sábado, 13 de março de 2021

Dupla Crítica Filmes Netflix - A Escavação (2021) e Pelé (2021)


Mais dois lançamentos da Netflix, que embora envolvam pessoas famosas, não tiveram muito destaque nas mídias especializadas. O primeiro é uma história de ficção, embora sobre um fato histórico real. E o segundo é um documentário sobre nosso Rei Pelé. Confiram!



A Escavação (2021)
Diretor: Simon Stone
Atores principais: Carey Mulligan, Ralph Fiennes, Lily James, Johnny Flynn, Ben Chaplin, Ken Stott, Archie Barnes

A história real por trás de A Escavação é muito interessante: uma das maiores descobertas arqueológicas do século XX, um barco funerário anglo-saxão com mais de 200 artefatos enterrados, com 1500 anos de idade. E tão incrível quanto, foi descoberto graças a uma cidadã "comum", entusiasta da arqueologia.

Entretanto, e infelizmente, este filme sobre a descoberta passa longe de ser igualmente empolgante. Mesmo a presença de 4 atores britânicos bem conceituados e de considerável sucesso Hollywoodiano não foram capazes de compensar o fraco roteiro. Carey Mulligan e Ralph Fiennes até estão muito bem, uma das melhores coisas de A Escavação; porém Lily James e Ben Chaplin são tão mal aproveitados que dá até raiva.

As paisagens do campo britânico são maravilhosas, e o filme transpira um convincente amor pela arte e a arqueologia. Porém, nem mesmo "a estrela desta história", que seriam os objetos arqueológicos encontrados na escavação, ganha muita atenção. Passamos o filme todo ouvindo o quanto aquela descoberta é fantástica, mas não vemos quase nada do que foi retirado. Muito decepcionante. Ao invés de focar na arqueologia, ou até no momento histórico da época (começo da 2a Guerra Mundial, que inclusive é propagandeado no trailer mas também é ignorado pelo filme), a trama se preocupa mais em ficcionar sobre os personagens... aí temos então um amor platônico entre os personagens de Mulligan e Fiennes e o infeliz casal de Lily e Ben Chaplin: a esposa mal amada porque seu marido é secretamente gay. Tudo invenção, em um melodrama mal construído.

Como mérito, A Escavação é uma boa ode de amor à arqueologia, e serve também para levar o mundo a redescobrir esta importante descoberta arqueológica. Se o filme falha ao não mostrar os objetos escavados, pelo menos em termos de figurinos e cenários é bastante preciso e interessante. Além disto, é uma boa oportunidade para vermos o bom trabalho de Ralph Fiennes e do arqueólogo real que ele interpreta, Basil Brown. Finalizando, a bela fotografia é outro considerável atrativo de A Escavação, mas mesmo com estas qualidades listadas neste parágrafo, A Escavação se apresenta como um filme apenas médio que não faz jus à descoberta que o inspirou. Nota: 6,0.



Pelé (2021)
Diretores: Ben Nicholas, David Tryhorn
Atores principaisPelé

Coube a um grupo de ingleses, e não de brasileiros, trazer para a Netflix um documentário exclusivo sobre o Rei do Futebol. Não é surpresa, entretanto, visto que nosso país relembra tão mal sua própria história.

E por falar em história, é justamente o choque da passagem do tempo a primeira cena do filme Pelé: com seus 80 anos, o Rei aparece em cena andando com muita dificuldade e um andador, em direção à cadeira onde ele irá contar sua história. Além da idade, o ídolo passou por uma cirurgia mal sucedida nos quadris, e agora ele passa maior parte do tempo em uma cadeira de rodas.

E então o filme começa a contar, principalmente, sobre os "bastidores" da carreira de Pelé. São 5 atos: seu início como jogador, e depois, as 4 Copas do Mundo disputadas. Sim, enquanto as histórias são contadas - não só por Pelé, mas também por mais uma dezena de convidados - temos imagens de suas partidas (e diga-se de passagem, MAIS uma vez as pessoas poderão ter a oportunidade de VER que só o que o Pelé fez na Copa de 1958 já foi mais que o Messi e o Cristiano Ronaldo fizeram em toda carreira); mas ainda assim, o destaque do filme fica mais para o fora de campo.

Um dos "defeitos" desta obra é que mesmo escolhendo apenas 5 passagens da carreira do jogador, o filme é curto demais para contar sobre elas, ou ainda, explicar o impacto de Pelé no futebol e no Brasil. Em outras palavras, você assiste a Pelé, conhece e se encanta com o jogador, mas ainda assim quando o filme acaba você não fica com a impressão de que aprendeu sobre ele.

Outra característica curiosa deste Pelé é a sua politização: durante todo o filme há uma narrativa paralela sobre o "fantasma da ditadura" e a "omissão" de Pelé a respeito. Este foco não deixa de ser interessante, onde por exemplo no país há toda uma nova geração que, por desconhecimento, acha que a ditadura não foi ruim. Neste sentido, é bom que Pelé relembre a opressão do passado. Por outro lado, as "acusações" a Pelé são injustas... alguns convidados, como principalmente Juca Kfouri, o defendem convincentemente; ainda assim a edição é um pouco injusta com o Rei do Futebol, e o filme não chega a inocentá-lo. Por mim, Pelé não merecia isto.

Pelé também impressiona pela sua humildade e simplicidade, tanto nas cenas do passado como nos depoimentos atuais, vários deles bem emocionados. Mas novamente, a edição não consegue ser favorável ao ex-jogador, concluindo sua história com um tom muito mais melancólico do que triunfante.

Apesar de seus problemas, o pouco que Pelé mostra sobre a história do nosso futebol e da nossa política é bastante interessante e instrutivo, mesmo sendo apenas um "recorte". Para quem gosta então destes assuntos, o filme é uma obra que merece e precisa ser assistida. Nota: 6,0

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