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segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Crítica - A Noite das Bruxas (2023)

TítuloA Noite das Bruxas ("A Haunting in Venice", EUA / Itália / Reino Unido, 2023)
Diretor: Kenneth Branagh
Atores principaisKenneth Branagh, Tina Fey, Michelle Yeoh, Kyle Allen, Camille Cottin, Jamie Dornan, Jude Hill, Ali Khan, Emma Laird, Kelly Reilly, Riccardo Scamarcio
Nota: 5,0

Alguém precisa resgatar Agatha Christie...

Devido a uma vasta e interessante obra literária, sempre temos pessoas adaptando os trabalhos de Agatha Christie, seja para a TV, ou para os Cinemas. E a pessoa que resolveu retomar as histórias da "Rainha do Crime" em Hollywood mais recentemente foi o britânico Kenneth Branagh. Como produtor, diretor, roteirista e ator principal (fazendo o papel do detetive Hercule Poirot), Kenneth lançou em 2017 seu Assassinato no Expresso do Oriente, e ano passado, 2022, seu Morte no Nilo.

Como disse em minha crítica, Branagh foi bem conservador em Assassinato no Expresso do Oriente, sendo bem fiel ao livro, e ao mesmo tempo, parecendo mais estar adaptando o livro original para teatro do que cinema. Já para Morte no Nilo, Kenneth arriscou mais, enfim mudando mais coisas... mas para pior. Se agora ele corrigiu seus erros fazendo o novo trabalho ser "mais filme" e "mais aventuresco", errou absurdamente em centralizar estas mudanças em seu personagem, Poirot. Seu roteiro deturpa duplamente a mitologia do famoso detetive. Não vou citar aqui o que foi inventado, para não dar spoilers, mas considerei as escolhas feitas abomináveis. Em suma, Morte no Nilo foi pior que seu Assassinato no Expresso do Oriente.

E o que esperar então deste A Noite das Bruxas, que já pelo título original e trailer, sabemos antecipadamente ter ainda mais alterações em relação ao material original? Sim, pois embora na tradução para o português o filme e livro ficaram com o mesmo nome, em inglês o romance em que esta produção se baseia se chama Hallowe'en Party ("Festa da Noite das Bruxas"), mas o filme se chama A Haunting in Venice (algo como "Uma assombração em Veneza").

Se no romance escrito por Agatha Christie a história se passa em uma vila na Inglaterra, e a primeira morte é de uma criança, neste A Noite das Bruxas ele se passa em Veneza, e a primeira morte é de uma adulta. Na verdade, temos muitas alterações entre a trama do livro e filme. Muitas mesmo. Alguns personagens e algumas de suas motivações se preservaram, mas é só. E várias das alterações foram para pior.

E as alterações ruins não ficaram apenas no roteiro. Kenneth Branagh surpreendeu ao incorporar para dentro do filme muitos elementos dos gêneros de suspense e terror, indo portanto bem além do tradicional gênero policial. O problema é que ele o fez de maneira bem simplória, para não dizer outra coisa... Abusando de barulhos altos e repentinos para assustar o espectador, câmeras filmando com ângulos tortos o tempo todo, e com todo o filme mais escuro que deveria, ainda assim são poucos os momentos em que o diretor consegue, de fato, trazer alguma tensão ou medo; na maior parte o que sentimos é a frustração de presenciar alguém simular um filme de terror e não conseguir.

Ainda que não seja muito ruim, A Noite das Bruxas consegue ser pior que Morte no Nilo e o pior dos três filmes mais recentes de Agatha Christie nos cinemas. Alguém precisa tirar as adaptações das obras dela das mãos do fraco Kenneth Branagh antes que seja tarde demais. Nota: 5,0

domingo, 17 de setembro de 2023

Dupla Crítica Comédias - Loucas em Apuros (2023) e Asteroid City (2023)

Duas comédias que estrearam já há algum tempo no Brasil, porém que ainda podem ser encontradas em algumas salas de cinemas deste gigantesco Brasil. Vamos ver o que eu achei de cada uma delas Confiram!


Loucas em Apuros (2023)
Diretora: Adele Lim
Atores principais: Ashley Park, Sherry Cola, Stephanie Hsu, Sabrina Wu, Debbie Fan, Kenneth Liu, Annie Mumolo, David Denman

Comédia formada majoritariamente por mulheres de descendência asiática, tanto no elenco, como na direção e roteiro, Loucas em Apuros conta a história de duas amigas, que se conhecem desde a infância: Audrey (Ashley Park) e Lolo (Sherry Cola). Ambas moraram toda a vida nos EUA, porém enquanto Lolo tem pais chineses que se mudaram para a América, Audrey foi adotada quando bebê por um casal de estadunidenses brancos. Audrey acaba indo viajar para a China a trabalho, e leva Lolo para ser sua intérprete. É apenas o começo de várias confusões que levarão também Audrey a uma busca pelos seus pais biológicos.

A premissa de Loucas em Apuros é interessante, ver o choque de cultura entre chineses e ocidentais, e mais ainda, o paradoxo que é Audrey, chinesa de sangue, não saber absolutamente nada de sua cultura. Em termos de humor, o filme tem seus bons momentos, baseados principalmente no nonsense. Porém boa parte das piadas em Loucas em Apuros são de conotação sexual. Algumas são boas, outras ruins, de qualquer forma, achei cansativo e decepcionante pela falta de criatividade / variação.

Loucas em Apuros me lembrou, no final das contas, daquelas comédias pastelão dos anos 80 repetidas a exaustão na Sessão da Tarde da TV Globo. Dá pra passar o tempo, dar algumas risadas, mas fica nisso... nada de novo. Particularmente, o que mais me divertiu em Loucas em Apuros foi o quanto a atriz Sherry Cola mais me parecia uma versão oriental da comediante brasileira Ane Freitas. Nota: 6,0.



Asteroid City 
(2023)
Diretor: Wes Anderson
Atores principais: Jason Schwartzman, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Jeffrey Wright, Tilda Swinton, Bryan Cranston, Edward Norton, Adrien Brody, Liev Schreiber, Hope Davis, Stephen Park, Rupert Friend, Maya Hawke, Steve Carell, Matt Dillon, Hong Chau, Willem Dafoe, Margot Robbie, Tony Revolori, Jake Ryan

Wes Anderson é um dos meu diretores favoritos, e também um dos que mais faz filmes "autorais", repleto de características marcantes, como por exemplo, filmar centralizado e com câmera fixa, como se tudo fosse um "quadro"; trazer dezenas de atores famosos para fazer personagens bizarros / perdedores, mas que ao mesmo tempo sejam inocentes e bons, trazendo humor e sentimento. E Asteroid City tem tudo isso, claro.

O filme mostra os estranhos eventos acontecidos na "convenção anual Junior Stargazer de 1955", uma convenção de crianças amantes da ciência, que foi sediada em "Asteroid City", uma cidadezinha no meio do deserto, que foi construída e vive em torno de um pequeno asteróide que caiu por lá décadas atrás.

Asteroid City é um bom filme, muito divertido como sempre de Wes Anderson... porém, infelizmente não se preocupa tanto em contar uma história. Aqui temos não apenas a trama acontecendo, mas ela é apresentada como se fosse um programa de TV sendo filmado, com interrupções mostrando os dilemas do "diretor" (interpretado por Adrien Brody), do "roterista" (interpretado por Edward Norton) e de como o elenco foi escalado... Então o espectador vê um filme de Wes Anderson e ao mesmo tempo vê suas explicações de como sua cabeça funciona... totalmente desnecessário.

