quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Bomba: anunciado Star Wars VII (ou se preferir, “George Lucas, o fanfarrão”)

Vou direto à notícia completa. Ontem a tarde (dia 30), foi anunciada a venda da Lucasfilm (estúdio de George Lucas) para a Disney, por US$ 4 bilhões. E mais, já está confirmado para 2015 a estréia nos cinemas de Star Wars VII.

Já imagino acaloradas discussões na internet, dizendo se isto é uma notícia boa ou ruim. Particularmente, eu detestei. Seguem portanto minhas considerações.

George Lucas um dia foi legal

Não dá para negar a contribuição de George Lucas aos cinemas. Sim, ele chamou bastante atenção de Hollywood com seus primeiros filmes: THX 1138 (1971) e American Graffiti  (1973); mas não é a isto que me refiro. Falo de Star Wars (1977). O expoente máximo do início da “era dos blockbusters”, iniciada em 1975 com Tubarão, de seu amigo Spielberg.

Star Wars mudaria a maneira de se vender e lucrar com cinema. Com muito dinheiro gasto em marketing; com muito retorno de público; e com um lucro sem igual em produtos derivados licenciados. E fez tudo isto com um filme que misturava ficção científica, com filosofia oriental... nada que se imaginava agradar o público da época.

Mais ainda, com restrições de orçamento, Star Wars revolucionou os efeitos especiais da época, se desdobrando para entregar efeitos críveis (e ótimos) via Industrial Light & Magic, empresa criada por Lucas especialmente para isto.

E não para aí. George Lucas ainda co-criou outra franquia excepcional, Indiana Jones (uma de minhas preferidas). E criou também a Lucasarts, produtora de ótimos jogos para computador (vocês se lembram de Monkey Island, Maniac Mansion, etc?).

1999 – o fantasma que mudou tudo

Tudo mudaria para pior a partir de 1999, com a estréia de Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma. Sinceramente, eu acho que Lucas deveria mesmo ter feito a primeira trilogia, e não a acho ruim. Mas é inegável que ela chega até a desconstruir a saga original, e que a qualidade caiu muito (principalmente no primeiro filme).

A nova trilogia não foi o maior problema então. O problema foi a ganância de George Lucas. E sua odiável mania de reescrever a história. Brotaram bilhares de versões de seus filmes de Star Wars... cada um alterando determinadas cenas, reescrevendo de maneira covarde uma história já consagrada. E enchendo de efeitos especiais por computador, tornando os filmes originais piores do que eram.

Um caso emblemático disto é a tal cena do “Han Solo atirou primeiro”, do Star Wars IV (1997). Como qualquer mercenário que se preze, ele atirou em um assassino antes que o mesmo atirasse nele. QUAL O PROBLEMA DISTO? Pois Lucas alterou pro assassino atirar primeiro, e ainda teve a cara de pau de declarar que Han Solo JAMAIS atirou primeiro... o ângulo da câmera que deu a "impressão errada".

George Lucas, o fanfarrão

E ainda tem mais. Não bastou a ele alterar cenas de seus filmes. Ele quis alterar a história de como seu filme foi criado! Na década de 70, George Lucas explicou pra quem quisesse ouvir que a saga de Star Wars era composta de nove filmes, ou 3 trilogias (as vezes chegou até falar de uma 4a trilogia), e que resolveu iniciar pela trilogia “do meio” por entender ser a mais viável comercialmente.

E não é que no mesmo famigerado ano de 1999, ele negou veementemente que havia uma 3ª trilogia? Disse que a saga SEMPRE foi feita para 6 filmes. Episódio VI era o fim e acabou. É mesmo um fanfarrão.

Até porque ontem, comentando o anúncio da venda de sua companhia para a Disney, e perguntado sobre “o que vai ser da saga Star Wars”, ele respondeu... “bem, existem scripts para os filmes de 7 a 9, e mais centenas de livros, quadrinhos, jogos, do universo expandido que podem ser incorporados”.

Ah, Lucas... vou manter o “fanfarrão” para não descer o nível


Vender para a Disney é ruim sim senhor

Preconceitos a parte com a companhia do seu Walt, contra fatos não há argumentos. Alguns anos atrás, a Disney comprou também a Pixar e a Marvel.

