sábado, 16 de janeiro de 2016

Crítica - Steve Jobs (2015)

TítuloSteve Jobs ("Steve Jobs", EUA / Reino Unido, 2015)
Diretor: Danny Boyle
Atores principais: Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen, Jeff Daniels, Michael Stuhlbarg, Katherine Waterston
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=DYCABywVKBw
Nota: 8,0
Fascinante e incompleta biografia de bastidores

Pouco mais de dois anos após a estréia de Jobs (2013), de Joshua Michael Stern e Ashton Kutcher agora é a vez do Steve Jobs de Danny Boyle e Michael Fassbender, respectivamente diretor e ator muito superiores do que o do filme anterior. Não é nada por acaso, então, que esta nova biografia sobre o visionário fundador da Apple seja muito superior ao filme de 2013.

Baseado em poucos capítulos da biografia de mesmo nome escrita por Walter Isaacson em 2011, Steve Jobs foi adaptado pelo premiado roteirista Aaron Sorkin que diz ter usado Steve Wozniak (outro famoso co-fundador da Apple) como consultor.

A história, curiosamente, trata apenas de três momentos pontuais da vida de Steve: os dias de lançamento do Macintosh (1984), do NeXT (1988) e do iMac G3 (1998). O filme conta com alguns poucos flashbacks que mostram outros momentos da vida do empresário, mas o foco são mesmo os bastidores pré apresentação pública em auditório de cada um dos três produtos. Em cada um dos três segmentos, vemos Steve Jobs (Michael Fassbender) interagindo (e discutindo) com sua competente marqueteira Joanna Hoffman (Kate Winslet), com o amigo Steve Wozniak (Seth Rogen), o CEO da Apple John Sculley (Jeff Daniels), o programador Michael Stuhlbarg (Andy Hertzfeld) e a ex-namorada e mãe de sua filha Lisa, Chrisann Brennan (Katherine Waterston).

O trio Boyle, Sorkin e Fassbender estão de parabéns ao construir um Jobs extremamente fascinante. É impressionante como o personagem domina e encanta em todos os ambientes em que aparece. Dos três, o ator é quem menos impressiona. Sim, Fassbender imita a postura, trejeitos e voz de Steve muito bem, mas não de maneira espetacular; mais ainda, o fato de ambos terem rostos tão diferentes dificulta um pouco esta personificação.

Portanto, o maior trabalho é do roteirista, que presenteia todos os personagens com ótimos diálogos, e do diretor Danny Boyle, pela maneira que optou por filmar as cenas, quase sempre em movimento. Jobs anda por salas, se exalta, e é como se a câmera fosse uma pessoa que o estivesse acompanhando em todos aqueles momentos. A sensação de "estar dentro" do cotidiano de Steve é incrivelmente perfeita.

Quase tudo é muito bom em Steve Jobs. Quase. Contra o filme, pesam alguns poucos pontos. Um deles é que ao focar em apenas 3 episódios de sua vida, no final conhecemos muito pouco de Jobs. E o fato de que cada um dos 3 segmentos sejam todos eles as horas antes de uma apresentação inaugural de um produto deixa o filme um pouco repetitivo.

Mas o grande problema do filme é seu desfecho. Ele passa o tempo todo sendo praticamente imparcial, dando voz as reclamações de Wozniak, de Sculley, etc. Mas na cena final, o filme explicitamente toma partido de seu protagonista, dando-lhe uma redenção que não combina tanto com o restante do tom da película.

Fassbender e Winslet foram ambos indicados ao Oscar 2016, o que é merecido. Mas o filme parou nestas apenas duas indicações. Boyle e Sorkin também poderiam muito bem ter recebido indicações.

Ainda que "incompleta", Steve Jobs traz uma ótima e divertida visão sobre a pessoa de Jobs, que deverá entreter facilmente qualquer um que tenha leve interesse em tecnologia. Nota: 8,0

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Os Indicados ao Oscar 2016 - e tem brasileiro!

E neste dia 14 de janeiro, foram anunciados os indicados para o Oscar 2016, cuja cerimônia acontecerá no dia 28 de fevereiro. Como sempre, a relação traz algumas surpresas, que comentarei posteriormente.

Abaixo segue a lista de todos os filmes que tiveram mais de 1 indicação. Em "negrito e aspas", se encontram os 8 indicados ao Oscar de Melhor Filme, mesmo número do ano passado, igualando o menor número desde a "nova regra de 2009", que só coloca filmes que alcancem pelo menos 5% das votações". São eles*:


* = em parênteses o número total de categorias indicadas para cada filme

Obs: Conforme as críticas dos filmes acima forem sendo escritas, atualizarei este post com os links novos.

Melhor Filme e Melhor Diretor
Não há dúvidas que O Regresso e Mad Max 4 serão os grandes papa-Oscar de 2016, e isto não é surpresa. Mas é surpresa a presença de Brooklyn na lista, que nem é estadunidense (mas é em inglês, por isto não entra no Oscar de filmes estrangeiros) e também uma leve surpresa as ausências de Carol e Divertida Mente.

Quanto a lista dos diretores, esta é a categoria mais surpreendente de todas, pela inclusão dos "desconhecidos" Adam McKay (A Grande Aposta) e Lenny Abrahamson (O Quarto de Jack) e pela ausência de Ridley Scott (Perdido em Marte). Scott inclusive era forte candidato a levar o prêmio, não pelo seu filme em si, mas porque nunca ganhou um Oscar e havia muitos artistas "torcendo" para que ele fosse enfim contemplado desta vez.

Outras Categorias
Ainda não foi desta vez que o Oscar prestigiou uma Ficção Científica, mas colocar Ex Machina: Instinto Artificial como indicado a Melhor Roteiro Original me agradou bastante. Com indicações para melhor roteiro em seus dois filmes anteriores, desta vez não deu para Tarantino, ausente da lista. Seu filme, Os Oito Odiados só foi indicado para Fotografia, Trilha Sonora e Atriz Coadjuvante. Acho justas as duas primeiras, já a terceira indicação... não gostei. Jennifer Jason Leigh é uma ótima atriz e manda bem no filme, mas não vi nada de extraordinário nesta sua atuação.

Por falar em atrizes, como curiosidade, considero que no filme Carol, Cate Blanchett e Rooney Mara são ambas protagonistas. Mas em termos de indicações, Cate foi para a o prêmio principal e Rooney para coadjuvante, para não concorrerem entre si. Não acho justo este tipo de manobra, mas como adoro ambas as atrizes, se elas ganharem vou fingir que a "falcatrua" não existiu rs.