Gostei de Asteroid City, apesar dos seus problemas ele ainda é bem acima da média. Ainda assim, é provavelmente o mais fraco, menos engraçado, e mais presunçoso dos filmes de Wes Anderson. Há ainda o bônus dele ter trazido novos atores famosos, como por exemplo Tom Hanks e Margot Robbie, pro seu grupo de atores famosos colaboradores "de sempre"; misturar tantos atores e atrizes tão distintos em um mesmo filme é sempre interessante. Nota: 7,0.

PS: daqui 10 dias, dia 27 de Setembro, teremos novo filme de Wes Anderson estreando na Netflix, a primeira produção exclusiva do diretor para a empresa do logotipo vermelho. Trata-se de A Maravilhosa História de Henry Sugar, que terá apenas 37 minutos, e muito provavelmente por isso nunca foi cogitado ir para os cinemas. O filme conta com Benedict Cumberbatch e Ralph Fiennes como atores principais. Cliquem aqui para ver o trailer!

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Dupla Crítica - The Flash (2023) e Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan (2023)


Eu corri pra postar aqui no blog todos os grandes lançamentos de Julho o quanto antes. E agora que tudo foi publicado, deu pra respirar e com calma escrever sobre alguns filmes que saíram nos cinemas brasileiros há alguns meses atrás. Antes tarde do que nunca! Vamos a eles?



The Flash (2023)
Diretor: Andy Muschietti
Atores principais: Ezra Miller, Ben Affleck, Michael Keaton, Sasha Calle, Kiersey Clemons, Ron Livingston, Maribel Verdú

A DC deveria ter acabado há muito tempo com absolutamente tudo que tivesse qualquer relação com o universo compartilhado DC idealizado por Zack Snyder. Como isso não aconteceu, veio este The Flash. A história, baseada na importante saga Flashpoint dos quadrinhos, mostra Flash (Ezra Miller) viajando no tempo com seus poderes e alterando o passado, salvando sua mãe da morte prematura, encontrando com seu eu mais jovem, mas também (e é claro), alterando com graves consequências toda a linha temporal.

Vejam: não é fácil tolerar uma pessoa que é irritante e sem carisma tanto na vida real quanto nas telas. Portanto, não é uma idéia "jenial" torná-la protagonista de um filme e ainda "duplicá-la" em quase todas as cenas? Para piorar, o preguiçoso roteiro de The Flash tem absolutamente todos os clichês possíveis e imagináveis sobre viagens no tempo. Por outro lado, apesar de ser extraordinariamente um "mais do mesmo", a trama do filme não é ruim; diria que em geral ela diverte, em um nível comparável a um filme bom da "Sessão da Tarde".

O ponto alto de The Flash é a volta do Batman versão filme de 1989, interpretado por Michael Keaton. Suas cenas iniciais são muito boas, porém com o passar do tempo o encanto vai passando, infelizmente. Se não tem uma história boa, pelo menos este The Flash é repleto de fan services, e ele acaba sendo uma enorme (e grata) homenagem a todo universo cinematográfico da DC.

Em resumo, The Flash teve um enorme investimento, mas é um filme apenas mediano. Menos mal que a experiência de assisti-lo não é ruim (pelo contrário, é até agradável), e tem tantas homenagens a DC, que deve agradar (apenas) os fãs mais extremos da editora. Nota: 5,0.

PS: o filme conta com uma cena pós-créditos, não perca.



Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan 
(2023)
Diretor: Martin Bourboulon
Atores principais: François Civil, Vincent Cassel, Romain Duris, Pio Marmaï, Eva Green, Lyna Khoudri, Louis Garrel, Vicky Krieps, Jacob Fortune-Lloyd, Éric Ruf

Produção francesa do clássico literário de Alexandre Dumas, Os Três Mosqueteiros (1844), o filme foi bem recebido pelo público e crítica e conseguiu chegar até aos cinemas brasileiros. Um ponto curioso é que ele é a parte um de dois; sua parte final, Les Trois Mousquetaires: Milady, também será lançado este ano (em Dezembro na Europa), mas não sabemos ainda quando chegará por aqui.

Já tivemos vários filmes dos Três Mosqueteiros, e talvez o maior diferencial deste Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan é ser o mais fiel à obra original dos que eu assisti até agora. Talvez isto se deva por não ter sido feito em Hollywood rs... aliás, apesar disto, a produção conta com alguns atores / atrizes que já passaram por várias produções estadunidenses. Portanto talvez você reconheça Vincent Cassel, Eva Green, Vicky Krieps, Jacob Fortune-Lloyd ou Louis Garrel de outros lugares.

Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan é um filme com ritmo bem acelerado, bem humorado, e com bastante ação. Nenhuma cena de ação chega a impressionar, é verdade... mas são cenas críveis e bem feitas. Aliás, tudo no filme é tecnicamente muito bem feito. A fotografia é muito boa, assim como o Design de Produção. Ah, fica um alerta: conhecer um pouco do contexto histórico do filme ajuda um pouco a entender o que está acontecendo. Este Os Três Mosqueteiros até começa com um texto inicial explicando o contexto, mas é só isso... ele já parte pra ação e não está nem aí para explicações.

Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan está longe de ser memorável, mas assisti-lo foi bem agradável, e tem sido - até agora - uma boa maneira de conhecer o livro de Dumas. Espero que sua bilheteria no Brasil tenha sido suficiente para que Les Trois Mousquetaires: Milady chegue aqui também. Nota: 6,5.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Crítica - Barbie (2023)

TítuloBarbie (idem, EUA / Reino Unido, 2023)
Diretora: Greta Gerwig
Atores principaisMargot Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera, Kate McKinnon, Issa Rae, Simu Liu, Rhea Perlman, Will Ferrell, Michael Cera, Ariana Greenblatt, Rhea Perlman, Helen Mirren
Nota: 6,5

Menos transgressor do que poderia, Barbie é divertido e passa seu recado

A Mattel resolveu apostar alto, e Barbie é provavelmente apenas o primeiro de uma longa série de filmes baseados em seus brinquedos. Com uma enorme campanha de marketing, que o mundo não via há muitos anos, a aposta deu certo e Barbie é o filme do momento, com boas chances de atingir a marca de US$ 1 bilhão em bilheteria antes de 3 semanas de exibição.

Na história, Barbie (Margot Robbie) - também identificada como a "Barbie Estereotipada" - vive feliz em seu mundo perfeito repleto de outras Barbies, a Barbielândia, até que começa a passar por rápidas transformações: pensamentos negativos, sinais de bafo, celulite, calcanhares encostando no chão... Em choque com os acontecimentos, ela descobre que isto ocorre pois sua dona do mundo real está com dificuldades, e então ela e Ken (Ryan Gosling) partem para nosso mundo em busca de ajudar a menina e recuperar toda a normalidade.

Pelo trailer, e toda divulgação de Barbie, esperava-se que o filme trouxesse bastante comédia e também críticas ao mundo patriarcal em que vivemos. E de fato é isso que ele entrega, mas não da maneira que eu esperava... mas vamos começar pelas partes de Barbie que não são sobre estes dois temas.

Há muito em Barbie sobre seu universo, literalmente dezenas de referências sobre sua franquia, e em termos de cenários e design de produção, temos um mundo multicolorido, vibrante, como se tivéssemos mesmo um mundo de bonecas em tamanho real. E já aproveito para a ressalva: o público ideal para este Barbie são os adultos que brincaram e/ou acompanharam a boneca durante sua infância. Dito isto, o filme é divertido e interessante para adolescentes e adultos de todos os sexos; mas não é adequado para crianças.

