terça-feira, 31 de março de 2020

Star Trek: Picard (2020) - Crítica da Primeira Temporada


Antes, um pouco de história: o ano de 2005 foi um ano triste para os trekkers, com o cancelamento do mediano Enterprise. Afinal, era a pela primeira vez desde 1987 que a franquia Star Trek deixava de ter conteúdo inédito (leia-se: seriados) exibido nas TVs.

Depois de mais de 10 anos de ausência, surgiu uma nova tentativa, com Star Trek: Discovery em 2017. Com efeitos visuais excelentes e um começo promissor, o seriado me decepcionou bastante ao trazer basicamente um único assunto (uma guerra entre a Federação e os Klingons), além de um grupo de personagens absolutamente chatos e desinteressantes. O resultado é que não consegui ir além do começo 2a temporada. O seriado ainda continua em produção, com a 3a temporada prevista ainda para 2020.

Então chegamos a Star Trek: Picard, que estreou poucos meses atrás, e que tem como maior atração o retorno de Patrick Stewart em seu papel mais famoso, o capitão (e posteriormente Almirante) Jean-Luc Picard, o que não acontecia desde 2002 com o filme Nêmesis.

Já começo pelo veredito: Star Trek: Picard é melhor que Star Trek: Discovery. Mas ainda assim é outro seriado da franquia que, no melhor dos casos, posso classificá-lo como "mediano".

Na história da vez, que ocupa todos os 10 episódios da primeira temporada, Picard sai de sua aposentadoria para salvar Dahj, uma androide visualmente idêntica aos humanos, que está sendo caçada por uma seita secreta de Romulanos, os Zhat Vash, que querem assassiná-la. Curiosamente, Star Trek: Picard traz para dentro do cânone um fato futuro citado no filme reboot "Star Trek" (2009), que é a destruição do planeta Romulus por uma supernova: achei um toque bacana, ao reforçar a coesão que existe entre os universos pré e pós reboot.

A premissa não é de todo ruim, já que no final da trama conduz a um interessante debate sobre o quanto as vidas artificiais são mesmo "vidas", e se são tão importantes como a vida biológica. Discussão, entretanto, já abordada diversas vezes por Picard e sua trupe dentro do universo de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração.

Mas o maior problema da trama nem é sua qualidade, ou sua falta de originalidade, e sim, seu tamanho: embora a temporada tenha 10 episódios, para a história que apresentaram metade disso já era suficiente.

E ironicamente, até daria para a produção de Star Trek: Picard "enrolar" na trama sem prejudicar o seriado... afinal, a série traz alguns novos personagens bem interessantes, e até tentam desenvolvê-los... mas o fazem de maneira muito chata e repetitiva. Tramas paralelas verdadeiramente interessantes com os personagens coadjuvantes "poderiam" tornar a história melhor.

Outro ponto que me incomodou é como Picard volta... Primeiro porque ele retorna velho, fisicamente limitado... e embora isto faça parte da "velhice", não é algo que encaixa bem na franquia, que sempre tem um otimista foco no futuro. Mas principalmente, a maior falha é que Jean-Luc está exageradamente ingênuo. Ocorrem alguns acontecimentos na trama que fariam o "verdadeiro" Picard bem desconfiado do que lhe apresentam; mas nesta série ele parece aceitar tudo.

O que melhor funciona em Star Trek: Picard é a sua nostalgia, quando ele reencontra seus antigos amigos. Não a toa, o melhor episódio da primeira temporada é justamente quando ele reencontra Riker (Jonathan Frakes) e Deanna Troi (Marina Sirtis). A participação da antiga personagem Sete de Nove (Jeri Ryan) também é bastante legal. Mas, em outras palavras, a única maneira que vejo para alguém gostar desta temporada, é necessariamente ter acompanhado e gostado de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração.

Não gostei do desfecho dado à Picard na conclusão da série. A conclusão é emocionante (as vezes até demais, sendo piegas), aceitável, mas o destino de Jean-Luc não. Em contrapartida outro personagem antigo recebe sua conclusão - desta vez uma boa, que é um dos pontos altos da série - e retifica uma bobagem do filme Nêmesis.

Star Trek: Picard já teve uma 2a temporada anunciada e, apesar de todos os problemas aqui citados, tenho otimismo de que será uma boa temporada: a série e seus personagens ainda têm bastante potencial.

E que a 2a temporada resgate o que eu considero o "principal" em Star Trek: a exploração espacial, a busca pelo desconhecido, pela aventura... mal vimos isto em Star Trek: Discovery e em Star Trek: Picard. Tristemente, o seriado atual que mais se aproxima dos tempos dourados da franquia é um que não faz parte do universo de Jornada nas Estrelas: falo de The Orville, que também terá sua 3a temporada ainda este ano.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Dupla Crítica Filmes Netflix - O Poço (2019) e Jóias Brutas (2019)


Outros dois filmes de produção Netflix, um que estreou semana passada, e outro do começo de 2020.  Em comum, ambos são filmes "pesados" e polêmicos, além de que os dois foram sucesso de visualizações na plataforma. Mas isso não significa que você que está lendo aqui já assistiu ambos rs.  Portanto, apresento a vocês O Poço e Jóias Brutas!


