sábado, 8 de fevereiro de 2025

Crítica - Anora (2024)

Título
Anora (idem, EUA, 2024)
Diretor: Sean Baker
Atores principaisMikey Madison, Mark Eydelshteyn, Yura Borisov, Karren Karagulian, Vache Tovmasyan, Aleksei Serebryakov, Darya Ekamasova, Luna Sofía Miranda, Lindsey Normington
Nota: 7,0

Filme vencedor da Palma de Ouro é incomum e comovente

Anora é um filme independente de baixo orçamento (apenas US$ 6 milhões), que está há duas semanas nos cinemas brasileiros. Foi o grande vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2024 (sendo que um filme estadunidense não ganhava este prêmio desde 2011), e recebeu 6 indicações ao Oscar, dentre elas a de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz.

Antes de qualquer coisa Anora é um filme... diferente. Afinal, suas 2h09min de projeção são de ação e tensão frenéticas, e apesar dos personagens não contarem piadas e de várias situações pesadas, em muitas cenas o filme faz rir. Não a toa Anora é vendido como uma "comédia dramática".

Na trama, Anora (Mikey Madison), ou "Ani", é uma jovem stripper que mora em Nova Iorque e sabe falar russo. Em seu trabalho, ela acaba conhecendo o jovem Ivan "Vanya" Zakharov (Mark Eydelshteyn), filho de um  milionário russo, que se interessa por ela e acaba a contratando para ser sua "namorada" por uma semana. Os dois acabam vivendo um romance e se casando em Las Vegas. Quando os pais de Ivan descobrem o que aconteceu, seus "capangas" correm em direção ao casal para forçar a anulação do casamento, o que gera muita tensão e correria.

A principal qualidade de Anora é que mesmo sendo um filme estadunidense, ele é bem diferente do padrão que estamos acostumados. Não só pela mistura de gêneros e temas que citei anteriormente, mas também pelo modo que é filmado. A câmera não para, corremos o tempo todo ao lado de Ani, por todo lugar que ela vai, e olha que ela dá um rolê bem grande. Ainda assim, não se trata de filmagem em primeira pessoa.

Anora não deixa de ser um conto de fadas da vida real, onde Ani, uma pessoa pobre, chama a atenção de um "príncipe rico" que pode mudar sua vida completamente, "salvando-a" da miséria. Mas ainda que este "conto de fadas" de Anora seja bem mais real, ou seja, você assiste todo o filme torcendo pela protagonista, mas no fundo sabe que as chances de um final feliz são baixas, para mim o roteiro toma uma certa liberdade poética ao fazer os "capangas" da família de Ivan serem tão "bonzinhos". Ok, eu entendo que os russos não estavam no país deles, e que não necessariamente por serem milionários eles saem por aí cometendo crimes... mas ainda assim, no mundo verdadeiramente real, para mim Anora teria um tratamento bem pior.

Como conclusão, não vejo Anora como um filme excepcional, a ponto de merecer vencer o Oscar de Melhor Filme, mas ainda assim, ele vale a muita a pena assistir por ser fora do padrão. Quanto a atuação de Mikey Madison, a mesma coisa... não é excepcional mas está muito bem. É muito bacana ver ela brigar com unhas e dentes (e convencer que está fazendo isso) para manter sua posição e com isso comover o espectador.

Ah, a cena final de Anora é excelente e muito impactante. Você vai se lembrar dessa minha frase quando ver o filme. Nota: 7,0

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #031 - Conheça aqui a PRIMEIRA história escrita de Ficção Científica!


Você e um grupo de 50 companheiros partem em viagem, e fazem uma surpreendente viagem a Lua, onde ao chegar, se deparam com uma guerra entre os alienígenas habitantes da Lua contra os alienígenas habitantes do reino do Sol, em uma disputa que começou pela colonização do planeta Vênus. Ao retornar para a Terra, antes de conseguirem retornar para casa, acabam passando por vários locais novos e inexplorados, como por exemplo uma cidade habitada por lâmpadas "vivas" autônomas e conscientes, e de quebra descobrem um novo continente.

O enredo acima faz parte de um livro que, para muitos, se trata da primeira história de Ficção Científica da Literatura. Antes de revelar o nome desta obra, lanço o desafio: quando e onde vocês acham que ela foi escrita? Vou até dar dicas. Seria no começo do Renascimento Europeu (entre meados do século XIV e o fim do século XVI), quando a Idade Média se encerrava e a Ciência começava realmente a crescer? Ou seria ainda antes... que tal no Século IX do Mundo Árabe, onde a astronomia e matemática se desenvolvera mais rapidamente, e obras literárias incríveis de fantasia como por exemplo As Mil e Uma Noites já eram compiladas?