Isto significou que eles deixaram de fazer bons filmes? Não. Mas significou que, na média, os filmes pioraram. Pois para a Disney, pouco importa a qualidade. O que importa é quantidade (leia-se “dinheiro”). Com isto, passamos a ver filmes “não tão bons assim”, como por exemplo Carros 2, Thor ou Capitão América.

Isto sem contar que o mais recente fracasso da companhia foi justamente a sua tentativa de ter seu “próprio Star Wars”, com John Carter - Entre Dois Mundos (2012).

A nova trilogia - o que esperar?

Deixando claro, ainda não está confirmado que teremos uma nova trilogia. Apenas um Episódio 7 foi anunciado. Qual será a história? Ninguém sabe. Provavelmente, nem a Disney.

Mas a 3ª trilogia, dos filmes de 7 a 9, está escrita desde a década de 70, não é? Do que ela se trata?

A versão mais aceita é que nos filmes 7 e 8 Luke Skywalker iria se consolidar como “o” Jedi, e que no filme 9, somente aí, o Imperador seria confrontado e derrotado definitivamente. Ou seja, no filme 6 apenas Vader seria derrotado, o Imperador não.

Há outra abordagem, bem mais pessimista, que dá conta de que Luke passa para o lado negro da Força... ele não soube lidar com tanto poder devido não ter terminado seu treinamento. Portanto, a 3ª trilogia giraria em derrotar Luke (e desta vez o Império de uma vez por todas), sendo a heroína final a filha de Han Solo com a Princesa Léia. Esta história já teve sua versão contada na saga em quadrinhos Dark Empire, publicada nos EUA pela editora Dark Horse em 14 edições, sob forma de trilogia, entre 1992 a 95. No Brasil, apenas a “parte 1” foi publicada, sob título de O Império do Mal, pela editora Abril em 1997.

E pode piorar...

Encerrando meu texto pessimista com chave de ouro, podem anotar aí. Mexer com Star Wars não vai ser suficiente. Lembra que eu disse lá no começo do texto, sobre outra ótima franquia da Lucasfilm? Pois é. Eu aposto com vocês que a Disney vai estragar Indiana Jones fazendo um reboot da série.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Crítica: As Vantagens de Ser Invisível (2012)

“O drama do adolescente rejeitado, desta vez em um filme muito bem executado e de grande sensibilidade”

“As Vantagens de Ser Invisível “, é uma adaptação do livro de mesmo nome escrito em 1999 por Stephen Chbosky, que curiosamente também é o diretor do filme. A história começa com o primeiro dia de Charlie (Logan Lerman) no colegial. Extremamente tímido, fechado, “invisível” para as demais pessoas, só após um bom tempo sozinho ele acaba fazendo amigos: os não tão invisíveis, porém “esquisitos” meio-irmãos Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson). Enfim “enturmado”, acompanhamos Charlie crescer em seus problemas típicos de adolescente, como o primeiro beijo, o bullying, o primeiro amor, o contato com bebidas, drogas...

O que poderia ser apenas um filme comum se transforma em um filme diferenciado devido alguns motivos. O primeiro deles, é que além dos problemas de adolescente, Charlie tem que lidar com dois grandes traumas de seu passado, que aliás são apresentados pouco a pouco, sutilmente, ao espectador.

O segundo motivo é que o filme é muito bem executado. Tanto no presente, quanto no passado (os traumas de Charlie fazem com que ele tenha rápidos flashbacks/alucinações), as cenas e diálogos são apresentados no momento certo, crescendo junto com a história. Tudo tem sua razão de ser, até a trilha sonora, e se encaixam corretamente ao longo da trama.

Finalmente, impressiona a beleza com que os dramas são apresentados. Nota-se uma grande sensibilidade nas atitudes dos personagens em relação aos problemas de seus companheiros. Como por exemplo quando em plena festa, “chapado”, Charlie faz uma revelação sobre seu passado. De imediato Sam percebe o quanto esta declaração foi importante, melancólica, e sai em sua ajuda instantaneamente.