Gostei de Barbie, achei um bom filme, mas esperava mais. Em termos de humor, há várias boas piadas, porém há pouca variação e elas são bastante reutilizadas ao longo da projeção. Já quanto ao seu debate em termos de feminismo, patriarcado... uma surpresa positiva foi ver que o filme não teve medo de discutir as polêmicas em torno da boneca-título, afinal, se por um lado ela traz um certo empoderamento, ao mesmo tempo ela também representa objetificação, um ideal de beleza inalcançável, dentre outras coisas ruins.

O bom é que Barbie passa seu recado, dá algumas fortes cutucadas na nossa hipócrita sociedade patriarcal, mas poderia muito mais. Tanto que o ponto mais forte e emocionante do filme não é proporcionado por Barbie, e sim pela humana Gloria (America Ferrera), em um discurso excelente.

E é uma pena, pois graças à alguns lampejos brilhantes do roteiro, dá para sentir que a diretora e os roteiristas têm bastante clareza sobre o mundo que vivemos. Porém na hora de aumentar as críticas pra valer, o filme se contém. Seria por imposição do estúdio? Ou porque o filme também será assistido por pessoas bem jovens? Ou por imposição da Mattel? Provavelmente uma soma de tudo isso. Afinal, não se enganem: estamos diante de um filme bastante comercial, bancado pela própria Mattel, e não a toa eles são apresentados na história como "os mocinhos". Então, por exemplo, já desistam de encontrar o consumismo entre as críticas do filme!

E antes do meu parágrafo de conclusão / desfecho, mais alguns elogios: Margot Robbie está muuito bem, só a atuação dela já vale o ingresso. A trilha sonora é muito boa também, inclusive o filme tem partes cantadas que ajudam a contar a história do filme. Felizmente Barbie não é um musical; aliás a única cena que temos de "musical", com os atores dançando, é péssima e ultra dispensável.

Ainda que abaixo das minhas expectativas, tanto em termos de comédia quanto em termos de crítica social, Barbie cumpre seu papel e é bom entretenimento para mulheres e homens de (quase) todas as idades. E pela época que vivemos, é um filme que vale sim a pena ser assistido para estimular o debate sobre tudo que envolve a mulher em nossa sociedade. A própria existência do filme e seu sucesso de bilheteria não deixam de ser conquistas, que merecem ser comemoradas e prestigiadas. Nota: 6,5

domingo, 30 de julho de 2023

Crítica - Oppenheimer (2023)

TítuloOppenheimer (idem, EUA / Reino Unido, 2023)
Diretor: Christopher Nolan
Atores principaisCillian Murphy, Emily Blunt, Matt Damon, Robert Downey Jr., Florence Pugh, Josh Hartnett, Casey Affleck, Rami Malek, Kenneth Branagh, Benny Safdie, Dane DeHaan, Jason Clarke, David Krumholtz, Tom Conti, Alden Ehrenreich
Nota: 7,0

Nolan reaprende a contar histórias, mas seu ego ainda atrapalha

Acostumado a escrever os roteiros para seus filmes, e sendo todos de ficção, foi uma considerável surpresa ver que o novo trabalho de Christopher Nolan, Oppenheimer, se trata da adaptação de um livro (e aliás não um livro qualquer... uma biografia!). Trata-se American Prometheus, de 2005, escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwint e vencedor de Prêmio Pulitzer.

A história conta a vida do físico teórico estadunidense J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), creditado mundialmente como o "pai da bomba atômica". Em termos de roteiro, ele não é contado de maneira totalmente linear, e é apresentado em 3 frentes: temos uma audiência interna na qual Oppenheimer é interrogado, outra audiência posterior e aberta ao Senado (sem a presença do cientista), e finalmente dezenas de cenas em que vemos Oppenheimer de fato "fazendo" o que está sendo dito nas investigações; esta é a maior parte do filme.

Ambas audiências são situadas na década de 50, e acabam recontando toda a saga de Oppenheimer, do começo de sua carreira até a construção da bomba. A audiência no Senado é filmada em branco-e-preto, e isto representa que mostra os fatos "crus". Já todas as demais cenas, por terem a presença do físico nelas, são sob seu ponto de vista, e são filmadas em colorido.

Antes de tudo, Oppenheimer é um filme sobre História, sobre Política, e sobre a pessoa complexa e controversa que Robert Oppenheimer foi. Porém, a maneira com que Christopher Nolan fez seu filme, sempre com cenas curtas e aceleradas, e com diálogos do mesmo modo, Oppenheimer quase se torna um filme de ação. São exatas 3 horas de projeção, mas você não sente o tempo passar. A história é muito dinâmica e muito interessante.

Como sempre também em todos os filmes de Nolan, seu filme está apoiado em uma fotografia magnifica, e em um enorme elenco de atores famosos e de alto nível. Cillian Murphy, o protagonista, está excelente. As duas principais atrizes, Emily Blunt e Florence Pugh, também estão muito bem. Mas minha maior surpresa foi ver tanto Matt Damon quanto Robert Downey Jr., que são bem caricatos, atuarem com bastante eficiência e com poucos deslizes.

Depois de vários filmes onde Nolan passa mais tempo tentando explicar o mundo que criou, do que focar no próprio conto que quer mostrar, é muito satisfatório ver que ele enfim voltou a fazer o que no passado mostrou saber fazer muito bem, que é contar histórias. Porém, infelizmente Nolan ainda não voltou aos seus melhores trabalhos, já que sua enorme ambição e ego ainda atrapalham.

A começar, quanto as imagens da explosão da bomba nuclear. Nolan fez uma propaganda absurda, se gabando de que tudo foi feito sem efeitos de computador. E mais ainda, que tudo é tão real e grandioso que precisa ser visto em iMAX; que aliás nem o iMAX conseguiu captar tanta grandiosidade infelizmente... Bem... não vejo desta forma. Claro, as imagens são bonitas, mas se tivessem sido feitas em computador, não vejo grande impacto no resultado. Aliás o impacto da explosão em si é bastante frustrante em termos de imagem... só vale a pena pelo som... e coisa de 5 segundos. Minha conclusão? Oppenheimer sequer é um filme que você "precise" assistir nos cinemas. Afinal, de maneira incoerente com sua propaganda, Nolan tratou em seu filme a explosão como algo muito coadjuvante. O que importa mesmo para ele é a vida de Robert Oppenheimer.

Na trilha sonora, Nolan usa uma mão "pesada", e alterna entre um tom de "épico/triunfo" e "drama interior" o tempo todo... temos uma música forte e alta quase o tempo todo, o que nos leva a alguns problemas de ritmo... é como se o filme tivesse um clímax a cada 20 min.

Mas o pior é quando o diretor / escritor quer "fazer Arte". As cenas de nudez são completamente desnecessárias; e o desfecho do filme, onde temos duas mini reviravoltas, apenas para passar a impressão de que o roteiro é "genial", foi decepcionante. Me senti mais enganado do que qualquer outra coisa, além de que é um final cujo tom é diferente do restante do resto que foi apresentado.
 
