sábado, 22 de maio de 2021

Dupla Crítica Filmes Netflix - Fuja (2020) e O Informante (2019)


Bom dia, boa tarde, boa noite. Segue a critica de mais dois lançamentos da Netflix Brasil, e que curiosamente não são produções originais da empresa do logotipo vermelho... são filmes de outros estúdios cujos direitos de transmissão foram comprados posteriormente. Temos aqui dois suspenses... um que se aproxima do terror, e outro policial. Vamos a eles!



Fuja (2020)
Diretor: Aneesh Chaganty
Atores principais: Sarah Paulson, Kiera Allen

A história começa com uma Diane (Sarah Paulson) dando luz a um bebê. Algo dá errado, e a criança é levada a uma incubadora. Então as imagens param e aparece na tela a definição de algumas doenças. Novo corte: vemos nos dias de hoje a adolescente Chloe (Kiera Allen), filha de Diane, e sua vida de dificuldades e superação, devido a problemas como a paralisia das pernas e asma. Mãe e filha vivem bem, até que Chloe vê algo estranho em uma das medicações que toma... e a trama efetivamente começa.

Dentre os pontos fortes de Fuja, primeiro temos as boas atuações da dupla principal. Além disto, o clima de suspense / terror do filme é bem construído... embora as vezes até demais: algumas cenas que deveriam ser "normais" também recebem uma trilha sonora "assustadora", o que não faz muito sentido. Fuja, aliás, em geral abusa da trilha sonora para fazer seu suspense.

A história contada é sem dúvida interessante, e prende a atenção. Há um mistério a ser resolvido, e quando enfim descobrimos as explicações, embora não haja nenhum furo de roteiro, ele não faz muito sentido. E é nisso que Fuja perde muitos pontos. Entretanto quem está em busca de um filme de terror / suspense básico, Fuja não deverá decepcionar.

Curiosidade: a atriz Kiera Allen é cadeirante na vida real. Suas pernas paralisaram quando ela se aproximou dos 18 anos, e até hoje não se sabe o motivo. Keira é a segunda atriz verdadeiramente cadeirante a protagonizar um filme de terror / suspense. A pioneira foi Susan Peters, por O Signo de Aries (1948). Atriz de considerável fama em Hollywood, Susan perdeu o movimento das pernas em 1945, após levar um tiro acidental que a acertou no abdômen, atingindo a coluna cervical. Nota: 6,0.



O Informante (2019)
Diretores: Andrea Di Stefano
Atores principaisJoel Kinnaman, Rosamund Pike, Common, Mateusz Kosciukiewicz, Karma Meyer, Ana de Armas, Clive Owen, Eugene Lipinski

Confesso que não estava com vontade de ver O Informante após ler algumas críticas não muito favoráveis a ele. Porém, por ser fã da Rosamund Pike e quer avaliar melhor o trabalho de Joel Kinnaman como ator (que foi mal em Robocop (2014) e em Esquadrão Suicida (2016), mas sempre tive dúvida se a "culpa" não era dos filmes, que certamente não ajudaram), e acabei assistindo.

Bem, se Rosamund não decepciona, o mesmo não se pode dizer de Joel... de fato, ele é um ator no máximo mediano. Como protagonista em um papel de ex-presidiário e infiltrado em entre traficantes, Kinnaman é incapaz de convencer como "malvado". Se fosse na vida real em questão de minutos ele teria sido desmascarado pelos bandidos.

A história, baseada em um livro sueco de 2009 de nome Tre Sekunder (Três Segundos), é bem genérica. Temos vários clichês, e uma enfadonha "briga" entre o FBI e a Polícia de Nova York. Entretanto, para minha surpresa, o filme tem algumas reviravoltas e a trama melhora com o passar do tempo. Pena que o desfecho joga tudo isso fora sendo desanimador de tão previsível.

O Informante teve custos aproximados de US$ 60 milhões, mas é uma produção consideravelmente simples. Imagino que boa parte do dinheiro tenha sido gasto para trazer os vários nomes famosos que participam da produção. Nota: 5,0.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Curiosidades Cinema Vírgula #003 - Darth Vader foi atleta Olímpico!!!!

Essa os fanáticos por Star Wars devem saber: quem foi o ator que interpretou Darth Vader na trilogia clássica? Foi David Prowse (1935-2020), o homem na foto acima. E ele foi medalhista olímpico? Não, embora tenha sido um atleta profissional antes de, já mais velho, virar ator.

