domingo, 10 de setembro de 2023

Curiosidades Cinema Vírgula #018 - Popeye e Shrek existiram na vida real!

A vida imita a Arte ou a Arte imita a vida? Bem... nestes casos foi a Arte quem imitou a vida! Claro, existe uma lista enorme de personagens da ficção cuja aparência foi baseada em algum humano real, mas quis trazer aqui Popeye e Shrek pois ambos são visualmente bastante incomuns.

Sobre Popeye, criado pelo cartunista E. C. Segar na década de 1920, o personagem foi baseado em Frank "Rocky" Fiegel, um imigrante polonês nascido em 27 de janeiro de 1868, que após trabalhar algumas décadas como marinheiro, se estabeleceu na pequena cidade de Chester, Illinois (EUA) - cidade de infância de Segar - onde o autor o conheceu.

Na época, o já aposentado marinheiro trabalhava como uma espécie de "garçom / segurança" de um bar local, ou seja, em caso de confusões, era ele quem colocava os briguentos para fora. Frank era valentão, se envolvendo com frequência em brigas e por isso acabou ficando com um olho deformado, o que o fez ganhar o apelido de Pop-eye. Note que ele tinha um rosto muito parecido com o Popeye dos desenhos, incluindo o uso do característico cachimbo.

Segundo o criador do personagem, apesar da aparência um pouco intimidadora, Frank era "amigável" e tinha uma simpatia especial por crianças. Além de defender as crianças mais fracas de "valentões", também adorava ficar contando para elas as suas aventuras do passado. Tudo isto fez que o então jovem E. C. Segar visse Frank como uma espécie de "herói", e o inspirasse para suas obras no futuro.

Uma curiosidade, a foto que temos do VERDADEIRO Frank Fiegel é a foto que aparece acima, no título deste artigo. A pessoa que aparece na foto abaixo NÃO é Frank, e embora sendo reproduzida de maneira errada em muitos sites, a foto abaixo, tirada em 1940, é de um marinheiro inglês de identidade desconhecida, mas cujo apelido era justamente Popeye.

Não se deixe enganar! Só aqui no Cinema Vírgula você aprende que esta foto NÃO é a do Popeye verdadeiro!


Já o simpático ogro Shrek teve seu visual baseado em um antigo lutador francês de nome Maurice Tillet. Ou melhor... mais ou menos, já que os criadores de Shrek, a DreamWorks Animation, nunca admitiram esta inspiração (mas também nunca negaram).

De qualquer forma, Maurice nasceu na Rússia em 1903, onde seus pais franceses moravam na época. Porém, com o estouro da Revolução Russa, a família voltou para a França, onde Maurice chegou a ser poeta e ator. Porém a partir dos 17 anos o jovem passou a sofrer de acromegalia, uma rara doença em que os ossos das mãos, pés e face passam a crescer de maneira anormal.

Shreks?

Em pouco tempo seu corpo já estava bastante deformado, e em busca de se adaptar a ele, Tillet mudou-se para os Estados Unidos em 1937, onde passou a ganhar a vida como atleta de Luta Livre, fazendo muito sucesso.

Para as lutas, as chamadas para atrair o público diziam que ele era “um monstro feroz", que "não era um ser humano", e Maurice inclusive se divertia urrando para o público (lembra do Shrek?). E por outro lado, ironicamente, seu nome de lutador era "The French Angel", ou, "O anjo Francês", apelido dado pela mãe.

Apesar da sua aparência, Maurice Tillet era considerado uma pessoa muito gentil e generosa (sabe aquilo de ser um "monstro de bom coração"? este é mais um argumento de que Tillet foi inspiração para Shrek), e de inteligência acima da média: também foi engenheiro e falava 14 idiomas.

Maurice Tillet sofreu mais com sua doença em seus últimos anos de vida, e faleceu em 1954, com 50 anos, após um ataque cardíaco, horas depois de saber do falecimento de seu grande amigo e treinador Karl Pojello. Os dois foram enterrados juntos: "Amigos que nem a morte conseguiu separar".



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? É só clicar aqui!

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Crítica Netflix - One Piece: A Série - Primeira Temporada


Em geral as adaptações live-action ocidentais de mangás são verdadeiros lixos. Portanto, fiquei bastante resistente ao me arriscar em assistir a este One Piece: A Série da Netflix, adaptação de One Piece de Eiichiro Oda, um dos mangás de maior sucesso da atualidade e de todos os tempos.

Porém, para minha grande e agradável surpresa, achei este One Piece: A Série muito boa! Na história, vemos as aventuras de Monkey D. Luffy (Iñaki Godoy), um jovem que sonha se tornar o maior pirata do mundo, e para isso, sai em busca de uma tripulação para encontrar o mítico tesouro "One Piece", o que lhe daria este prestígio. O mundo onde Luffy passa suas aventuras se assemelha ao nosso mundo da "época de piratas", porém possui várias diferenças, misturando bastante fantasia. Por exemplo, no universo de One Piece há muitos seres antropomórficos, e já na primeira temporada vemos homens-peixe e um homem ovelha. Outra diferença é a presença dos "frutos do diabo", frutas que quando comidas, dão superpoderes a quem as consumir.