O Poço (2019)
Diretor: Galder Gaztelu-Urrutia
Atores principais: Ivan Massagué, Zorion Eguileor, Antonia San Juan, Emilio Buale, Alexandra Masangkay, Zihara Llana

O Poço é um filme espanhol que mistura suspense, ficção cientifica e terror. O filme se passa numa espécie de prisão muito bizarra: uma torre subterrânea com centenas de salas, uma sala por andar, e cada andar com apenas 2 pessoas.

O problema é como os alimentos são distribuídos aos detentos: através de uma enorme plataforma, inicialmente repleta de comida da mais alta qualidade, que vai descendo andar por andar, mas nunca sendo renovada. O que significa se você está nos primeiros andares, comerá como um rei; se estiver lá pelo 50o andar, comerá o resto do resto; se estiver abaixo do 100o andar, não irá comer mais absolutamente nada, já que certamente não sobrou nenhum alimento. Piorando (ou não) o cenário, ao término de cada mês todas as pessoas são aleatoriamente remanejadas para outros andares. Então é muito comum você estar no topo em um mês, e nos andares mais baixos no outro. E vice-versa.

Eu diria que O Poço é uma mistura do clássico cult Cubo (1997) com o famoso filme coreano Expresso do Amanhã (2013), porém superior a ambos. É superior ao Cubo pois consegue passar uma sensação de "morte iminente" de maneira muito mais forte, porém visualmente de maneira menos explícita. E é superior ao Expresso do Amanhã por conseguir fazer sua metáfora sobre duelo de classes de maneira muito mais visceral e realista.

Há muito debate sobre qual a mensagem que O Poço quer passar: seria uma crítica ao capitalismo? Ou uma crítica aos governos e políticos em geral? Eu não vou tanto nestas interpretações e simplifico meu entendimento com uma afirmação: sempre que houver uma sociedade dividida em diferentes classes, teremos conflitos e péssimos comportamentos, e em todas as classes.

Ah, e não posso deixar de comentar que há algumas "pistas" no filme que me fizeram pensar que nada do que vimos aconteceu no mundo real... neste caso, o filme se passaria dentro de algo como o Inferno ou Purgatório. E esta é só mais uma interpretação possível.

O Poço não é um filme "agradável" de assistir, já que é um "soco no nosso estômago", mas ainda assim é excelente, muito bem feito, seu clima de tensão e suspense te gruda na frente da tela até sabermos como o filme irá se concluir. A conclusão aliás, é satisfatória porém um pouco mais "em aberto" do que eu gostaria. Não sou contra finais abertos (aliás até os aprecio, já que eles geram discussões posteriores), mas mesmo assim eu adicionaria alguns minutos após o final para dar algumas explicações.

Em uma época de quarentena onde pessoas vão ao supermercado e egoisticamente acabam com toda a comida, máscaras e álcool gel disponíveis, O Poço é um filme atualíssimo e que nos traz muita reflexão. Nota: 8,0


Jóias Brutas (2019)
Diretores: Benny Safdie, Josh Safdie
Atores principaisAdam Sandler, Julia Fox, Kevin Garnett, The Weeknd, Idina Menzel, Paloma Elsesser, Lakeith Stanfield, Eric Bogosian, Keith Williams Richards, Judd Hirsch

Jóias Brutas é um suspense policial de ritmo frenético, eletrizante. Na história, acompanhamos a vida de Howard Ratner (Adam Sandler), um joalheiro endividado devido seu incontrolável vício em apostas. O filme começa quando ele obtém uma valiosa pedra Opala bruta, cuja venda poderá resolver seus problemas financeiros.

O filme é violento, sarcástico, de roteiro caótico, o que faz todo sentido já que isto reflete totalmente os pensamentos do personagem principal.

Jóias Brutas ficou famoso no meio cinematográfico pela expectativa de que este seria o filme que daria a Sandler uma indicação ao Oscar na atuação. E ainda que ele tenha vencido vários prêmios com este seu desempenho, não rolou... a indicação não veio e o ator expressou publicamente seu desgosto.

Em minha opinião, Adam Sandler manda bem no papel, convence com sua atuação. Ainda assim, fiquei um pouco decepcionado: não considero sua interpretação muito "difícil"; basicamente, ele passa 2h demonstrando apenas uma emoção, que é estar alucinado/bravo xingando as pessoas.

E é exatamente pelo personagem principal ser tão "desagradável" que entendo que Jóias Brutas não é para qualquer público: alguns vão gostar, e outros odiar. No meu caso, pra variar, ficou no meio termo. Achei um filme bom e interessante, mas sem me empolgar. Nota: 6,5.

sábado, 14 de março de 2020

Dupla Crítica - O Farol (2019) e Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (2020)


Mais dois filmes que estrearam nos cinemas brasileiros em 2020 e que ainda não tinham aparecido no Cinema Vírgula. E um deles, a meu ver, merecia ter ganho múltiplas indicações ao Oscar, o que injustamente não aconteceu. Confira ambas as críticas!


O Farol (2019)
Diretor: Robert Eggers
Atores Principais: Robert Pattinson, Willem Dafoe, Valeriia Karaman, Logan Hawkes

O jovem diretor e escritor Robert Eggers de (atuais) 36 anos chamou bastante a atenção do mundo com seu longa metragem de estréia, o terror A Bruxa (2015). Particularmente, não gostei do filme, mas ganhou meu respeito por ser diferente do padrão atual.