Com muitos prós e alguns contras, a conclusão para Oppenheimer é que Nolan enfim deixou a descendente que vinha em seus filmes e parece reencontrar o bom caminho. Que continue assim. E independente de tudo que falei sobre Nolan nesta crítica (e falei bastante rs), para quem gosta de História, Política, ou simplesmente de um bom filme, Oppenheimer é uma escolha certa. Nota: 7,0


PS: tudo começou como piada, porém o meme Barbenheimer, que ria do fato que os filmes de BarbieOppenheimer tiveram lançamento mundial no mesmo dia, e até "convidava" as pessoas a ter a experiência de assistirem os dois filmes no mesmo fim de semana de estréia, acabou tendo um efeito bastante inesperado e lucrativo. Com isso, a bilheteria de ambas as produções catapultaram e tiveram ótimos resultados (cerca de US$ 800 milhões somados na primeira semana), o que por sua vez, infelizmente, acabou virando "prejuízo" principalmente para Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte UmIndiana Jones e a Relíquia do Destino.

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Crítica - Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte Um (2023)

Título: Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte Um ("Mission: Impossible - Dead Reckoning Part One", EUA, 2023)
Diretor: Christopher McQuarrie
Atores principaisTom Cruise, Hayley Atwell, Ving Rhames, Simon Pegg, Rebecca Ferguson, Vanessa Kirby, Esai Morales, Pom Klementieff, Henry Czerny, Shea Whigham, Cary Elwes, Greg Tarzan Davis
Nota: 7,0

A melhor franquia de ação da atualidade está de volta

Depois de cinco anos, Missão Impossível está de volta! O sétimo filme da franquia se chama Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte Um, e como o próprio título diz, é a primeira parte de uma trama que terá continuação (o Parte Dois está previsto para daqui um ano, porém com a atual greve de roteiristas e atores em Hollywood, poderá sofrer atrasos).

Para este novo Missão Impossível, Tom Cruise e o diretor / roteirista Christopher McQuarrie resolveram trazer como "novidade" o exagero. Com isso, temos um elenco com um número bem grande de personagens relevantes (a foto acima é um exemplo disto), e uma história que durará dois filmes.

E como tem sido desde Missão Impossível 4, temos aqui mais uma vez um filme excepcional em termos de ação e aventura. São muitas as qualidades de Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte Um, e elas vão além da ação: novamente temos ótima fotografia, os mais belos e diversos figurinos e localidades, e atores excelentes, muito competentes e carismáticos.

Os filmes de Missão Impossível também costumam ter algumas piadas e cenas de humor, mas neste Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte Um isso é aumentado, para minha surpresa. Provavelmente estamos diante do filme mais "piadista" da série. Na trama da vez, Ethan Hunt (Tom Cruise) é retirado da aposentadoria pela IMF para encontrar um par de chaves que pode deter "A Entidade", uma Inteligência Artificial que está prestes a "dominar o mundo". Porém a corrida para obter as chaves é mundial, e em seu caminho o agente também cruza com a ladra Grace (Hayley Atwell) e vilão terrorista o Gabriel (Esai Morales), que apesar de nunca ter aparecido nos filmes antes, é apresentado como "o maior rival / inimigo" de Ethan.

Acerto de Contas - Parte Um traz uma sequencia de ação melhor que a outra (e todas bem diferentes entre elas). A primeira é uma batalha de submarinos; a segunda um tiroteio em plena tempestade de areia... E então também começam os problemas. Duas das melhores e mais difíceis cenas de ação do filme - a da perseguição de carros em Roma, e a fuga do trem - são longas, longas demais.

Apesar deste Missão Impossível ser muito bom, aquela palavrinha que disse no começo deste texto - exagero - também é responsável por diminuir a qualidade do filme. Acerto de Contas - Parte Um tem problemas de ritmo, às vezes até cansa, e portanto acaba sendo inferior que os dois filmes anteriores, Nação Secreta (2015) e Efeito Fallout (2018). O próprio filme é muito longo, 2h e 43min, e olha que isto é apenas metade de uma história completa... Um clássico exemplo de quando o "mais" vira "menos".

Acerto de Contas - Parte Um também derrapa no roteiro quando resolve trocar a ação e explorar os sentimentos de Ethan com Grace e Ilsa (Rebecca Ferguson). O roteiro é ótimo na ação e na comédia, mas ruim no drama e no romance. E o duelo de Ilsa contra o vilão Gabriel é péssimo, mal coreografado, é a pior coisa do filme.

Com muitas virtudes e alguns defeitos, Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte Um mostra pela quarta vez seguida que Tom Cruise e seu Missão Impossível continuam a ser uma das melhores - senão a melhor - franquia de ação dos últimos tempos. E o bom é que já sabemos que a diversão vai continuar e logo logo poderemos desfrutar uma Parte DoisNota: 7,0


PS1: quando Missão: Impossível - Acerto de Contas nasceu, esta história dividida em 2 partes foi anunciada como a última aventura da franquia nos cinemas. Não à toa, o Parte 1 trouxe várias referências / homenagens aos filmes anteriores, como por exemplo, os agentes usando máscaras. Porém, hoje, este cenário é incerto. Tom Cruise, semanas atrás na estréia de Indiana Jones e a Relíquia do Destino, "invejou" ver Harrison Ford atuando com mais de 80 anos e disse que gostaria de estar fazendo filmes de Missão Impossível até a idade dele; e Christopher McQuarrie afirmou nesta semana que não será o fim da franquia e já tem idéias para um filme 9. Dadas estas declarações eu até iria cravar que teríamos mais filmes, porém, por enquanto a bilheteria de Acerto de Contas Parte 1, embora boa, está um pouco abaixo do esperado pelo estúdio. Então veremos o que o futuro aguarda.

PS2: a loucura da vez de Tom Cruise, para promover o filme, foi saltar de um penhasco, com uma moto, soltar a moto e continuar o caminho de paraquedas. Totalmente insano! Você pode ver o vídeo de bastidores aqui abaixo. E caso você ache que este completo maluco pulou deste jeito apenas uma vez... acho melhor assistir as imagens... vale a pena ;)

domingo, 9 de julho de 2023

Crítica - Elementos (2023)

Título: Elementos ("Elemental", EUA, 2023)
Diretor: Peter Sohn
Atores principais (vozes): Leah Lewis, Mamoudou Athie, Ronnie del Carmen, Shila Ommi, Wendi McLendon-Covey, Catherine O'Hara
Nota: 7,0

Pixar faz reciclagem, mas retoma seu encanto

Com a Pixar já há alguns vários anos fazendo filmes medianos e nada inovadores - os dois últimos que avaliei aqui tiveram notas ruins (Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica e Lightyear) e o filme anterior do diretor Peter Sohn idem (O Bom Dinossauro) - não estava muito animado para ver Elementos, que pelo título me parecia uma cópia de Divertida Mente. Afinal, se este último apresentava e antropomorfizava os sentimentos humanos, Elementos faz o mesmo com os 4 elementos base da natureza: ar, terra, água e fogo.

E de fato essa cópia de filmes acontece, mas de um modo diferente, já que a história de Elementos é bem distinta de Divertida Mente. Na trama, vemos uma família do elemento fogo acabando de se mudar para a grande Cidade Elemento. Após instalarem com sucesso uma loja de conveniência, um acidente causado pela jovem de fogo Faísca faz com que a loja seja interditada. É então que ela se une ao jovem de água Gota, e ambos correm contra o tempo que a interdição da loja não vire um fechamento definitivo.

O roteiro de Elementos é um bocado caótico, e fala de tudo um pouco. Ele aborda racismo, imigração, família, herança, crescimento, primeiro amor... e resta à protagonista Faísca lidar com tudo isto de uma vez só. Mas como leve defesa à essa bagunça que é o roteiro, assim também é a vida, não?

Portanto é neste ponto que digo que Elementos acaba reciclando filmes anteriores. Ele pega muitos dramas distintos, coloca em um só filme, e pronto: em termos de história, nada de novo. Porém, o surpreendente é que de algum jeito toda esta mistura funciona! E muito bem! Elementos consegue trazer vários momentos de emoção para a tela, e a história me emocionou e cativou como há muitos anos a Pixar não fazia.