Prowse, muito forte e com 1,92m de altura, foi primeiro fisiculturista e depois halterofilista. No halterofilismo chegou a representar a Inglaterra nos Jogos da Commonwealth de 1962, uma espécie de "Olimpíada" disputada apenas por países do "mundo britânico" (países da Grã Bretanha, além de suas colônias e ex-colônias).

Porém, o que poucos sabem é que a pessoa que vestia o traje de Darth Vader nas longas cenas de batalha com sabre de luz, tanto em O Império Contra-Ataca (1980) quanto em O Retorno de Jedi (1983) não era David, e sim, o grande Bob Anderson (1922-2012). Grande não pela estatura (embora tivesse 1,85m), mas sim pelo que fez dentro e fora dos cinemas.

Nascido Robert James Gilbert Anderson, o também inglês Bob Anderson foi soldado condecorado da Segunda Guerra Mundial, e disputou as Olimpíadas de Helsinque em 1952, fazendo parte da equipe britânica de esgrima. Ele e seu time terminaram em 5o lugar. Após disputar o Campeonato Mundial de esgrima de 53, Bob se aposentou definitivamente de campeonatos e teve sua primeira chance em Hollywwod ao ser contratado para fazer as coreografias de luta do filme Minha Espada, Minha Lei (1953), além de também treinar o ator principal Errol Flynn.

Bob Anderson, esse sim foi "o" cara!

Bob Anderson é certamente o mais famoso e importante coreógrafo e treinador de lutas de espadas da história do cinema estadunidense. Se como "dublê" a única atuação relevante foi a de Darth Vader, já como coreógrafo e treinador ele foi o nome responsável das espadas em filmes como Highlander: O Guerreiro Imortal (1986), Os Três Mosqueteiros (1993), Lancelot, o Primeiro Cavaleiro (1995), A Máscara do Zorro (1998) e A Lenda do Zorro (2005), Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003) e os três filmes da trilogia do Senhor dos Anéis (2001-2003)!!

E aí, conheciam a história de Bob Anderson? E de David Prowse? Para encerrar a homenagem, seguem mais fotos dos dois.

Mark Hamill antes de tomar uma "surra" de Bob Anderson


David Prowse (esq.) e Bob Anderson (dir.) em uma das últimas fotos juntos



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? É só clicar aqui!

sábado, 15 de maio de 2021

Crítica Netflix - Oxigênio (2021)

Título: Oxigênio (Oxygène, EUA / França, 2021)
Diretor: Alexandre Aja
Atores principais: Mélanie Laurent, Malik Zidi, Marc Saez, Mathieu Amalric
Nota: 7,0

Boa trama garante tensão e mistério do início ao fim

Oxigênio é um filme francês original Netflix, e que vem recebido boa aceitação do público. Na história, Liz (Mélanie Laurent, que interpretou a Shosanna em Bastardos Inglórios) acorda presa dentro de uma câmara médica, e sem nenhuma memória passada. Mas ela ainda possui alguém para interagir, o computador médico M.I.L.O. (Mathieu Amalric). E o nome do filme se justifica pois ao despertar, a protagonista é informada que o nível de oxigênio de seu recipiente está acabando e ela tem apenas cerca de 1 hora de ar disponível para sobreviver.

O suspense em Oxigênio é muito bem construído. Ao mesmo tempo ficamos preocupados com o motivo de Liz estar lá dentro, quem ela é, aonde ela está, e como (e se) ela conseguirá se livrar a tempo. Isso sem contar com as estranhas imagens de ratos de laboratório que aparecem do nada ao longo do filme. Em outras palavras, o suspense não se dá apenas devido aos riscos que a protagonista está sujeita, mas também por todo um mistério envolvido, tornando o filme também um quebra-cabeças.

Estranhamente, apesar de presa dentro de um pequeno espaço, em nenhum momento Oxigênio transmite a sensação de claustrofobia. A câmara é bem iluminada e de interior agradável. Mesmo assim, esta ausência não interfere no clima de tensão do filme, que me deixou grudado na tela e bastante interessado durante o tempo todo. 

