Tendo estreado nos cinemas brasileiros na Quinta-feira passada, O Brutalista entra na véspera da cerimônia do Oscar como um dos favoritos a levar o Oscar de Melhor Filme 2025.
A história de O Brutalista, fictícia, nos apresenta László Tóth (Adrien Brody), um judeu-húngaro sobrevivente do Holocausto e arquiteto modernista (leia mais sobre isto no meu P.S. ao final deste artigo), que imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial consegue emigrar para os Estados Unidos, mesmo que isto signifique separar de sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) e de sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy). Algum tempo após chegar nos EUA, ele acaba sendo contratado pelo milionário Harrison Van Buren (Guy Pearce), para comandar um enorme e ambicioso projeto.
Dada esta descrição inicial, é difícil classificar O Brutalista. Ele é bem longo (quase 3h30min de projeção) e por opção bem ousada de seu diretor/roteirista Brady Corbet, acaba tratando de muitos assuntos. Aqui vemos a luta e questionamentos de um refugiado judeu, a busca do sonho americano, a crueldade e arrogância da classe rica, e ainda comentar de passagem sobre racismo, brigas de casal, vício em opióides e até... História e Arquitetura.
Em termos da trama, parece que temos dois filmes distintos. No primeiro ato, onde os personagens são apresentados, O Brutalista ainda consegue se manter interessante para o espectador. Porém no segundo ato, quando Erzsébet e Zsófia chegam aos EUA, a história parece se perder completamente, com o roteiro não sabendo mais que história contar. E, deixando claro, isto nem é culpa das novas personagens que chegaram. Até porque depois que Felicity Jones chega, ela acaba fazendo a única personagem interessante que resta em O Brutalista, já que nesta parte dois o personagem de Adrien Brody entra em uma descendente e se torna rapidamente intragável.
Portanto depois de um primeiro ato bem interessante e promissor, a única coisa que salva do roteiro segundo ato - confuso e com várias bizarrices - é que pelo menos ele não é previsível. Se prepare para situações incomuns. Por outro lado, se o roteiro de O Brutalista derrapa, ele vai muito bem em outros aspectos técnicos.
A fotografia (o que inclui os diversos modos de filmagem) e a trilha sonora de O Brutalista são ambas bem impressionantes. E inclusive, ambas são fundamentais para que este filme possa ser classificado como "épíco" mesmo sem ter cenas grandiosas de ação, ou mesmo de cenografia.
O Brutalista está indicado a 10 prêmios do Oscar 2025 e tem boas chances de levar alguns deles, ainda que uma certa polêmica possa prejudicar suas chances: trata-se do fato do uso de Inteligência Artificial no uso de um "aperfeiçoamento" no sotaque húngaro dos atores. Você pode aprovar ou reprovar, achar hipocrisia ou não, mas o fato é que "hoje" parte de Hollywood ainda não vê IA com bons olhos. Gostei bastante da atuação de Guy Pearce aqui, pra mim é a melhor atuação dele desde Amnésia (de 2000), só que não acho que ele leve o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante... todo mundo fala que o irmão de Macaulay Culkin, Kieran Culkin, é quem vai levar esta.
O Brutalista é outro filme desta safra do Oscar 2025 que é adorado pela crítica especializada mas que não vejo como agradar tanto o público em geral. Muito longo, muito lento, e até chato, seus pontos positivos vão mais pela trama inusitada e aspectos técnicos excelentes do que pela história em si. Nota: 6,0.
P.S.: por que Brutalista? É de se imaginar que o filme se chama "O Brutalista" porque o roteiro quer associar László Tóth com o estilo Brutalista. E faria sentido. O Brutalismo é um estilo arquitetônico que surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Suas principais características são o concreto exposto, sem adorno, e o uso de formas geométricas gigantes e ousadas.
O problema, é que segundo a comunidade arquitetônica o filme não mostra quase nada da arquitetura Brutalista, e quando o faz, faz de modo errado. Mais uma polêmica pro filme lidar...
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O prédio do MASP, na cidade de SP, é um exemplo da arquitetura Brutalista |