domingo, 21 de março de 2021

Crítica Netflix - Mank (2020)

Título: Mank (idem, EUA, 2020)
Diretor: David Fincher
Atores principais: Gary Oldman, Amanda Seyfried, Lily Collins, Arliss Howard, Tom Pelphrey, Sam Troughton, Ferdinand Kingsley, Tuppence Middleton, Tom Burke, Charles Dance
Nota: 7,0

Filme traz Herman J. Mankiewicz como herói e se contém nas críticas

Filme produzido pela Netflix, Mank ganhou reconhecimento público semana passada, quando a Academia de cinema estadunidense concedeu ao filme 10 indicações ao Oscar 2021, número bem superior aos demais concorrentes. Sua história é sobre Herman J. Mankiewicz, roteirista famoso por Cidadão Kane (1941), apontado com certa frequência como o melhor filme de todos os tempos.

Na verdade, Mank é um filme de bastidores "duplo": a história se divide mostrando um Herman que já sofre considerável rejeição dos estúdios de Hollywood, e que se encontra recluso e imobilizado em uma fazenda, se recuperando de um acidente de carro, e em paralelo correndo contra o tempo escrevendo o roteiro de Cidadão Kane. A outra parte percorre pelo cinema dos anos 30, mostrando a vida dentro das grandes companhias e como Mankiewicz chegou até aquela situação em sua carreira.

E a "resposta" é que Mankiewicz teve sua carreira prejudicada pelo alcoolismo, e por ser uma pessoa de opinião forte que não se calava diante de injustiças. Ao final do filme, Mank (Gary Oldman) é retratado como um herói, por ter conseguido superar os vícios, a pressão dos poderosos Louis B. Mayer (Arliss Howard) e William Randolph Hearst (Charles Dance), e por "enfrentar" seu contratante Orson Welles (Tom Burke). Porém este triunfo não é compartilhado com os fatos reais, já que após Cidadão Kane, Herman continuou com os problemas de antes: seus vícios, e sendo um profissional errático longe de seus tempos áureos.

Tecnicamente o filme é muito bom, a fotografia em branco-e-preto é excelente, assim como a trilha sonora, os figurinos, e o design de produção. Porém sua edição, com várias idas e vindas entre "presente" e "passado", somada à uma introdução menor do que o necessário aos diversos personagens da trama, faz com que Mank não seja tão fácil de acompanhar por um espectador que não conhece a história real das personalidades apresentadas.

Ironicamente, em um filme sobre um grande roteirista, o que menos gostei foi seu roteiro. Não que seja ruim, mas a meu ver, Mank traz uma história "leve" demais. Apesar de seus vícios, não chegamos a ver Mankiewicz efetivamente sofrer por eles; ao insinuar uma Hollywood cruel nos anos 30, onde empregados são explorados e os estúdios seguem os interesses de políticos conservadores, são poucas as cenas onde "de fato" vemos estas maldades sendo aplicadas. Minha maior decepção foi o pouco que se comentou da vida de William Randolph Hearst: afinal, Cidadão Kane foi feito especificamente para criticá-lo... queria entender o porquê disso em detalhes, e não consegui respostas.

Mank chega a ser historicamente bastante fiel em vários pontos, mas em outros não. Por exemplo, as cenas de Mankiewicz "brigando" contra a manipulação nas eleições são todas inventadas, e o fato de Orson Welles ter oferecido dinheiro ao roteirista para tirar seus créditos de Cidadão Kane é um boato que nunca foi provado ou mesmo comentado por Welles ou Mankiewicz na vida real.

Se o filme peca ao não ser marcante ou contundente em qualquer coisa que faça, pelo menos é uma obra bem agradável de se assistir. O filme é dinâmico e as vezes até bem humorado. Não é uma surpresa tão grande, portanto, que Mank tenha sido tão bem visto pela Academia dos Oscars... afinal, ela ama histórias que auto homenageiam o cinema... e se for pra fazer isto sem colocar seus grandes nomes do passado em situações complicadas, para eles melhor ainda. Nota: 7,0

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