terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Os DEZ Melhores Consoles de Videogame de Todos os Tempos (ou então: Uma Breve História Sobre os Consoles de Videogame)


Já vi dezenas de listas sobre os "melhores consoles de todos os tempos", e nenhuma ficou muito próxima da minha. Talvez por que quem escreve estes rankings não acompanhou o mercado de videogames desde o começo, quando "tudo era mato", como eu tive oportunidade de fazer? rs. Não sei. Enfim, seguem aqui os 10 consoles de videogame que mais admiro (não inclui os portáteis, apenas consoles "de mesa"). Eles estão listados abaixo em ordem cronológica de lançamento, mas se quiserem ver o ranking numerado com a minha preferência, só vão encontrá-lo no final do artigo.



Atari 2600 (EUA, 1977, 2ª geração)


Por mais "toscos" que seus jogos possam parecer nos dias de hoje, o Atari 2600 não só foi o primeiro videogame que joguei, mas também foi o primeiro videogame de dezenas de milhões de jogadores em todo o mundo. Foi o primeiro console "para se jogar em casa" que se tornou verdadeiramente popular, e seu modelo de negócio é base de toda a indústria de videogames atual. Por exemplo, foi o Atari 2600 (originalmente lançado como Atari VCS) quem popularizou os cartuchos ROMs que seriam usados por consoles posteriores por décadas.

O Atari 2600 foi certamente o responsável por inserir videogames na casa das pessoas do Ocidente; e se não o fez no Oriente (que o Atari não alcançou), pelo menos ele foi a fagulha que proporcionou à Nintendo a coragem de lançar seu primeiro "home" console alguns anos depois, o NES.

Os maiores sucessos do console vieram dos fliperamas, como por exemplo Pac-Man, Space Invaders, Frogger e Asteroids. Mas a grande popularidade deste videogame exigia novos lançamentos de jogos constantes, e com isto a Atari precisou ir bem além dos arcades e contou com a ajuda de outras desenvolvedoras, principalmente a Activision.

Com limitadíssimas capacidades de gráfico, cores, som e armazenamento, restou aos desenvolvedores de jogos do Atari abusarem da criatividade, criando para este console alguns jogos inovadores e memoráveis, como por exemplo: AdventureAtlantisPitfall!H.E.R.O.River RaidEnduroKeystone KapersYars' Revenge e Solaris.

O jogo Adventure e o primeiro easter egg mundialmente famoso

Adventure, por exemplo, não só é considerado o primeiro jogo de ação-aventura da história, como também teve o primeiro easter egg a se popularizar, onde seu criador Warren Robinett, deixou seu nome escrito em uma sala secreta.



Nintendo Entertainment System (Japão, 1983, 3ª geração)

Lançado como Family Computer, ou "Famicom" no Japão, demorou dois anos para que ele fosse completamente remodelado e lançado como NES nos Estados Unidos. Se o Atari 2600 foi o console que trouxe os videogames para dentro da casa das pessoas no Ocidente, este foi o papel do Famicon (ou NES) no Oriente. E tão importante quanto, quando o mercado estadunidense de videogames "quebrou" em 1983, foi a entrada do NES na América que salvou esta indústria. Sem o "Nintendinho", talvez o mercado ocidental dos videogames não tivesse ressurgido na década de 80, e toda a história da humanidade seria diferente...

Trazendo um console bem superior ao Atari 2600 em imagem, som e capacidade de memória, a Nintendo não só pôde trazer com mais qualidade para o consumidor adaptações dos arcades de seus personagens, como Mario e Donkey Kong, como também pôde inaugurar diversas franquias de sucesso que existem até hoje, como por exemplo The Legend of Zelda, Metroid, Final Fantasy, Mega Man e Castlevania.