Nami e Arlong

Um dos maiores segredos do sucesso da franquia são seus personagens, e esta série soube adaptar bem fielmente seus personagens, tanto fisicamente, como em sua essência (que aliás é o mais importante). Se o desleixo com os personagens foi a maior falha do fraco Cowboy Bebop live-action, aqui a Netflix aprendeu muito bem sua lição. Mas voltando ao quanto os atores são fisicamente muito parecidos com os desenhos originais, fica como curiosidade que em uma sessão de cartas do mangá, uma vez perguntaram para o autor "qual seria a nacionalidade da tripulação de Luffy caso One Piece fosse o mundo real?", e eis que Eiichiro Oda respondeu: "Bem, apenas saindo da aparência deles: Luffy (Brasil), Zoro (Japão), Nami (Suécia), Usopp (África), Sanji (França)...".

Oras, dos atores que foram escolhidos, Iñaki Godoy (Luffy) é mexicano; Mackenyu Arata (Zoro) apesar de nascido nos EUA, é filho de pais japoneses; Emily Rudd (Nami) é estadunidense; Jacob Romero Gibson (Usopp) é Jamaicano; e Taz Skylar (Sanji) é espanhol... ou seja, consideravelmente próximo do que o autor imaginou! E uma das semelhanças que mais me impressionaram foi a da personagem Kaia (ver abaixo). Ok, na imagem abaixo pode não parecer tanto, mas vejam a série para ver que não estou louco rs.

A Kaya dos mangás e a da série (Celeste Loots)

E o outro segredo para este One Piece: A Série ser bom é que ele é bastante fiel ao material original. Em linhas gerais, eu diria que a série resume de maneira muito eficiente o mangá e o anime. Para se ter uma idéia, a primeira temporada (8 episódios de cerca de 1h cada) cobre os 5 primeiros arcos de histórias da franquia, que seriam equivalente aos primeiros 99 capítulos do mangá e os 45 primeiros episódios do anime. Tudo do que é mais importante da trama foi preservado, repito, e de modo bastante resumido e fiel. A única mudança relevante é que na série Luffy é bastante perseguido pela marinha desde o começo, e com a perseguição comandada pelo Vice-Almirante Garp (Vincent Regan), isso é bem diferente do material original.

Porém nem tudo deste "resumo" em One Piece: A Série é positivo. Infelizmente, não foi só a trama que foi comprimida, também tivemos uma considerável redução do humor e dos momentos de emoção... e não precisava ser assim. Principalmente Luffy é bem menos engraçado aqui do que no mangá. E os dramas pessoais dos personagens, embora todos presentes (e sim, continuam emocionando), passam tão rápido que não impactam tanto quando deveriam. A falta de capacidade de atuação de alguns atores também contribui um pouco para isto.

A "simplificação" também está bastante presente nas lutas, que são bem menos espetaculares e demoradas que no mangá / anime. Sem dúvida elas precisarão de mais verbas e atenção na medida que a série avança. De qualquer forma, além de por enquanto não comprometer, aqui eu vejo uma vantagem: ver atores de verdade lutando com espadas de verdade dá uma sensação de perigo muito maior do que nos desenhos. Um inesperado ponto positivo para o live-action!

Com um design de produção muito bom e bastante vivo e colorido, faltou, entretanto, um bocado de cores no navio Going Merry...

Também tenho algumas críticas para a tradução. Assisti em legendado, e percebi que algumas piadas com trocadilhos não foram traduzidas (e poderiam ter sido traduzidas para o português normalmente), sem contar a inserção de algumas gírias, ou então, de palavras escritas propositalmente com português incorreto... e tudo simplesmente jogado lá, absolutamente fora do contexto.

Com seus muitos prós e poucos contras, One Piece: A Série termina com um saldo bem positivo. Ela agrada bastante, mas vai precisar diminuir seus defeitos no futuro, caso contrário corre o risco de desvirtuar o tom da obra original. E para quem não ainda conhece esta franquia, esta série da Netflix chega como uma salvação, afinal, é muito mais rápido acompanhar "do zero" a história da turma dos Piratas do Chapéu de Palha por aqui, do que pelo mangá ou anime, onde já temos (literalmente) milhares de capítulos e mais de duas décadas de produção.

Para encerrar o artigo, um bônus. Neste vídeo, vemos o encontro do ator que faz Luffy, Iñaki Godoy, com o autor de One Piece, Eiichiro Oda. Para quem não sabe, Oda vive recluso, e mais ainda... seu rosto não é conhecido pelo público, para preservar sua privacidade. Isto é importante para vocês se contextualizarem com o que vão ver a seguir.

sábado, 2 de setembro de 2023

Conheça o muito interessante What's My Line? / Adivinhe o Que Ele Faz


Desde sempre a TV copiou formatos de Game Shows, espalhando-as pelo mundo inteiro. E no Brasil não poderia ser diferente. Por exemplo, o programa Show do Milhão, do SBT, é uma cópia do show original britânico Who Wants to Be a Millionaire?, que agora tem sua versão pela TV Globo, como Quem Quer Ser um Milionário?. O Roda a Roda / Roletrando, do SBT, são cópias do programa estadunidense Wheel of Fortune. Boa parte das provas do antigo Olimpíadas do Faustão, da Globo, eram copiadas do programa japonês Takeshi's Castle. E os exemplos vão às dezenas...

Mas o programa que quero apresentar para vocês hoje não vai ao ar desde a década de 70 rs, portanto, certamente quase nenhum de vocês conhecem. E o achei bastante interessante.

Trata-se do programa estadunidense What's My Line?. Ele funcionava da seguinte forma: um grupo fixo de 4 pessoas (artistas e jornalistas) ficavam sentadas atrás de uma mesa, tentando adivinhar a profissão de pessoas comuns, que iam ao programa e ganhavam dinheiro pela sua participação (o nome do programa vinha de algo como "qual minha linha de atuação?... qual minha linha de trabalho?").