Em Oxigênio o filme passa quase o tempo todo dentro da câmara médica, onde vemos Liz e ouvimos M.I.L.O.. Mais nada. Ocasionalmente vemos imagens de flashbacks. Não vou comentar mais sobre o filme ou sua trama para não dar nenhum spoiler. Mas adianto que o desfecho é satisfatório e a presença dos ratinhos não é gratuita, e nos faz pensar.

Até por não ser uma produção sofisticada (mas bem feita) Oxigênio me surpreendeu pela qualidade,  certamente acima da média das produções Netflix. Não é a primeira vez que vemos uma história de alguém lutando contra o tempo para fugir de um local pequeno e hostil, mas é muito agradável constatar que Oxigênio evita a maioria dos clichês do gênero. Nota: 7,0


PS: originalmente a atriz escalada para protagonizar o filme foi Anne Hathaway, que posteriormente acabou desistindo e substituída por Noomi Rapace. Após alguns meses "congelada", a produção foi retomada e a competente Mélanie Laurent assumiu o papel principal quando o francês Alexandre Aja assumiu a direção.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Curiosidades Cinema Vírgula #002 - Tom Selleck, o Indiana Jones

Sabem aqueles casos onde um ator recusa um filme que posteriormente se tornaria um enorme sucesso? Bem, isso aconteceu com Tom Selleck. Ou melhor, não aconteceu, já que ele aceitou o papel e a culpa não foi dele. Deixem-me explicar melhor:

Quando Os Caçadores da Arca Perdida foi desenvolvido, Steven Spielberg queria originalmente Harrisson Ford para o papel de Indiana Jones, mas George Lucas era contra, alegando que o ator já havia participado de seus últimos três filmes (American Graffiti e dois Star Wars) e não queria que Ford se tornasse o "seu Robert de Niro" (em referência aos vários trabalhos de De Niro com Martin Scorsese). O primeiro nome de consenso entre Spielberg e Lucas para o papel do protagonista foi então o ator Tom Selleck.

Tom chegou a fazer testes para o papel e topou o projeto; entretanto, ele já havia assinado um contrato para estrelar o futuro seriado de TV, Magnum P.I. cujas filmagens deveriam começar no mesmo ano de Os Caçadores da Arca Perdida. O coitado até tentou cancelar o contrato, mas o estúdio que iria produzir a série recusou e o manteve "preso" em seu compromisso. Com isso, Spielberg e Lucas optaram por Harrison Ford e o resto é história. E para uma infelicidade ainda maior de Selleck, as filmagens de Magnum atrasaram meses, e quando o primeiro filme de Indiana Jones foi completado, o seriado ainda não havia sido iniciado.

Mas a história não para por aí! Saibam que as 4 fotos deste artigo são reais, não são nenhuma montagem! Esta foto aqui acima é dos testes feitos por Tom Selleck para Os Caçadores da Arca Perdida. Mas a foto do topo deste texto, mais as duas fotos abaixo, no final do artigo, vieram de outra fonte...

Nada como aprender a ri de si mesmo: em 1988, 7 anos após Indiana Jones estrear nos cinemas, eis que na 8ª e última temporada de Magnum P.I surge o episódio Legend of the Lost Art (algo como Os Caçadores da Arte Perdida). Sim! Uma paródia de Indiana Jones! Na história, Magnum é contratado para recuperar um importante manuscrito de uma civilização perdida antes que ele "caia em mãos erradas". E então Tom Selleck pega um chapéu e chicote e sai em selvas e cavernas para recuperar o artefato. Curioso, não? ;)


segunda-feira, 10 de maio de 2021

Crítica - Druk - Mais Uma Rodada (2020)

Título: Druk - Mais Uma Rodada ("Druk", Dinamarca / Holanda / Suécia, 2020)
Diretor: Thomas Vinterberg
Atores principais: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Magnus Millang, Lars Ranthe, Maria Bonnevie
Nota: 6,0

Filme provoca interessantes reflexões sobre o consumo do álcool

Dada a premissa de Druk - Mais Uma Rodada - quatro desanimados professores do ensino médio que decidem ficar durante todo o tempo levemente alcoolizados para melhorar suas performances sociais e profissionais - imaginei que o filme seguiria um dentre dois caminhos clichês: ou seria uma apologia ao consumo do álcool, ou seria um drama onde tudo começaria bem e terminaria em tragédia.