Se em termos de roteiro o filme não inova, não se pode dizer o mesmo em som e imagem. Quanto a animação, é muito impressionante e diferente ver os personagens de água e fogo na tela. Principalmente os de fogo... é uma constante mutação de cores e formas, muito bonito, muito diferente... parece até algo meio místico... O que me leva a trilha sonora... em geral uma música instrumental "pesada", que traz muito mais um clima de meditação ou psicodélico do que comédia ou ação; algo realmente muito incomum para um filme infantil.

Aliás, Elementos tem várias piadas espalhadas ao longo da trama, mas em geral o filme trata temas sérios, como se pode constatar pelo meu terceiro parágrafo acima. Acho que é o filme da Pixar com menos humor que já assisti. Ainda assim, vi o filme com minha sobrinha de 7 anos e ela adorou. Acho que o deslumbre visual de Elementos, somado ao carisma e "fofura" de seus personagens, acaba tornando o filme universalmente bem agradável.

Elementos recebeu até agora apenas uma leve aprovação de crítica e bilheteria, mas eu gostei muito. Ainda que não seja espetacular, é uma das melhores coisas da Pixar dos últimos anos. Ah, e se for mesmo assistir, leve sua caixa de lenços. Nota: 7,0


PS: antes do filme há o curta-metragem O Encontro de Carl, continuação de Up: Altas Aventuras (2009). É a Pixar voltando a sua tradição de curtas inéditos antes de seus longas nos cinemas, coisa que não fazia desde 2018.

PS 2: não há cenas pós créditos... esta antiga tradição da Pixar ainda não voltou.

PS 3: Muito da história de Elementos é baseada em situações pelas quais passaram a família do diretor Peter Sohn (seus pais imigraram da Coréia do Sul para Nova York), e também de outros animadores e roteiristas da Pixar que também são imigrantes ou descendentes de imigrantes.

sábado, 1 de julho de 2023

Crítica - Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

Título: Indiana Jones e a Relíquia do Destino ("Indiana Jones and the Dial of Destiny", EUA, 2023)
Diretor: James Mangold
Atores principais: Harrison Ford, Phoebe Waller-Bridge, Mads Mikkelsen, Toby Jones, Boyd Holbrook, Ethann Isidore, Olivier Richters, John Rhys-Davies, Antonio Banderas
Nota: 6,0

Apesar de um meio de filme bem ruim, Indiana se despede de modo satisfatório

O maior dos heróis de aventura está de volta, e para seu 5º e último filme. Como em toda história de Indiana Jones, a trama é a busca por um antigo artefato, misturando ficção e realidade. E não poderia ser diferente em Indiana Jones e a Relíquia do Destino, claro: portanto, o MacGuffin da vez se trata da Máquina de Anticítera.

O filme começa em 1944, no final da Segunda Guerra Mundial, e neste ato que dura entre 20 a 30 minutos vemos um Indiana Jones (Harrison Ford) ainda consideravelmente jovem, com o rosto rejuvenescido por imagens de computador. É uma boa sequência, que copia bastante dos filmes clássicos, mas com imagens em geral meio escuras. Não sei se o objetivo foi deixar tudo propositalmente menos nítido, para deixar eventuais faltas de realismo no rosto de Ford mais evidentes... mas de qualquer forma, a Fotografia em Indiana Jones 5 não é muito boa em geral.

Imagens da Máquina de Anticítera real, cuja construção ter sido feita por Arquimedes é apenas especulação

Após esta introdução, vamos para o tempo presente da história - que neste caso é 1969 - onde somos apresentados aos demais personagens principais da trama. Temos então a afilhada de Jones, Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge), e o cientista nazista Jürgen Voller (Mads Mikkelsen), que estão em disputa para encontrar o famoso artefato primeiro.

E é neste momento que Indiana Jones e a Relíquia do Destino começa a degringolar. Primeiro temos uma nova e longa cena de perseguição pela cidade de Nova York, que até é boa. Mas depois a ação já corta para Marrocos, onde temos outra cena de perseguição, agora em carros, e que é péssima. Nada dela faz sentido, a lógica e a continuidade das cenas inexiste... é como se fosse uma união do pior de Missão Impossível com Velozes e Furiosos. Isso sem falar que o espectador teve que assistir duas longas seqüências de ação sem nenhuma pausa. Em termos de ritmo e estrutura narrativa, isso é péssimo.

Após esta parte, os heróis e vilões partem para a Grécia e aparentemente o ar europeu fez melhorar bem as idéias dos roteiristas, já que a partir de então, Indiana Jones e a Relíquia do Destino entra nos eixos e se mantém em bom nível até seu final. Não posso negar que pelo menos na meia hora final do filme, estive bem feliz e empolgado.

O desfecho de Indiana Jones 5 me surpreendeu positivamente por conseguir ser um pouco diferente dos demais filmes da franquia. Primeiro, pela sua estrutura, e segundo, porque ele resolve também debater sobre o envelhecimento. Parece que aqui enfim o diretor / co-roteirista James Mangold justificou sua contratação, já neste aspecto ele agradou bastante com seu filme Logan (2017).

Como conclusão, Indiana Jones e a Relíquia do Destino é pior que os três primeiros filmes da série, mas é melhor que Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008). Portanto, para os fãs da franquia, a existência desse novo filme faz com que o ato final do Dr. Jones nos cinemas tenha um gosto mais palatável. Nota: 6,0.

Meu amigo John Rhys-Davies também está no filme, de volta como Sallah


PS 1: não há cenas pós créditos.

PS 2: sendo Indiana Jones minha franquia favorita, já escrevi vários artigos sobre ela no Cinema Vírgula. Clique aqui para vê-los!

sábado, 17 de junho de 2023

Crítica - Guardiões da Galáxia Vol. 3 (2023)

TítuloGuardiões da Galáxia Vol. 3 ("Guardians of the Galaxy Vol. 3", Canadá / França / EUA / Nova Zelândia, 2023)
Diretor: James Gunn
Atores principaisChris Pratt, Chukwudi Iwuji, Bradley Cooper (vozes), Pom Klementieff, Dave Bautista, Karen Gillan, Vin Diesel (vozes), Zoe Saldaña, Will Poulter, Elizabeth Debicki, Jennifer Holland, Maria Bakalova (vozes), Sean Gunn, Sylvester Stallone
Nota: 8,0

James Gunn encerra sua trilogia em alta qualidade

Após longos 5 anos - com direito de ter sido meio que "expulso" da Marvel neste meio tempo - o atual líder criativo dos filmes da DC resolveu aceitar voltar para sua antiga casa para finalizar sua trilogia. E não somente James Gunn o fez trazendo um filme com o mesmo carinho e qualidade com que fez as duas produções anteriores, como para minha surpresa, desta vez ao invés de "salvar o universo", os Guardiões estão em uma história mais contida, que mais do que tudo, é sobre Rocket Racoon (vozes de Bradley Cooper).

A história começa com os Guardiões da Galáxia sendo atacados por Adam Warlock (Will Poulter) a mando dO Alto Evolucionário, o vilão da vez, interpretado por Chukwudi Iwuji. Rocket fica gravemente ferido, e enquanto seus amigos tentam buscar uma cura pela galáxia, vemos vários flashbacks sobre as origens do Guaxinim.

