
Situado na racista Mississipi dos anos 60, no auge da segregação racial, após seus 20 minutos inciais "Histórias Cruzadas" me pareceu ser um enfadonho mais do mesmo: lá estavam lá as ricas familías brancas americanas, absurdamente superficiais, hipócritas e egoístas. O mal encarnado. Humilhando seus empregados negros sempre que podiam.
Porém, passado o tempo de apresentação dos personagens o filme começa a ficar interessante. Logo vemos duas cenas em sequencia de um mesmo drama sob pontos de vistas diferentes: a empregada negra Aibileen (Viola Davis) se desespera ao ver que a criança que ela cuida - e "adota" como filha - está sendo traumatizada pela indiferente mãe biológica, a patroa. E vemos a jovem branca - e aspirante a jornalista - Skeeter (Emma Stone) lamentando a perda de Charlote, a empregada negra que a criou desde o nascimento.
Com um romance em mente, posteriormente Skeeter pede às empregadas que conhece para contarem suas histórias, expressarem seus pontos de vista. Aibileen e a sua espalhafatosa amiga Minni (Octavia Spencer)) são as primeiras negras a contar seus "causos", que nem sempre são mostrados como narrativa, mas também em tempo real.
Mas o filme também apresenta histórias do ponto de vista dos "brancos": Skeeter e a "perua" Celia Foote (Jessica Chastain) também possuem problemas pessoais que não tem a ver com o racismo ao seu redor. E mesmo assim todas as histórias, sejam dos brancos os dos negros, se interferem de alguma maneira, mostrando a alta qualidade do roteiro.
Todos os personagens principais são mulheres. E talvez por isto o filme seja tão delicado, leve. A violência física quase inexiste; não vemos o racismo em "pancadarias nas ruas", mas vemos o racismo presente no simples cotidiano destas mulheres. É dentro das casas, em conversas e situações corriqueiras, que cenas dramáticas se alternam com cenas de humor. Também não há nenhum dramalhão, nenhuma cena muito forte. Mas o drama está lá, e te faz emocionar várias vezes.
Se não impressiona tanto tecnicamente, Histórias Cruzadas impressiona pelas atuações. Há várias ótimas atuações neste filme, e não a toa o Oscar deste ano indicou 3 das 4 atrizes cujos nomes já citei acima para a premiação. Mas além destas quatro, há outras grandes interpretações, dais quais destaco as atrizes Bryce Dallas Howard (pausa para meu suspiro apaixonado) e Sissy Spacek.
O principal defeito do filme, entretanto, é ter um final feliz demais. "Falha" esta que tem como possíveis explicações o fato de ser uma história de ficção voltada para o público feminino (a violência física que o filme não exibe com certeza existiria na vida real), e que os direitos de distribuição serem da Disney.
Nota: 8,0.
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