Para minha leve surpresa, o filme é uma mistura das duas opções. Traz uma história interessante, mas nem por isso inovadora. Druk é bom tecnicamente mas sem nenhum destaque em especial. Em termos de atuações, apenas o protagonista Mads Mikkelsen se sobressai.

O melhor de Druk - Mais Uma Rodada são as reflexões que ele provoca. Em especial, para mim foram duas: primeiro a crítica de como a escola atual é ultrapassada no mundo todo, mesmo em países de primeiro mundo como a Dinamarca; é um fardo tanto para professores quanto alunos. E, segundo, a importante constatação de o quanto o álcool está presente o tempo todo em nossa sociedade. O consumo de bebidas está intimamente ligado aos melhores e piores momentos do cidadão comum: usamos o álcool para festejar literalmente qualquer tipo de conquista, ou então em um clima oposto, para fugir de qualquer drama pessoal.

Vencedor do Oscar 2021 de Melhor Filme Estrangeiro, Druk - Mais Uma Rodada é um filme interessante e agradável de se ver, porem de impacto distante dos elogios e prêmios que vem recebendo. Nota: 6,0

domingo, 2 de maio de 2021

Curiosidades Cinema Vírgula #001 - Jackie Chan e as comédias de corrida


Estréio a partir de hoje um novo formato de material dentro do meu blog. São as "Curiosidades Cinema Vírgula". A idéia é, em cada nova edição, postar um texto bem curto com alguma curiosidade relacionada ao mundo do cinema. Espero que vocês curtam, e que esta série tenha vida longa rs.


O ator chinês Jackie Chan, especialista em filmes de ação e/ou comédia de artes marciais, ficou famoso no Ocidente com o sucesso Arrebentando em Nova York (1995), onde era o protagonista. Porém o que poucas pessoas sabem, é que esta não foi a primeira tentativa do ator em fazer sucesso nos EUA.

Na verdade, Jackie Chan fez tentou fazer sucesso em Hollywood no início dos anos 80, onde foi o ator principal de dois filmes O Grande Lutador (1980) e O Protetor (1985). Com o fracasso comercial de ambos, ele voltou para a China e desistiu do ocidente por anos.

Porém entre estes dois filmes, Jackie participou de um sucesso comercial, ainda com um pequeno papel coadjuvante: se trata da franquia Cannonball Run, um dos marcos da carreira de Burt Reynolds. Foram dois filmes, Quem Não Corre, Voa (1981) e Um Rally Muito Louco (1984), cujo enredo é uma comédia pastelão de corrida, repleto de atores e atrizes famosos, onde pilotos atrapalhados do mundo inteiro correm por um prêmio. Em ambos os filmes, Jackie Chan faz parte da equipe "japonesa" que disputa a corrida.


Os filmes deste gênero começaram a fazer sucesso nos anos 60, com A Corrida do Século (1965), Esses Maravilhosos Homens e suas Máquinas Voadoras (1965) e Os Intrépidos Homens em Seus Calhambeques Maravilhosos (1969).

Quem Não Corre, Voa (1981) é um filme ruim, e a continuação Um Rally Muito Louco consegue ser péssima. Ainda assim, como um todo a franquia foi um sucesso comercial.


O elenco de Quem Não Corre, Voa (1981)

Curiosamente Jackie Chan voltaria a este tipo de filmes em pleno século XXI, com o apenas mediano Volta ao Mundo em 80 Dias: Uma Aposta Muito Louca (2004), ainda que não fosse uma corrida com apenas carros.

A capa do DVD do filme de 2004 com algumas de suas estrelas

domingo, 25 de abril de 2021

É hoje! Confira meus palpites para o Oscar 2021, que acontecerá nesta noite!


Chegou o dia! Hoje a noite termos a 93.ª cerimônia de entrega dos Academy Awards, vulgo Oscar 2021. Quem acompanha meu blog há tempos sabe que sempre faço uma cobertura para o evento. E ainda, que nos últimos anos eu tenho sempre reclamado dos filmes escolhidos, lamentando que a qualidade geral não está alta... Porém para este Oscar de plena pandemia, para minha surpresa gostei bastante dos filmes que vi! É uma "safra" muito boa, uma das melhores dos últimos anos!

Para indicados a Melhor Filme, volto a listar aqui os oito filmes. Infelizmente assisti apenas 6 dos 8, ainda que eu pretenda assistir os dois restantes nas próximas semanas. Os 6 filmes que assisti tiveram suas críticas publicadas por aqui. São os filmes listados abaixo em negrito. Clique no nome para ler minha análise sobre eles:


Quem vai levar? Quem merece levar?