Não posso dar muito mais detalhes do filme sem estragá-lo. Por isto, só mais uma pitada de informação: o trio de atores principais está ótimo (é, Emma Watson é boa atriz sim), outro ponto positivo para o filme.

“As Vantagens de Ser Invisível “ é sem sombra de dúvida um drama. Porém, cenas muito bem resolvidas emocionalmente, e até momentos de delicado humor tornam o filme prazeroso de se assistir. Para o escritor/diretor Stephen Chbosky a vida é definitivamente dura, mas paradoxalmente, ela te traz muitas pessoas para ajudar a suportá-la e curtí-la. Nota: 8,5.

PS 1: infelizmente, a tradução apresenta vários erros significativos de tradução. E isto é mais um motivo do porque os filmes devem ser legendados. Se fosse dublado, ninguém jamais poderia perceber estes erros.

PS 2: como curiosidade, não posso deixar de comentar uma piada no filme que somente entende bastante de NHL captaria. Em um determinado momento, Charlie brinca com o pai dizendo: “E o seu Penguins, agora vai ou não vai?”. No que o pai responde: “Ah, a defesa deles é horrível, não vão chegar a lugar nenhum”...
Bem, como torcedor do Pittsburgh Penguins, eu posso dizer: “E daí? De fato não temos tradição na defesa... mas como fazemos gols!" Tanto que se a história, que ocorre no início dos anos 90 em Pittsburgh, tivesse mais alguns meses, o desesperançoso pai de Charlie estaria vendo seu Penguins sendo campeão pela primeira vez. :)

domingo, 14 de outubro de 2012

Crítica: Hotel Transilvânia (2012)

“Animação com história genérica se salva com visual incomum e piadas imprevisíveis”


Recentemente comentei sobre “Ted”, estréia nos cinemas de Seth MacFarlane (criador de American Dad e Family Guy) como diretor. Embora divertido em alguns momentos, um filme apenas razoável. Seguindo esta mesma linha, “Hotel Transilvânia” é a animação onde estréia como diretor Genndy Tartakovsky, criador dos bem interessantes “O Laboratório de Dexter” e “Samurai Jack”, dentre outros. E da mesma forma, seu filme faz rir com algumas boas piadas, mas possui uma história comum e desinteressante.

Se em “Ted” seu principal defeito é ser parecido demais com as outras criações de MacFarlane, aqui o principal problema é que pouco vemos o dedo de Tartakovsky no resultado final do próprio filme. O ponto alto da animação são as piadas espalhadas ao longo da história – bem engraçadas e totalmente imprevisíveis (porém,  pouco relacionadas à trama). Ao contrário dos roteiros dinâmicos de “Dexter” e “Samurai Jack”, aqui Genndy Tartakovsky sequer é roteirista e o resultado é uma história monótona, que não ganha o interesse do expectador.

Olhem só: em “Hotel Transilvânia”, vemos o Conde Drácula (Adam Sandler) como dono do hotel-título do filme, que nada mais é do que um refúgio que os monstros têm dos “temíveis” humanos. Super-protetor, Drácula mantém sua filha Mavis (Selena Gomez) dentro do Hotel, que sempre sonhou conhecer o mundo exterior. Quando o hotel é invadido por um garoto humano (Andy Samberg), a vida dos três se transforma. Parece sessão da tarde, não?

Por outro lado, além as boas piadas citadas anteriormente, o visual do filme também é um atrativo. Ainda que os monstros não deixem totalmente de serem “bonitinhos”, um visual mais dark e realista (que lembra “A Noiva Cadáver” de Tim Burton, por exemplo) torna a animação um pouco diferente do que vemos atualmente nos cinemas.

Também me chamou a atenção os monstros escolhidos para aparecer no fime. Temos vampiros, múmias, Frankenstein... mas também personagens que não deveriam fazer parte deste “panteão”, como por exemplo, a Hidra, versões zumbis de Einstein e Beethoven, ou mesmo Quasímodo, com suas características totalmente deturpadas como “chef” de cozinha. Esta “salada” não é prejudicial ao filme, felizmente, e é parte do material utilizado pelas piadas.