Quatro anos depois, agora contando com atores mais talentosos e famosos, Robert volta com O Farol, filmado em preto-e-branco e com a tela numa proporção mais "quadrada" (em 19:16), resolução dos cinemas entre os anos 1926 e 1932. E ele voltou com uma obra muito melhor e impressionante!

Na história, situada pouco antes dos anos 1900, o jovem Ephraim Winslow (Robert Pattinson) chega em uma ilha isolada para ajudar o velho faroleiro Thomas Wake (Willem Dafoe) com seu trabalho. Não demora muito para que, devido o isolamento, a dupla começe a se estranhar. E a tensão entre ambos só piora com os constantes delírios de Ephraim e o comportamento misterioso de Thomas.

De certa forma, O Farol me lembrou um bocado do filme Mãe (2017), de Darren Aronofsky. Ambos são visualmente fantásticos e perturbadores, trazem grandes atuações, terror psicológico, e contam uma história simplória porém repleta de metáforas e símbolos. Porém O Farol consegue ser bem superior; primeiro por focar mais na história do que na própria produção, segundo porque todas suas metáforas e símbolos PODEM não ser metáforas... ao contrário de Mãe, onde tudo é didaticamente explícito sem deixar dúvidas, na história de O Farol tudo está em aberto: estamos diante da história de dois deuses da mitologia grega (veja a explicação no final deste post), ou de dois marinheiros comuns da vida real? O quanto do filme é delírio e o quanto são fatos que ocorreram? Quão mentiroso é o personagem de Willem Dafoe? Não sabemos nenhuma destas respostas, e é nisso que o filme se torna ainda melhor.

Misturando conceitos de conceitos de Edgar Allan Poe, Psicologia e Mitologia Grega, O Farol é outro filme bem diferente e um pouco difícil de assistir; mas agora sim Robert Eggers me convenceu: já estou ansioso para ver seu próximo filme. Nota: 8,0.


Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (2020)
Diretora: Cathy Yan
Atores principais: Margot Robbie, Rosie Perez, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollett-Bell, Ewan McGregor, Ella Jay Basco, Chris Messina

Aves de Rapina estreou e fez considerável barulho; porém não pelo filme em si, mas sim porque foi um fracasso de público e crítica. Sendo que o culpado pela falta de público foi o "nome" do filme (por ser muito grande e não focar só na Arlequina) e o culpado pelas avaliações ruins foi o "machismo".

E discordo de ambas as afirmações acima, feitas pela dona Warner, claro: Aves de Rapina foi mal de público e crítica porque é um filme no máximo mediano, com um roteiro genérico e raso, e personagens muito mal condizidos e aproveitados.

Há um ponto positivo em Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa: as cenas de luta. Elas parecem bem reais e certamente exigiram bastante de todas as atrizes, o que leva minha admiração e respeito. Mas por melhor atriz que você seja, não dá para fazer milagre com um roteiro tão ruim.

Roteiro, alias, escrito por uma mulher: Christina Hodson; cujo "melhor" e mais conhecido trabalho foi o roteiro de Bumblebee (2018). Sério, gente? Um filme tão importante quanto esse para o público feminino e para o Universo DC dos cinemas, e a Warner traz a pessoa que escreveu Bumblebee? Aí não dá...

Ironicamente, a principal falha do filme é justamente ser mais "Arlequina" do que "Aves de Rapina". A srta Harley Quinn não nasceu para ser protagonista (aliás, o próprio personagem fala isto no filme), e então ela deveria dividir o espaço igualmente com as demais heroínas no filme, o que não acontece. Rosie Perez, como Renee Montoya até aparece um pouco; mas já o que fazem com Mary Elizabeth Winstead (Caçadora) e Jurnee Smollett-Bell (Canário Negro) causa um misto de pena e revolta.

Pelo menos o filme possui um ritmo bem acelerado e é bem humorado, o que torna a experiencia de assistí-lo próximo do agradável. Aves de Rapina não chega a ser uma enorme "bomba", mas mais uma vez é uma enorme oportunidade disperdiçada pela Warner. Nota: 5,0.



PS - explicação sobre o filme "O Farol": uma possível interpretação para o filme é que o personagem de Dafoe seja o deus grego Proteu; já o personagem de Pattinson seria o deus Prometeu.

domingo, 8 de março de 2020

Especial Dia Internacional da Mulher: Lucille Ball e seu enorme legado para a cultura POP


Se você possui menos de 30 anos, dificilmente reconhecerá o seriado (e a protagonista) da imagem acima. Se trata de uma sitcom dos anos 50 de nome I Love Lucy, e a atriz... é Lucille Ball.

Para o grande público, "Lucy" sempre será a esposa de classe média inocente e muito atrapalhada do seriado. Mas o que poucos sabem é que Lucille Ball revolucionou a TV e chegou a ser a mulher mais poderosa da TV estadunidense em seu tempo. Nada mais apropriado então, neste Dia Internacional da Mulher, conhecer um breve resumo de sua história e seu legado.