O jogo funcionava com o quarteto fazendo perguntas aos convidados, com os mesmos só podendo responder "sim" ou "não"; só que a cada vez que a resposta era "não", o convidado ganhava 5 dólares. O jogo parava até alguém adivinhar a profissão do convidado, ou quando o valor atingisse 50 dólares, onde nesse caso os artistas da mesa "perdiam" e era revelado à eles a profissão "secreta".

Além disto, no final do programa, sempre havia um "convidado misterioso", que era uma celebridade trazida ao show. Neste caso então, as quatro pessoas da mesa tinham seus olhos vendados, e com isso a brincadeira se tornava mais descobrir a identidade da pessoa famosa do que qualquer outra coisa.

E.. olha só, o Brasil também copiou What's My Line?. Infelizmente não tenho muitos detalhes para dar do programa por aqui, já que não encontrei informações na Internet, e não há também imagens sobreviventes do show. Mas posso afirmar que o programa estreou em 1953 na TV Tupi, sob o nome de Adivinhe o Que Ele Faz, e era apresentado pela ex-bailarina Madeleine Rosay. E que anos depois migrou para a TV Record, também sob o nome de Adivinhe o Que Ele Faz, onde foi apresentado entre 1956 a 1959 por Blota Jr..

Madeleine Rosay e Blota Jr.

Mas se não temos mais como assistir a Adivinhe o Que Ele Faz, felizmente existe disponível no Youtube dezenas de programas completos de What's My Line? para qualquer um assistir (eles estão em inglês e sem legendas, entretanto). E eu já trouxe alguns deles para vocês, por motivos bem curiosos.

Começando, temos este vídeo com não uma, mas duas celebridades: o comediante Jerry Lewis como um dos 4 da mesa, e Walt Disney - em uma raríssima aparição perante as câmeras - como o convidado surpresa a ser adivinhado.

What's My Line? - Walt Disney; Jerry Lewis [panel] (Nov 11, 1956)


Já neste segundo vídeo, encontrei algo particularmente interessante: uma das pessoas que aparece para ter sua profissão adivinhada é um tal de "Coronel Sanders". Que nada mais é que o fundador da enorme franquia de fastfood, a KFC, e mesmo assim ele apareceu no programa como uma pessoa "comum", os integrantes da mesa não tiveram os olhos vendados. Portanto naquele momento da História ele não era famoso a ponto de ser reconhecido pelas pessoas de Nova York. E curiosamente, como se pode ver na imagem abaixo, já havia alguns anos em que o Coronel havia sido incorporado para o logo de sua companhia...

What's My Line? - Colonel Sanders; Alan King; Martin Gabel [panel] (Dec 1, 1963)


O terceiro vídeo eu só escolhi por ter como convidada a genial Hedy Lamarr, então com 43 anos. Era muito comum que os atores/atrizes iam ao programa para promover um filme que seria lançado em breve, porém Hedy resolveu participar do show por um motivo bem diferente...

What's My Line? - Hedy Lamarr (Mar 31, 1957)


E por fim, escolhi também este curioso episódio, onde aparece Wilt Chamberlain. Desta vez os integrantes do programa são vendados quando ele chega, mas não porque ele é uma "celebridade", e sim, porque sendo ele muito alto, se o vissem sua profissão ficaria muito óbvia. Ou seja, mais um caso para nos deixar chocados com o conceito de quem é famoso ou não rs. Notem então que em 1961 a NBA estava bem longe de ter a fama que tem hoje em dia. E continuando as surpresas deste vídeo, após os 4 integrantes do programas retirarem as vendas dos olhos, dois deles o reconhecem... porém a atriz Arlene Francis reconhece Wilt não como atleta da NBA, mas como jogador do Harlem Globetrotters (onde ele de fato jogou de 1958 a 1959).

What's My Line? - Wilt Chamberlain; Joan Crawford; Joey Bishop [panel] (Jan 8, 1961)


E finalmente, assistir a estes vídeos antigos de What's My Line? vai além das curiosidades com celebridades. São verdadeiras aulas de História e sociedade. Algumas das profissões que aparecem são das mais surpreendentes, além de muitas vezes ensinar a não julgar pelas aparências; fora que as imagens também trazem as propagandas de TVs da época. Algumas são bizarras!

E aí, você conhecia este programa? Se interessou pelo artigo? Assistiu pelo menos os vídeos que trouxe aqui? Escreva nos comentários!

domingo, 27 de agosto de 2023

Se você curte Senhor dos Anéis, Game of Thrones e The Witcher, precisa conhecer Dragonero, ótima série de HQs italiana


Dragonero é uma franquia de quadrinhos italiana (ou fumetti) de fantasia medieval sucesso em vários países da Europa, e publicada no Brasil pela editora Mythos desde o começo de 2019. Criada em 2007 por Luca Enoch e Stefano Vietti, com arte de Giuseppe Matteoni, Dragonero estreou com uma história na revista Romanzi a Fumetti e, graças ao sucesso inicial, posteriormente recebeu uma série mensal pela editora Bonelli (a mais importante editora de quadrinhos italiana), série esta que foi campeã de vendas em todo período de publicação, de 2013 até o final de 2019. Porém a franquia não terminou por aí. Este foi só o "primeiro ato". Ela sequer parou e voltou no mês seguinte com um novo título, Dragonero il Ribelle, e continua sendo publicada até hoje.