Diferentemente da Atari, que dependia muito de si e de parcerias para lançamentos de jogos, a Nintendo criou um modelo totalmente novo, de "terceirizar e licenciar" os jogos para o NES, o que lhe garantia um catálogo maior e de qualidade de games com muito mais rapidez. Ao mesmo tempo, a Nintendo "obrigava" as desenvolvedoras de software a assinarem um contrato de exclusividade com ela, o que não só gerava um eticamente questionável monopólio, como deixava algumas empresas desconfortáveis. Por exemplo, Konami, Capcom, Taito e Namco aceitaram as exigências de exclusividade; já a Activision, Electronic Arts e Epyx, não. De qualquer forma, esta estratégia agressiva da Nintendo funcionou, e este acordo de restrição obtido com várias produtoras de jogos foi mais um enorme obstáculo para suas concorrentes (que perderiam a "batalha comercial" da época).

Contra e Teenage Mutant Ninja Turtles 2, dois sucessos produzidos pela Konami

Ironicamente, dentre os muitos sucessos do NES, um dos jogos mais famosos e revolucionários foi desenvolvido pela própria Nintendo, trata-se de Super Mario Bros., de 1985 (ver foto mais acima). Resultado de três anos de desenvolvimento, sua ótima jogabilidade, precisão nos movimentos, fluidez no rolamento lateral de tela, ótima trilha sonora, tudo isso fizeram o game ser até hoje colocado pelos especialistas na lista dos melhores jogos de todos os tempos. Já o primeiro The Legend of Zelda, quando chegou ao EUA em Agosto de 87, se tornou o primeiro jogo em cartucho a ter bateria interna para gravar jogos salvos. The Legend of Zelda foi outro jogo original da Nintendo que entrou para o hall de melhores jogos de todos os tempos, pois no remoto 1986, impressionou ao já trazer um mundo aberto para se explorar, além da curiosa união de RPG com ação.

O NES conta com uma biblioteca de quase 1400 jogos, e apesar de nunca ter chegado oficialmente ao Brasil, graças a seus consoles "clones" como o Top Game da CCE, o Dynavision II da Dynacom, e o Phantom System da Gradiente, o "Nintendinho" também fez a alegria dos brasileiros com seus jogos divertidíssimos.



Sega Master System (Japão, 1985, 3ª geração)

Ainda no mundo dos consoles de 8 bits, o Master System tinha um hardware bem superior ao seu rival "Nintendinho" (NES). Entretanto, graças a algumas decisões comerciais e de marketing ruins, mas principalmente por enfrentar um concorrente já muito consolidado no mercado, este brilhante console da SEGA ficou bem atrás das vendas do NES, principalmente nos EUA.

Azar dos EUA, que perderam a oportunidade de jogar algo superior e igualmente empolgante: jogos como Phantasy Star, Alex Kidd in Miracle World, Wonder Boy 3 e 5, e vários jogos da franquia Disney, como por exemplo Land of Illusion Starring Mickey Mouse eram muito superiores em gráficos e som do que qualquer jogo do NES (ver imagem mais abaixo). Outra diferença gritante entre o Master System e o Nintendinho eram as cores: o console da SEGA possuía cores mais claras e vivas; aliás a paleta de cores do Master é uma das melhores que já vi.

O quase "monopólio" da Nintendo para distribuir jogos de empresas terceiras foi certamente um entrave para aumentar o catálogo para o console, porém acabou gerando algo positivo: obrigar a SEGA a desenvolver seus próprios jogos, muitos deles excelentes, o que acabou gerando franquias inéditas de games que futuramente colocariam a SEGA no mesmo patamar de vendas da Nintendo. Em resumo o NES tinha uma biblioteca de jogos muito maior que a do Master, e também, claro, tinha ótimos jogos. Porém os melhores jogos do Master System eram superiores graficamente aos melhores jogos do NES e ponto final.

Wonder Boy 5 e Land of Illusion

Os principais acessórios deste console da SEGA, a pistola Light Phaser e os Óculos 3D, também eram bem superiores em qualidade comparando com as versões dos consoles rivais. Os tais óculos aliás eram quase revolucionários, porém tiveram vida curta: poucos jogos compatíveis (apenas oito), e com a entrada para uso já removida para todas as versões seguintes do console, a partir do Master System II internacional (Master System 3 no Brasil). A se lamentar o fato de que apenas os Master System japonês e coreano receberam em suas placas o chip de som FM, um componente que acrescentava uma enorme qualidade no som do sistema, possibilitando os videogames caseiros com melhores sons já vistos (e incluo nisto os jogos de computadores pessoais), até o surgimento do PC Engine pela 4ª geração.