Outra surpresa (pelo menos para quem não viu os trailers), é a volta de Gamora (Zoe Saldaña), que seguindo a história já finalizada dos filmes dos Vingadores, é uma Gamora de um universo alternativo, e nada a ver com a que vimos nos dois primeiros filmes. Ok, entendo perfeitamente que a personagem deveria estar aqui, para homenageá-la no filme despedida do grupo; mas ainda assim, Gamora não acrescenta à história, e o mesmo pode se dizer de Adam Warlock. O filme (de exatas 2h 30min), ficaria melhor e mais enxuto sem eles. Detalhe: o próprio James Gunn admitiu depois que Warlock ficou meio "deslocado" na trama (porém, quem mandou ele mesmo insinuar no Vol. 2 que Adam seria o vilão do Vol. 3?).

Em termos técnicos, Guardiões da Galáxia Vol. 3 é bastante competente assim como os seus antecessores. Desta vez a trilha sonora enfim perde espaço, mas ainda assim somos várias vezes relembrados que elas são as músicas que Peter Quill (Chris Pratt) está ouvindo dentro do filme. Os efeitos especiais não mostram evolução, mas nem por isso deixam de ser ótimos. Ah, e nem por isso também não deixam de trazer algo novo: ao nos apresentar um mundo com vários tipos distintos de animais antropomorfizados, e uma base estrelar feita de material orgânico, o filme acabou tendo que ser bastante criativo no seu Design de Produção.

E James Gunn novamente acerta com o roteiro. É impressionante como ele consegue, com bastante humor, ainda assim emocionar nos mostrando coisas como amizade, família e inclusão. Fazendo Rocket Racoon o tema do filme, temos também uma louvável crítica aos maus tratos aos animais. Porém tenho minhas dúvidas sobre o alcance que este gesto terá.

Guardiões da Galáxia Vol. 3 encerra a trilogia da franquia com a mesma qualidade que começou e mostra que o desgastado gênero de filmes de super-heróis ainda pode agradar bastante, desde que seja feito com roteiros de qualidade, e não sigam simplesmente a mesma fórmula de sempre. Nota: 8,0


PS: o filme possui duas cenas pós-créditos, a primeira é bem importante como "conclusão" da história.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Crítica - Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes (2023)

TítuloDungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes ("Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves", Austrália / Canadá / EUA / Irlanda / Islândia / Reino Unido, 2023)
Diretores: John Francis Daley, Jonathan M. Goldstein
Atores principaisChris Pine, Michelle Rodriguez, Regé-Jean Page, Justice Smith, Sophia Lillis, Hugh Grant, Chloe Coleman, Daisy Head
Nota: 7,0

Com muito humor e aventura, enfim D&D ganha um filme bom!

A mais famosa das franquias de RPG de mesa, Dungeon & Dragons - e cujo universo acaba sendo mais reconhecido dentro do Brasil através do desenho animado oitentista A Caverna do Dragão - já teve outras tentativas de filmes live-action no passado (todas horríveis, aliás). A primeira, Dungeons & Dragons - A Aventura Começa Agora (2000), contava com Jeremy Irons, Marlon Wayans, e foi a única a sair nos cinemas. As seguintes: Dungeons & Dragons 2: O Poder Maior (2005) e Dungeons & Dragons: O Livro da Escuridão (2012) foram direto pra TV.

Após tantos fracassos e muitos anos sem investir em outros produtos de D&D, as coisas começaram a mudar na Hasbro (a dona da franquia) muito recentemente. Inclusive em 2022 ela admitiu publicamente que não estava "monetizando" Dungeon & Dragons como deveria. Notem então que desde o ano passado já começaram a sair vários produtos relacionados, como action figures dos mais diversos (inclusive dos personagens de A Caverna do Dragão), e agora... este filme Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes, que contou com um orçamento razoável (US$ 150 milhões, cerca de 3x mais que o orçamento do filme de 2000) e alguns atores de maior renome, como por exemplo Chris Pine, Michelle Rodriguez, Hugh Grant e Bradley Cooper.

A história começa com Elgin (Chris Pine) e Holga (Michelle Rodriguez) presos, e após deixarem a prisão resolvem retomar suas vidas de onde pararam. Porém, logo descobrem que para isso precisam encarar algumas aventuras, e então montam um time para enfrentar os desafios. Com isso temos um diversificado grupo de RPG: Elgin é o Bardo, Holga a Bárbara, Simon (Justice Smith) é o Feiticeiro, Doric (Sophia Lillis) é uma Druida meio-humana, e Xenk (Regé-Jean Page) é o Paladino.

Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes tem muita aventura e humor. Aliás, tudo é piada o tempo todo e isso até me incomodou um pouco, porém é importante ressaltar que dentro do filme, os personagens levam tudo a sério, uma decisão bastante acertada que dá credibilidade a história. Em termos de ação, o filme é bastante acelerado e dinâmico, com várias cenas de luta e vários efeitos especiais. Ainda que estes efeitos não estejam no auge da qualidade tecnológica atual, são competentes e não atrapalham em nada a experiência do filme. Gostei especialmente da luta final, onde os heróis lutam simultaneamente "corpo-a-corpo" com o vilão, e você consegue acompanhar com qualidade cada um usando suas qualidades e poderes.

Para quem é jogador de RPG, certamente Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes terá um gosto especial, já que as referências ao universo de D&D são muitas, chegando a centenas. Mas mesmo para o espectador "comum", que não captará estes detalhes, o filme é bastante compreensível e agradável para todos os públicos. Em suma, dá para se dizer que este filme de Dungeons & Dragons é um filme para toda a família, o que também é uma ótima notícia.

Eu diria que a história de Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes é consideravelmente "épica" mas não por fazer uma aventura absurdamente heróica, e sim por fazer várias pequenas missões em sequencia; o que não deixa de ser algo diferente e interessante.


Para encerrar, sim, como muitos já devem saber, os personagens de A Caverna do Dragão aparecem no filme, como se pode ver na imagem acima. E embora a participação deles seja bem pequena, é maior que eu esperava!

Que Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes seja o primeiro capítulo de uma série de bons filmes da franquia nos cinemas. Depois da modinha de "super-heróis", que já se encontra bem esgotada, eu veria com bons olhos uma fase de aventuras de RPG nas telonas. Nota: 7,0.



PS 1: há uma pequena cena pós-créditos, e bem no começo deles inclusive.

PS 2: este extra vai ficar infelizmente apenas para quem entende inglês, já que o vídeo abaixo sequer possui legendas. Mas é um vídeo de propaganda feito pela Paramount Pictures estadunidense onde os personagens do desenho da A Caverna do Dragão comentam cenas do filme Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes e acabam reclamando de regras de RPG. Divirtam-se ;)

domingo, 7 de maio de 2023

Crítica - Renfield - Dando o Sangue Pelo Chefe (2023)

TítuloRenfield - Dando o Sangue Pelo Chefe ("Renfield", EUA, 2023)
Diretor: Chris McKay
Atores principaisNicholas Hoult, Nicolas Cage, Awkwafina, Ben Schwartz, Shohreh Aghdashloo, Brandon Scott Jones, Adrian Martinez, Camille Chen
Nota: 7,0

Divertido, filme entrega o que se propõe, e com Nicolas Cage roubando a cena

O prolífico e talentoso Nicolas Cage está de volta, agora interpretando Drácula. Mas na história de Renfield - Dando o Sangue Pelo Chefe, o protagonista é... Renfield (Nicholas Hoult), seu servo há pouco mais de um século. Conforme o filme já nos apresenta em seu começo, Drácula e Renfield vivem em um ciclo: Drácula atinge seu poder máximo, é derrotado / destruído pelos heróis da época, e então seu servo passa anos lhe trazendo vitimas para que o vampirão vá recuperando sua força aos poucos... para que ele volte a se recuperar e um novo ciclo se inicie.