Nem um, nem outro. A trama em questão é narrada na obra História Verdadeira, escrita em meados do Séc. II d.C. por Luciano de Samósata (Síria), em grego. Sua intenção ao publicar sua História Verdadeira foi ironizar e criticar as fontes históricas contemporâneas e antigas que descreviam acontecimentos fantásticos e míticos como se fossem verídicos.

A épica jornada narrada em História Verdadeira é recheada de absurdos, e além dos eventos que descrevi no primeiro parágrafo deste artigo, temos por exemplo nossos aventureiros sendo engolidos por uma baleia gigante, onde lá dentro eles encontram uma civilização de homens-peixe; se envolvem em uma batalha entre um povo de gigantes; encontram um mar de leite com ilhas de queijo; viajam por vários lugares e acabam encontrando personagens históricos ou mitológicos como Homero, Ulisses, Sócrates, Pitágoras e Heródoto.

Vivendo dentro de uma baleia...

Ou seja, para nossos conceitos, há bem mais fantasia que Ficção Científica em História Verdadeira, mas ainda assim ela é considerada a primeira obra deste gênero por contemplar conceitos como viagens interplanetárias, encontro com alienígenas, colonização de planetas, atmosfera artificial, criaturas vivas feitas de tecnologia humana, desejo explícito dos protagonistas por aventura e exploração e etc.

Ah sim, e como sabemos que Luciano de Samósata escreveu História Verdadeira com este objetivo que eu contei pra vocês linhas acima? Porque ele mesmo diz isso nos primeiros parágrafos do livro! Ele cita A Odisséia, de Homero, como uma das mais importantes obras de charlatanismo, e ainda declara que sua história a seguir é toda inventada, tudo mentira: "Mas minha mentira é muito mais honesta do que a deles, pois embora eu não diga a verdade em nada mais, pelo menos serei verdadeiro ao dizer que sou um mentiroso.".

Curiosamente, apesar de tudo, ainda havia alguns leitores do mundo romano que, quando História Verdadeira saiu, acharam que sua história era real. Assim como temos hoje o fenômeno "se recebi no WhatsApp é verdadeiro", antes havia o "se foi publicado em um livro (ou pergaminhos), é verdadeiro". E no séculos XVI e XVII, quando a Europa explorava "terras inexploradas" ao longo do globo, História Verdadeira voltou a chamar a atenção das pessoas. Por exemplo, hoje os estudiosos acreditam que As Viagens de Gulliver, escrita pelo irlandês Jonathan Swift (1667 - 1745), tenha sido bastante influenciada por por esta obra.

Obs.: sendo um bom satírico e piadista, Luciano de Samósata encerrou sua História Verdadeira com um "... O que aconteceu no outro mundo eu contarei a vocês nos livros seguintes.", livros que ele obviamente nunca escreveu nem quis escrever. ;)



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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #030 - Indiana Jones e a Última Cruzada acertou a localização do "Santo Graal" !!??


Para celebrar a marca de 30 artigos de curiosidades, volto a trazer algo sobre minha franquia de filmes favorita.

Para quem não está familiarizado com a trama do filme Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) - e que para mim é um dos melhores filmes de Aventura de todos os tempos - sua história é uma corrida em busca pelo artefato conhecido como Santo Graal, que no contexto deste filme, seria o cálice usado por Jesus Cristo na Última Ceia.

Segundo Indiana, o sagrado objeto está localizado na cidade de Petra, Jordânia, mais especificamente dentro do edifício de nome Al-Khazneh ("Câmera do Tesouro"), um dos mais imponentes daquela cidade.

E o filme termina (o que vou falar a seguir é um spoiler considerável, mas poxa, o filme tem quase 40 anos...) com cerca de uma dezena de pessoas morrendo lá dentro, e... com o Cálice também permanecendo por lá.

Este histórico prédio tem cerca de 40m de altura e acredita-se que ele foi construído no Séc I d.C. sob reinado do rei nabateu Aretas IV, com o propósito de servir como mausoléu. Entretanto, quando Al-Khazneh foi redescoberto por historiadores modernos ele já estava vazio. Em 2003 duas pequenas tumbas com esqueletos incompletos foram encontradas lá dentro e mais nada... Mas isso mudou ano passado, em Agosto de 2024.