Já nos atores... ver Sylvester Stallone indicado para melhor coadjuvante é uma homenagem que chega até me emocionar. Ele que só havia sido indicado como ator uma vez, por Rocky (1976) em 77, e não levou. Por falar em levar o Oscar pra casa, será que chegou a vez de Leonardo diCaprio? No momento que escrevo estas linhas, não vi o filme dele, e só vi a atuação de 1 de seus 4 concorrentes. Mesmo assim, dado o histórico da Academia em "reparar injustiças", cravo que desta vez ele leva. :)

E as duas maiores bilheterias de 2015 não foram bem nas indicações e isto também já era esperado. Star Wars: O Despertar da Força até que não decepcionou, ao ter 5 indicações, todas técnicas. Mas fiquei bastante satisfeito ao ver o apenas mediano Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros não ter indicação NENHUMA. Bem feito, que façam um trabalho menos preguiçoso no próximo filme da franquia.

Melhor Animação
Que dizer sobre um filme sem diálogos, desenhado em lápis de cor e giz de cera, e com profundas críticas sociais? Se trata do brasileiro O Menino e o Mundo, que é um filme tão bom, mas tão bom, que o ranzinza Ivan deu nota 9,0 pra ele. É uma das melhores animações que já vi na minha vida e portanto, justíssimo ter este reconhecimento que é estar indicado ao Oscar de Melhor Animação.

Vai vencer? Não vai. Até porque mesmo com diversas obras-primas sendo feitas por japoneses e europeus na animação, desde a criação do prêmio em 2001 apenas uma vez o vencedor não era estadunidense: A Viagem de Chihiro, em 2002. Será uma surpresa gigante se o vencedor do ano não for Divertida Mente.

Mas O Menino e o Mundo é ainda melhor! Se não vai levar, que a indicação sirva para que mais brasileiros decidam conhecer esta verdadeira obra de arte. Um alerta entretanto: não é um filme infantil.


E aí, o que acharam dos indicados? Alguma grande injustiça? Comentem!!


PS: vendo agora na internet, estou vendo alguma comoção em relação a ausências de J.J Abrams, Tarantino e do filme Beasts of No Nation. Eis meus pitacos para cada um dos 3 casos:
a) entrar na lista de 5 diretores já é muito difícil (não a toa foi a lista mais surpreendente). Mais difícil ainda se seu filme não está entre a lista de melhores filmes. E mais difícil ainda se seu filme for uma ficção/fantasia. Portanto, não vejo surpresa nenhuma aí.
b) talvez Tarantino até merecesse a indicação por Roteiro, mas não vejo injustiça ele fora desta vez. Mais ainda, independente do seu mérito aqui, eu tinha certeza que a conservadora Academia não ia ver com bons olhos os protestos do diretor contra a violência policial nos EUA...
c) Eu havia previsto na minha crítica de Beasts of No Nation que a Academia não iria indicá-los, e acertei (leia minha explicação). O filme merecia sim algumas indicações (e é infinitamente superior ao A Grande Aposta, por exemplo), mas é difícil o Oscar surpreender positivamente. Ainda assim, a Netflix não precisa ficar triste, já que dois de seus documentários foram indicados: Winter on Fire: Ukraine's Fight fo Freedom e What Happened, Miss Simone?. Não deixa de ser um importante reconhecimento para a empresa, que aliás tem desta vez tem grandes chances de levar seu primeiro Oscar pra casa.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Crítica - A Grande Aposta (2015)

TítuloA Grande Aposta ("The Big Short", EUA, 2015)
Diretor: Adam McKay
Atores principais: Christian Bale, Steve Carell, Ryan Gosling, Brad Pitt, John Magaro, Finn Wittrock
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=4UKz8fyPIEE
Nota: 6,0
Muito economês em um filme que se esforça para entreter

A Grande Aposta é um filme dirigido e co-roteirizado por Adam McKay sobre a Grande Crise Financeira de 2008, que ocorreu devido ao estouro da bolha imobiliária dos EUA. Além de explicar o acontecido, o filme conta sobre pessoas que anteciparam a crise e lucraram bastante com esta quebra do mercado. E aí que entram os personagens de Christian Bale, Steve Carell, Ryan Gosling e Brad Pitt, dentre outros. Ao contrário do que o trailer sugere, os 4 atores citados não trabalham juntos. Cada um, separadamente, trava uma luta diferente para lucrar com a crise.

A Grande Aposta tenta ser engraçado, usando um estilo de narrativa "despojado" parecido com o de O Lobo de Wall Street e abusando de piadas. Porém não é tão bem sucedido quanto sua inspiração e praticamente não faz rir; o que é curioso, já que o diretor McKay teve toda sua carreira até então dedicada a comédias como por exemplo Os Outros Caras (2010) e Tudo Por um Furo (2013).

Os motivos para que o filme não seja tão divertido são vários: se em O Lobo de Wall Street o narrador é arrogante para ser engraçado, em A Grande Aposta o narrador (Jared Vennett, o personagem de Gosling) é arrogante para se gabar (isto sem falar da diferença de carisma entre Leonardo diCaprio e Ryan...). Ainda comparando, se no primeiro todas as trapaças aparentam não ter consequência a ninguém, aqui didaticamente o roteiro martela várias vezes que estamos diante de uma fraude que deixará milhões desempregados e sem casa. Não dá parar rir disto. Para piorar, o filme também conta com um número grande de personagens e muito "economês", tornando-o difícil de ser entendido e apreciado. Pesa também contra A Grande Aposta a rapidez do seu desfecho: confesso ter entendido em 100% apenas o que aconteceu com os personagens de Bale e Gosling; os demais, só captei alguns detalhes.

Não que A Grande Aposta não tente explicar os jargões econômicos para o espectador - ele tenta fazer da maneira mais divertida possível e o faz com explanações bastante coloquiais feitas por convidados como Selena Gomez e Margot Robbie (vivendo elas mesmas) - mas é muita operação financeira acontecendo ao mesmo tempo, e também, algo muito mais próximo do mundo estadunidense do que o nosso. Neste aspecto, o filme não é tão universal, um ponto negativo.

O filme conta com boas atuações - especialmente de Bale, de quem falarei depois - um bom ritmo, e, apesar de não fazer rir, o grande número de explicações financeiras poderia tornar o filme muito mais chato do que é; neste sentido, o roteiro de A Grande Aposta faz sem dúvida um bom trabalho de "aliviar" o enfadonho.

Christian Bale pode não ser um ator carismático - aliás, acho que nunca o vi rir na vida - mas está cada vez mais se especializando em personagens exóticos. Desta vez, ao representar um personagem maníaco por rock, anti-social e com olho de vidro, o britânico mais uma vez rouba a cena.