A história de Dragonero tem de tudo para agradar todo fã de RPG, e/ou de histórias de fantasias medievais, como por exemplo Senhor dos Anéis, Game of Thrones e The Witcher. Dragonero, que significa "matador de Dragões" é o título honorário do personagem principal da trama, Ian Aranill, humano e batedor a serviço do império Erondariano. Em sua aventura inicial vemos ele matar seu primeiro dragão, e engolir um pouco do sangue da criatura no processo. Isso fez com que Ian ganhasse alguns poderes, como "parar o tempo" em situação de quase morte, resistência a entidades sombrias, conseguir se comunicar telepaticamente com outros dragões e animais gigantes, e etc.

Os heróis, da esq. para dir.: A elfa Sera, o orc Gmor, o caçador de dragões Ian, a tecnocrata Myrva e o mago Alben

Na maioria de suas aventuras ele está acompanhado do gigante orc Gmor, seu amigo de infância, e da  jovem elfa silvana Sera, que é mestra botânica. Com menos frequência, Ian também é auxiliado pela sua irmã tecnocrata Myrva e pelo mago Alben. Uma coisa curiosa no universo de Dragonero, é que tecnocratas e magos são guildas "rivais" que mexem com magia, sendo que a primeira aceita trabalhar com máquinas e aparelhos, e a segunda as rejeita veementemente.

Como disse anteriormente, Dragonero mistura (e muito bem) várias franquias de fantasia medieval. Por exemplo, assim como em Senhor dos Anéis, aqui temos um universo vasto com dezenas de localidades diferentes e criaturas, como por exemplo elfos, orcs, dragões, magos, trolls, ghouls, mortos-vivos,  necromantes, fantasmas. Já sobre Game of Thrones, bem...

... na primeira história de Dragonero aprendemos que ao norte do Reino de Erondar, há uma grande muralha, que separara o mundo dos humanos do mundo dos dragões, local onde hoje se encontram hordas de algentes, elfos que tiveram suas mentes dominadas por mestres demoníacos, os abominosos. E na segunda historia de Dragonero vemos nossos heróis tentando destruir uma fábrica de "lama pírica", um fogo tão forte que queima até dentro da água... Em defesa aos criadores de Dragonero, lembrem-se que essas histórias foram criadas em 2007, então se eles copiaram mesmo foram dos livros, e não do seriado de Game of Thrones, que só estreou em 2011.

E por fim, lembram que disse que Ian Aranill é um "batedor imperial"? Isso é mais ou menos como se ele fosse um policial... um cavaleiro errante a serviço do reino, proporcionando, a cada edição, as mais variadas aventuras. Então, as vezes podemos ver Ian e seus amigos fazendo uma escolta, ou então, investigando mortes estranhas em um vilarejo, ou ainda, serem literalmente batedores e espionarem acampamentos inimigos. Este clima de aventura "episódica" e variada já lembra bem mais The Witcher, um uma boa aventura de RPG.

Dragonero se encontra atualmente na edição 21 aqui no Brasil. É uma publicação trimestral, formato Bonelli (16 x 21 cm) e em branco-e-preto. E, repito, é muito bom! Na imagem abaixo você vê a edição especial, que conta a história escrita em 2007, e a seguir temos o número 1 da revista, e o número 21, recém chegado às bancas. Na verdade, originalmente a publicação brasileira era bimensal, porém, a partir do número 20 (inclusive), a revista passou a ter o dobro de tamanho (2 histórias em 1), e passou a ser trimestral. a mudança foi até pra melhor... afinal, evoluímos de 1 história a cada 2 meses para 2 histórias a cada 3 meses.

domingo, 20 de agosto de 2023

Goscinny + Uderzo = Asterix, Umpa-Pá, João Pistolão (?!) e muito mais!

Os geniais Uderzo (a esq.) e Goscinny (a dir.)

O escritor René Goscinny (1926 - 1977) e o desenhista Albert Uderzo (1927 - 2020) foram sem dúvida gênios dos quadrinhos. Esta dupla de quadrinistas franceses ganhou fama mundial graças a sua criação máxima, o intrépido gaulês Asterix, de 1959. Porém Asterix não foi seu único trabalho juntos, e sim o último. Pois desde 1951, quando eles se conheceram, foram vários outros projetos até conseguirem enfim estabelecer a sua obra de grande sucesso. Vamos então conhecer aqui algumas das outras criações que "ficaram pelo caminho"...

Por exemplo, de 1954 a 1957 eles fizeram Luc Junior, um jovem repórter que em suas investigações sempre se envolvia em grandes aventuras, junto com seu amigo Alphonse... Em 1957 eles assumiram um título de outro autor - Benjamin et Benjamine - que foi criado em 1956 por Christian Godard. As histórias eram aventuras bem humoradas de um jovem casal, e juntos a dupla de autores publicaram os 4 últimos álbuns da série.



Nos anos de 1957-1958, pela revista semanal belga Tintin (que foi criada em 1946 para popularizar as histórias do famoso personagem de mesmo nome), Goscinny e Uderzo publicariam várias histórias de Poussin et Poussif. Poussin era um bebê que estava sempre aprontando, tentando fugir, e Poussif um cachorro que sempre tentava resgatar a criança do descuido de seus pais. Claro que no final, sempre era o pobre Poussif que levava a culpa de tudo. Segue abaixo uma rara imagem de uma página de Poussin et Poussif.


