quarta-feira, 24 de março de 2021

Crítica - Liga da Justiça de Zack Snyder (2021)

Título: Liga da Justiça de Zack Snyder ("Zack Snyder's Justice League", EUA / Reino Unido, 2021)
Diretor: Zack Snyder
Atores principais: Ben Affleck, Gal Gadot, Ray Fisher, Henry Cavill, Jason Momoa, Ezra Miller, Jeremy Iron, Diane Lane, Zheng Kai, Amber Heard, Silas Stone, Ray Porter, Peter Guinness, Connie Nielsen, J. K. Simmons
Nota: 8,0

Bem melhor que a versão anterior, mas prova que Zack Snyder não pode fazer filmes de super-heróis clássicos

Depois de muita expectativas dos fãs enfim chega a versão estendida de Zack Snyder do filme Liga da Justiça (2017) para o público.

Caso você não saiba o que é este filme, resumidamente, Snyder era o diretor do filme da Liga, supostamente já havia terminado suas filmagens e estava começando a pós-produção quando abandonou o projeto devido o triste e então recente suicídio de sua filha, Autumn. Em seu lugar assumiria Joss Whedon, que para fazer um filme mais curto e "leve", gravou novas cenas e mexeu bastante no roteiro original. Foi a versão de Whedon que chegou aos cinemas e teve uma aceitação apenas mediana da crítica e público.

Alguns meses depois do lançamento de Liga da Justiça, Snyder começou a usar as redes sociais para divulgar partes do seu material inédito do filme. Não demorou muito para que seus fãs começassem a pressionar a Warner para que o Snyder Cut (a versão do Snyder) fosse lançado, movimento imediatamente apoiado pelo diretor, que afirmava que o filme estava pronto. Depois de muito tempo negando, a Warner aceitou liberar o filme e, quatro anos depois eis que a Liga da Justiça de Zack Snyder é lançada mundialmente via HBO Max.

Esta crítica será diferente, pois falarei um pouco sobre o filme novo, mas principalmente irei comparar as duas versões (o que revelará alguns spoilers, principalmente do filme original), e também falarei um bocado sobre o diretor/roteirista Zack Snyder.


Primeiro, e mais importante que tudo, a resposta que todos queriam saber é que sim, a Liga da Justiça de Zack Snyder é bem melhor que a versão dos cinemas de Joss Whedon. Os personagens são bem melhores apresentados, a trama principal é melhor explicada (agora fica claro que a morte do Superman foi o que acordou as Caixas-maternas, e porque os heróis queriam arriscar a ressuscitá-lo), as batalhas são ainda maiores e mais incríveis... até a trilha sonora melhorou um pouco, ainda que seja porque Snyder tenha reciclado várias músicas boas de filmes passados.

Os personagens mais beneficiados pelas mudanças foram o Flash (Ezra Miller), o Ciborgue (Ray Fisher) e seu pai Silas Stone (Joe Morton), e o vilão principal Lobo da Estepe (Ciarán Hinds). O Flash fica menos "palhaço" e passa a ser útil na batalha final; o Ciborgue passa a ser o personagem principal da trama. Do Lobo da Estepe falarei mais adiante. Por outro lado, houve um - e apenas um - personagem que piorou: o Aquaman (Jason Momoa). Embora a batalha solo dele tenha ficado melhor, ele perdeu minutos em cena e passou a ser o personagem "chato e pessimista" do filme.

Após assistir com prazer as longas 4h de filme, fica evidente que não daria nunca para lançá-lo nos cinemas. Oras, o filme só ficou bom ao desenvolver personagens e trama de maneira apropriada, e simplesmente não dá pra colocar algo tão longo na telona, ainda mais porque as suas primeiras 2h 30min  são bem lentas, cansativas. Eu mesmo assisti o filme em duas partes, assisti metade à tarde, e terminei o restante à noite.

Vale a pena comentar que o filme tem duas partes bem distintas e minha escolha de assistí-lo em partes foi acertada. A parte inicial, de apresentação dos heróis, os mostra como verdadeiros deuses, muito acima dos humanos, em cenas repletas de slow-motion. Já na segunda parte isso muda muito, não só com a chegada de mais cenas de ação e de diálogos rápidos, mas principalmente por mostrar todos os heróis com seus defeitos e medos.

Aliás, me corrigindo, esse Liga da Justiça de Zack Snyder não foi 2 filmes em 1. Foram 3 em um só: um para corrigir partes do Batman vs Superman, outro para apresentar todos os personagens da Liga, e outro para enfim contar a história da invasão do Lobo da Estepe. Muita coisa diferente para mostrar de uma tacada só, totalmente inviável para os cinemas!