Por ser baseado em fatos históricos, e por ser bem sucedido ao transmitir a tensão dos personagens para o público, A Grande Aposta não deixa de ser um filme interessante. Para quem não é um investidor estadunidense entretanto, o filme perde em atratividade pela falta de familiaridade. Nota: 6,0

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Crítica - Os Oito Odiados (2015)

TítuloOs Oito Odiados ("The Hateful Eight", EUA, 2015)
Diretor: Quentin Tarantino
Atores principais: Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=aR38_FXwvJ8
Nota: 7,0
Um Tarantino lento e inesperado

Fanático por cinema, Quentin Tarantino repete a dose de seu filme anterior, Django Livre, voltando a homenagear os faroestes Western spaghetti, e agora também, os faroestes de TV da década de 60, como Bonanza. O resultado é um filme incomum em sua filmografia, mas que se assemelha com seu primeiro trabalho, Cães de Aluguel (1992).

Na história, vemos o caçador de recompensas John "O Enforcador" Ruth (Kurt Russell) viajando com sua presa Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) até a cidade na qual será executada. No entanto, devido a uma forte nevasca, a dupla é obrigada a se refugiar dentro de uma espécie de bar, isolado de tudo. É lá que eles ficarão "presos" por alguns dias convivendo com estranhos, dentre eles outro caçador de recompensa. Será que John Ruth e Daisy sairão ilesos deste encontro?

Embora o filme conte com 6 capítulos, como na grande maioria da vezes no cinema sua história é composta de 3 atos. No primeiro, conhecemos todos os personagens com uma abordagem contemplativa, bem ao estilo dos filmes de Sergio Leone. No segundo ato, Os Oito Odiados surpreende muito ao se tornar algo parecido com o livro O Caso dos Dez Negrinhos, de Agatha Christie, com direito até a um "detetive" improvisado. Já o terceiro ato... Sabem aquela característica famosa de Tarantino de misturar bastante sangue e violência com humor? Bem, no ato final o humor praticamente desaparece, restando apenas muito sangue.

Conhecido por fazer filmes com muitos diálogos, em Os Oito Odiados o Quentin definitivamente não economiza no quesito. Certamente é o filme do diretor com mais conversas entre personagens, e que pelo excesso, se alternam entre diálogos memoráveis e desnecessários.

Os Oito Odiados não é fácil de se assistir. Muito lento, praticamente sem ação e muita conversa, as quase 3 horas de projeção são cansativas. Ainda assim, o filme tem várias qualidades.

Como sempre, a trilha sonora é muito boa, e para seu novo filme Tarantino trouxe nada menos que Ennio Morricone para a música. Curiosamente, a ótima trilha é feita com acordes consideravelmente diferentes dos sons clássicos de faroeste que consagraram este grande italiano. O design de produção também é muito bom. Tudo lembra o faroeste, e em pequenos detalhes do cenário temos pistas da trama que está em andamento.

O roteiro é cheio de surpresas e reviravoltas, traz um ótimo clima de tensão e suspense, e vários personagens são bem desenvolvidos na trama. Ele ainda traz discussões / situações interessantes sobre racismo (não apenas contra negros, mas também contra mexicanos), guerra, e comentários sobre o nascimento dos EUA.

Finalmente, as atuações da dupla Russell e Leigh são excelentes; e junta-se a ele a fantástica atuação de Samuel L. Jackson: um grande ator, um grande personagem.

Por outro lado, há pontos que não gostei em Os Oito Odiados. Não o critico por ser lento, já que isto faz parte do gênero que o filme homenageia. Mas o critico por ser longo. A meu ver, quase todos os 6 capítulos poderiam ser menores (e entendo que um deles é quase desnecessário). Além disto, duas das atuações me incomodaram: a de Michael Madsen - que em nenhum momento parece pertencer ao mundo do faroeste - e o personagem de Tim Hoth. Se me perguntarem qual personagem ele interpretou neste filme, vou responder: o ator Christoph Waltz.

Em resumo, talvez Os Oito Odiados seja um filme mais interessante de se ver cinematograficamente falando do que em termos de diversão (e aliás, ele precisa ser visto nos cinemas; não muito pelas belas paisagens do primeiro ato, mas principalmente pelo som. Ouvir o barulho incessante do vento da nevasca faz com que o espectador se sinta realmente dentro do bar, preso pelo frio). Lento e com diálogos em excesso, o filme poderá causar estranhamento até nos fãs do diretor. Nota: 7,0

domingo, 3 de janeiro de 2016

Retrospectiva Cinema Vírgula 2015


Feliz 2016! Que tal começarmos o ano com um breve resumo do que pior e melhor aconteceu nos cinemas em 2015? Vamos a ele!

O Cinema em 2015
Este foi o ano dos Blockbusters. Dos 11 filmes de maior arrecadação mundial em todos os tempos (sem contar a inflação), nada menos que 5 deles são de 2015. São eles: Jurassic World (3º), Velozes e Furiosos 7 (5º), Vingadores: Era de Ultron (6º), Star Wars - O Despertar da Força (7º lugar por enquanto...) e Minions (11º). Como se pode ver clicando nos títulos para ler minhas críticas, bilheteria e qualidade não são necessariamente sinônimos... De qualquer forma o melhor dentre todos estes - Star Wars 7 - ainda está nos cinemas e acredito que ele chegará com folgas na 3ª posição geral. Mas irá ele quebrar a barreira dos US$ 2 bilhões e posteriormente ultrapassar os dois primeiros: Titanic (2º) e Avatar (1º)? Aí eu não tenho tanta certeza.

2015 também foi o ano em que os cinemas dos EUA ultrapassaram pela primeira vez na história a marca de US$ 11 bilhões de arrecadação. Nota-se, entretanto, que este valor foi atingido principalmente pelos altos valores cobrados pelos cinemas 3D e iMax já que em termos de número de ingressos vendidos nos EUA, o número do ano passado foi o menor do século!

A "era dos Blockbusters" significa má notícia para o cinema brasileiro, infelizmente. Com as grandes produções dominando várias salas em um mesmo cinema ao mesmo tempo, sobra cada vez menos espaço para as produções nacionais. Felizmente o filme Que Horas Ela Volta? foi exceção e conseguiu quase 500 mil espectadores no Brasil. Após estréia tímida, o boca-a-boca positivo do público e os prêmios obtidos no exterior deram uma grande - e justa - sobrevida a esta bela obra. Mesmo assim, em termos de cinema nacional, infelizmente o público brasileiro em geral apenas prestigia as comédias de atores globais: o filme brasileiro campeão de público em 2015 foi Loucas pra Casar, com 3,7 milhões de ingressos vendidos.

E finalmente, tivemos ano passado a histórica estréia de Chatô - O Rei do Brasil, um filme que demorou 20 anos para ser concluído e cujos problemas alteraram profundamente as regras para financiamento público de filmes nacionais, tornando-as bem mais rígidas.

Os 5 melhores e os 5 piores
E a parte mais esperada da minha retrospectiva... minha lista dos 5 melhores e 5 piores filmes de 2015. Lembrando que só entram na conta filmes que foram lançados no Brasil no ano citado.