Por fazer boa bilheteria nos EUA, talvez ainda tenhamos a chance futura de ver Genndy Tartakovsky fazer algo mais autoral. Em Hotel Transilvânia vemos apenas um pouco de seu rápido humor e só. É pouco. Nota: 5,5.

PS: para os papais, classificaria esta animação para faixa etária de crianças de uns 8, 9 anos pra cima... o visual mais “dark” (boa parte do filme é dentro do escuro hotel) e personagens bem mais insanos que “fofinhos” contribuem para isto.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Crítica: Looper – Assassinos do Futuro (2012)

“Com ótimo ritmo e universo bem construído, filme surpreende ao ser bom”

Estamos em meados de 2040. A viagem no tempo ainda não foi inventada. Mas será inventada 30 anos depois. E os criminosos do futuro transportam suas vítimas para 2040, onde assassinos locais (os Loopers) são contratados para apagar estes “problemas” sem deixar vestígios.

É neste contexto que conhecemos Joe  (Joseph Gordon-Levitt), um jovem porém competente Looper que tem sua rotineira vida completamente alterada quando a próxima pessoa que lhe é enviada para matar é sua própria versão 30 anos mais velha (Bruce Willis).

Com esta sinopse e atores, o normal seria termos um filme com muita ação e viagem no tempo. E os temos, embora a história não empolgue nestes aspectos. ”Looper”, entretanto, encanta pelo universo muito bem construído. Ao longo da história, somos naturalmente apresentados a dezenas de características e temas da ficção científica, de maneira fluida, sem nenhum didatismo chato, como temos por exemplo em “A Origem”.

A trama apresenta algumas “forçadas de barra” mas é salva principalmente pelo seu ótimo rítmo. A história prende a atenção do expectador o tempo todo, por ser bastante imprevisível e principalmente pela eficiência com que a tensão aumenta gradativamente até seu clímax.

Confesso que assistir “Looper” não era uma de minhas prioridades, pois sobre ele eu tinha dois preconceitos.

O primeiro era ter que “aguentar” Joseph Gordon-Levitt como protagonista. Nunca conseguira desassociar dele a imagem do pirralho de “3rd Rock from the Sun”. Mesmo suas elogiadíssmas atuações em “A Origem” e “Batman: o Cavaleiro das Trevas Ressurge” não me convenciam. Mas agora convenceu. Sim, claramente ele usa maquiagem para se parecer com Bruce Willis. Mas sua ótima atuação vai além da transformação física. Ele consegue imitar os trejeitos de Willis muito bem, culminando num personagem bem diferente de seus papéis anteriores.

O segundo preconceito se refere a ser filme de “Viagem no Tempo”. A cada 10 filmes do gênero, 9 são confusos e simplesmente não fazem sentido. Aqui o filme nem chega a confundir muito; mesmo assim sua lógica é frágil. Sabe aquela máxima do "altere o presente e automaticamente se altera o futuro"? Isto é bastante explorado, porém as mudanças estranhamente só acontecem com os Loopers. Eles mudam, mas tudo ao seu redor aparentam ficar imaculadamente inalterado, o que não faz muito sentido. É emblemático que no primeiro encontro entre Joe do presente e Joe do futuro, Bruce Willis grita revoltado: "não perca seu tempo tentando entender viagens no tempo!". Isto vale mais para quem assiste o filme do que para Gordon-Levitt. E ainda piora. No meio da trama temos uma pequena cena, de míseros dois segundos, que entra em contradição com o desfecho da história, enfraquecendo seu final.

Felizmente, estes "deslizes temporais" pouco comprometem. Como disse anteriormente, viagens no tempo não são os maiores atrativos de “Looper”. Fique com seu universo ultra diversificado, seus personagens, seus diálogos, e você terminará com uma boa diversão. Nota: 7,0.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Zorro que não é Zorro, e a parceria de Johnny Depp que não é com Tim Burton


Hoje, 3 de outubro, foi divulgado o primeiro trailer oficial do filme The Lone Ranger, provisoriamente traduzido (e de maneira aceitável) para o português como O Cavaleiro Solitário.