E não foram só estas. Ainda houve várias outras participações conjuntas, que nem vou citar aqui para não me alongar muito. A questão é que nenhum dos títulos acima jamais teve tradução para a língua portuguesa. Porém, além de Asteríx, pelo menos duas outras obras relevantes de Goscinny e Uderzo foram adaptadas para nosso idioma! Tratam-se de Umpa-Pá e... João Pistolão. Portanto, agora este artigo irá apresentar (ou relembrar) um pouco mais do indígena Umpa-Pá e do corsário João Pistolão.


João Pistolão (Jehan Pistolet - 1952)

Sendo a primeira colaboração conjunta de Goscinny e Uderzo que conseguiu virar uma série, João Pistolão (Jehan Pistolet) começou de maneira bem modesta em 1952, como tiras do jornal diário belga La Libre Belgique. Em 1954 o título foi publicado na revista publicitária Pistolin, e para não haver confusão de nome com a própria revista, a série mudou de nome para Jehan Soupolet. Depois, nos anos 1961 e 1962, Jehan Pistolet voltaria, mas apenas como republicações, nas páginas da famosa Pilote (a revista semanal de quadrinhos onde Asterix havia nascido e já era seu grande nome).


Na história João Pistolão é um jovem garçom de uma pousada em Nantes, que sempre sonhou com aventuras de piratas, e resolve reunir seus amigos para montar um barco e se tornar um Corsário (piratas contratados por governos) a serviço da França (uma trama levemente parecida com One Piece rs).

E apesar de uma tripulação totalmente inexperiente e formada apenas por cidadãos comuns, ele acaba realizando seu sonho... para acabar enfrentando os mais atrapalhados apuros, sempre com bastante humor. Foram 5 álbuns no total, cujo nomes são: João Pistolão, Corsário Prodigioso, João Pistolão, Corsário de El-Rei, João Pistolão e o Espião, João Pistolão na América, João Pistolão e Sábio Louco.

Embora tenham sido publicadas em Português, as aventuras de João Pistolão não chegaram ao Brasil. A página da imagem acima foi extraída de uma edição portuguesa.


Umpa-pá (Oumpah-Pah - 1958 a 1962)

Já Umpa-pá possui uma característica diferente de todos os outros títulos que apresentei até agora: note pela sua data de publicação, que ele é contemporâneo à Asterix. Porém, quando o pequeno Gaulês começou a fazer bastante sucesso, a dupla resolveu encerrar esta série e focar as suas energias na sua obra mais popular.

Infelizmente há muito tempo fora das bancas e livrarias brasileiras, Umpa-pá já foi publicado inteiro por aqui duas vezes: primeiro na década de 60, pela Editorial Bruguera, e depois na década de 80, pela Editora Record. A boa notícia é que dá para encontrar todo o material de Umpa-pá para se baixar em sites de scans de gibis pela internet. Curiosidade: quando publicada pela primeira vez no Brasil, a revista (e o personagem) se chamavam Humpá-Pá.


As histórias contam as aventuras do indígena Umpa-Pá e do oficial francês Humberto Milfolhas, e a série se passa no século XVIII, durante a época da colonização francesa na América do Norte (mais especificamente no Canadá). De maneira razoavelmente similar a Asterix, Umpá-Pá possui uma força e resistência acima do normal (embora não chegue a ser "sobrenaturais", ele diz que o segredo de sua força é sua dieta baseada em pemicã). Humberto (e os demais franceses) usavam aquelas perucas brancas da época, e até por isso Umpa-Pá também chamava seu amigo de "escalpo duplo".

Foram 5 volumes: Umpa-Pá o Pele-vermelha, Umpa-Pá em Pé de Guerra, Umpa-Pá e os Piratas, Umpa-Pá - a Mensagem Secreta e Umpa-Pá Contra Bílis-Cão. Umpa-Pá na verdade foi a primeira criação conjunta de Goscinny e Uderzo, em 1951; porém na época a dupla não conseguiu encontrar nenhuma editora com interesse em publicá-la. Foi só muitos anos depois que o heróico nativo americano pode ser conhecido pelo grande público.

Imagens da primeira versão de Umpa-Pá, nunca publicada

E aí, quais destas obras vocês já conheciam? Escrevam nos comentários!

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Dupla Crítica - The Flash (2023) e Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan (2023)


Eu corri pra postar aqui no blog todos os grandes lançamentos de Julho o quanto antes. E agora que tudo foi publicado, deu pra respirar e com calma escrever sobre alguns filmes que saíram nos cinemas brasileiros há alguns meses atrás. Antes tarde do que nunca! Vamos a eles?



The Flash (2023)
Diretor: Andy Muschietti
Atores principais: Ezra Miller, Ben Affleck, Michael Keaton, Sasha Calle, Kiersey Clemons, Ron Livingston, Maribel Verdú

A DC deveria ter acabado há muito tempo com absolutamente tudo que tivesse qualquer relação com o universo compartilhado DC idealizado por Zack Snyder. Como isso não aconteceu, veio este The Flash. A história, baseada na importante saga Flashpoint dos quadrinhos, mostra Flash (Ezra Miller) viajando no tempo com seus poderes e alterando o passado, salvando sua mãe da morte prematura, encontrando com seu eu mais jovem, mas também (e é claro), alterando com graves consequências toda a linha temporal.

Vejam: não é fácil tolerar uma pessoa que é irritante e sem carisma tanto na vida real quanto nas telas. Portanto, não é uma idéia "jenial" torná-la protagonista de um filme e ainda "duplicá-la" em quase todas as cenas? Para piorar, o preguiçoso roteiro de The Flash tem absolutamente todos os clichês possíveis e imagináveis sobre viagens no tempo. Por outro lado, apesar de ser extraordinariamente um "mais do mesmo", a trama do filme não é ruim; diria que em geral ela diverte, em um nível comparável a um filme bom da "Sessão da Tarde".