O legado do console em termos de jogos é maior do que a imprensa especializada costuma relembrar. Além de jogos que marcaram história no mundo dos videogames como os já citados Phantasy Star e Alex Kidd in Miracle World, o Master System foi o único console até hoje que portou alguns arcades da SEGA como Alex Kidd: The Lost Stars e Shadow Dancer; o jogo Wonder Boy é melhor e maior que a versão do arcade, por possuir checkpoints, fases extras e fases bônus (por isso mesmo ele foi lançado no Japão como Super Wonder Boy). Outros exemplos nem envolvem fliperamas: lançado em dezenas de consoles, inclusive para consoles da 4ª geração, a versão do Master para California Games (nosso Jogos de Verão) é de longe a melhor dentre todas em todos os tempos.

O brilhante trabalho da TecToy fez com que o Master System se tornasse o mais "brasileiro" dentre todos os consoles que já pisaram por aqui: jogos portados exclusivamente para o Brasil (e também alguns jogos 100% brasileiros, como por exemplo o Castelo Rá-Tim-Bum), jogos traduzidos para o Português (algo simplesmente inimaginável para consoles na época), programa diário com dicas na TV aberta... e tudo isto culminou em um recorde: o velho Master é o videogame de maior longevidade de todos os tempos, e ele continua em produção aqui no Brasil até hoje. 



Mega Drive / Genesis (Japão, 1988, 4ª geração)


Pegue o já excelente Master System e o melhore muito em tudo. Faça o primeiro console com processamento verdadeiramente em 16 Bits do mundo (o PC-Engine era 16 Bits apenas no processador gráfico). E mais ainda, faça tudo isso um ano e meio antes da gigante única dos videogames, a Nintendo. Tudo isto é o sensacional Mega Drive (ou SEGA Genesis nos EUA), que seria o primeiro grande console daquela que considero a maior dentre todas as gerações de consoles.

A evolução dos jogos comparando com a geração anterior era enorme: era um deleite jogar em casa as adaptações de clássicos arcade da SEGA como Altered Beast, Alien Storm, Bonanza Bros.ESWAT, Gain Ground, Galaxy ForceGolden AxeOut Run, Super Monaco GP, etc. E o fato da SEGA lançar um produto de grande qualidade bem antes da Nintendo fez com que enfim ela competisse com a gigante rival em vendas. Se a empresa do Mario conseguiu quase 50% do mercado da 4ª geração, a SEGA a seguiu de perto, com quase 40%.

Uma enorme contribuição do Mega Drive para o mundo dos videogames foi seu foco em jogos de esportes, em parceria com a desenvolvedora Electronic Arts. Seguindo o plano de marketing dos presidentes da Sega of America (Michael Katz até metade de 1990, e Tom Kalinske após ele), o Mega Drive foi quem efetivamente colocou jogos de esportes de qualidade dentro dos consoles caseiros, e dava um banho no rival SNES neste gênero. Os primeiros jogos de esportes, da era Katz, eram exclusivos do console e eram associados aos maiores esportistas do momento: Pat Riley Basketball, Arnold Palmer Tournament Golf, James 'Buster' Douglas Knockout Boxing, Joe Montana Football, Tommy Lasorda Baseball; mas os melhores jogos viriam depois, já sob Kalinske: a série John Madden Football, a série FIFA, a série NHL, a série NBA. Embora estes jogos não fossem mais exclusivos (eles também eram lançados no SNES), no Mega Drive / Genesis eles sempre chegavam às lojas alguns meses antes do que no videogame rival.

Streets of Rage 2 foi um dos melhores e mais aclamados Beat 'em up de sua geração

Outro marco importante foi o lançamento do jogo Sonic the Hedgehog, em 1991, e que se tornaria o mascote oficial da SEGA a partir de então. Criado para ser algo "novo e descolado", e que desfrutasse do máximo da capacidade de processamento do Mega Drive, o game cumpriu seu propósito e mostrou gráficos de qualidade com uma velocidade de movimento jamais visto na história dos videogames.