Os melhores, em ordem alfabética:
  • O Abutre: ótimo suspense com ótimas atuações, bela fotografia e tensão literalmente do começo ao fim
  • Divertida Mente: a animação mais séria da Pixar, que ainda assim, diverte muito crianças e adultos
  • Mad Max: Estrada da Fúria: sem dúvida o melhor filme do ano. Um espetáculo visual sem igual com um ritmo alucinante. É a ação sobre rodas em forma de grande obra de arte
  • Missão: Impossível - Nação Secreta: tudo o que James Bond queria ser e não conseguiu; um dos filmes de ação mais divertidos do ano
  • Timbuktu: em tempos de Estado Islâmico, um filme contemplativo que foge de clichês e que mostra como um muçulmano comum vive sob domínio de extremistas

Ainda gostaria de dar destaque aos nacionais Que Horas Ela Volta? (nossa pré-indicação ao Oscar) e Olmo e a Gaivota (belo documentário que mistura ficção e realidade, humor e drama). Dos internacionais também dou destaque para a bela ficção científica de baixo orçamento Ex-Machina: Instinto Artificial, os filmes de Oscar Birdman, Selma e Whiplash; também ao divertidíssimo Perdido em Marte, ao tenso Sicario: Terra de Ninguém do ótimo diretor de suspense Denis Villeneuve, e finalmente, o ótimo A Pele de Vênus, de Roman Polanski, que mistura fetiche masoquista, ficção e realidade.

Antes que alguém reclame, dos filmes de grandes franquias, me diverti com os filmes da Marvel, mas o melhor mesmo foi Star Wars 7, que entretanto não entra no meu Top 5 devido ao segmento muito problemático da "grande arma" presente na parte final da história.

Os piores, em ordem alfabética:

Curiosamente todos os filmes acima contam com diretores bem vistos pelo público e estúdios, o que mostra que diretores também erram, e/ou não significam sempre bons filmes. Sugiro a leitura principalmente de O Destino de Júpiter e Velozes & Furiosos 7 para vocês verem o quanto fiquei indignado com ambos.

E vocês? Qual foram seus melhores e piores filmes de 2015? Opinem!!

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Todos os filmes que assisti em 2015 (inclui minhas indicações para os melhores)



Último dia de 2015. Mais um ano se encerrando, e desta vez o Cinema Vírgula fecha o ciclo com uma novidade. Já repararam que as críticas que faço são apenas de filmes que estrearam nos cinemas no mesmo ano da publicação?

Pois é. Isto não significa que não assisto (ou revejo) outros filmes "antigos" ao longo do ano. Desta vez trago a lista de todos os filmes que assisti em 2015 (sejam novos ou "repetidos"). Eu tinha uma meta de assistir 104 filmes (por que 104? Porque o ano tem 52 semanas e 104 garantiria "pelo menos" 2 filmes por semana). No total, bati a meta com folga. Foram 122. Vamos a eles:

  • 007 Contra Spectre - "Spectre" - EUA / Reino Unido (2015)
  • O Abutre - "Nightcrawler" - EUA (2014)   (*)
  • Acossado - "À bout de souffle" - França (1960)
  • Adeus à Linguagem - "Adieu au langage" - França / Suíça (2014)
  • Almoço em Agosto - "Pranzo di ferragosto" - Itália (2008)
  • Alta Fidelidade - "High Fidelity" - EUA / Reino Unido (2000)
  • Amaldiçoado - "Horns" - Canadá - EUA (2013)
  • O Ano Mais Violento - "A Most Violent Year" - Emirados Árabes / EUA (2014)
  • Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu - "Airplane!" - EUA (1980)
  • Assim Caminha a Humanidade - "Giant" - EUA (1956)   (*)
  • Uma Aventura Lego - "The Lego Movie" - Australia / Dinamarca / EUA (2014) 
  • The Babadook - "The Babadook" - Austrália / Canadá (2014)
  • Beasts of No Nation - "Beasts of No Nation" - EUA (2015)   (*)
  • Birdman (ou a Inesperada Virtude da Ignorância) - "Birdman" - Canadá / EUA (2014)   (*)
  • Biutiful - "Biutiful" - Espanha / México (2010)
  • Blade Runner, o Caçador de Andróides - "Blade Runner" - EUA / Hong Kong / Reino Unido (1982)   (*)
  • Bonequinha de Luxo - "Breakfast at Tiffany's" - EUA (1961)
  • Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas - "Bonnie and Clyde" - EUA (1967)
  • Branco Sai, Preto Fica - "Branco Sai, Preto Fica" - Brasil (2015)
  • Em Busca do Ouro - "The Gold Rush" - EUA (1925)   (*) 
  • Chappie - "Chappie" - África do Sul / EUA / México (2015)
  • Chatô - O Rei do Brasil - "Chatô - O Rei do Brasil" - Brasil (2015)
  • Cinderela - "Cinderella" - EUA / Reino Unido (2015)
  • Cinquenta Tons de Cinza - "Fifty Shades of Grey" - EUA (2015)
  • Clube dos Cinco - "The Breakfast Club" - EUA (1985)
  • A Colina Escarlate - "Crimson Peak" - EUA (2015)
  • Um Conto Chinês - "Un Cuento Chino" - Argentina / Espanha (2011)
  • Corações de Ferro - "Fury" - China / EUA / Reino Unido (2014)
  • Corrente do Mal - "It Follows" - EUA (2014)
  • Os Croods - "The Croods" - EUA (2013)
  • O Destino de Júpiter - "Jupiter Ascending" - EUA / Reino Unido (2015)
  • O Dia em que a Terra Parou - "The Day the Earth Stood Still" - EUA (1951)
  • A Espiã Que Sabia de Menos - "Spy" - EUA (2015)
  • Divertida Mente - "Inside Out" - EUA (2015)   (*)
  • Enquanto Somos Jovens - "While We're Young" - EUA (2014)
  • Entre Nós - "Entre Nós" - Brasil (2013)
  • A Entrevista - "The Interview" - EUA (2014)
  • Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer - "Me and Earl and the Dying Girl" - EUA (2015)   (*)
  • Ex-Machina: Instinto Artificial - "Ex Machina" - EUA / Reino Unido (2015)   (*)
  • Êxodo: Deuses e Reis - "Exodus: Gods and Kings" - Espanha / EUA / Reino Unido (2014)
  • Expresso do Amanhã - "Snowpiercer" - Coréia do Sul / EUA / França / República Checa (2013)
  • O Falcão Maltês - "The Maltese Falcon" - EUA (1941)
  • Fogo Contra Fogo - "Heat" - EUA (1995)   (*)
  • Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo - "Foxcatcher" - EUA (2014)
  • Frank - "Frank" - EUA / Irlanda / Reino Unido (2014)
  • Golpe Duplo - "Focus" - EUA (2015)
  • Grandes Olhos - "Big Eyes" - Canadá / EUA (2014)
  • Guerra dos Sexos - "Maschi Contro Femmine" - Itália (2010)
  • A História da Eternidade - "A História da Eternidade" - Brasil (2014)
  • Homem-Formiga - "Ant-Man" - EUA (2015)
  • Ida - "Ida" - Dinamarca / França / Polônia / Reino Unido (2013)
  • O Império dos Sentidos - "Ai no korîda" - França / Japan (1976)
  • A Incrível História de Adaline - "The Age of Adaline" - Canadá / EUA (2015)
  • Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal - Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull - EUA (2008)
  • Invencível - "Unbroken" - EUA (2014)
  • O Jogo da Imitação - "The Imitation Game" - EUA / Reino Unido (2014)
  • Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros - "Jurassic World" - EUA (2015)
  • Kingsman: Serviço Secreto - "Kingsman: The Secret Service" - Reino Unido (2014)
  • Ladrão de Casaca - "To Catch a Thief" - EUA (1955)
  • Ladrões de Bicicletas - Ladri di biciclette" - Itália (1948)   (*)
  • Lavoura Arcaica - "Lavoura Arcaica" - Brasil (2001)
  • Leviatã - "Leviafan" - Rússia (2014)
  • Loucademia de Polícia - "Police Academy" - EUA (1984)
  • Loucademia de Polícia 2: A Primeira Missão - "Police Academy 2: Their First Assignment" - EUA (1985) 
  • Luzes da Ribalta - "Limelight" - EUA (1952)
  • Macunaíma - "Macunaíma" - Brasil (1969)
  • Mad Max 2: A Caçada Continua - "Mad Max 2" - Austrália (1981)
  • Mad Max: Estrada da Fúria - "Mad Max: Fury Road" - Austrália / EUA (2015)   (*)
  • O Menino e o Mundo - "O Menino e o Mundo" - Brasil (2013)   (*)
  • Mensageiro do Diabo - "The Night of the Hunter" - EUA (1955)
  • Minions - "Minions" - EUA (2015)
  • Missão: Impossível - Nação Secreta - "Mission: Impossible - Rogue Nation" - EUA / China / Hong Kong (2015)
  • Mortdecai: A Arte da Trapaça - "Mortdecai" - EUA / Reino Unido (2015)
  • Mulan - "Mulan" - EUA (1998)
  • Uma Noite no Museu - "Night at the Museum" - EUA / Reino Unido (2006)
  • Olmo e a Gaivota - "Olmo & the Seagull" - Brasil / Dinamarca / França / Portugal / Suécia (2015)
  • Operação Big Hero - "Big Hero 6" - EUA (2014)
  • A Origem - "Inception" - EUA / Reino Unido (2010)
  • O Palhaço - "O Palhaço" - Brasil (2011)
  • Para Maiores - "Movie 43" - EUA (2013)
  • Para Sempre Alice - "Still Alice" - EUA / França (2014)
  • Um Peixe Chamado Wanda - A Fish Called Wanda - EUA / Reino Unido (1988)
  • A Pele de Vênus - "La Vénus à La Fourrure" - França / Polônia (2013)   (*)
  • Perdido em Marte - "The Martian" - EUA (2015)   (*)
  • Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência - "En duva satt på en gren och funderade på tillvaron" - Alemanha / França / Noruega / Suécia (2014)
  • Ponte dos Espiões - "Bridge of Spies" - EUA (2015)
  • Primer - "Primer" - EUA (2004)   (*)
  • Psicose - "Psycho" - EUA (1960)   (*)
  • Quarteto Fantástico - "Fantastic Four" - Alemanha / Canadá / EUA / Reino Unido (2015)
  • Que Horas Ela Volta? - "Que Horas Ela Volta?" - Brasil (2015)   (*)
  • Rashomon - "Rashômon" - Japão (1950)   (*)
  • Rebecca, A Mulher Inesquecível - "Rebecca" - EUA (1940)
  • O Reencontro - "The Big Chill" - EUA (1983)
  • Relatos Selvagens - "Relatos salvajes" - Argentina / Espanha (2014) 
  • O Retorno de Jedi - "Star Wars: Episode VI - Return of the Jedi" - EUA (1983)
  • The Ridiculous 6 - "The Ridiculous 6" - EUA (2015)
  • O Sal da Terra - "The Salt of the Earth" - Brasil / França / Itália (2014)
  • Saneamento Básico, O Filme - "Saneamento Básico, O Filme" - Brasil (2007)
  • Selma: Uma Luta Pela Igualdade - "Selma" - EUA / Reino Unido (2014)
  • O Senhor dos Anéis: As Duas Torres - "The Lord of the Rings: The Two Towers" - EUA / Nova Zelândia (2002)   (*)
  • O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei - "The Lord of the Rings: The Return of the King" - EUA / Nova Zelândia (2003)   (*)
  • O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel - "The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring" - EUA / Nova Zelândia (2001)   (*)
  • Um Senhor Estagiário - "The Intern" - EUA (2015)
  • Serenity: A Luta Pelo Amanhã - "Serenity" - EUA (2005)
  • Sniper Americano - "American Sniper" - EUA (2014)
  • Star Wars: O Despertar da Força - "Star Wars: The Force Awakens" - EUA (2015)   (*)
  • Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma - "Star Wars: Episode I - The Phantom Menace" - EUA (1999)
  • Star Wars: Episódio II - Ataque dos Clones - "Star Wars: Episode II - Attack of the Clones" - EUA (2002)
  • Te Amarei para Sempre - "The Time Traveller's Wife" - EUA (2009)
  • Ted 2 - "Ted 2" - EUA (2015)
  • A Teoria de Tudo - "The Theory of Everything" - Reino Unido (2014)
  • Timbuktu - "Timbuktu" - França / Mauritânia (2014)   (*)
  • Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível - "Tomorrowland" - Espanha / EUA (2015)
  • A Travessia - "The Walk" - EUA (2015)
  • Velozes & Furiosos 7 - "Furious Seven" - EUA / Japão (2015)
  • Veludo Azul - "Blue Velvet" - EUA (1986)
  • Viagem a Darjeeling - "The Darjeeling Limited" - EUA (2007)
  • Viagem à Lua de Júpiter - "Europa Report" - EUA (2013)
  • Vidas ao Vento - "Kaze tachinu" - Japão (2013)
  • A Visita - "The Visit" - EUA (2015)
  • Vingadores: Era de Ultron - "Avengers: Age of Ultron" - EUA (2015)   (*)
  • Whiplash - Em Busca da Perfeição - "Whiplash" - EUA (2014)   (*)

Os filmes em laranja negrito e com um (*) são aqueles a que dou uma nota de no mínimo 8,0 e portanto, recomendo fortemente.