O ponto alto de The Flash é a volta do Batman versão filme de 1989, interpretado por Michael Keaton. Suas cenas iniciais são muito boas, porém com o passar do tempo o encanto vai passando, infelizmente. Se não tem uma história boa, pelo menos este The Flash é repleto de fan services, e ele acaba sendo uma enorme (e grata) homenagem a todo universo cinematográfico da DC.

Em resumo, The Flash teve um enorme investimento, mas é um filme apenas mediano. Menos mal que a experiência de assisti-lo não é ruim (pelo contrário, é até agradável), e tem tantas homenagens a DC, que deve agradar (apenas) os fãs mais extremos da editora. Nota: 5,0.

PS: o filme conta com uma cena pós-créditos, não perca.



Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan 
(2023)
Diretor: Martin Bourboulon
Atores principais: François Civil, Vincent Cassel, Romain Duris, Pio Marmaï, Eva Green, Lyna Khoudri, Louis Garrel, Vicky Krieps, Jacob Fortune-Lloyd, Éric Ruf

Produção francesa do clássico literário de Alexandre Dumas, Os Três Mosqueteiros (1844), o filme foi bem recebido pelo público e crítica e conseguiu chegar até aos cinemas brasileiros. Um ponto curioso é que ele é a parte um de dois; sua parte final, Les Trois Mousquetaires: Milady, também será lançado este ano (em Dezembro na Europa), mas não sabemos ainda quando chegará por aqui.

Já tivemos vários filmes dos Três Mosqueteiros, e talvez o maior diferencial deste Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan é ser o mais fiel à obra original dos que eu assisti até agora. Talvez isto se deva por não ter sido feito em Hollywood rs... aliás, apesar disto, a produção conta com alguns atores / atrizes que já passaram por várias produções estadunidenses. Portanto talvez você reconheça Vincent Cassel, Eva Green, Vicky Krieps, Jacob Fortune-Lloyd ou Louis Garrel de outros lugares.

Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan é um filme com ritmo bem acelerado, bem humorado, e com bastante ação. Nenhuma cena de ação chega a impressionar, é verdade... mas são cenas críveis e bem feitas. Aliás, tudo no filme é tecnicamente muito bem feito. A fotografia é muito boa, assim como o Design de Produção. Ah, fica um alerta: conhecer um pouco do contexto histórico do filme ajuda um pouco a entender o que está acontecendo. Este Os Três Mosqueteiros até começa com um texto inicial explicando o contexto, mas é só isso... ele já parte pra ação e não está nem aí para explicações.

Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan está longe de ser memorável, mas assisti-lo foi bem agradável, e tem sido - até agora - uma boa maneira de conhecer o livro de Dumas. Espero que sua bilheteria no Brasil tenha sido suficiente para que Les Trois Mousquetaires: Milady chegue aqui também. Nota: 6,5.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Crítica - Barbie (2023)

TítuloBarbie (idem, EUA / Reino Unido, 2023)
Diretora: Greta Gerwig
Atores principaisMargot Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera, Kate McKinnon, Issa Rae, Simu Liu, Rhea Perlman, Will Ferrell, Michael Cera, Ariana Greenblatt, Rhea Perlman, Helen Mirren
Nota: 6,5

Menos transgressor do que poderia, Barbie é divertido e passa seu recado

A Mattel resolveu apostar alto, e Barbie é provavelmente apenas o primeiro de uma longa série de filmes baseados em seus brinquedos. Com uma enorme campanha de marketing, que o mundo não via há muitos anos, a aposta deu certo e Barbie é o filme do momento, com boas chances de atingir a marca de US$ 1 bilhão em bilheteria antes de 3 semanas de exibição.

Na história, Barbie (Margot Robbie) - também identificada como a "Barbie Estereotipada" - vive feliz em seu mundo perfeito repleto de outras Barbies, a Barbielândia, até que começa a passar por rápidas transformações: pensamentos negativos, sinais de bafo, celulite, calcanhares encostando no chão... Em choque com os acontecimentos, ela descobre que isto ocorre pois sua dona do mundo real está com dificuldades, e então ela e Ken (Ryan Gosling) partem para nosso mundo em busca de ajudar a menina e recuperar toda a normalidade.

Pelo trailer, e toda divulgação de Barbie, esperava-se que o filme trouxesse bastante comédia e também críticas ao mundo patriarcal em que vivemos. E de fato é isso que ele entrega, mas não da maneira que eu esperava... mas vamos começar pelas partes de Barbie que não são sobre estes dois temas.

Há muito em Barbie sobre seu universo, literalmente dezenas de referências sobre sua franquia, e em termos de cenários e design de produção, temos um mundo multicolorido, vibrante, como se tivéssemos mesmo um mundo de bonecas em tamanho real. E já aproveito para a ressalva: o público ideal para este Barbie são os adultos que brincaram e/ou acompanharam a boneca durante sua infância. Dito isto, o filme é divertido e interessante para adolescentes e adultos de todos os sexos; mas não é adequado para crianças.