Bem na frente da entrada de Al-Khazneh, um grupo de arqueólogos jordanianos e estadunidenses encontraram uma larga tumba, e ao escavarem, encontraram cerca de 12 esqueletos e mais alguns artefatos funerários de bronze, ferro e cerâmica.

E o mais impressionante, foi a descoberta - amplamente divulgada nos sites e revistas especializados do mundo todo - de que um destes esqueletos estava praticamente "segurando" um recipiente de cerâmica, recipiente esse muito parecido com o cálice usado no filme Indiana Jones e a Última Cruzada (vejam a foto abaixo).


Clicando aqui, você pode encontrar a matéria original do grupo que fez a descoberta que, vejam só, era acompanhada e filmada para o programa Excavation Unknown da Discovery Channel. Segundo as palavras de Josh Gates, apresentador e que acompanhava a escavação: "Quando avistamos o que parecia ser um cálice, todos nós simplesmente congelamos. Parecia quase idêntico ao Santo Graal apresentado em Indiana Jones e a Última Cruzada, situado no antigo edifício diretamente acima da tumba. Foi o momento derradeiro da vida imitando a arte."

Porém, o tal "Graal" descoberto por eles em Petra não é bem um cálice, e sim, a parte superior de uma jarra quebrada, que posteriormente foi datada como sendo do Séc I d.C., o que gerou algumas críticas de outros arqueólogos que também trabalham na famosa cidade Jordaniana. A "reclamação" é que eles também descobrem tumbas igualmente importantes, mas não ficam tentando se ligar a filmes de Hollywood para chamar atenção...

O grupo de arqueólogos que descobriu a tumba, no programa Excavation Unknown

A imponente fachada do Al-Khazneh em foto recente

O interior real do Al-Khazneh é bem diferente do que vimos em Indiana Jones e a Última Cruzada. Na verdade, ele é até pequeno, composto apenas de uma grande câmara principal quadrada e duas câmaras laterais.




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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Crítica - Conclave (2024)


Título
Conclave (idem, EUA / Reino Unido, 2024)
Diretor: Edward Berger
Atores principais: Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castellitto, Isabella Rossellini, Lucian Msamati, Carlos Diehz, Brían F. O'Byrne
Nota: 7,0

Bom filme de suspense dá suas cutucadas na Igreja de um jeito não convencional

Estreando agora nos cinemas brasileiros, e cotado como um dos grandes favoritos para vencer o Oscar de Melhor Filme 2025 (ainda que com suas 8 indicações, ele seja apenas 4º o mais indicado entre os concorrentes), Conclave é um filme de suspense baseado no livro de mesmo nome escrito em 2016 pelo inglês Robert Harris.

A história se baseia em um fictício conclave (!) realizado em um período contemporâneo, onde vemos o Colégio de Cardeais isolado e reunido para eleger um novo Papa, já que o anterior morreu subitamente de um ataque cardíaco. O reitor e cardeal britânico Thomas Lawrence (Ralph Fiennes) é eleito para organizar e liderar as novas eleições, que por sua vez, traz como principais candidatos a sucessão o liberal Aldo Bellini dos Estados Unidos (Stanley Tucci), o conservador Joshua Adeyemi da Nigéria (Lucian Msamati), o moderado Joseph Tremblay do Canadá (John Lithgow), e o conservador Goffredo Tedesco da Itália (Sergio Castellitto).

Com 62 anos e agora com 3 indicações ao Oscar (ele acaba de ser indicado a Melhor Ator por sua atuação neste filme), Ralph Fiennes sempre se mostrou um ator bom e versátil e, mesmo não estando excepcional aqui, está bem, e a meu ver das três indicações que recebeu da Academia até hoje, esta é sua melhor atuação.

Conclave conta com ótima produção e fotografia, mas o seu forte mesmo é seu roteiro, com vários mistérios paralelos. Que segredos o Papa escondia? Sua morte foi mesmo natural? Joseph Tremblay teria ou não sido recentemente expulso da Igreja? E quem será o novo Papa? Afinal o Cardeal Vincent Benitez (Carlos Diehz) é um impostor? As histórias e respostas para cada uma destas perguntas ocorrem em paralelo, em clima crescente de suspense, tudo bem encaixado e trazido de modo bem interessante para o espectador (obs.: eis um bom exemplo de Edição bem feita, ela também ganhou indicação ao Oscar).