O filme começa com Drácula no meio de sua recuperação, e Renfield nos dias atuais buscando vítimas. Sendo uma "boa pessoa", Renfield escolhe como vítimas apenas pessoas ruins... abusadores e bandidos. E eventualmente ele acaba cruzando seu caminho com uma família que controla o crime local, a família "Lobo", e também com a honesta policial Rebecca (Awkwafina), que há tempos tenta em vão levar os Lobo à justiça.

Renfield - Dando o Sangue Pelo Chefe se propõe a ser um filme de aventura que mistura violência e comédia nonsense. E ainda que não seja espetacular em nenhum momento, seja tecnicamente ou em termos de piadas, ele entrega muito bem o que se propõe sendo um filme bem divertido durante toda sua projeção.

Claro que a presença de Nicolas Cage ajuda bastante. Cage está excelente, e rouba a cena toda vez que aparece. É realmente um deleite vê-lo como este Drácula, melhor escolha impossível. Mas o roteiro também tem seus méritos, é bom, e ao vermos quem os escreveu, a qualidade faz sentido: o texto foi feito pela dupla Ryan Ridley (escritor de alguns episódios de Ricky and Morty e da boa sitcom Community) e Robert Kirkman (o criador e escritor dos quadrinhos de The Walking Dead e Invencível).

Um comentário final: quando assisti o trailer de Renfield (ver link no início do artigo), fiquei um pouco incomodado com a quantidade de violência e sangue. Mas embora o filme tenha muitas cenas de ação (e algumas com bastante sangue), em geral, quase todas as cenas gore já estão no trailer, então, não espere por tripas e mortes o tempo todo.

Com ótimas atuações da dupla de Nicolas (Hoult e Cage), o filme é diversão certa para os fãs das bizarrices de Cage. Nota: 7,0

sexta-feira, 31 de março de 2023

Crítica Netflix - Mistério em Paris (2023)

Título: Mistério em Paris ("Murder Mystery 2", EUA, 2023)
Diretor: Jeremy Garelick
Atores principais: Adam Sandler, Jennifer Aniston, John Kani, Kuhoo Verma, Dany Boon, Mark Strong, Mélanie Laurent, Jodie Turner-Smith, Adeel Akhtar, Enrique Arce
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=FDcsfr7bsE8
Nota: 4,0

Eles voltaram... e pioraram bastante

Estreando hoje no Brasil pela Netflix, Mistério em Paris é uma continuação de um filme de quatro anos atrás, Mistério no Mediterrâneo, o qual eu gostei. Na história da vez, acompanhamos novamente as aventuras do casal Nick Spitz (Adam Sandler) e sua esposa Audrey (Jennifer Aniston), que agora se envolvem na trama do sequestro de seu amigo bilionário.

Elogiei o primeiro filme por ele trazer algumas novidades, quebrando a expectativa do espectador em algumas vezes, e ao mesmo tempo homenageando e preservando o clima dos livros de "adivinhar o assassino". Porém, aqui em Mistério em Paris nada disso se preserva infelizmente, e isso mesmo com o roteirista do primeiro filme sendo mantido.

Mistério em Paris tem menos mistério, se tornando mais um filme de ação (e se convencer que Sandler e Aniston são hábeis lutadores dá até vontade de chorar), além de ser muito mais clichê e previsível. A única coisa que realmente se manteve do primeiro filme para este são as péssimas piadas de Adam Sandler, sempre bem idiotas e em sua maioria com conotação sexual. Novamente, este "comediante" é a pior coisa do filme.

O pouquinho de Mistério em Paris que se salva é seu começo, onde pelo menos algumas piadas funcionam. E é só. As sensações que ficam é de pena por Jennifer Aniston estar em um filme tão ruim, e meu desejo de que não tenha que assistir mais nenhum filme de Sandler no futuro. Nota: 4,0

domingo, 26 de março de 2023

Crítica - Creed III (2023)

TítuloCreed III (idem, EUA, 2023)
Diretor: Michael B. Jordan
Atores principaisMichael B. Jordan, Tessa Thompson, Jonathan Majors, Wood Harris, Phylicia Rashad, Mila Davis-Kent, Jose Benavidez, Selenis Leyva, Florian Munteanu
Nota: 6,0

Filme abandona Rocky (personagem), mas imita seus roteiros

Com Michael B. Jordan no papel principal e estreando como diretor, Creed III fez um pouco de propaganda ao ser o primeiro filme da franquia Rocky a não ter a participação de Sylvester Stallone como ator, ainda que para lamento deste.

Mas se o personagem Rocky, de Stallone, foi definitivamente abandonado, o roteiro não, parecendo o mesmo de sempre, e isso não é nada positivo. Não só Creed III segue a mesma fórmula usada nos filmes Rocky de 2 a 6 - uma crise inicial, a recuperação via treinamento, e uma luta contra um "chefão final" - como também repete (muito desnecessariamente, alias) dramalhões como o falecimento de um ente querido, ou a cena um lutador apanhar até ficar a beira da morte.

Uma pena. Até porque o argumento principal de Creed III é bom: na história, Adonis Creed (Michael B. Jordan) acaba de se aposentar dos ringues, e começa a trabalhar como empresário de novos lutadores. Porém, em seu caminho surge Damian (Jonathan Majors), amigo de infância que estava na prisão até agora, devido um incidente passado que Creed participou. Damian pede para Creed "pular etapas" para ajudá-lo a ser um lutador profissional... e o dilema entre culpa e "seguir regras" se mostra bem interessante.

Porém pouco agrada além da ideia principal. Temos furos de roteiro, a personagem de Bianca (Tessa Thompson) - esposa de Adonis - que foi tão bem desenvolvida no primeiro filme, simplesmente abandonada por aqui... e até há um desenvolvimento inicial para a filha do casal, Amara (Mila Davis-Kent), que depois também é completamente abandonado. A impressão que dá é que isso nada mais foi do que uma inserção de roteiro para um futuro Creed IV. O filme entretanto, tem boas lutas. Elas continuam bem coreografadas e bem críveis. Mas mesmo elas têm defeitos, como veremos mais adiante.

Uma coisa que gostei, entretanto, foi resgatar o Boxe como algo que envolve bastante técnica e estratégia, não apenas "porrada"; e que no caso, Adonis Creed seria um grande especialista nisto. Esta teoria é bem usada nas primeiras lutas... mas ignorada completamente na luta final, para minha decepção.

Creed III também incorpora vários aspectos dos Animes, e com decisão fundamental de Michael B. Jordan nisso. Elas vão de coisas mais sutis, como por exemplo um cumprimento de dois dedos entre Creed e Damian tirado de Naruto, a até partes cruciais das lutas. A maneira com que a câmera acompanha lateralmente o lutador após ele desviar de um golpe lembra muito os enquadramentos de Dragon Ball Z, de onde também se copia alguns golpes na luta final contra Damian. Mas principalmente, temos na luta final um momento em que os dois lutadores são transportados para um local "vazio", meio espiritual, idéia usada em muitos animes, mas aqui sendo mais especificamente imitado de Naruto Shippuden. O que achei de tudo isso? Ruim. Michael B. Jordan não soube fazer sua homenagem ao oriente de maneira orgânica.