Me pergunto, entretanto, se o nome vai durar. Porque aqui no Brasil, lambanças com nomes e traduções é o que não faltam. Se você for velho suficiente, talvez tenha pais velhos o suficiente que lhe contaram sobre o índio Tonto, fiel companheiro do Zorro.
Tonto e "The Lone Ranger"

Se sim, saiba que a lembrança de seus pais está correta. Mas isto não significa que eles estivessem certos. O verdadeiro Zorro nunca conheceu um índio de nome Tonto, ou foi um pistoleiro como mostra a foto ao lado. Criado em 1933, e mundialmente famoso apenas na década de 50 graças a uma série de TV estadunidense de mesmo nome, The Lone Ranger chegou ao Brasil com o "genial" nome de Zorro. Daí a confusão.

É este o personagem cujo filme estreará em julho de 2013 por aqui, e cujo trailer pode ser visto no link ao final do texto. Como vocês irão perceber, o grande nome da produção é Johnny Depp. Pra “variar”, mais uma vez com um personagem pra lá de exótico. E junto com Depp, o filme The Lone Ranger conta com um diretor bem conhecido por ele.

A mais famosa parceria de Depp é com o diretor Tim Burton. Foram 8 filmes juntos. E quase sempre, esta parceria é acompanhada da atriz Helena Bonham Carter, esposa do diretor. E adivinha quem é a atriz principal neste novo filme? Ela, a mesma Helena. Oras, toda esta explicação foi para dizer que o diretor de O Cavaleiro Solitário é Tim Burton, correto? Errado.

Depp, no "The Lone Ranger" versão 2013
O filme será dirigido pelo competente Gore Verbinski, que foi o diretor de Johnny Depp nos três Piratas do Caribe.

O trailer não me empolgou muito. E o fato da produtora ser a Disney, menos ainda. O por quê deste post então? Mais uma vez a resposta é Gore Verbinski, que a meu ver é injustamente ignorado pela mídia em geral. É para ele que chamo a atenção.

Nele (e em Depp, claro) reside a chance de um filme bem interessante, afinal. Vamos aguardar.

Confiram o trailer clicando no link abaixo:

Abaixo você poderá conferir, na sequência, 3 imagens: primeiro, uma foto do seriado The Lone Ranger da década de 50, depois, uma foto do seriado do Zorro da mesma década de 50 (e para vocês constatarem que ambos personagens são bem diferentes), e finalmente, outra foto do futuro filme The Lone Ranger, (ou o nosso O Cavaleiro Solitário), que sairá nos cinemas ano que vem.



terça-feira, 25 de setembro de 2012

Crítica – Intocáveis (2011)


“Ótima comédia francesa ensina a fazer humor com classe”.

A primeira descrição que li sobre “Intocáveis” foi algo mais ou menos assim: “milionário tetraplégico contrata ex-presidiário para ser seu auxiliar”. Ou seja, uma história já repetida a exaustão por filmes de “Sessão da Tarde” feitos a toque de caixa. E de fato, se a história possui mesmo diversas situações “clichê”, a maneira como ela é contada é que a torna especial.

Francês, o filme já mostra ser diferente em suas piadas. As comédias atuais costumam trazer dois tipos de humor: ou temos piadas “físicas”, com personagens trapalhões tropeçando ou derrubando objetos; ou principalmente, temos o humor do “grito e palavrões”. Ou seja, quanto mais xingamentos, e quanto mais desesperado/revoltado o “comediante” está, mais “engraçada” é a piada. Porém, “Intocáveis“ surpreende ao trazer excelentes piadas ao longo de todo filme sem usar palavrões nem piadas físicas (e notem que o simples fato de um dos protagonistas ser tetraplégico seria um prato cheio para vê-lo caindo, por exemplo).

Engana-se, entretanto, que este humor “com classe” não é políticamente incorreto. Muito pelo contrário. A maioria das piadas são sobre deficiência física, sobre pobreza. Mas tudo isto é feito sem ofender. O segredo? Seus personagens. Eles não fazem humor para humilhar ou agredir ninguém. Fazem humor por serem naturalmente otimistas, por se preocuparem cada um em levantar o ânimo do outro. Fazem humor pela amizade.