Nascida em Agosto de 1911 como Lucille Désirée Ball, esta nova iorquina iniciou sua carreira de atriz na Broadway nos início dos anos 30, década onde também faria pequenas pontas em alguns filmes. Já na década de 40 ela assinaria com a MGM, fazendo dezenas de filmes e alcançando fama nacional, ainda que só conseguisse ser protagonista em "filmes B". "Lucy" também passou por diversos programas de rádio, e em 1948 ela fez um enorme sucesso com o programa My Favorite Husband, da rádio CBS.

I Love Lucy
Não demorou muito para que a CBS quisesse levar seu sucesso dos rádios para a TV. Porém, para fechar contrato, Lucille Ball bateu o pé e disse que só aceitaria o programa se ele fosse co-protagonizado por seu marido, o cubano Desi Arnaz. Porém os executivos da CBS não acreditavam que o público aceitasse um casal formado por uma tradicional ruiva americana e um cubano de forte sotaque latino.

A dupla não desistiu: com dinheiro próprio, fundaram a primeira produtora independente da TV, a Desilu Productions ("Desi" do marido + "Lu" de Lucille...  quanta criatividade não?) e gravaram um episódio piloto. E mais uma vez, a CBS não se convenceu. Então Lucille e Desi resolveram promover seu potencial seriado fazendo um tour pelos EUA apresentando os personagens em teatros. Com o sucesso da turnê, enfim a CBS aceitaria fazer o programa com a dupla: em 1951 estreava nas TVs o seriado I Love Lucy.


Durante suas 6 temporadas, I Love Lucy venceu 5 Emmys e foi "o" programa de TV mais assistido nos EUA por 4 anos. Lucille Ball se consagraria como grande comediante não somente pelas piadas do seu seriado, mas principalmente pelas suas "caretas" e comédia física.

Fazendo História
I Love Lucy foi mais do que um grande sucesso comercial. Ele foi revolucionário. Para começar, ela e Desi formaram o primeiro casal inter-racial da TV dos EUA. Aliás, quando seu programa estreou, Lucille tinha 40 anos, na época uma idade muito alta em mulheres para os padrões de Hollywood. No ano seguinte Lucy engravidaria na vida real e o casal convenceu a CBS a levar a gravidez para as telinhas, com ela se tornando então a primeira atriz na história da TV a interpretar uma gestante estando grávida de verdade.

Mas I Love Lucy também mudou a maneira como se fazia seriados nos EUA: sendo avessos a se mudarem de sua casa em Los Angeles para Nova York (onde as principais séries de TV eram feitas na época, e no caso das sitcoms, todas "ao vivo"), Lucille e Desi resolveram pagar do próprio bolso para fazer o show em LA e gravarem os episódios em fitas de filme: uma criativa maneira para garantir a exibição por todo país com qualidade nas imagens. Por serem eles mesmos seus próprios financiadores, a Desilu recebeu como "compensação" da CBS ter os direitos do seriado.


E não para por aí: o formato tradicional (até hoje) das sitcoms, onde os atores ficam em um pequeno cenário, filmado por múltiplas câmeras e diante de uma platéia real de fãs foi inaugurado por I Love Lucy! O seriado foi filmado por 3 câmeras simultâneas, o que permitia cortes e edição por ângulos diversos. Antes de I Love Lucy o padrão era ter câmera única e sem platéia nenhuma.

Em uma tacada só Lucille Ball e sua produtora iniciaram o processo que mudou o local de produção, o modo de produção, e a maneira de distribuição dos seriados estadunidenses.

Jornada nas Estrelas
Em 1960 Lucille encerraria seu casamento de 20 anos com Desi Arnaz e compraria a participação do ex-marido na Desilu por US$ 2,5 milhões, se tornando então a primeira mulher da história a ser dona única e CEO de uma produtora grande de TV.

Com seu estúdio procurando por ideias inovadoras para seriados, em 1964 lhe foi apresentado o Jornada nas Estrelas (Star Trek), de Gene Roddenberry. Acreditando no potencial da série, Lucille foi contra a opinião da Diretoria de seu estúdio e autorizou a caríssima produção de um episódio piloto, a ser apresentado para a emissora NBC. Infelizmente a NBC recusou o programa, mas de modo surpreendente, aceitou uma segunda tentativa. Eis então que mais uma vez Ball foi contra a opinião de sua Diretoria e bancou a produção do segundo piloto, este enfim aceito pela NBC.


Em 1967 - após a exibição apenas da primeira temporada de Star Trek - "Lucy" venderia 100% de seu estúdio para a Paramount Pictures, por US$ 17 milhões (130 milhões nos padrões atuais). Mas sua imprescindível contribuição para Jornada nas Estrelas já estava feita.

Ah, e lembra de que 1964 a Desilu procurava por novas idéias de seriado? Pois eles também encontraram e criaram Missão: Impossível. Assim como Jornada nas Estrelas, Missão: Impossível também estreou nas TVs em 1966; e também se tornou um enorme sucesso mundial.

Curiosidade: além da Desilu, sabem o que mais Jornada nas Estrelas e Missão: Impossível têm em comum? Leonard Nimoy! Pois é: assim que Star Trek foi cancelado, o eterno Spock foi para o Missão Impossível, onde participou de 2 temporadas.