Eu tinha uma segunda meta, de assistir pelo menos 12 filmes nacionais este ano, 6 no cinema. Quase cumpri. Assisti os 12... mas apenas 5 no cinema. Foram eles: Chatô - O Rei do Brasil, O Menino e o Mundo, Olmo e a Gaivota, Que Horas Ela Volta? e O Sal da Terra. Mesmo que alguns deles não tenham sido meu destaque no ano, recomendo todos. O nosso cinema é bom e continua bom!

O que acharam da lista? Quantos filmes vocês assistiram este ano? Comentem!

E um feliz 2016 para todos vocês que acompanham o Cinema Vírgula!

sábado, 19 de dezembro de 2015

Crítica - Star Wars: O Despertar da Força (2015)

TítuloStar Wars: O Despertar da Força ("Star Wars: The Force Awakens", EUA, 2015)
Diretor: J.J. Abrams
Atores principais: Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Harrison Ford, Adam Driver
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=4r0287tUEgk
Nota: 8,0
Misto de reboot e continuação, filme é o melhor desde O Império Contra-Ataca

Enfim a espera acabou. Depois da considerável decepção que os fãs tiveram em 1999 com Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma e os dois filmes seguintes, com Star Wars: O Despertar da Força o público volta a ver um material digno de toda a adoração que a franquia recebe.

O diretor J.J. Abrams certamente aprendeu com os erros de George Lucas em sua tentativa anterior. Uma das maiores qualidades de Star Wars: O Despertar da Força é não abusar dos efeitos especiais, fazendo tudo parecer absolutamente real. As cenas de batalhas com naves - também por acontecerem sob um planeta e não no espaço - são empolgantes e críveis. Mesmo os alienígenas são em sua grande maioria pessoas vestindo fantasias. Só não convenceram Maz Kanata (Lupita Nyong'o) e Snoke (Andy Serkis), não a toa os únicos personagens relevantes 100% digitais.

Outro grande acerto do diretor e do estúdio foi manter o mistério ao redor da produção. Ao contrário do que (erroneamente) fazem estúdios como a Marvel e a Warner, que revelam toda a trama do filme em seus trailers, tudo ficou bem escondido em Star Wars: O Despertar da Força, até a sua sinopse, genérica e portanto inexistente. Em homenagem a todo este sensato segredo, fica meu alerta: a partir de agora irei comentar sobre a história do filme. Obviamente não revelarei nenhum grande spoiler, mas resumirei a trama principal e citarei alguns poucos detalhes do enredo. Portanto, se nem isto você quer saber antes de ver o filme, pare por aqui, vá os cinemas e depois volte. Ok?

Na história deste Episódio 7, trinta anos após o Episódio 6, temos a Primeira Ordem (sucessora do Império) guerreando contra a Resistência (sucessora da Aliança Rebelde). Ambos se concentram em um objetivo comum: encontrar o desaparecido Luke Skywalker. A primeira quer Luke para destruí-lo, já os Rebeldes querem voltar a contar com essencial sua ajuda.

É então que temos uma história muito parecida com a de Guerra nas Estrelas (1977). Temos em Rey (Daisy Ridley) a jovem heroína esquecida em um planeta deserto, em Kylo Ren (Adam Driver) um líder do lado negro da Força, temos um personagem velho e sábio orientando Rey, temos até uma arma equivalente à Estrela da Morte no final do filme! Confesso que eu tinha receio de que isto acontecesse. Mas a boa notícia é que todas estas partes "iguais" foram (re)filmadas com algo diferente, novo, que tornam o filme muito interessante tanto para os fãs antigos quanto para os espectadores de primeira viagem. A única exceção fica para as cenas substitutas da batalha na Estrela da Morte. Seu desfecho é apressado, curto, mal feito, mal explicado. Dá até sensação que faltou grana para um desfecho apropriado. Em se tratando da rica franquia, não foi o caso. É mais provável que esta "pressa" ocorreu para que o filme não tivesse muito mais do que 2h de duração - tempo considerado como "limite ideal" pelos produtores de Hollywood.

Star Wars: O Despertar da Força apresenta um novo trio de heróis protagonistas: Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega) e Poe Dameron (Oscar Isaac). E não custa reforçar que eles são respectivamente uma mulher, um negro e um latino. Muito bacana. E os três estão ótimos. São grandes atores, grandes personagens. Possuem todas as qualidades para fazer a nova trilogia brilhar! Ah, ainda há um novo personagem que rouba a cena: BB-8. O robozinho é uma versão meiga de R2-D2, e mesmo não tendo um rosto, consegue ser tão expressivo quanto Wall-E. O cuidado com ele foi tanto que dois comediantes foram contratados só para criar suas vozes e "emoções".

Rey (tanto a personagem quanto a atriz) é simplesmente fantástica. Ela rouba a cena toda vez que aparece; mal a conhecemos e já reconhecemos instantaneamente sua grandeza. A química entre ela e Finn no começo do filme é incrível. O novo trio também é responsável por cenas heroicas verdadeiramente emocionantes e que honram todo o legado da franquia. Nesse aspecto, o roteiro do novo filme é brilhante.

Em seu todo o roteiro de Star Wars: O Despertar da Força possui altos e baixos. Como grandes virtudes, além das cenas heroicas comentadas acima, o filme consegue ser equilibrado em termos de ação, humor, aventura, reviravoltas e drama. Consegue resgatar e homenagear o sentimento da trilogia clássica sem erros. Tudo isto acompanhado da competente trilha sonora de John Williams, ele também misturando novo e antigo em seu trabalho. A trama possui seu MacGuffin: o mapa que mostraria a localização de Luke. Ele funciona maravilhosamente para conduzir as aventuras e tensões da história. Mas, quando tentam explicá-lo, é aí que o roteiro tem seu ponto mais fraco, pois muito pouco faz sentido. Se o Jedi queria ser encontrado, porque não deu sua localização para R2-D2 diretamente? Se não queria ser encontrado, como então Lor San Tekka (o velho de Jakku) tinha esta informação?

Apesar dos problemas de roteiro relatados, isto não atrapalha a experiência do espectador. Star Wars: O Despertar da Força é sem sombra de dúvida um ótimo e divertidíssimo filme de aventura, tendo todos os elementos que precisa para ser um grande clássico. Tecnicamente, é quase impecável, deslumbrante. Até os famosos (e ironizados) lens flares de J.J. Abrams são bem aproveitados, resultando em cenas visualmente (e tematicamente) espetaculares.