Outro aspecto curioso de Conclave é ver que os personagens principais do filme, ou seja, os Cardeais envolvidos na eleição, não são necessariamente pessoas más ou boas, aliás, nem necessariamente tão religiosas... mais do que tudo ele são seres bem humanos e... políticos. Aqui vemos a liderança da Igreja apresentada como uma instituição muito politizada, com cada Cardeal defendendo sua proposta de mundo.

Mas se o roteiro de Conclave meio que poupa julgar cada indivíduo, o mesmo não acontece em relação a Igreja como instituição, e é aí que o filme começa a degringolar, flertar com clichês, e caminhar para uma conclusão onde tudo se encerraria de um jeito bem inverossimilmente feliz. Entretanto vemos a seguir não uma, mas duas reviravoltas que voltam a colocar o filme no caminho certo (ou pelo menos não no caminho mais previsível possível) e também concluem a história causando reflexões ao espectador.

Como resultado final, Conclave encerra de maneira satisfatória. Traz uma boa história, infelizmente se perde bem perto de seu desfecho, mas se recupera consideravelmente em suas cenas finais. Ao mesmo tempo, é um filme bem incomum ao unir política com suspense, e mesmo sem ter cenas de ação, ser bem sucedido no clima de tensão e mistério o tempo todo. Nota: 7,0.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Crítica - Ainda Estou Aqui (2024)

Título
Ainda Estou Aqui (idem, Brasil / França, 2024)
Diretor: Walter Salles
Atores principais: Fernanda Torres, Selton Mello, Guilherme Silveira, Valentina Herszage, Luiza Kosovski, Bárbara Luz, Cora Mora, Antonio Saboia, Dan Stulbach, Humberto Carrão, Pri Helena, Marjorie Estiano, Fernanda Montenegro
Nota: 8,0

 Drama histórico e comovente, reforça a importância do Cinema brasileiro

Felizmente ainda em cartaz nos cinemas nacionais, graças ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filmes de Drama vencido por Fernanda Torres, Ainda Estou Aqui é um filme baseado no livro autobiográfico de mesmo nome, escrito por Marcelo Rubens Paiva em 2015.

O livro, que aborda memórias diversas do autor, se dedica bastante a sua relação com sua mãe, Eunice Paiva, ao longo das décadas. E também, comenta bastante sobre a morte de seu pai, o ex-deputado federal Rubens Paiva, vítima da Ditadura Militar. Já o filme Ainda Estou Aqui se preocupa em mostrar quase especificamente o episódio da prisão e desparecimento de Rubens Paiva, porém sob o ponto de vista de Eunice, o que não deixa de também ser uma ótima escolha por Eunice ser desconhecida pela geração atual e merecer esta homenagem.

A história se inicia em 1971, apresenta brevemente Rubens (Selton Mello), Eunice (Fernanda Torres) e seus cinco filhos, e em pouco tempo já temos toda a tensão e repressão do regime militar afetando toda aquela família. Mesmo sem mostrar cenas de violência explícita, Ainda Estou Aqui consegue ser bastante tenso e dramático, e o roteiro consegue mostrar sem melodrama, mas de maneira comovente, Eunice sendo atacada tanto como esposa, mãe e cidadã livre.

O fato do filme mostrar basicamente cenas do cotidiano da família Paiva mostra de maneira assustadora que você não precisava estar nas ruas ou em um confronto armado para correr risco de vida. "O perigo está em todo lugar", o que é sentido por praticamente todos os personagens que aparecem em Ainda Estou Aqui, e isto é muito bem representado pelo diretor Walter Salles.

Muito bom tecnicamente, Ainda Estou Aqui é uma viagem no tempo. Desde as filmagens, que usaram câmeras de película compatíveis com as usadas naquela época (como por exemplo as Super-8), como figurinos, objetos, locações, trilha sonora... a preocupação com os detalhes foi enorme, e para as filmagens a antiga casa dos Paiva no Rio foi meio que "recriada". Ao assistir, o espectador se sente de fato como se estivesse vendo imagens dos anos 70.