As últimas décadas... e a despedida
Após a venda de seu estúdio, Lucille também pretendia se despedir de seu segundo seriado de sucesso, The Lucy Show, que durou de 1962 a 68 e já não contava com a participação de Desi Arnaz. Porém, com a promessa de ter seus dois filhos reais no elenco (Lucie Arnaz e Desi Arnaz Jr.), Lucille voltou para a TV no mesmo ano com uma nova sitcom, de nome Here's Lucy. Com 6 temporadas, o seriado foi exibido entre 1968 a 1974.

Here's Lucy também foi muito bem de audiência, porém durante sua quinta temporada, em 1973, o seriado já não aparecia entre os 15 programas mais assistidos da TV dos EUA: era a primeira vez que isto acontecia com qualquer um dos programas de "Lucy" como protagonista. Tendo passado mais de 20 anos fazendo esta personagem, Lucille quis encerrar seu programa aí mesmo; porém foi convencida pela CBS a fazer mais uma - e última - temporada.

Após o fim de Here's Lucy, Ball continuou presente na TV até 1985, porém fazendo apenas pequenas apresentações ou sendo a apresentadora de especiais de comédia. Em 1986 viria seu último ato: a comédia Life with Lucy, onde ela retornaria com sua personagem máxima pela última vez, aos 74 anos. Infelizmente o programa foi um fracasso de audiência e teve apenas 13 episódios.

A grande Lucille Ball morreria em Abril de 1989, aos 77 anos, apenas 1 mês depois de sua última aparição pública - no Academy Awards (o "Oscar") de mesmo ano - onde o público todo se levantou e a aplaudiu em pé. Muitíssimo merecido! Obrigado por tudo, Lucille!


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Dupla Crítica animações - Klaus (2019) e Frozen 2 (2019)

Hoje vamos de animações. A primeira estreou na Netflix em Dezembro de 2019 e a segunda estreou nos cinemas brasileiros em Janeiro deste ano. Ou seja, não são mais tããão recentes assim, mas estava devendo mais criticas pra vocês. Seguem meus comentários!


Klaus (2019)
Diretores: Sergio Pablos, Carlos Martínez López
Atores principais (vozes): Jason Schwartzman, J.K. Simmons, Rashida Jones, Will Sasso, Norm MacDonald, Joan Cusack

Uma produção espanhola, original Netflix, mas com inglês no idioma original. Pelo nome do filme imaginei que fosse mais uma história de sempre de origem do Papai Noel; porém para minha surpresa, Klaus traz várias novidades.

Excluindo algumas poucas "licenças narrativas" presentes em qualquer desenho animado, Klaus surpreende ao inventar uma origem "real" para o Papai Noel, sem magias ou milagres: a lenda do Papai Noel é nada menos que a junção do trabalho de um carteiro e de um lenhador/marceneiro.

O resultado é uma história nova, bonita, engraçada e até "fofa"... recomendado para a família toda assistir, dos mais velhos aos pequerruchos, principalmente em época de Natal. Nota: 7,0.

Frozen 2 (2019)
Diretores: Chris Buck, Jennifer Lee
Atores principais (vozes): Kristen Bell, Idina Menzel, Josh Gad, Jonathan Groff, Sterling K. Brown, Evan Rachel Wood, Alfred Molina

Para um filme que teve um enorme sucesso, até demorou mais que o normal para sair sua continuação. Somente após 6 anos, Frozen voltou aos cinemas. E não voltou bem.

Para começar, provavelmente inspirados na música Let it Go do primeiro filme, que virou um hit mundial, Frozen 2 tem ainda mais músicas que o filme original, dá quase para dizer que esta animação é um musical. Porém, se aqui as músicas são em maior número, elas são piores e algumas sem qualquer propósito narrativo; é como se estivéssemos vendo uma sequencia clipes musicais sem uma história por trás. Outra possível explicação para o excesso de músicas é o roteiro... ou melhor, a falta de qualidade do mesmo. Com uma história sem pé nem cabeça sobre os quatro elementais, somado a uma "lenda" importantíssima de que nunca ouvimos falar no filme anterior, talvez a solução foi lotar o filme de músicas para preencher espaços que o roteiro não conseguiu.

Felizmente nem tudo falha em Frozen 2: visualmente a animação continua belíssima, com paisagens deslumbrantes, Olaf continua engraçado, e, "o" ponto alto do filme anterior foi pelo menos mantido: a bela relação entre as irmãs Elsa e Anna. A dupla continua a emocionar, e isto já vale o filme. Outra qualidade de Frozen 2 foi dar um desfecho melhor à Elsa, já que no primeiro filme o destino da personagem ainda não era totalmente satisfatório. Nota: 5,0.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Crítica Netflix - Indústria Americana (2019)

Título: Indústria Americana (American Factory, EUA, 2019)
Diretor: Steven Bognar, Julia Reichert
Atores principais: N/A
Um excelente registro histórico do capitalismo atual

Grande vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2020 - e bem superior ao concorrente brasileiro - Indústria Americana tem como grande mérito ser um "documentário" na mais pura definição da palavra, ou seja, ele documenta, sem emitir comentários ou tomar partido, o "lado chinês" e o "lado estadunidense" a respeito da indústria chinesa Fuyao que se instalou em 2015 em uma cidade de Ohio, EUA.