A verdade é que ao mesmo tempo que Star Wars: O Despertar da Força imita tanta coisa do Episódio 4 (sendo por isto parcialmente um reboot), ele apresenta tantos personagens novos que não sobre muito tempo para se contar uma história no filme. Muitas perguntas são deixadas sem resposta. Neste sentido, para mim Star Wars: O Despertar da Força se assemelha muito mais a um Episódio "6,5" do que um Episódio 7. E tão importante quanto resgatar a qualidade da franquia, é que a partir do próximo filme, que estréia em 2017, tudo pode ser 100% novo. E o será conduzido por 3 personagens que nasceram da melhor maneira possível: Rey, Finn e Poe Dameron. Brilhante e promissor é, o futuro desta saga! Nota: 8,0

PS 1: não é necessário conhecer nenhum dos Episódios anteriores para entender o Star Wars VII. Entretanto, ter assistido a trilogia clássica é importante para ter a experiência do filme como se deveria. Recomendo portanto que ela seja assistida antes. Quanto aos Episódios I a III, esqueçam. Eles não são citados em nenhum momento, e dificilmente serão no futuro.

PS 2: o 3D do filme não acrescenta nada. Mas também não atrapalha. por isto, se possível, opte pela versão 2D, mais barata.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Filmes da Netflix - Críticas: "Beasts of No Nation" e "The Ridiculous 6"


A Netflix - o mais conhecido dos canais de streaming - começa a investir cada vez mais em filmes próprios. Vamos a análise de dois de seus títulos mais famosos de 2015.


Beasts of No Nation (2015)

Diretor: Cary Joji Fukunaga
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=-LdeYA7Ku14
Atores principais: Abraham Attah, Emmanuel Nii Adom Quaye, Idris Elba
Nota: 8,0

"Para entender melhor o horror das guerras civis da África. E um ótimo filme"

Antes de falar do filme propriamente dito, é importante dizer o que ele representa. É a primeira tentativa da Netflix para obter uma indicação ao Oscar. Cada vez mais dedicada a fazer produções próprias - seja via seriados ou filmes - se suas séries já são exemplo de qualidade (principalmente devido a House of Cards), agora eles tentam reconhecimento equivalente para seus filmes, tentando um respaldo da Academia. Não vai ser fácil. Ao colocar a estréia de Beasts of No Nation simultaneamente no seu canal e nos cinemas (pois pelas regras de hoje para ter indicações ao Oscar é obrigatório o filme ter estado nos cinemas), o filme foi boicotado nos EUA por grandes empresas das telonas. O motivo: medo da futura concorrência. Em poucas salas, a arrecadação de Beasts of No Nation foi baixíssima (menos de 100 mil dólares). Vamos ver se eles receberão indicações do Oscar. Eu duvido. Entendo que a Academia também não vê com bons olhos filmes fora dos cinemas.

Sobre o filme... baseado em um livro de 2005 de mesmo nome do autor Uzodinma Iweala, a história se passa nos dias de hoje em algum país africano em guerra civil (o nome do país nunca é identificado). No meio da sangrenta batalha entre os exércitos do governo e os rebeldes estão a ONU e... os pobres civis. Acompanhamos a história do garoto Agu (Abraham Attah), que bem criança tem sua pequena aldeia devastada pelo exército nacional. Sozinho, ele foge para a selva e é encontrado pelo exército rebelde, onde seu Comandante (Idris Elba) resolve acolher e converter Agu como um de seus soldados.

Beast of No Nation prometeu duas coisas: mostrar os horrores das guerras na África e mostrar como um garoto inocente se torna um soldado sanguinário. A primeira promessa é cumprida com louvor. Bastante violento, mas sem apelar para cenas repletas de sangue, é impossível não se comover com o horror que os civis africanos vivem há décadas. Uma coisa é saber como eles (sobre)vivem; outra é assistir. Já a segunda promessa é cumprida em partes. Sim, é verdade que o grande foco do filme é justamente a história de Agu virando um soldado, e a grosso modo, é perfeitamente compreensível e crível a transformação do garoto. Porém, nos detalhes, esta "conversão" é irregular. Narrada em alguns momentos pelos pensamentos do próprio Agu, em várias ocasiões a voz dos seus pensamentos não refletem suas atitudes na tela, deixando a transformação do garoto um pouco inconsistente.

Para um filme de baixo orçamento - apenas US$ 6 milhões - a fotografia é bonita e competente, sendo o maior destaque técnico do filme. Seus fortes mesmo são o roteiro e a atuação de Idris Elba - até certo ponto comedida - mas muito crível e versátil. Para quem quiser entender um pouco mais sobre o triste mundo que vivemos, eis um filme de qualidade para isto. Nota: 8,0


The Ridiculous 6 (2015)

Diretor: Frank Coraci
Atores principais: Adam Sandler, Rob Schneider, Taylor Lautner, Jorge Garcia, Terry Crews, Luke Wilson, Nick Nolte
Nota: 5,0

"Elenco numeroso é o melhor desta comédia pastelão mediana de Adam Sandler"

The Ridiculous 6 já de cara não prometia muito. Produtor e roteirista do filme, Adam Sandler tentou vendê-lo para vários estúdios... e não conseguiu. Após assinar um contrato de 4 novos filmes com a Netflix em outubro de 2014, The Ridiculous 6 enfim achou um lugar para ser exibido. Sua estréia mundial aconteceu 3 dias atrás, em 11 de dezembro, numa das grandes atrações de Natal da empresa de streaming.

Nesta comédia de faroeste, Tommy Stockburn (Adam Sandler) precisa arrecadar US$ 50 mil para resgatar seu pai Frank (Nick Nolte) de uma quadrilha de bandidos. E em sua jornada, ele acaba encontrando mais cinco meio-irmãos, que se unem a ele na empreitada. São eles: Ramon (Rob Schneider), Lil' Pete (Taylor Lautner), Herm (Jorge Garcia), Chico (Terry Crews) e Danny Stockburn (Luke Wilson).

The Ridiculous 6 é uma comédia besteirol típica de Adam Sandler. É seu humor padrão repleto de piadas escatológicas, machistas, homofóbicas, sexuais e non-sense. O filme não é o pior dentre todos do ator, e certamente não é o melhor, fica no meio termo.

Com uma história simplória e previsível, The Ridiculous 6 apresenta duas qualidades: quando deixa de lado as piadas ofensivas e parte para as trapalhadas e o non-sense, algumas das piadas são bem engraçadas. Mas principalmente, o que mais chama a atenção é o número gigantesco de atores famosos na produção. Além dos 7 principais já citados anteriormente, ainda temos, dentre outros: Will Forte, Steve Zahn, Harvey Keitel, Jon Lovitz, David Spade, Danny Trejo, Steve Buscemi e John Turturro. Em geral personagens malucos, bizarros e caricatos, eles acabam sendo mais engraçados e interessantes do que as próprias piadas do filme.