Gostei de Barbie, achei um bom filme, mas esperava mais. Em termos de humor, há várias boas piadas, porém há pouca variação e elas são bastante reutilizadas ao longo da projeção. Já quanto ao seu debate em termos de feminismo, patriarcado... uma surpresa positiva foi ver que o filme não teve medo de discutir as polêmicas em torno da boneca-título, afinal, se por um lado ela traz um certo empoderamento, ao mesmo tempo ela também representa objetificação, um ideal de beleza inalcançável, dentre outras coisas ruins.

O bom é que Barbie passa seu recado, dá algumas fortes cutucadas na nossa hipócrita sociedade patriarcal, mas poderia muito mais. Tanto que o ponto mais forte e emocionante do filme não é proporcionado por Barbie, e sim pela humana Gloria (America Ferrera), em um discurso excelente.

E é uma pena, pois graças à alguns lampejos brilhantes do roteiro, dá para sentir que a diretora e os roteiristas têm bastante clareza sobre o mundo que vivemos. Porém na hora de aumentar as críticas pra valer, o filme se contém. Seria por imposição do estúdio? Ou porque o filme também será assistido por pessoas bem jovens? Ou por imposição da Mattel? Provavelmente uma soma de tudo isso. Afinal, não se enganem: estamos diante de um filme bastante comercial, bancado pela própria Mattel, e não a toa eles são apresentados na história como "os mocinhos". Então, por exemplo, já desistam de encontrar o consumismo entre as críticas do filme!

E antes do meu parágrafo de conclusão / desfecho, mais alguns elogios: Margot Robbie está muuito bem, só a atuação dela já vale o ingresso. A trilha sonora é muito boa também, inclusive o filme tem partes cantadas que ajudam a contar a história do filme. Felizmente Barbie não é um musical; aliás a única cena que temos de "musical", com os atores dançando, é péssima e ultra dispensável.

Ainda que abaixo das minhas expectativas, tanto em termos de comédia quanto em termos de crítica social, Barbie cumpre seu papel e é bom entretenimento para mulheres e homens de (quase) todas as idades. E pela época que vivemos, é um filme que vale sim a pena ser assistido para estimular o debate sobre tudo que envolve a mulher em nossa sociedade. A própria existência do filme e seu sucesso de bilheteria não deixam de ser conquistas, que merecem ser comemoradas e prestigiadas. Nota: 6,5

domingo, 30 de julho de 2023

Crítica - Oppenheimer (2023)

TítuloOppenheimer (idem, EUA / Reino Unido, 2023)
Diretor: Christopher Nolan
Atores principaisCillian Murphy, Emily Blunt, Matt Damon, Robert Downey Jr., Florence Pugh, Josh Hartnett, Casey Affleck, Rami Malek, Kenneth Branagh, Benny Safdie, Dane DeHaan, Jason Clarke, David Krumholtz, Tom Conti, Alden Ehrenreich
Nota: 7,0

Nolan reaprende a contar histórias, mas seu ego ainda atrapalha

Acostumado a escrever os roteiros para seus filmes, e sendo todos de ficção, foi uma considerável surpresa ver que o novo trabalho de Christopher Nolan, Oppenheimer, se trata da adaptação de um livro (e aliás não um livro qualquer... uma biografia!). Trata-se American Prometheus, de 2005, escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwint e vencedor de Prêmio Pulitzer.

A história conta a vida do físico teórico estadunidense J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), creditado mundialmente como o "pai da bomba atômica". Em termos de roteiro, ele não é contado de maneira totalmente linear, e é apresentado em 3 frentes: temos uma audiência interna na qual Oppenheimer é interrogado, outra audiência posterior e aberta ao Senado (sem a presença do cientista), e finalmente dezenas de cenas em que vemos Oppenheimer de fato "fazendo" o que está sendo dito nas investigações; esta é a maior parte do filme.

Ambas audiências são situadas na década de 50, e acabam recontando toda a saga de Oppenheimer, do começo de sua carreira até a construção da bomba. A audiência no Senado é filmada em branco-e-preto, e isto representa que mostra os fatos "crus". Já todas as demais cenas, por terem a presença do físico nelas, são sob seu ponto de vista, e são filmadas em colorido.

Antes de tudo, Oppenheimer é um filme sobre História, sobre Política, e sobre a pessoa complexa e controversa que Robert Oppenheimer foi. Porém, a maneira com que Christopher Nolan fez seu filme, sempre com cenas curtas e aceleradas, e com diálogos do mesmo modo, Oppenheimer quase se torna um filme de ação. São exatas 3 horas de projeção, mas você não sente o tempo passar. A história é muito dinâmica e muito interessante.

Como sempre também em todos os filmes de Nolan, seu filme está apoiado em uma fotografia magnifica, e em um enorme elenco de atores famosos e de alto nível. Cillian Murphy, o protagonista, está excelente. As duas principais atrizes, Emily Blunt e Florence Pugh, também estão muito bem. Mas minha maior surpresa foi ver tanto Matt Damon quanto Robert Downey Jr., que são bem caricatos, atuarem com bastante eficiência e com poucos deslizes.

Depois de vários filmes onde Nolan passa mais tempo tentando explicar o mundo que criou, do que focar no próprio conto que quer mostrar, é muito satisfatório ver que ele enfim voltou a fazer o que no passado mostrou saber fazer muito bem, que é contar histórias. Porém, infelizmente Nolan ainda não voltou aos seus melhores trabalhos, já que sua enorme ambição e ego ainda atrapalham.