O número de atores e atrizes em Ainda Estou Aqui é extensa, e para não me alongar, irei falar de apenas duas pessoas. Primeiro, claro... Fernanda Torres. Sem ter cenas de "grande drama", onde por exemplo ela pudesse gritar ou chorar, seu trabalho é comedido mas ainda assim excelente, transmitindo com perfeição as mais diversas emoções, da alegria à tristeza, do medo ao desânimo. E que bacana ver sua mãe Fernanda Montenegro no filme, mesmo que em uma breve aparição. Não só foi bem apropriado (já que as duas são parecidas fisicamente), como uma bela homenagem... além da Fernanda Mãe mandar muito bem como sempre.

Há uma frase muito famosa e verdadeira que é: "Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la.". Porém nos dias de hoje, vivemos em um mundo ainda pior, pois não somente o brasileiro não conhece mais seu passado, como temos nas redes sociais uma infinidade de informações falsas tentando REESCREVER o passado, da maneira mais mentirosa possível.

E é aí que Ainda Estou Aqui e o Cinema brasileiro acabaram fazendo algo essencial nos dias de hoje: nos relembrar de nossa história, nos ensinar e divulgar conteúdo honesto de modo claro e impactante. Com (até agora) cerca de 3,5 milhões de ingressos vendidos no Brasil, e sendo uma obra elogiadíssima em todo mundo, Ainda Estou Aqui é um exemplo do potencial do Cinema em documentar, em fazer sentir e refletir. Que este Ainda Estou Aqui continue tendo sucesso aqui e fora do país, e sirva de exemplo para mostrar que o Brasil sabe sim fazer filmes além dos de comediantes e cantores populares de baixa qualidade. Nota: 8,0

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #029 - Sabia que o famoso letreiro de Hollywood não tinha relação com o Cinema quando foi criado?


Reparem a foto acima. Não tem algo errado nela? Pois saibam que ela é uma foto REAL, apesar do "LAND" (aparentemente) extra! O mundialmente famoso letreiro de Hollywood, que fica no Monte Lee, na cidade de Santa Monica (pertencente ao condado de Los Angeles) originalmente foi criado como Hollywoodland, e a seguir contarei sua história.

Este famoso "anúncio" foi erguido em 1923 nas montanhas do local conhecido como Hollywood Hills com o objetivo de promover um novo condomínio residencial que seria construído lá perto, na própria região de Hollywood. O letreiro original "HOLLYWOODLAND" era construído com letras de madeira com cerca de 15m de altura, e contavam com cerca de 4 mil lâmpadas no total, que eram acesas à noite.

A intenção dos donos do empreendimento imobiliário era que o letreiro fosse visto de toda a cidade, ou seja, que todos os trabalhadores da crescente indústria do cinema americano, vissem sua imponente propaganda mesmo do trabalho. E era para ser uma obra temporária, durando apenas 18 meses. Porém, o letreiro ficou tão famoso e se tornou tão querido pelo público que seus donos optaram por não removê-la. Anos depois a prefeitura assumiu o letreiro como "patrimônio" da cidade, devido a relevância que ele ganhou perante os habitantes e também para os turistas.

Foto do letreiro com suas luzes acesas no dia de sua inauguração, em 1923

Na década de 40, o "monumento" já estava bastante deteriorado, inclusive com o "H" inicial já faltando. Em uma primeira grande restauração feita, apenas em 1949, foi quando se optou por remover em definitivo o final "LAND", deixando apenas "HOLLYWOOD" à pedido do Departamento de Parques da Cidade de Los Angeles. A explicação é que deste modo, o letreiro representaria toda Hollywood, e não apenas a parte do empreendimento imobiliário original. 

A falta de manutenção e o tempo novamente fizeram sua parte em castigar esta obra mundialmente famosa, e na década de 70 seria o segundo "O" que acabaria caindo. Foi então que a Câmara de Comércio de Hollywood fez campanha para uma reconstrução completa da placa, o que custaria US$ 250 mil. Personalidades famosas bancaram os custos, cada uma sendo o doador de uma letra. Por exemplo Hugh Hefner, fundador da revista Playboy, pagou pelo "Y"; e o rockeiro Alice Cooper pagou pelo segundo "O".

O "novo" letreiro de Hollywood, que é o que persiste até hoje, é levemente menor que o original. As novas letras possuem cerca de 13,7m de altura e variam entre 9,4m e 12m de largura. Porém agora são feitas com vigas de aço e chapas de ferro, sendo fixadas ao solo com concreto armado.