The Ridiculous 6 é uma comédia mediana que deverá agradar apenas os fãs de Adam Sandler. Vale mais como curiosidade para ver o elenco estrelado do que assistir o filme em si. Vamos ver se os 3 filmes restantes do ator na Netflix serão bons... por enquanto, embora garanta algumas risadas, sua estréia não empolgou. Nota: 5,0

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Crítica - Chatô - O Rei do Brasil (2015)

TítuloChatô - O Rei do Brasil ("Chatô - O Rei do Brasil", Brasil, 2015)
Diretor: Guilherme Fontes
Atores principais: Marco Ricca, Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Gabriel Braga Nunes, Letícia Sabatella

Apesar dos 20 anos de problemas na produção, Chatô é bom e interessante

Tão importante quanto falar sobre o filme Chatô - O Rei do Brasil é contar sobre a sua complicada história de produção, que já entrou para a história do Cinema Brasileiro.


Chatô - A produção

O ano era 1995. Guilherme Fontes, então com 28 anos, vinha de recentes sucessos na TV e no teatro e era um dos principais galãs das novelas da Globo. Em novembro do mesmo ano ele conseguiria financiamento público de volumosos R$ 12 milhões para realizar o filme Chatô – O Rei do Brasil, baseado no polêmico livro de mesmo nome do escritor Fernando Morais. A previsão era que Chatô fosse lançado em 1997, mas... não saiu. Focado em arrecadar ainda mais dinheiro para tornar seu filme ainda mais grandioso (por exemplo Guilherme tentou trazer o diretor Francis Ford Coppola para ser seu produtor), as filmagens só começaram em 1999. Poucos meses depois viria o grande golpe: graças a uma denúncia de irregularidades na aplicação do dinheiro captado, Chatô seria alvo de investigação judicial.

Chatô – O Rei do Brasil parou. Parte dos patrocinadores - já insatisfeitos com os atrasos - pediam o dinheiro de volta. Dos 12 milhões de Reais prometidos, apenas 8,6 milhões efetivamente vieram. Guilherme Fontes era constantemente criticado pela imprensa e ganhou imagem de ladrão. Mesmo com todos os problemas ele conseguiria patrocínios suficientes para gravar mais cenas em 2002 e 2004. Segundo Guilherme, oitenta por cento do filme estava pronto... mas ainda faltava completar o restante. Sem dinheiro, com problemas e dívidas cada vez maiores, o natural seria entregar Chatô do jeito que estava. Mas não foi o que Fontes fez. Foram mais 11 anos brigando por dinheiro para terminar seu projeto (algumas poucas regravações foram feitas posteriormente com os atores originais já envelhecidos, mas o que faltava mesmo era a pós-produção). E eis que 20 anos depois conseguir o financiamento inicial, para surpresa de todos, Chatô – O Rei do Brasil chegou aos cinemas brasileiros.

Para quem quiser conhecer mais sobre a conturbada história da produção, recomendo a leitura deste artigo da Revista Época. O texto traz uma visão de que todos os problemas que Fontes passou vieram mais da megalomania e irresponsabilidade do ator/diretor do que qualquer desonestidade. Seria isso mesmo? O fato é que Chatô mudou a história do nosso cinema, e depois dele as regras e leis para financiamento de filmes foram bastante alteradas. Por exemplo, hoje o valor máximo de arrecadação depende de quantos filmes e mini-séries o diretor/produtor fez. Sob as regras atuais, o então estreante Guilherme Fontes estaria limitado a apenas R$ 1 milhão se quisesse fazer seu Chatô hoje.


Chatô - A crítica do filme

Chatô – O Rei do Brasil é uma biografia bem humorada e um pouco fantasiosa do empresário Assis Chateaubriand, magnata das comunicações do país dos anos de 1930 a 60, considerado o "Cidadão Kane" brasileiro. O roteiro não é linear, tendo uma edição consideravelmente complexa. No início do filme Chatô entra em coma e, em seu delírio entre a vida e a morte, ele é submetido a um "julgamento" pela sua vida em um programa de auditório estilo Chacrinha. A cada depoimento das "testemunhas", vemos um capítulo da vida do empresário. Vários capítulos seguem uma ordem cronológica, mas nem sempre. E aí conhecemos melhor Chatô: mulherengo, desonesto, chantagista, folclórico e com grande talento político e comercial.

Uma das principais qualidade de Chatô – O Rei do Brasil é seu ritmo. A impressão é que Guilherme Fontes fez de tudo para que seu filme não ficasse chato mesmo percorrendo dezenas de anos da vida do protagonista. E deu certo. Abuso de cenas curtas, diálogos sempre ágeis e bem humorados, o roteiro não linear, tudo é feito para que Chatô seja dinâmico e atual.

Ironicamente, seu dinamismo também trabalha em efeito contrário, gerando os principais problemas de Chatô – O Rei do Brasil: o entendimento dos fatos históricos. Tudo é tão rápido que muitas passagens ficam apenas na "sugestão", sendo confusas ou mal explicadas. O início do filme é especialmente confuso. Por que Chatô está morrendo? O roteiro insinua (erradamente) um acidente de carro. A trombose é real ou fictícia? (e já respondendo, foi real). Para que o filme seja melhor aproveitado, é necessário que o espectador conheça um pouco da biografia de Assis Chateaubriand e de Getúlio Vargas. O que temos na Wikipedia já é suficiente para isto, mesmo se forem lidos apenas pós filme.

Não sei se houve desvio de dinheiro em Chatô. Mas podem ter certeza que enormes quantias foram gastas em figurinos, cenários e locações. A cada 2 ou 3 minutos de filme, roupas, locais, tudo muda. É um verdadeiro desfile. Aliás, o filme é bastante colorido, diria até... carnavalesco.

Chatô – O Rei do Brasil apresenta também várias atuações interessantes. Mais ainda, é como se o filme fosse uma máquina do tempo. Filmado em até 16 anos atrás, muitos atores estavam em evidência na época, mas hoje estão "sumidos" (por exemplo, Andréa Beltrão, que tem uma atuação encantadora); alguns até já faleceram (Walmor Chagas e José Lewgoy).

Com qualidades e defeitos devido seu ritmo acelerado, Chatô – O Rei do Brasil não é um grande filme, mas é bom e interessante. E pelos tantos problemas que teve, é portanto uma vitória de Guilherme Fontes. Aliás, o diretor disse que tinha material suficiente para um filme de 2h20min (foi finalizado em 1h45min). Será que esta versão mais longa corrigiria os problemas de Chatô? Acho que nunca saberemos. Mas o que sabemos hoje é que Chatô – O Rei do Brasil terminou sua longa história de maneira satisfatória. Nota: 6,5.


O ator/diretor/produtor Guilherme Fontes há 20 anos atrás (esq) e hoje (dir)

Crítica - Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

Título : Indiana Jones e a Relíquia do Destino ("Indiana Jones and the Dial of Destiny", EUA, 2023) Diretor : James Mangold Atores...