Na concorrência contra o SNES, o Mega Drive também acabou produzindo alguns ótimos clássicos exclusivos bem "diferentões", como por exemplo Comix Zone, Ecco the Dolphin, Gunstar Heroes, Kid Chameleon e ToeJam & Earl.

O 32X resultou em jogos raros e exclusivos, como por exemplo o estranho Knuckles' Chaotix (à esq.) e o belíssimo Kolibri (à dir.)

Com o objetivo de aproveitar ao máximo das enormes vendas do console, a SEGA ainda lançou dois adicionais ousados e caros: o Sega CD (1993) e o 32X (1994). O 32X recebeu ótimos jogos, que aproximaram o Mega Drive mais do que nunca dos arcades; já o Sega CD trouxe entre seus cerca de 200 jogos, muitos que só eram possíveis em computadores, como por exemplo, games de adventure e RPG mais longos, e/ou jogos que tivessem cenas de full motion vídeo.

Porém, a SEGA América dava bem mais atenção ao 32X; e a SEGA Japão dava ao Sega CD. A concorrência interna prejudicou ambos dispositivos, que tinham desenvolvimento e marketing divididos. Para piorar, o lançamento de novos jogos para ambos durou apenas alguns anos, já que em paralelo já estava surgindo a 5ª geração de consoles. A decepção de quem investiu dinheiro nestes aparelhos foi um dos vários fatores que justificaram o fracasso do console seguinte da empresa, o SEGA Saturn. As constantes divergências e rivalidade entre SEGA América e SEGA Japão foi outro fator, este ainda mais determinante.



Super NES (Japão, 1990, 4ª geração)


Se nos 8 bits o console da Nintendo era inferior tecnicamente do que o da SEGA, na geração dos 16 bits a empresa do Mario deu o troco. O Super NES tinha uma capacidade bem maior do que o rival Mega Drive, e após alguns meses com vendas mornas, ganhou o gosto do público e foi um enorme sucesso, sendo o console mais vendido da geração.

O "Nintendinho" trouxe vários ótimos jogos e franquias... mas ainda assim com limitada qualidade de som e imagem. Com o Super NES, franquias como Super Mario BrosMetroid, Castlevania, etc finalmente ganharam visual e músicas que mereciam, e viraram jogos espetaculares.

Se o Mega Drive era superior em jogos de esportes, o Super NES era melhor nos jogos de RPG. Os exclusivos Final Fantasy, Zelda, Mario RPG e Chrono Trigger tinham uma qualidade incrível, tanto de jogabilidade quanto em história. Outro gênero que o SNES vencia era o de carros de corrida: F-Zero, Top Gear e Super Mario Kart foram franquias exclusivas e excelentes que estrearam neste console, sendo que os dois últimos permitiam jogos multi-jogador, e protagonizaram duelos divertidíssimos na casa dos jogadores.

Enquanto a SEGA focava o marketing de seus jogos nos adolescentes, a Nintendo tinha uma abordagem de fazer jogos para toda a família, dos meninos às meninas, dos pais aos filhos. Com um público alvo tão amplo, o SNES ultrapassou a marca de 1700 jogos em seu catálogo (cerca do dobro do Mega Drive) e também foi mais bem sucedida no licenciamento de outros produtos.

O controle do SNES, elegante, com 4 botões principais distribuídos entre eles na posição de um "X", e mais dois botões laterais L1 e R1 em seu topo/traseira, acabaram se tornando a base de todos os controles de videogames a partir de então.

Em 1993 a Nintendo lançou o chip Super FX, um adicional que permitiria melhor processamento de gráficos 3D. Junto a ele, veio o lançamento do bem impressionante jogo de naves Star Fox. Apesar do enorme sucesso de críticas e vendas do jogo que inaugurava o dispositivo, o Super FX foi ainda menos aproveitado que o 32X do Mega Drive (que aliás só surgiria 1 ano depois), e teve apenas 8 jogos compatíveis.