Protesto feito em Janeiro de 1976, a favor da descriminalização da maconha

Antigamente se podia chegar livremente até ao letreiro, porém isto já não é mais possível há algumas décadas, e o local é cercado por arame farpado e vigiado por câmeras. Ao longo da história ele também sofreu algumas alterações inesperadas, geralmente devido manifestações (por isso, aliás, que seu acesso hoje é proibido). Um exemplo é a foto acima.

A mais recente "modificação" aconteceu durante a Cerimônia de Encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, onde ao mostrar imagens da sede dos futuros jogos - Los Angeles, em 2028 - o ator estadunidense Tom Cruise pousa ao lado de um letreiro de Hollywood modificado com os Anéis Olímpicos. A alteração, entretanto, não foi real, e sim, apenas computação gráfica.

Será que em 2028 isso acontecerá na vida real?



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sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Crítica - Creature Commandos (Primeira Temporada)


As atenções do mundo até podem estar na estréia do novo Superman de James Gunn, que está previsto para Julho deste ano. Porém este filme, alardeado como o primeiro passo do novo Universo DC nos cinemas não é tão primeiro passo assim...

... afinal, desde que virou a grande mente por trás dos projetos da DC, James Gunn lançou antes esta animação Creature Commandos, cujo primeiro episódio da primeira temporada estreou em 5 de Dezembro de 2024, e o sétimo e último episódio saiu na semana passada, dia 9 de Janeiro.

A série, que está sendo exibida na Max/HBO, de certa forma dá continuidade à primeira temporada de Pacificador (2022), pois aqui vemos uma Amanda Waller (Viola Davis nas vozes) proibida de atuar com qualquer equipe de agentes humanos... é então que ela dá seu "jeitinho" e resolve criar sua equipe de "monstros", de maneira similar ao que ela tinha com o Esquadrão Suicida, para realizar missões secretas, formando assim o seu "Comando das Criaturas".

Vemos aqui mais uma vez James Gunn fazendo o que ele sempre faz, e o que ele faz bem: contar a história de uma equipe de "perdedores e rejeitados". Porém desta vez, ao contrário do que vimos ele fazer em Guardiões da GaláxiaEsquadrão SuicidaPacificador, temos bem menos comédia. Sim, até há alguma piadinha ou outra - e aliás há bastante ironia e sarcasmo - porém o que mais vemos em Creature Commandos é a violência, em um tom muito parecido com a animação de Invencível, da Prime Video.

As animações de Creature Commandos são mais "adultas", com traços menos arredondados, desenhos menos coloridos e movimentos menos fluidos... novamente, em estilo que lembra Invencível da Prime Video. E a trama, com alguma ou outra "forçada de barra", em geral é bem feita, dinâmica, com várias reviravoltas e, assim como no Esquadrão Suicida (2021) de James Gunn, qualquer personagem pode morrer há qualquer momento, e portanto, a dúvida se cada um dos "heróis" vai ou não sobreviver ao final de cada episódio passa a ser mais real e interessante.

Creature Commandos encerra sua primeira temporada fechando um arco de histórias completo, mas deixa claro que pretende fazer uma segunda temporada, o que alías gostaria muito de ver, já que ao longo de seus episódios acabou desenvolvendo um personagem que achei bastante interessante (não vou contar para não dar spoiler) e quero ver seus próximos passos.

A conclusão que temos é que Creature Commandos - ainda mais para quem gosta do trabalho de James Gunn - é muito bom, ainda que com bem menos humor. Mas mesmo tempo sem inovar, já que mais uma vez o diretor/produtor/roteirista trabalhou com "mix" que conhece muito bem: violência + loucura + muitos personagens secundários.

O que nos leva a grande questão. Tudo isto não tem NADA a ver com o personagem do Superman. Então como será que ele se sairá com este futuro filme? Como se pode ver pelo primeiro Teaser divulgado (ver vídeo abaixo), o tom do filme (por enquanto) parece correto: sério e heróico. Porém o número de personagens que aparecem já parece muito além do adequado... vamos aguardar.