Neste ano, até porque assisti um número menor de filmes, vou dar meus palpites apenas nas 6 categorias principais. E, como sempre, dou meu palpite em quem eu acho que vence, e em quem eu votaria. Confiram!


Melhor Ator Coadjuvante
- Quem vai levar: Daniel Kaluuya (Judas e o Messias Negro)
- Em quem eu votaria: Paul Raci (O Som do Silêncio)
- Comentários: quase não coloco meu voto aqui, ja que só vi 2 dos 5 indicados. Ainda assim resolvi prestigiar Paul Raci e o filme que ele participa. O vencedor da noite deve ser Daniel Kaluuya, que venceu a maioria dos prêmios deste ano até agora.

Melhor Atriz Coadjuvante
- Quem vai levar: Yuh-Jung Youn (Minari)
- Em quem eu votaria: Glenn Close (Era Uma Vez Um Sonho)
- Comentários: de todas as candidatas, a única que ainda não vi é justamente a favorita, a coreana Yuh-Jung Youn. Entendo que esta estatueta é a maior chance de Minari, e por isso mesmo deverá levar o prêmio para casa. Todas as candidatas restantes atuaram muito bem, e pela atuação em si não tenho preferencias... porém esta é a OITAVA indicação à Glenn Close, que nunca venceu. Torço muito para que ela vença dessa vez... acho justíssimo por sua carreira.

Melhor Diretor
- Quem vai levar: Chloé Zhao (Nomadland)
- Em quem eu votaria: Chloé Zhao (Nomadland)
- Comentários: dos 5 indicados assisti apenas 3 dos filmes, e dentre o que vi meu voto vai para a chinesa Chloé Zhao, por Nomadland. Além do bom trabalho, seu filme têm muitas cenas externas, o que representa um desafio maior para a direção. Por ser mulher, e por ter vencido o prêmio de melhor diretor do Sindicato dos Diretores da América, Chloé é a franca favorita.

Melhor Atriz
- Quem vai levar: Carey Mulligan (Bela Vingança)
- Em quem eu votaria: Carey Mulligan (Bela Vingança)
- Comentários: das 5 indicadas, só vi 2 em cena: Carey Mulligan e Viola Davis (por A Voz Suprema do Blues). Ambas estão igualmente excelentes e provam sua versatilidade ao fazer personagens bem "diferentes" de seu visual "normal". Meu voto vai para Carey simplesmente por ela ainda não ter nenhuma estatueta e Viola já ter a sua, ainda que seja de Melhor Atriz Coadjuvante.
Para mim essa é a categoria mais disputada dentre os prêmios principais da noite: Carey Mulligan vem forte nas apostas, porém Viola Davis venceu o prêmio de melhor atriz via Screen Actors Guild, e Andra Day (por The United States vs. Billie Holiday) recebeu o prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro. Qualquer uma destas 3 que levasse o Oscar para casa não surpreenderia.

Melhor Ator
- Quem vai levar: Chadwick Boseman (A Voz Suprema do Blues)
- Em quem eu votaria: Anthony Hopkins (Meu Pai)
- Comentários: claro que a atuação de Boseman foi boa e uma indicação merecida, porém nem ele nem os demais candidatos que assisti chegam perto da performance de Anthony Hopkins. Infelizmente para Sir Anthony, duvido que a Academia vai perder a oportunidade de dar um prêmio póstumo ao Pantera Negra.

Melhor Filme
- Quem vai levar: Nomadland
- Em quem eu votaria: Meu Pai
- Comentários: dos 8 indicados, eu vou até colocar em ordem quem eu acho que tem mais chances de vencer: Nomadland em 1º, Minari em 2º, e Os 7 de Chicago em 3º. Entendo que estes três tem possibilidades reais de levar a estatueta máxima e ficaria muuuuito surpreso se o prêmio não ficasse entre eles. Mas Nomadland aparece como favorito por ter levado a maioria dos prêmios até agora. Eu voltaria em Meu Pai, que gostei tanto que lhe dei uma das raras notas 9,0 deste blog. Mas não o vejo com qualquer chance de ganhar aqui, infelizmente.