No final das contas, com altos e baixos, Creed III empata em qualidade com Creed II e faz o suficiente pra deixar os fãs da franquia Rocky satisfeitos. Mas é só. Muito pouco para uma série que começou tão boa, com um Creed: Nascido para Lutar (2015) repleto de inovações. Eu esperava mais deste filme, já que Ryan Coogler (diretor e roteirista do primeiro), e que praticamente não teve envolvimento no segundo, voltou para Creed III como Produtor e teve seu irmão como co-roteirista. Mas não foi suficiente. Se tivermos um Creed IV, que por favor, Ryan Coogler volte no mínimo como roteirista e, principalmente, que a franquia volte a olhar para o futuro, e não para o passado. Nota 6,0.

domingo, 12 de março de 2023

Crítica - Triângulo da Tristeza (2022)

TítuloTriângulo da Tristeza ("Triangle of Sadness", Alemanha / Dinamarca / França / Reino Unido / Suécia, 2022)
Diretor: Ruben Östlund
Atores principais: Harris Dickinson, Charlbi Dean, Dolly de Leon, Zlatko Burić, Iris Berben, Vicki Berlin, Henrik Dorsin, Woody Harrelson
Nota: 6,0

Vencedor de Cannes é ousado, mas decepciona nos detalhes

Triângulo da Tristeza é um filme de comédia ácida do diretor sueco Ruben Östlund, indicado a 3 categorias do Oscar (incluindo a de Melhor Filme) e grande vencedor da Palma de Ouro de Cannes 2022, sendo esta a segunda vez que ele conseguiu o prêmio. A história acompanha um casal de jovens modelos, Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean), e acompanhamos algumas semanas de suas vidas entre atividades e pessoas da alta sociedade.

O filme faz humor e críticas bem pesadas ao mundo da alta moda e aos super ricos, e o faz muito bem, é sem dúvida o ponto alto de Triângulo da Tristeza. A história é contada em três atos: "Carl & Yaya", "O Iate" e "A Ilha". Após uma boa primeira parte, o segundo capítulo é bem problemático: há várias cenas desnecessárias exibindo fezes e vômito, além de enfadonhos e ultrapassados diálogos de capitalismo versus comunismo. Confesso, que neste parte, o filme me perdeu.

Já em seu ato final, Triângulo da Tristeza traz algumas reviravoltas e melhora novamente, porém, continua com problemas. Tentando não dar spoilers, eu diria que é bastante inverossímil a mudança de comportamento dos personagens em tão pouco tempo; e outros comportamentos de "passividade" não aconteceriam nunca, a meu ver. Para piorar, a opção do diretor / roteirista de deixar o filme com um final em aberto foi bastante decepcionante.

Confesso que estava bastante empolgado para assistir Triângulo da Tristeza, dada a enorme quantidade de elogios da crítica especializada. Porém, se o filme é certeiro e corajoso em várias de suas piadas e críticas, lhe falta coerência, bom senso, e até um pouco de história pra contar. No final das contas, é um filme diferente e interessante, mas não o suficiente para merecer tantos prêmios e atenção. Nota: 6,0.


PS: a atriz Charlbi Dean (à esquerda na foto deste artigo, acima), co-protagonista do filme, faleceu tragicamente no dia 29 de Agosto de 2022, com apenas 32 anos, em consequência de uma rara infecção bacteriana. Triângulo da Tristeza foi portanto seu último filme.

segunda-feira, 6 de março de 2023

Crítica - Babilônia (2022)

Título: Babilônia ("Babylon", EUA, 2022)
Diretor: Damien Chazelle
Atores principais: Brad Pitt, Margot Robbie, Diego Calva, Jean Smart, Jovan Adepo, Li Jun Li, Olivia Hamilton, Max Minghella, Katherine Waterston, Tobey Maguire, Jeff Garlin
Nota: 7,0

Uma caótica história sobra a Hollywood dos anos 20 e 30

Babilônia começa em uma maneira alucinante: uma festa com centenas de convidados em uma mansão de algum figurão de Hollywood, com bebidas, drogas e sexo a vontade; anões, dançarinos, orquestra, e até... um elefante. Tudo em ritmo acelerado, muita música, muito luxo, tons laranja e vermelho, alguns planos-sequência, e uma breve apresentação de todos os personagens principais. Depois de dezenas de minutos sob este turbilhão áudio visual, vem o silêncio; e o primeiro choque no filme: a festa acaba, as pessoas deixam de ser "glamourosas" e voltam para o seu infeliz cotidiano; para várias delas toda aquela ostentação nada mais é que uma fantasia, literalmente.

Em seu primeiro ato, o diretor Damien Chazelle mistura principais características de seus dois filmes mais famosos: La La Land: Cantando Estações (2016) e Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014): do primeiro ele traz as coreografias musicais com dezenas de pessoas simultâneas em tela, e do segundo, ele traz de volta as fortes batidas de bateria quando quer simular a confusão mental de um personagem.

E é exatamente este ato, de "misturar coisas", o que mais vemos em Babilônia; infelizmente, não de maneira positiva. A história nos mostra principalmente a Hollywood do fim dos anos 1920 e início dos anos de 1930; estamos na transição do cinema mudo para o cinema falado, e vemos o impacto disso na vida de 5 personagens: o já famoso ator Jack Conrad (Brad Pitt), a aspirante a atriz Nellie LaRoy (Margot Robbie), o faz-tudo Manny Torres (Diego Calva), o músico Sidney Palmer (Jovan Adepo), e a dançarina Lady Fay Zhu (Li Jun Li). São todos personagens fictícios, embora levemente baseados em pessoas reais.

Isto de mostrar o drama das pessoas que não conseguiram se adaptar às mudanças do cinema mudo para o sonoro não é nada novo; já foi feito diversas vezes, como por exemplo em Crepúsculo dos Deuses (1950) - um filmaço que costuma sempre estar na lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos, e inclusive adoro - mas as novidades em Babilônia é que aqui temos a história de 5 personagens ao mesmo tempo (ou até 6, se considerarmos a da colunista de fofocas Elinor St. John (Jean Smart)), e nem todos eles se prejudicaram com a mudança, alguns prosperaram; outra novidade é além de todo o drama, trazer diversas homenagens ao cinema e à Hollywood, e também, ao acrescentar a tudo isso um pouco de romance, bastante bizarrice, muito sexo, drogas e até gângsteres.

Notem que é muita coisa em um filme só. E para piorar, mesmo com pouco mais de 3h de filme (o que é um pouco cansativo), não sobra tempo suficiente para desenvolver nenhum dos 5 personagens principais.

Ainda assim, apesar de tanto caos e salada de temas, Babilônia acaba sendo um filme interessante, pra quem gosta de cinema, e também, para quem gosta de ver bons atores. A lista de atores famosos em Babilônia é grande, e o maior destaque vai para o trio principal Brad Pitt, Diego Calva e Margot Robbie. Ah a Margot Robbie... outro filme para mostrar o quanto esta atriz australiana é ótima e versátil. Excelente trabalho!

Ainda que seja um "épico do Caos" e justamente por isso seu resultado final deixar a desejar, ao se perder em tantas coisas diversas e bizarras ao mesmo tempo, Babilônia em nenhum momento deixa de ser interessante, e isso já é algo bem acima da média nos dias de hoje, além de diferente. Babilônia acaba perdendo pontos naquela máxima do "quando mais é menos", mas ainda assim, me garantiu alguns momentos memoráveis. Nota: 7,0

Crítica Netflix - I Am Mother (2019)

Título :  I Am Mother (idem, Austrália, 2019) Diretor : Grant Sputore Atores principais :  Clara Rugaard, Hilary Swank, Luke Hawker, R...