Ah sim. A nota para a primeira temporada de Creature Commandos? 7,5


PS: como curiosidade, a estrutura narrativa de Creature Commandos se parece um bocado com a minissérie em quadrinhos Sete Soldados Da Vitória (2006-06), de Grant Morrison, onde cada capítulo conta a origem de um personagem enquanto uma história maior é contada em paralelo. E a personagem A Noiva, que vemos aqui nesta animação, surgiu no universo DC justamente nesta obra! Já o monstro Frankenstein teve algumas versões na DC (a primeira delas apareceu em 1948); porém a sua versão atual dentro do universo DC atual também apareceu pela primeira vez em Sete Soldados Da Vitória. Ah, e nenhum dos outros personagens de Creature Commandos tem qualquer relação com Sete Soldados Da Vitória rs.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #028 - Se você gosta de Cinema, PRECISA conhecer You're All The World To Me, de Fred Astaire


Quando se pensa nos anos dourados de Hollywood, filmes musicais faziam bastante sucesso. E provavelmente o maior nome do gênero foi o ator, dançarino, cantor e coreógrafo Fred Astaire (1899 - 1987), ainda que ironicamente a sequência musical que tenha ficado como a mais famosa da história -Cantando na Chuva - não tenha sido dele, e sim, de Gene Kelly (1912-1996).

Há literalmente dezenas de apresentações de dança absolutamente incríveis e memoráveis de Astaire ao longo de sua carreira. Afinal, só nos cinemas foram mais de 40 filmes, além de muitas e muitas apresentações especiais na TV.

E uma de suas performances mais surpreendentes é a da canção You're All the World to Me, presente no filme Núpcias Reais (1951). Em uma época onde ainda não se existiam efeitos especiais por computador, Fred chocou sua audiência ao dançar de maneira natural e crível pelas paredes e teto de um quarto. Toda esta sequência do filme vocês podem (e devem) assistir no vídeo abaixo:

No trecho do filme em questão, o personagem de Fred Astaire, apaixonado por uma jovem e bela mulher que assim como ele, ama dançar, não se contém de emoção e sai dançando pela sala. A idéia e concepção dessa cena, entretanto, veio à mente de Astaire muitos anos antes de Núpcias Reais ser filmado. Demorou um bocado para que esta sua idéia de desafiar a gravidade fosse colocada em prática.

Mas como, afinal de contas, Fred Astaire fez isso? Com efeitos práticos, oras! Toda a sala foi construída dentro de um gigantesco barril de metal, que era girado. Porém a câmera ficava sempre fixa no que seria o chão do cômodo. Tudo girava, inclusive a câmera, enquanto Fred, de modo muito hábil (e com 51 anos de idade!), não. No vídeo abaixo você poderá ver de maneira muito clara o segredo revelado (ATENÇÃO: antes assistir o segundo vídeo, recomendo fortemente você NÃO ter pulado o primeiro vídeo, acima deste!!).

Este "truque" de rotacionar a sala foi usado posteriormente em vários outros filmes, como por exemplo em 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), A Caçada ao Outubro Vermelho (1990), A Origem (2010); e também já foi replicado na música, como por exemplo no clipe de Lionel Richie, Dancing On The Ceiling (1986), e bem mais recentemente em 2019 por Billie Eilish em apresentação para o Saturday Night Live (ver vídeo abaixo). Nenhum deles entretanto, tem a primazia e perfeição de Fred Astaire. ;)




PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

domingo, 12 de janeiro de 2025

ATENÇÃO! Ajuda para começar o Ano Novo! Agora toda Segunda-feira é dia de Curiosidade inédita aqui no Cinema Vírgula!!


Segunda-feira é o dia semana mais odiado por boa parte dos humanos e pelo gato Garfield. Voltar ao batente e recomeçar mais uma semana não é fácil... Ainda mais neste 2025, que já começou difícil e promete não ser nada fácil...

Você está preparado para suportar todas as Segundas-feiras de 2025? Não? Pois seus problemas terminaram!

Para alegrar as Segundas-feiras de todos os leitores do Cinema Vírgula, e ajudá-los a suportar as primeiras semanas de 2025 com menos sofrimento, a partir de hoje - e no mínimo até a chegada do Carnaval - toda Segunda-feira teremos uma curiosidade inédita publicada aqui no blog!!

Lembrando que as "Curiosidades" são artigos curtos sobre algo bem curioso da Cultura Pop, que estão numerados e atualmente já estão no número 27. Sempre que você queira ver todos eles, basta clicar em seu marcador, ou clicar aqui.

