ela foi indicado a cinco Oscar: Melhor Filme, Melhor Roteiro
Original, Melhor Canção Original, Melhor
Trilha Sonora e Melhor Design de Produção.
A trilha sonora é de fato muito boa e adequada, nos
transmitindo com exatidão a tristeza do personagem principal. Mas ao mesmo
tempo, a trilha deixa de ser essencial, já que imagens, atuações e diálogos são tão bons que conseguem
transmitir o sentimento de melancolia por si só.
Joaquin Phoenix atua muito bem, como sempre. Uma pena que
não tenha levado nenhuma indicação. E Scarlett Johansson, quem diria... apesar
de ser apenas uma voz, transmite sua emoção com maestria. Quem disse que ela
não consegue ser boa atriz?
E quanto ao roteiro, ele é excepcional. Dos diálogos
às reviravoltas constantes, é até o momento em que escrevo estas palavras meu
preferido ao Oscar nesta categoria. Spike Jonze, o diretor, foi também o
roteirista. Palmas para ele.
Ela tem um estilo bem diferente da correria que vemos nos
filmes atuais. É o que popularmente chamamos de “filme cult”. Ela é um filme
lento, parado, contemplativo, melancólico. E brilhante. Nota: 9,0