Sendo uma grande indústria chinesa na fabricação de vidros, os chineses decidiram se arriscar nos EUA e construir sua fábrica na pequena cidade de Moraine, no mesmo galpão onde anos atrás a GM fechara uma de suas instalações, e o que levou boa parte dos habitantes da cidadezinha falirem.

Com pouco tempo de filme, já se percebe a enorme diferença entre as indústrias chinesas e estadunidenses: de um lado, os americanos reclamam que ganham menos da metade do valor/hora do que ganhavam no passado pela GM, isso sem contar na completa falta de segurança das instalações. Por outro lado, os chineses reclamam que os americanos são "moles", já que enquanto nos EUA se trabalha 8 horas/dia e 5 dias por semana, na China o trabalho é de 12 horas/dia, e são apenas 1 ou 2 dias de descanso no mês. Sem contar que a produtividade do trabalhador chinês é bem maior.

Temos então duas interessantes histórias contadas em paralelo: a primeira, é a grande diferença cultural entre EUA/Ocidente e China/Oriente. E a segunda, são todos os dilemas - a maioria deles verdadeiros enigmas sem solução - trazidos pela globalização e automação do trabalho. O trabalhador dos EUA quer um emprego justo, digno e valorizado, porém se os chineses o fazem, deixam de dar lucro e fecham a fábrica. Qual a solução para isto? Existe solução? É um marco notável que em pouco menos de 2h de filme temos diversos dilemas trabalhistas atuais retratados de maneira tão clara.

De certa forma, embora não tenhamos nenhum comentário ao longo de todo o filme, a montagem das cenas faz com que os chineses sejam um pouco "vilões"... entretanto, não é difícil perceber que o fato que ser um dono/chefe "carrasco" e insensível não é característica exclusiva dos chineses... oras, quantos milhares de "chefes tiranos" existem por aí? Nos EUA, no Brasil, em qualquer lugar. E todos eles são assim não porque são más pessoas, mas por questão de dinheiro e sobrevivência.

Como o próprio documentário diz em seu desfecho, os governantes do mundo precisam encontrar soluções urgentes para o trabalhador do capitalismo atual, ou teremos cada vez mais desempregados, cada vez piores condições de trabalho. E convenhamos, dados os governantes existentes no mundo atual, o futuro não é nada animador... Nota: 8,0.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Cobertura Oscar 2020 - Conheça os favoritos e os meus palpites!


É neste Domingo! Dia 9 de Fevereiro teremos a cerimônia da 92ª edição do Academy Awards, popularmente conhecido como "Oscar".

Felizmente a safra de filmes deste ano é bem melhor do que a do ano passado, o que me deixa um pouco mais animado para a cobertura de 2020.

Relembrando abaixo a lista dos 9 filmes indicados ao Oscar de Melhor filme, ordenados pelo número de indicações, com 8 deles já com a crítica publicada aqui no Cinema Vírgula (basta clicar abaixo no nome do filme):


Mantendo a tradição, seguem meus comentários e palpites para as 8 principais categorias do Oscar.

Quem vai levar? Quem merece levar?

No ano passado eu acertei 6 dos meus 8 palpites. Quantos será que vou acertar desta vez?

Melhor Ator Coadjuvante
- Quem vai levar: Brad Pitt (Era Uma Vez em… Hollywood)
- Em quem eu votaria: Brad Pitt (Era Uma Vez em… Hollywood)
- Comentários: confesso que também ficaria feliz e acharia justo se Joe Pesci ganhasse aqui. Só que ele já ganhou o seu Oscar; Brad Pitt não. E Brad Pitt é um baita ator: carismático, talentoso e bastante versátil. Ele venceu a maioria das premiações até agora e TEM que vencer aqui também!

Melhor Atriz Coadjuvante
- Quem vai levar: Laura Dern (História de um Casamento)
- Em quem eu votaria: Laura Dern (História de um Casamento)
- Comentários: uma categoria que mal consigo votar, já que das 5 indicadas só via a atuação de duas: Scarlett Johansson em Jojo Rabbit e Laura Dern em História de um Casamento. Laura Dern é a grande favorita e venceu quase todos os prêmios até aqui. Sua atuação é realmente ótima, MAS, eu não considero uma atuação tão difícil assim. Mesmo assim, até porque não vi as demais concorrentes, votaria nela: Laura ainda não ganhou nenhum Oscar na vida e merece pelo menos pelo "conjunto da obra".

Melhor Roteiro Adaptado
- Quem vai levar: Adoráveis Mulheres
- Em quem eu votaria: Coringa ou Jojo Rabbit
- Comentários: Coringa e Jojo Rabbit são os melhores roteiros e ganham minha total torcida. O favorito é Jojo Rabbit, já que foi ele quem venceu o prêmio do Sindicato dos Roteiristas. MAS vou ser ousado aqui e votar diferente: como Adoráveis Mulheres é um filme feminista muito querido dentro da cultura estadunidense, e é nesta categoria que entendo ele ter as maiores chances de vencer, acho que Adoráveis Mulheres leva este prêmio, como "compensação" por não ganhar nas demais categorias.