Os espetaculares Star Fox e Donkey Kong Country

Um dos maiores motivos do "abandono" do Super FX veio provavelmente da competência da própria Nintendo. Em 1994 o SNES apresentaria ao mundo mais uma revolução, o jogo Donkey Kong Country, jogo de plataforma onde os personagens desta franquia apareciam pela primeira vez em 3D. Aproveitando-se ao máximo do console, a Nintendo ganhou muito dinheiro com a série Donkey Kong Country, e deixava claro que era possível continuar evoluindo seus jogos apenas com seu console base, sem a necessidade de incorporar outro chip gráfico ao seu produto.

Somando prós e contras do Super NES e do Mega Drive, ambos foram consoles incríveis, com extensas bibliotecas de jogos (muitos deles em comum), e para dizer qual dos dois foi melhor vai mesmo do gosto do jogador... enquanto eles "empatavam" em jogos de luta e plataforma, repito que o primeiro vencia no RPG e o segundo vencia em jogos de esportes. O que importa é que estes dois videogames foram tão bons que pra mim deixam a 4ª geração como a melhor de todos os tempos. E isso que nem falei de mais um console dela, que vem a seguir...



Neo Geo (Japão, 1991, 4ª geração)

O maior sonho de todo console dos anos 80 e 90 era se igualar as potentes máquinas dos fliperamas; e portanto, nada mais justo colocar na lista de melhores consoles aquele que foi o primeiro a verdadeiramente atingir este feito. Tanto é verdade, que quando o Neo Geo AES (o console caseiro) foi colocado à venda, ele rodava exatamente os mesmos jogos do Neo Geo MVS (a versão arcade, lançada um ano antes).

O Neo Geo era tão mais avançado que os demais consoles da 4ª geração, que há quem diga que ele deveria pertencer a uma geração a parte, ou seja, a geração "4,5". Seu fracasso comercial certamente veio devido seus altos preços. E curiosamente, de certa forma isso foi meio que "previsto" desde o início do console.

É que imaginando que um consumidor comum não teria dinheiro para comprar o Neo Geo, ele inicialmente foi lançado apenas no Japão... para ser alugado(!). Funcionaria assim... as lojas de games compravam o console, e alugavam eles para os consumidores. Como o sucesso dos "aluguéis" e o pedido dos jogadores para lançar o produto nas lojas foram muito maiores do que o esperado pela SNK, a empresa resolveu então arregaçar as mangas, e entrar pra valer no mercado "padrão" de consoles.

Quando o console saiu nas lojas, ele era bem mais caro que os concorrentes (literalmente 2x ou 3x mais caro do que um Mega Drive ou um SNES), e isso nem era o pior: cada novo jogo, sozinho (em seus gigantescos cartuchos) custavam quase o preço de um console concorrente. Portanto residia nos caríssimos cartuchos de cerca de 300 MB o maior desafio comercial do Neo Geo. Ah sim, e ainda tinha mais um problema: em seu ano de lançamento, o console tinha uma biblioteca de jogos muito pequena, já que as produtoras de jogos já estavam fechadas com a SEGA e principalmente com a Nintendo, o que obrigou a SNK a desenvolver seus próprios títulos. 

Uma das telas de Loading do Neo Geo CD

A SNK Corporation até tentou salvar seu console comercialmente, lançando o Neo Geo CD em 1994, uma opção bem mais em conta principalmente na hora da compra dos jogos, pois a produção de CDs era muito mais barata. Porém o leitor de CD era de velocidade apenas 1x, muito lento para o que o console precisava, e o que deveria ajudar, pirou a imagem do Neo Geo, que ficou famoso pela demora com que os jogos de CD carregavam (havia loadings que demoravam cerca de 1 minuto). Meses depois, surgiu o PlayStation com seu leitor de velocidade 2x, e isso praticamente decretou o fim do Neo Geo (aliás, o PS1 massacrou toda a concorrência da época quando chegou).