Outra abordagem que foge um pouco do comum é a opção por cenas mais privadas. O rico Philippe (François Cluzet) não procura usar seu contratado Driss (Omar Sy) para reintroduzí-lo à sociedade.  Ao contrário, Philippe é bem reservado, quase não sai de casa (ele até possui um amor platônico), e portanto a maioria das cenas são rodadas dentro de sua mansão.

O filme é baseado numa história real, e por isto mesmo, me agradou bastante ver os diretores (Olivier Nakache e Eric Toledano) optarem por soluções que reforçam o realismo do filme. Por exemplo, as cenas são filmadas em plano fechado, colocando o espectador “ao lado” dos personagens. E assim como na sua vida real você não sai ouvindo por aí uma trilha sonora na sua cabeça, em boa parte do tempo não temos nenhuma música ao fundo. E quando temos, além de serem ótimas para se ouvir, na maioria dos casos refletem o que os próprios personagens ouvem. Como a música em um concerto, por exemplo.

Para fechar o pacote, os dois atores principais são excelentes. Cluzet convence como tetraplégico; e Omar Sy é engraçadíssimo. Por esta atuação, Sy levou o César de melhor ator em 2012. Aliás, mesmo os atores coadjuvantes também convencem com boas atuações.

Tantas qualidades resultaram em sucesso de crítica e público. “Intocáveis” já é o filme francês mais assistido da história no exterior (superando o antigo campeão “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", de 2001), e também o segundo filme mais assistido na França em todos os tempos (perde apenas para "A Riviera Não é Aqui", de 2008).

Vendido como comédia e drama, “Intocáveis” também possui suas cenas dramáticas, que inclusive emocionam. Mesmo assim, o drama não é muito aprofundado. Para o filme, e para seus personagens, o que vale mesmo na vida é o humor. Nota: 8,0.

domingo, 23 de setembro de 2012

Crítica – Ted (2012)

“Seth MacFarlane aparenta ter alcançado seu limite criativo”

O estadunidense Seth MacFarlane começou sua carreira artística como animador e escritor de diversos títulos da Cartoon Network. Depois de alguns anos, em 1999, Seth teve sua primeira grande oportunidade solo, a estréia da animação “Family Guy” (no Brasil, “Uma Família da Pesada”). Politicamente incorreto, e de humor absurdamente nonsense, este ainda é sua criação de maior sucesso, atualmente em sua 10ª temporada nos EUA.

Com “Ted”, MacFarlane tem sua estréia em filmes live-action. Ele é o diretor, co-escritor e dubla as vozes do personagem principal, o ursinho de pelúcia Ted. A história não tem nada de novo. Ainda menino, o solitário John Bennet (Mark Wahlberg) pede a uma estrela cadente que seu ursinho ganhe vida. E voilá! Eles vivem felizes até que John se torna adulto (35 anos, na verdade) e começa um relacionamento sério com Lori Collins (a bela Mila Kunis). É quando John precisa escolher entre seu amigo peludo ou um casamento com a namorada.

Confesso, normalmente passaria longe de um filme “mais do mesmo” como este. Mas, tive a curiosidade de assisti-lo por ser o filme do “criador de Family Guy”. Gosto bastante do desenho em questão, e ele se manteve surpreendente e engraçado por muitos anos. Somente nas duas últimas temporadas “Family Guy” perdeu seu encanto. Suas piadas não são mais engraçadas nem surpreendentes. Quis tirar a prova e ver se Seth MacFarlane iria voltar a me surpreender, agora em um novo universo criado por ele.

Infelizmente não foi o que aconteceu. Após apresentados os personagens, Lori diz a John que o que mais ama nele é que “mesmo após 4 anos de convivência, ele ainda a conseguia surpreender”. Ironicamente, não é assistindo sua história que espectador partilhará desta sensação. Já que o filme – mesmo não sendo cansativo - definitivamente não traz nenhuma grande emoção em seus 106 minutos.

Entretanto, “Ted” ainda traz alguma coisa ou outra interessante. Por exemplo, o filme faz diversas homenagens aos anos 80. Seja nos diálogos, nos atores convidados, ou na trilha/efeitos sonoros. Seth também não se esqueceu dos dias atuais. Piadinhas sobre as celebridades da música Pop atual também estão bastante presentes.