Melhor Roteiro Original
- Quem vai levar: Parasita
- Em quem eu votaria: Era Uma Vez Em... Hollywood
- Comentários: considero os indicados nesta categoria mais "fracos" do que os indicados para Roteiro Adaptado. Se formos levar a quantidade de premiações recebidas até agora, o favorito é Era Uma Vez Em... Hollywood. MAS, pelo fato de Tarantino já ter vencido este prêmio duas vezes no passado, vou arriscar novamente no meu palpite, e pelo tema social e político de Parasita, aposto na vitória deste último.

Melhor Diretor
- Quem vai levar: Sam Mendes (1917)
- Em quem eu votaria: Sam Mendes (1917)
- Comentários: todos os indicados aqui fizeram ótimos filmes e ótimos trabalhos. Eu não ficaria aborrecido se Todd Phillips levasse por Coringa, pela alta qualidade do filme e pela dificuldade que é controlar o ator Joaquin Phoenix. Mas se Sam Mendes não levar este prêmio após todos os milagres técnicos que ele obteve em seu 1917, pra mim já é um motivo justo para as pessoas nunca mais assistirem o Oscar, como protesto.

Melhor Atriz
- Quem vai levar: Renée Zellweger (Judy - Muito além do Arco-Íris)
- Em quem eu votaria: ??
- Comentários: é.. nesta categoria não dá mesmo pra eu votar, já que só vi (de novo!) Scarlett Johansson, agora em História de um Casamento. A favorita aqui, pelos prêmios acumulados até agora é Renée Zellweger e desta vez serei conservador confirmando meu palpite nela. Já li críticos dizendo que a atuação de Charlize Theron em O Escândalo é ainda melhor, mas não vou arriscar. Aproveitando, um comentário sobre a Scarlett Johansson: ela foi indicada duas vezes neste Oscar e não acho que merecia ganhar nenhum; ainda assim, ela merece muitos elogios pois consegue entregar dois personagens completamente diferentes comparando nos dois filmes indicados. A dona Scarlett mostra mais uma vez que é sim uma atriz boa e versátil.

Melhor Ator
- Quem vai levar: Joaquin Phoenix (Coringa)
- Em quem eu votaria: Joaquin Phoenix (Coringa)
- Comentários: meu discurso aqui é o mesmo do que fiz para o "Melhor Diretor": se o Joaquin Phoenix não levar, é pra sair fazendo protesto nas ruas!

Melhor Filme
- Quem vai levar: 1917
- Em quem eu votaria: Coringa
- Comentários: apesar do filme 1917 ser um espetáculo cinematográfico único, eu ainda considero Coringa como o melhor filme do ano passado. Entretanto, dificilmente a Academia seguirá meu desejo.
Se esta premiação fosse ha uns 10 anos atrás, eu teria certeza absoluta que 1917 venceria este Oscar. Entretanto como hoje em dia a proporção de "homens brancos de idade avançada" entre os votantes diminuiu (apesar deles ainda serem a maioria), há uma pequena chance de termos alguma surpresa. No caso, Parasita e Era Uma Vez Em... Hollywood correm por fora.

Não percam!
Repetindo, a cerimônia do Oscar é NESTE domingo dia 9. A transmissão começará as 22h, no canal pago TNT e na Globo pela TV aberta.

E vocês? Quem acham que vai ganhar? Para quem vocês estão torcendo? Deixem seus palpites aqui nos comentários e depois veremos quem acertou mais. Participem!

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Crítica - Jojo Rabbit (2019)

TítuloJojo Rabbit (idem, EUA / Nova Zelândia / República Checa, 2019)
Diretor: Taika Waititi
Atores principais: Roman Griffin Davis, Scarlett Johansson, Thomasin McKenzie, Taika Waititi, Sam Rockwell, Rebel Wilson, Alfie Allen, Stephen Merchant, Archie Yates
Emocionante e surpreendente filme sobre o nazismo

Jojo Rabbit é outro filme com múltiplas indicações ao Oscar 2020 (6, incluindo a de Melhor Filme), e que me lembrou dois de seus concorrentes: assim como Parasita ele mistura comédia e drama, de uma maneira quase bizarra; e assim como 1917, consegue ser um filme sobre guerra diferente (o que é muito difícil, dados os milhares filmes do gênero já feitos).

A história nos traz o garoto de 10 anos Jojo (Roman Griffin Davis), que vive numa cidadezinha alemã em plena Segunda Guerra. Deslumbrado pelo nazismo (não por ser má pessoa, e sim apenas por ser influenciado pela lavagem cerebral nazista), Jojo tem como ídolo - e amigo imaginário - Adolf Hitler (Taika Waititi). Seus problemas começam a aumentar quando os alemães começam a perder a guerra e, ao mesmo tempo, ele descobre que sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) está abrigando secretamente um garota judia (Thomasin McKenzie) em sua casa.

Jojo Rabbit mexe com os sentimentos do espectador de maneira única. Ele tira sarro dos absurdos dos regimes totalitários mas ao mesmo tempo, sempre rimos com um "sorriso amarelo", já que o filme não esconde a pesada carga de morte que aquele ambiente representa. Ainda assim, Jojo Rabbit é em geral um filme até leve, pois é visto sob os olhos do inocente e bom Jojo.