A SNK até fez uma última tentativa em 1995, lançando o Neo Geo CDZ, agora com leitor de 2x, que diminuía o tempo dos loadings, mas não os eliminava. Porém já era tarde demais; os consoles de 5ª Geração já dominavam amplamente o mercado, com jogos bem mais avançados.

Ainda hoje dá para cravar que o Neo Geo foi o melhor console para jogos de luta de "um contra um" em 2D em todos os tempos: Art of FightingFatal Fury, Samurai Shodown, The Last Blade, The King of Fighters são apenas algumas franquias que sugiram e tiveram vários títulos no Neo Geo. Só que toda esta qualidade gerou uma enorme injustiça: a fama de que este console só era bom para jogos de luta. Se engana em muito quem pensa assim, como veremos a seguir.

Magician Lord e Super Sidekicks 3

Jogos de esporte? O Neo Geo tinha os ótimos Windjammers (vários mini jogos usando frisbee), Goal! Goal! Goal! e a franquia Super Sidekicks (futebol), Street Slam (basquete de rua), além de vários títulos para Futebol Americano e Baseball; Jogos de ação e plataforma? ele tinha a espetacular franquia Metal Slug e outros jogos como Magician Lord e Top Hunter; Jogos Beat 'em up?, havia a franquia Sengoku e o Mutation NationJogos de "navinha"? haviam Aero Fighters, Blazing Star, Last Resort, Prehistoric Isle 2Pulstar. Ou seja, jogos incríveis não faltavam, mas ainda assim sua pequena biblioteca (cerca de 160 jogos no total, já considerando cartuchos + CDs) é apontada como "defeito" deste console.

Em sua lista de "ausências", o Neo Geo não tinha jogos em 3D, o que lhe "impediu" de trazer jogos de simulação de corrida ou de tiro em primeira pessoa. Os RPGs também praticamente não existiam, ainda que se possa dar destaque para o bom Crossed Swords, e ao Samurai Shodown RPG (este saiu exclusivamente em CD no Japão e também foi portado para o Playstation e SEGA Saturn). Imagino que a escassez de RPGs ocorreu porque o Neo Geo era um console pensado nos fliperamas, e a grande maioria dos jogos do console eram feitos para serem rápidos e casuais.

Ainda assim, o Neo Geo deixou um importante legado para os jogos "demorados": foi o primeiro console caseiro a ter um cartão de memória removível para jogos salvos. E vejam que curioso: o memory card do console era compatível com as máquinas de arcade! Ou seja, você poderia jogar um jogo na sua casa no seu Neo Geo AES, e posteriormente continuar a jogar em um fliperama, de onde parou, em um Neo Geo MVS (e vice-versa)!

Samurai Shodown II e Samurai Shodown RPG

Outra característica bacana dos jogos do Neo Geo é que dentro de todos eles haviam instruções de como jogar (em geral apenas mostrando o comando que cada botão realizava), ajudando os novos jogadores e dispensando manuais - uma consequência dos jogos serem simultâneos aos arcades. Esse tipo de recurso de auxílio surgiu justamente em games da 4ª geração, porém nos jogos de outros consoles era algo bem raro e esporádico, enquanto era padrão no Neo Geo. Por fim, acabou se tornando algo bem mais comum nos jogos de gerações posteriores.

Junto com o Master System, o Neo Geo é o console cujo destino comercial eu mais lamento. Ele merecia um sucesso muuuuito maior. É verdade que seu alto custo inviabilizou seu sucesso, mas entendo também ter existido erros na estratégia de vendas da SNK. Por exemplo: o Neo Geo CD não deveria ter nascido com um leitor 1x, e sim direto com um 2x; as versões CD do Neo Geo praticamente não foram vendidas fora do Japão... e sabem por quê? Porque quando a SNK enfim iniciou as vendas do Neo Geo CD nos EUA, o Neo Geo CDZ (velocidade 2x) já estava anunciado (então por que eu vou comprar algo já sabidamente inferior e famoso pela lentidão?).