Dá para se dizer que o roteiro traz o caótico humor de “Family Guy” diluído dentro da estrutura mais tradicional dos filmes de Hollywood. E assim, seu humor perde força. Há um bom número de boas piadas espalhadas pelo filme. Mas são todas piadas que no máximo te levarão a sorrir, jamais gargalhar.

Seth MacFarlane vai bem em sua estréia como diretor (filme e roteiro possuem poucas falhas), porém aparenta ter mesmo perdido sua principal qualidade, a de surpreender. Ele parece ter mesmo atingido seu limite, embora que para grande parte do público isto seja suficiente. Afinal “Ted” foi bem nas bilheterias estadunidenses e animada pelos bons resulltados Fox já acertou com MacFarlane a produção de um novo seriado (também live-action e ainda sem nome) juntamente com os demais roteiristas de “Ted”. Nota: 5,0.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O novo Robocop, José Padilha, Fernando Meirelles e Bruno Barreto


Os anos 80 voltaram a ser moda no Cinema. Várias franquias oitentistas pintaram em Hollywood nos últimos anos, como por exemplo Transformers, Comandos em Ação e Vingador do Futuro; e ainda irão surgir muitas mais, como o novo Caça-Fantasmas, Tartarugas Ninja e... Robocop.

Com as filmagens iniciadas neste mês, e dirigido pelo competente brasileiro José Padilha (o mesmo diretor dos “Tropa de Elite”), as informações sobre o filme do policial-robô até agora são pra lá de preocupantes.

O primeiro mal sinal foi a enorme dificuldade do estúdio para encontrar atores para os papéis principais. Várias estrelas foram cotadas para ser Alex Murphy, porém no final apenas se conseguiu o desconhecido Joel Kinnaman para protagonista. Já para ser o “vilão”, Hugh Laurie recusou o papel de última hora e até agora o ator que herdará o personagem é uma incógnita.

Depois, cerca de 20 dias atrás, Fernando Meirelles (que teve pelo menos dois bons fimes nos EUA: “O Jardineiro Fiel” e “Ensaio Sobre a Cegueira”), tomou as dores de seu colega diretor em entrevista à revista Trip: "Ele está dizendo que é a pior experiência dele. De cada dez ideias que ele tem, nove são cortadas. Qualquer coisa que ele quer, tem que brigar. ‘Isso aqui é um inferno’, disse ele para mim. ‘O filme vai ficar bom, mas eu nunca sofri tanto e não quero fazer isso de novo’.".

Não seria a primeira vez que um brasileiro tivesse seu trabalho tão atrapalhado por um estúdio. Em 2003, a primeira tentativa do brasileiro Bruno Barreto (de "O Que É Isso, Companheiro?") em Hollywoody foi um retumbante fracasso, com o fraquíssimo “Voando Alto”. O que era para ser uma comédia de humor negro virou uma cómedia sem sentido quando a Miramax obrigou o brasileiro a transformar o personagem da atriz principal, Gwyneth Paltrow, de uma pessoa originalmente má para uma mocinha boazinha. Não bastando isto, se achando “a” estrela, Gwyneth também não perdoou. Embora tenha negado publicamente, o boato da época é que a atriz estava tão decepcionada com o filme que se referia a ele como "View From My Ass", um trocadilho com o nome do filme em original, "View From The Top".

E eis que neste fim de semana, surge a primeira imagem do novo Robocop, que segue abaixo.

O novo Robocop - robô... ou uma pessoa de armadura?

Mais uma vez, o que se vê mais preocupa do que agrada. Robocop parece muito mais um homem comum vestido de armadura do que um robô. O que seria uma tremenda decepção, além de desnecessária mudança no personagem. No filme original, do policial Alex Murphy só sobraram a cabeça, coluna vertebral, e alguns poucos órgãos internos. Aqui, até os membros parecem ter sido preservados. Afinal, nota-se que a mão direita é uma... mão! Ou será que tudo o que vemos (inclusive esta mão humana), será coberto futuramente por CGI?