É isso. Até a próxima Segunda-feira dia 13, vulgo amanhã! ;)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Crítica - Nosferatu (2024)

Título
Nosferatu (idem, EUA / Hungria / Reino Unido, 2024)
Diretor: Robert Eggers
Atores principais: Bill Skarsgård, Nicholas Hoult, Lily-Rose Depp, Aaron Taylor-Johnson, Willem Dafoe, Emma Corrin, Ralph Ineson, Simon McBurney 
Nota: 6,5

Refilmagem melhora pontos da obra original, mas erra quando a expande

Nosferatu original é um clássico filme expressionista alemão, lançado em 1922 pelo diretor F.W. Murnau, e que foi base para os filmes de Drácula no mundo cinematográfico. Já este Nosferatu, que estreou nos cinemas brasileiros neste dia 02 de Janeiro, é uma refilmagem (ou seria uma reimaginação?) deste mesmo filme, agora pelo diretor de terror estadunidense Robert Eggers. É a segunda vez que ele é "refeito", já que em 1979 o também diretor alemão Werner Herzog lançou sua versão de Nosferatu.

A história, que se passa em 1838 na fictícia cidade de Wisborg na Alemanha, nos mostra o casal Thomas (Nicholas Hoult) e Ellen Hutter (Lily-Rose Depp). Com a promessa de ser contratado em definitivo por um estranho agente imobiliário de nome Knock (Simon McBurney), Thomas viaja para a Transilvânia para fechar pessoalmente o contrato da venda de uma propriedade com um recluso e temido Conde Orlok (Bill Skarsgård). Enquanto isto acontece, sua esposa agoniza em casa tendo convulsões e delírios.

O filme de 2024 pode ser separado em duas partes, sendo a fuga de Thomas dos domínios do castelo do Conde Orlok / Nosferatu este grande divisor.

Até a fuga do castelo, o filme se comporta como basicamente como uma "cópia melhorada" do filme de 1922, com cenas e roteiro muito parecidos, porém trazendo melhores explicações ao espectador, amarrando algumas pontas soltas, e principalmente, através de cenas bem curtas, explicando melhor as motivações dos personagens.

A partir da fuga, entretanto, este novo Nosferatu muda um bocado, ou talvez dizendo melhor, expande. É que então os personagens Prof. Von Franz (Willem Dafoe) e Ellen Hutter passam a ganhar grande destaque, atenção essa que não existe no filme original. Aliás, o personagem de Dafoe é um personagem "novo", baseado no personagem Professor Bulwer de 1922, que lá tem pouca importância.

Estas adições fazem que Nosferatu discuta dois temas inéditos para a obra: ciência versus ocultismo, e a opressão sofrida pelas mulheres na sociedade patriarcal. São dois assuntos relevantes para os dias de hoje, e fortaleceriam mais o filme se não tivessem sido colocados com falhas: ao tentar achar explicações para tudo, o filme perde um bocado de seu tom de horror e passa mais a ser um filme de aventura / romance bizarro. Já em termos do que deveria ser uma defesa da mulher, Ellen mostra sua grande força no desfecho tanto deste filme quanto no original, porém aqui - ironicamente - um filme que se auto explica tanto, afirma que Ellen também tem um pouco de culpa pelo que está acontecendo - devido a um "momento de pecado" - mas fica nisso, sem dar mais detalhes. A situação não somente é incondizente com o restante do filme, como também apenas serviu para enfraquecer a personagem.

Outro ponto que me desagradou neste Nosferatu foi a representação visual do Conde Orlok. Se no filme de 1922 isso fui muito marcante, com a imagem do ator Max Schreck fantasiado de Nosferatu entrando para a história do Cinema, o visual deste Nosferatu não me convenceu. E eu não tenho nenhum problema com ele ser visualmente diferente do original (inclusive, o Conde Orlok de 2024 é muito mais coerente em termos históricos com o que se espera de alguém que nascesse na Transilvânia na Idade Média). Meu problema é que ele em nenhum momento lembra um vampiro, em nenhum momento vemos seus dentes, em nenhum momento ele é visualmente assustador. A única coisa assustadora nele - e aí é o contrário, merece bastante elogio - é sua voz: imponente, e levemente inumana.

Depois de vários filmes de terror "incomuns", que acabaram trazendo (boa) fama para Robert Eggers, este seu Nosferatu é seu filme menos assustador, mais padrão e mais comercial. Para quem nunca viu o Nosferatu original, pela novidade que seria o filme, eu daria nota 7,0; para quem já viu, daria nota 6,0. Portanto, como nota média final, este Nosferatu 2024 leva Nota 6.5.

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