Não percam!
A cerimônia do Oscar é NESTE domingo dia 25/04. As imagens do famoso "tapete vermelho" começam as 20h, sendo que a premiação em si começará as 22h. A transmissão será feita pelo canal pago TNT e na Globo pela TV aberta, sendo que na Globo a transmissão só começará depois da meia-noite, após o Big Brother. A expectativa é que tanto TNT quanto Globo liberem a transmissão gratuitamente pelos seus respectivos sites de streaming.

sábado, 24 de abril de 2021

Meu Pai – Reflexões sobre cuidados e perdas


Gostei tanto do filme Meu Pai, que lhes trago uma novidade: pela primeira vez em meu blog, publico um texto que não fui em quem escreveu. Ele é de autoria da minha amiga Vanessa, psicóloga, e não é uma análise cinematográfica sobre o filme: trata-se de suas impressões e reflexões após tê-lo assistido.

O texto a seguir apresentará vários spoilers, portanto é bem melhor que você o leia apenas após ter visto o filme. Vá assistir Meu Pai e depois volte aqui para apender um bocado. Espero que vocês gostem tanto do texto da Vanessa quanto eu gostei. Abraços!



O filme é muito comovente. Mostra o demenciamento a partir da vivência de Anthony, o mesmo nome do ator (Anthony Hopkins), e isso no decorrer do filme nos confunde e nos faz questionar se é a perspectiva do ator ou apenas uma coincidência com o nome do personagem. A sensação de confusão é uma característica importante na forma como a história é narrada, o que nos leva a ficar mais próximo da experiência emocional da senilidade.

Nos sentimos perdidos e vulneráveis frente ao processo de desrealização que a demência provoca. Alucinações visuais, auditivas, perda da noção de tempo e espaço são sintomas psicóticos da demência, muito bem representada no filme. A regressão das capacidades mentais de Anthony é uma decorrência da senilidade, ou seja, um processo de desligamento "natural" do cérebro.

Pensando nos vínculos é possível perceber que foi uma família com uma história marcada por conflitos e perdas, ou seja, uma família comum. Não temos a oportunidade de conhecer mais a fundo tais relações familiares, mas vemos um contexto de cuidado e amor. Anne é o vínculo real, aquele que Anthony busca para saber que está seguro no fim da vida, assim como a mãe e o bebê, no início de tudo. Está com medo, não aceita outras cuidadoras, recusa-as assim como à doença.

De maneira geral, a constatação da vulnerabilidade da vida, do não controle e da impotência frente às perdas e ao envelhecimento, gera sentimentos ambivalentes que são demonstrados, por exemplo, através da agressividade e carinho de Anthony à filha. Já Anne se dedica ao pai até o limite de suas possibilidades e os seus sentimentos naturais de ambivalência aparecem também: amor, raiva, medo, coragem, desejo de morte, acolhimento, etc. Ela sofre pelo paradoxo de lidar com sua impotência frente à doença e pelo desejo de viver uma nova vida. Decide por trata-lo numa instituição e isso em nossa sociedade é uma decisão muito difícil e passível de julgamento. 

É inevitável pensar nas diferenças entre a elaboração da morte como um processo natural da vida e na dificuldade de elaboração do luto no caso de morte acidental. Anthony perdeu a outra filha vítima de um acidente que deixou marcas de difícil assimilação para ele. Por fim, o filme nos mostra o processo triste e irreversível da constatação do envelhecimento e da morte como um processo solitário, frente à demência. Sim, as folhas caem, os galhos secam, o tronco enfraquece, perde-se a sensação do vento!!

Em relação aos detalhes cenográficos que me chamam a atenção, o primeiro que me deixa intrigada são as várias portas que aparecem no apartamento, em todas as cenas, e que nos aproxima da vivência de Anthony, nos deixando meio perdidos, com muitas entradas e saídas que levam ao mesmo lugar; os vários objetos no apartamento, que podem indicar uma vida cheia de histórias e vão saindo de cena no decorrer do filme e os dois homens que trazem um clima de rivalidade masculina às cenas. Em relação aos objetos e aos homens a confusão fica por conta de não sabermos ao certo se é pelo impacto da notícia da mudança da filha ou se são parte do delírio. Nem sabemos se a mudança da filha para Paris é real. As roupas de Anne se tornam um marcador temporal e espacial, como se cada roupa indicasse um dia específico. Outro objeto importante e central é o relógio, pela referência ao tempo, controle e claro, realidade. A desorientação temporal é um dos sintomas psicóticos, na demência. 