Em recente declaração, Padilha aparenta não concordar com o que Meirelles disse e divulgou um “É empolgante pensar que vamos começar a produção de RoboCop. Eu tenho um elenco dos sonhos e um time criativo incrível.”.

O novo RoboCop tem estreia marcada para 9 de agosto de 2013, quando enfim veremos o resultado de tudo isto. Meu ceticismo (e lamento, pois gosto bastante do personagem) está lá no alto.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Crítica - Cavalo de Guerra (2011)


“Nem oito nem oitenta, afinal”


Enfim pude ver “Cavalo de Guerra”, do diretor Steven Spielberg, e indicado a 6 Oscars neste ano - incluindo o de melhor filme. Antes mesmo de vê-lo, já estava preparado para odiá-lo ou adorá-lo. Afinal, foi esta a reação que vi nas pessoas que conheço e o assistiram. Um lado argumentava ser um filme comovente, um dos melhores do diretor americano. O outro, reclamava que a humanização do cavalo beirava ao ridículo, além da história ser insuportavelmente melosa.

Finalmente assistido, para minha surpresa não partilhei de nenhum dos dois extremos. Não foi nem oito nem oitenta: o filme tem sim suas qualidades e defeitos, mas no todo fica um pouco acima da média.

A trama é sobre a história de um cavalo “valente” e suas ações durante a 1ª Guerra Mundial. Aliás, já aí temos a primeira falha do filme: apenas somos localizados no tempo e espaço da história após mais de 10 minutos de projeção.

E é a jornada deste equino o fio condutor da narrativa, nos levando a várias pequenas histórias distintas, com personagens distintos, e que no fundo nos mostram as perdas que uma guerra traz às pessoas, variando pela idade, pela profissão, ou por serem civis ou militares. Aí reside o grande mérito do filme. As histórias são bem escritas e emocionantes. Outro ponto bastante positivo da história é mostrar que, sejam soldados (ou civis) franceses, alemães, ingleses; em linhas gerais não há vilões ou heróis. Todos somos iguais, simples humanos, independente de sua nacionalidade.

A fotografia de “Cavalo de Guerra” é ótima. Belas imagens o tempo todo, e mais ainda, enquadramentos de ângulos bem variados, que são utilizados para reforçar as diferenças físicas e psicológicas entre os vários cenários exibidos.

Mas se a imagem é positiva, a trilha sonora é decepcionante. Desde seu segundo incial, sabemos claramente que veremos um drama. Porém  já no “treinamento inicial” do cavalo ouvimos aquela musiquinha sarcástica típica para representar um “trapalhão”. Esta tentativa forçada de tornar algo sério como cômico é constrangedora. Totalmente em desacordo com o filme. E ainda temos por várias vezes, de maneira abrupta, um reforço desncessário para as “atitudes heróicas”... para Spielberg não bastam as imagens, o contexto... ele precisa nos chamar de burros e toda "grande ação" é acompanhada daquela música “triunfal”... e patética. Pior ainda é ver que uma das 6 indicações ao Oscar foi justamente a edição de som!

E quanto a “atuação” do cavalo? Sim, há bastante exagero em sua humanização. Nem tanto quanto a ele entender tudo o que lhe é dito, mas principalmente quando ele começa a agir espontaneamente em defesa dos oprimidos. Porém, não foi isto que mais me incomodou em “Cavalo de Guerra”. O que mais me irritou foi a já tradicional mania de Spielberg de insistir no final feliz, por mais inverossímil que ele seja. Dentre outras coisas, o cavalo-protagonista passou pelas mãos de diversas pessoas, e sempre encontrou alguém disposto a tratá-lo de maneira digna. Durante uma guerra. Sei. Fora as "coincidências" que somos obrigados a aceitar.

Como um todo, o filme é bastante agradável e possui boas mini-histórias que garantem sua apreciação apesar dos exageros do diretor. Spielberg continua não ser sombra do que foi nos anos 80/90, mas desta vez não foi tão mal. Nota: 7,0.

Gosta de suspense e terror? Você deveria conhecer Locke & Key

Locke & Key é uma série de HQs de terror/suspense que já de cara deveria chamar a atenção devido ao nome de seu escritor: Joe Hill...