A começar, quanto as imagens da explosão da bomba nuclear. Nolan fez uma propaganda absurda, se gabando de que tudo foi feito sem efeitos de computador. E mais ainda, que tudo é tão real e grandioso que precisa ser visto em iMAX; que aliás nem o iMAX conseguiu captar tanta grandiosidade infelizmente... Bem... não vejo desta forma. Claro, as imagens são bonitas, mas se tivessem sido feitas em computador, não vejo grande impacto no resultado. Aliás o impacto da explosão em si é bastante frustrante em termos de imagem... só vale a pena pelo som... e coisa de 5 segundos. Minha conclusão? Oppenheimer sequer é um filme que você "precise" assistir nos cinemas. Afinal, de maneira incoerente com sua propaganda, Nolan tratou em seu filme a explosão como algo muito coadjuvante. O que importa mesmo para ele é a vida de Robert Oppenheimer.

Na trilha sonora, Nolan usa uma mão "pesada", e alterna entre um tom de "épico/triunfo" e "drama interior" o tempo todo... temos uma música forte e alta quase o tempo todo, o que nos leva a alguns problemas de ritmo... é como se o filme tivesse um clímax a cada 20 min.

Mas o pior é quando o diretor / escritor quer "fazer Arte". As cenas de nudez são completamente desnecessárias; e o desfecho do filme, onde temos duas mini reviravoltas, apenas para passar a impressão de que o roteiro é "genial", foi decepcionante. Me senti mais enganado do que qualquer outra coisa, além de que é um final cujo tom é diferente do restante do resto que foi apresentado.
 
Com muitos prós e alguns contras, a conclusão para Oppenheimer é que Nolan enfim deixou a descendente que vinha em seus filmes e parece reencontrar o bom caminho. Que continue assim. E independente de tudo que falei sobre Nolan nesta crítica (e falei bastante rs), para quem gosta de História, Política, ou simplesmente de um bom filme, Oppenheimer é uma escolha certa. Nota: 7,0


PS: tudo começou como piada, porém o meme Barbenheimer, que ria do fato que os filmes de BarbieOppenheimer tiveram lançamento mundial no mesmo dia, e até "convidava" as pessoas a ter a experiência de assistirem os dois filmes no mesmo fim de semana de estréia, acabou tendo um efeito bastante inesperado e lucrativo. Com isso, a bilheteria de ambas as produções catapultaram e tiveram ótimos resultados (cerca de US$ 800 milhões somados na primeira semana), o que por sua vez, infelizmente, acabou virando "prejuízo" principalmente para Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte UmIndiana Jones e a Relíquia do Destino.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Curiosidades Cinema Vírgula #017 - Conheça o "Ângulo Holandês" ("Dutch Angle")


Hoje vamos conhecer sobre uma técnica bastante utilizada nos cinemas, mas que muita gente não repara, ou até repara, mas não sabe seu nome ou sua função. Trata-se do Ângulo Holandês (Dutch Angle), que como veremos a seguir, foi bastante usado no recente Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte Um, e foi isto que me motivou a escrever este texto. ;)

O Ângulo Holandês é uma técnica cinematográfica onde ao filmar a câmera é levemente girada (ou "tombada") de modo que a linha do horizonte da tomada não fique paralela à parte inferior do quadro do filme. Isso produz um ponto de vista semelhante a inclinar a cabeça para o lado. O objetivo do uso de um Ângulo Holandês é causar uma sensação de mal-estar, desorientação ou tensão para o espectador.

Por exemplo, na imagem escolhida acima, como título deste artigo para ilustrar o Ângulo Holandês, retirada de Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (2011), o diretor David Yates optou por "entortar" a câmera para que o espectador pudesse compartilhar de uma maneira mais forte o medo / mal-estar que o trio de personagens está sentindo.

Os primeiros usos desta técnica surgem no Movimento Expressionista do cinema alemão dos anos 1920 e 1930. Pois é... alemão e não holandês: o nome "Dutch" (holandês) que acabou ficando famoso nada mais é que um erro ortográfico / corruptela do termo original "Deutsch" (alemão), este sim o correto.

Como exemplo emblemático do uso nos antigos filmes alemães, vemos na imagem acima um exemplo do Ângulo Holandês em Das Cabinet des Dr. Caligari (O Gabinete do Dr. Caligari, de 1920), filme este, aliás, que o personagem de Nicolas Cage elogia aos montes em seu O Peso do Talento (2022).

Voltando então ao que eu disse anteriormente, há várias cenas usando o Ângulo Holandês em Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte Um. E isto acontece por um motivo extra, aliás: trata-se de uma homenagem ao primeiro filme da franquia, Missão Impossível (1996), onde o então diretor Brian De Palma usou muito deste recurso. Neste Acerto de Contas - Parte Um você pode ver o Ângulo Holandês por exemplo em muitos momentos da sequência da negociação dentro da boate em Veneza (que representa o desconforto dos personagens no local, e/ou que aquilo é uma armadilha), ou ainda, vemos este recurso de imagem em algumas das vezes em que se dá um close no vilão Gabriel (para sugerir que ele não é confiável, ou está mentindo).

Em Missão: Impossível (1996), a câmera gira imediatamente após Ethan Hunt perceber que seu chefe desconfia que ele causou o ataque terrorista, refletindo a tensão / incômodo do personagem

E se você chegou até aqui, lá vai um presente: vá no Google, escreva dutch angle no campo de pesquisa, clique em pesquisar e veja o que acontece. É bem divertido! ;)



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? É só clicar aqui!

Crítica Netflix - I Am Mother (2019)

Título :  I Am Mother (idem, Austrália, 2019) Diretor : Grant Sputore Atores principais :  Clara Rugaard, Hilary Swank, Luke Hawker, R...