A relação de Jojo com a garota judia Elsa é muito bem construída e tocante: Jojo aprendeu a vida toda que os judeus são "monstros cruéis", e quando enfim se encontra com um deles, mistura medo, confusão e piedade. Já do lado da garota, ela sabe que Jojo é apenas uma criança inocente, porém não pode confiar nele, ou ainda, tratá-lo bem.

O diretor/roteirista neozelandês Taika Waititi está mais associado ao mundo da comédia (Thor: Ragnarok, O Que Fazemos Nas Sombras); portanto mesmo que ele ainda traga humor nesta sátira ao nazismo, é muito admirável a maneira com que ele constrói a tensão em Jojo Rabbit. Acredite, as cenas tensas são de "grudar" na poltrona: parece que a qualquer momento algo muito ruim vai acontecer.

Jojo Rabbit também é muito bom tecnicamente, com boa fotografia, figurino e, o que mais gostei, ótima trilha sonora, que mistura músicas clássicas e jazz com músicas pop / rock "modernas",  bem posteriores à Segunda Guerra. Apesar da miscelânea, todas as músicas casam bem com o espírito do filme.

Trazendo o lado dos "habitantes comuns alemães" durante a segunda guerra, e principalmente, fazendo forte crítica à propaganda ideológica de massas, Jojo Rabbit é um filme que emociona e precisa ser visto nos nossos tempos atuais, onde a ideologia de extrema direita parece renascer para a tristeza da humanidade. Nota: 8,0

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Crítica - 1917 (2019)

Título1917 (idem, EUA / Reino Unido, 2019)
Diretor: Sam Mendes
Atores principais: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Mark Strong, Andrew Scott, Richard Madden, Claire Duburcq, Colin Firth, Benedict Cumberbatch
Outra obra prima cinematográfica que DEVE ser vista nos cinemas

1917 é um filme sobre a Primeira Guerra Mundial que acaba de receber 10 indicações ao Oscar 2020, dentre elas a de Melhor Filme. Baseado nas histórias que o avô do diretor/roteirista Sam Mendes contava para ele, a trama principal acompanha dois jovens cabos Blake (Dean-Charles Chapman) e Schofield (George MacKay) em uma corrida contra o tempo, onde eles são encarregados a atravessar o território inimigo para encontrar e avisar um batalhão de 1600 homens que o ataque que eles planejaram para a manhã do dia seguinte é uma grande emboscada.

E quando eu digo "acompanha", isso é literal, pois este filme de 2h de duração é composto por apenas um único, maravilhoso, incrível e espetacular plano-sequência. Do primeiro ao último segundo do filme temos uma única tomada, sem cortes. E mais ainda, as cenas são bem movimentadas: uma enorme correria, muita ação, tiros e explosões.

Só pelo que descrevi acima, 1917 é uma obra muito impressionante e admirável, ainda que seja uma "farsa", já que não temos aqui um plano-sequência verdadeiro: na verdade, são dezenas de cortes que vão de 2 a 8 minutos, unidos de maneira praticamente imperceptível. Confesso que não "vi" nenhum corte, embora tenha desconfiado (ou melhor, tive certeza) de uns 5 deles... que ocorreram após explosões que deixavam a tela toda escura ou cheia de fumaça. Como o restante dos cortes foram unidos de maneira tão perfeita? Não tenho a menor idéia!

Mas 1917 não é só seu plano-sequência. A fotografia é simplesmente espetacular, assim como o som, trilha sonora, design de produção... tudo no mais alto nível. Das 10 indicações ao Oscar recebidas pelo filme, para mim 1917 é forte favorito em pelo menos 6 delas.

E, finalmente, vamos aos motivos do porque ainda não dei nota maior para 1917: a história do filme é muito boa, contando com vários momentos verdadeiramente emocionantes, mas ainda assim, possui alguns defeitos.

A curta jornada de 2h em "tempo real" de Blake e Schofield tem espaço para nos mostrar a loucura da guerra, a quantidade absurda de desperdício de vida humana, o desespero de perder familiares, o sofrimento imensurável dos habitantes dos locais invadidos que perderam literalmente "tudo"... Tudo isto é bem feito, porém algumas das cenas foram adicionadas a trama de maneira forçada. Isso sem contar que os alemães aparentam ser tão "bons" na mira quanto os Stormtroopers de Star Wars.

Mas talvez minha maior reclamação é que o filme é "bonito demais". Não só porque as paisagens são espetaculares, mas porque vemos pouco sangue, poucas mutilações. Não se engane, há muita morte em 1917, mas ela não chocam visualmente. Também não se trata de eu ser "sádico"... é que simplesmente uma obra que se propõe a nos transportar com realismo à Primeira Guerra, deveria mostrar mais seus horrores... foram mais de 20 milhões de mortos, que se matavam praticamente no "corpo-a-corpo" através da guerra de trincheiras.

1917 é uma verdadeira aula de como se fazer um filme, um espetáculo imperdível de imagens em movimento, mas que DEVE ser visto em uma sala de cinema. Assistir este filme na sua casa é simplesmente impensável, o filme perde 80% da sua força. Nota: 8,5

Crítica Netflix - I Am Mother (2019)

Título :  I Am Mother (idem, Austrália, 2019) Diretor : Grant Sputore Atores principais :  Clara Rugaard, Hilary Swank, Luke Hawker, R...