Mas não é só pela duração do filme que concluí no título deste texto que Zack Snyder PRECISA abandonar os heróis clássicos da DC. Ele simplesmente não consegue entender o que é ser um herói. Já teve 3 filmes como diretor+roteirista para isso, e nunca conseguiu. Por exemplo: se o Snyder Cut melhorou em muitos aspectos a versão anterior, teve um ponto que ele não só não melhorou, como piorou: trata-se da batalha final com o Lobo da Estepe após a chegada do Superman. Em ambos os filmes, a luta perde totalmente a graça porque o Superman é muito mais forte que o vilão... mas agora, na versão de Snyder, o que os heróis fazem com o vilão após este já estar derrotado é simplesmente inaceitável... testemunhamos uma enorme covardia, para não falar outras coisas piores.

O resultado final da Liga da Justiça de Zack Snyder é um filme muito bom, o ápice da carreira deste diretor. E o filme poderia receber até uma nota maior minha... se não fosse o epílogo...


Ah, o epílogo... depois de passar 3 horas consertando suas bobagens passadas, Zack Snyder resolve ser Zack Snyder e estragar tudo novamente. Por que ele faria isto com sua própria obra? Seria o ego? Seria sua megalomania? Seria uma aposta para fazer os fãs fazerem campanha para uma continuação? Ou a soma de tudo isso? O fato é que após encerrar sua visão da Liga muito bem, ele resolve continuar filmando e começar a contar a história do filme seguinte!!

Snyder não sabe quando parar de gravar, quando parar de gastar dinheiro. Para que esta sua versão chegasse nesta forma que vimos, foram gastos mais 70 milhões de dólares (!!) em efeitos especiais, edição e novas cenas... e isso porque o rapaz disse que o filme já estava pronto... tsc, tsc.

Certamente boa parte desta bolada foi gasto no visual do Lobo da Estepe, e neste caso, ficou bom... a armadura do vilão chega quase a ser um personagem próprio dentro do filme. Ainda assim, um dinheiro gasto por puro capricho. Mas o que mais me irrita é que muitas das cenas deste indesculpável epílogo foram gravadas justamente DEPOIS, gastando estes 70 milhões. Dentre elas: temos a cena do Batman falando com o Caçador de Marte, que é uma cena ok, mas depois temos a cena do insuportável Lex Luthor de Snyder com o Exterminador, onde Lex conta para ele que Batman é o Bruce Wayne (o que estraga em muito o status quo do universo DC), e para finalizar, temos a cena em que o Coringa de Jared Leto simplesmente humilha o Batman, em uma cena revoltante para quem é fã do Morcegão.

E sabem qual é a historia que Zack continua neste filme aqui, e que na cabeça dele seria uma trilogia? Uma em que o Superman enlouquece e ajuda Darkseid a dominar a Terra... uma cópia da história do jogo de videogame Injustice: Gods Among Us. Ou seja, não bastando ter feito 3 filmes com o Azulão, e em nenhum deles mostrar uma mísera cena onde o Superman comete um ato de bondade, agora ele será o vilão (e assassino) por um filme inteiro!!! Se uma das maiores críticas aos filmes do Snyder pela DC é que ele exagera no sombrio, no clima depressivo, na violência, imaginem o que seria essa continuação!! 

Com seu Liga da Justiça de Zack Snyder, o diretor prova ser capaz de entregar ótimas produções... mas para isso, que não seja com heróis clássicos... ou no comando de uma franquia inteira. Zack não dá conta, ele não compreende heroísmo, não consegue ser conciso. Para o bem e felicidade de todos, que Zack Snyder continue fazendo seus filmes, mas usando personagens novos que ele mesmo crie, ou ainda, se for usar personagens já existentes, que pelo menos faça filmes de vilões ou anti-heróis. Porque a Luz definitivamente não faz parte de sua mente. Nota: 8,0

2 comentários:

marcos.moreti disse...

SPOILERS SPOILERS SPOILERS

Concordo com vários pontos levantados, mas me incomoda muito quando a gente pára para pensar em como o Snyder privilegia a estética em relação à história.
A cena do Flash salvando a Íris mesmo, é muito bem filmada, mas não faz sentido a expressão da vítima ao ser jogada do carro.
A da Mulher Maravilha no começo do filme é de um excesso de força q, mesmo desconsiderando os filmes solo onde a heroína é mais contida, não faz sentido para quem quer proteger pessoas...

Fora o Super, q basicamente virou membro do Bope... é o único ponto q o filme de 2017 é melhor: os heróis se preocupam com pessoas e não em massacrar um adversário caído

Ivan disse...

Boa tarde! Seus comentários batem com minha opinião, de que Snyder não sabe representar os heróis da DC. Porém, desconsiderando isso, achei o filme muito bom, por isso a nota. E o "incomoda muito quando a gente pára para pensar em como o Snyder privilegia a estética em relação à história" também resume bem o que acho dele... Abraços!

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