Diretor: David O. Russell
Atores principais: Christian Bale, Bradley Cooper, Amy Adams, Jeremy Renner, Jennifer Lawrence
Apesar do bom filme, as obras de David O. Russell continuam
superestimadas
O Lado Bom da Vida conseguiu em 2013 indicações para as
quatro categorias de atuação no Oscar, fato que não acontecia desde Reds, em 1981.
E em 2014 o diretor David O. Russell conseguiu fazer a dobradinha da façanha, agora
com Trapaça. Não só levou as quatro indicações para atores, como levou mais
seis, incluindo melhor filme, totalizando dez indicações.
Em 2013, apenas a indicação de Jennifer Lawrence foi digna
da indicação (e de fato ela venceu o prêmio)... o resto foi puro exagero. Desta
vez, 2014, as atuações são bem mais marcantes e justas. Porém o exagero
permanece... o filme não é tão bom para levar 10 indicações, principalmente a
de Montagem/Edição, a qual achei mais absurda.
A história de Trapaça conta a vida de dois vigaristas, Irving
Rosenfeld (Christian Bale) e Sydney Prosser (Amy Adams), que após alguns anos de
sucesso são pegos pelo agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper). Para não
serem presos, resolvem ajudar o FBI a flagrar outros vigaristas.
Porém, de vigaristas, rapidamente o trio está envolvido com
políticos e mafiosos, e não estavam preparados para algo tão grande. E este é o
conflito que os três precisarão resolver. O fato de Irving possuir uma esposa
incontrolável, Rosalyn (Jennifer Lawrence), apenas torna a vida deles mais
difícil. Trapaça é levemente baseado na história real da operação "Abscam" de 1978 e seu roteiro é inteligente, entrelaçando a história de diversos personagens.
Assim como O Lobo de Wall Street, Trapaça é um
filme de trambiqueiros, e portanto sua comparação é inevitável. Eles são bem
diferentes: em Trapaça os personagens possuem culpa e remorso, não são crápulas
em 100% do tempo. E principalmente, ao contrário do tom constante de O Lobo de
Wall Street, aqui a trama cresce com o passar do tempo: quanto mais a operação
do FBI cresce, mais os personagens ficam tensos e descontrolados.
Estas “vantagens” de Trapaça não o fazem dele um filme
melhor. Mesmo tendo menor duração, Trapaça é um pouco cansativo, ao contrário
do longo O Lobo de Wall Street, cujas horas passam voando. Para mim, isto
evidencia quem é melhor diretor.
Christian Bale, que engordou bastante para o filme, está
muito bem, valorizando as cenas dramáticas e as cômicas. A bela Amy Adams mais
uma vez tem uma atuação competentíssima, alternando (e convencendo) como mulher
forte e frágil. Jennifer Lawrence convence como uma desmiolada, mais uma vez
mostrando sua versatilidade. Só Bradley Cooper não me convenceu... como sempre,
ele não compromete e é só.
Se Trapaça tem um bom ritmo crescente que leva o filme de
maneira correta até seu clímax, as escolhas para se contar a história são “estranhas”.
Alternando narrações em primeira pessoa com longos trechos sem narrativa, usando
flashbacks que não alteram em nada a trama, o filme não me agradou na montagem/edição,
chegando a cometer um erro grotesco na cena em que Irving vai à casa do
prefeito Carmine Polito (Jeremy Renner).
É como se estes recursos de narrativa estivessem lá apenas
para tornar o filme “diferente”, não linear. Mas não adiantou muito, o filme
caminha muito mais pelo lado do tradicional. De qualquer forma, também
encontrei coisas “diferentes” que me agradaram: as cenas com a câmera “andando”
sutilmente em primeira pessoa, que nos fazem sentir a mesma sensação de
ansiedade dos personagens, quando eles entram em uma sala, por exemplo.
Trapaça é um bom filme, muito mais real que O Lobo de Wall
Street, porém bem menos surpreendente que ele, levando portanto uma nota menor.
Nota: 7,0.