Ao final, já no quarto da instituição, existe apenas uma porta, ou seja, uma possibilidade de acessar a realidade o que leva Anthony a um momento de lucidez (sustentada por pouco tempo) e então, ele sente!  Essa cena é para mim a mais comovente, marcada pela constatação da perda da onipotência. Ele 'desmonta' nos braços da enfermeira, chora (e nós também) como uma criança pequena pedindo pela mãe. Na última cena com as árvores cheias de folhas do lado de fora mostra que a vida segue acontecendo e que a morte pelo envelhecimento é um processo, não um acidente.

Vanessa T. Calderelli Winkler

Crítica - Meu Pai (2020)

Título: Meu Pai ("The Father", França / Reino Unido, 2020)
Diretor: Florian Zeller
Atores principais: Olivia Colman, Anthony Hopkins, Mark Gatiss, Olivia Williams, Imogen Poots, Rufus Sewell
Nota: 9,0

Com performance genial de Anthony Hopkins, produção faz o espectador experimentar a demência

Meu Pai é a adaptação para os cinemas da aclamada peça teatral de mesmo nome escrita pelo francês Florian Zeller, que também é diretor e co-roteirista deste filme. A produção recebeu 6 indicações ao Oscar, incluindo a de Melhor Filme.

Na história, Anthony (Anthony Hopkins) mora sozinho em seu apartamento, e recebe visitas diárias de sua filha Anne (Olivia Colman). Porém a mente de seu pai está se degradando rapidamente e Anne não quer ficar totalmente presa a ele. É então que ela tenta alternativas, como trazer uma cuidadora, ou talvez colocá-lo em uma casa de repouso: medidas interpretadas por Anthony como uma tentativa da filha de lhe roubar a posse do apartamento.

O trailer do filme vende esta dúvida: estaria Anthony correto de suas desconfianças? Felizmente depois de uma meia hora de projeção já temos esta resposta, e o filme segue com coerência até o final em relação a opção escolhida.

A verdade é que Meu Pai é um filme muito bom, excepcional. E como "prova" disto, afirmo que as seis indicações ao Oscar recebidas são merecidíssimas: Melhor Filme, Melhor Ator Principal, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte e Melhor Edição/Montagem. Tirando os prêmios de Melhor Atriz e Direção de Arte (e ambos são excelentes!), eu daria facilmente o prêmio máximo ao filme nas 4 outras categorias.

Se Meu Pai é brilhante em muitos quesitos, ainda assim a atuação de Anthony Hopkins esta acima de qualquer coisa. Ele, que é um dos melhores atores vivos, com seus atuais 83 anos entrega uma de suas melhores performances. Independentemente das intenções da filha, o pai sofre mesmo de demência, e Hopkins atua tão bem que seu comportamento errático parece assombrosamente real. Suas expressões faciais, movimentação corporal... tudo dá uma impressionante sensação de realismo em seus atos de confusão e esquecimento. Simplesmente fantástico.

E, claro, esta atuação magnifica só pôde atingir este altíssimo nível com o suporte do igualmente excelente roteiro: detalhes como a fixação de Anthony pelo seu relógio de pulso (que representa algo "estável" que ele pode controlar) são muito precisos em relação aos sintomas da demência real.

E tem algo ainda mais genial no roteiro, juntamente com montagem e direção de arte: mesmo mostrando o ponto de vista de Anthony, conseguimos nos sentir "na pele" de ambos os personagens, pai e filha. As confusões do pai são sentidas igualmente por nós, os confusos espectadores; e ao mesmo tempo, sofremos como Anne sofre ao ver o pai naquele estado.

Meu Pai é um filme que nos faz refletir - e principalmente sentir - sobre a velhice, a passagem do tempo, família, amor, e como a sociedade trata os idosos. E são assuntos que todos nós já enfrentamos, ou iremos inevitavelmente enfrentar. Se você quer entender "de verdade" os efeitos de envelhecer, ou ainda, assistir uma aula de atuação, Meu Pai é obrigatório. Nota: 9,0

Gosta de suspense e terror? Você deveria conhecer Locke & Key

Locke & Key é uma série de HQs de terror/suspense que já de cara deveria chamar a atenção devido ao nome de seu escritor: Joe Hill...