De qualquer forma, por mais que a SNK tenha errado, sou muito grato a eles por esse brilhante console, que por seu design, qualidade e preço bem superiores (levando em conta a inflação, ainda hoje mantém o posto de console mais caro de todos os tempos) era visto como um produto segmentado, diferenciado, e por isto já foi comparado a uma "Ferrari", ou a um "Cadillac". Para mim ótimas comparações, pois todos eles são clássicos que não perdem o encanto com o passar do tempo.



PlayStation (Japão, 1994, 5ª geração)

No início dos anos 90, a Sony entendia que o CD era o futuro dos videogames, e queria uma parceria para entrar com essa tecnologia no mercado. Primeiro ela procurou a Nintendo, e foi rejeitada. Depois ela procurou a SEGA. Enquanto a SEGA América até demonstrou interesse, a SEGA Japonesa recusou a idéia veementemente. Então restou a Sony fazer seu próprio console. Pior para a Nintendo e para a SEGA, pois quando o PlayStation surgiu, não somente dominou em vendas a 5ª geração dos consoles, como em questão de poucos anos tornou a Sony a empresa líder de Videogames no mundo, posto que ela ocupa até hoje.

Mesmo não sendo a pioneira em jogos de CD (que já haviam aparecido em consoles da geração anterior), certamente foi o PlayStation o console que tornou esta mídia popular e verdadeiramente bem sucedida. Mas se o CD não pode ser considerado uma revolução sua, o mesmo não podemos dizer do seu controle. Seu controle original, trazia um número recorde de 10 botões (isso sem contar o direcional), 2 a mais que o controle do SNES, que o inspirou. Mas principalmente, trazia duas alças laterais para melhor segurá-lo. Ou seja, pela primeira vez um controle de videogame deixava se ser um "pequeno tablete". Em 1996 a Nintendo lançaria para seu Nintendo 64 um controle que tinha um pequeno direcional analógico extra, e um dispositivo de rumble (tremida) para se acoplar (se comprado extra). Então em 1997 a Sony lançou para seu PlayStation o controle Dual Shock, que continha todos os botões do controle inicial do console, mais dois direcionais analógicos bem grandes, e rumble já embutido: um controle realmente excelente, revolucionário, e pra deixar o do Nintendo 64 bem para trás. O Dual Shock continua sendo o "modelo" de controles das gerações posteriores de PlayStation.

O controle original (esq.) e o Dual Shock (dir.)

Como principal característica desta geração, o PlayStation foi o console que iniciou pra valer a troca dos jogos 2D para o 3D, e inaugurou franquias como Metal Gear Solid, Gran Turismo, Resident EvilCrash Bandicoot, Tony Hawk e Tekken (na verdade este último surgiu 4 meses antes nos arcades).

PlayStation também ajudou a popularizar outras franquias, como Tomb RaiderFinal Fantasy. Esta famosa série de RPG da Square, aliás, deixou a Nintendo e encontrou no PlayStation a sua nova casa, sendo que até hoje, um novo Final Fantasy é lançado primeiro no PlayStation da geração atual, para só depois de alguns anos ser lançado nos demais consoles.

Hoje com gráficos considerados "quadrados e feios", na época as versões iniciais de Tomb Raider (esq.) e Metal Gear Sold (dir.) impressionaram e foram enorme sucesso de vendas

Para mim, Final Fantasy VII (1997) é o grande jogo do PlayStation, um dos melhores jogos que já joguei na vida, e um dos melhores jogos já feitos em todos os tempos: pela sua evolução gráfica, desafio, história, sensação de mundo aberto, mini-jogos... tudo. Não à toa ele continua até hoje recebendo remakes e derivados.

PlayStation foi o primeiro console de mesa a ultrapassar, oficialmente, a marca de 100 milhões de cópias vendidas. Parte disto é explicado pela estratégia da Sony, que para ganhar o mercado, por muito tempo vendeu seu aparelho a um preço menor que seu custo, visando compensar as perdas com vendas nos jogos. A estratégia deu certo e aliás jogos para comprar não faltaram: foram mais de 4000 títulos diferentes para o PlayStation, outra marca muito superior a qualquer outro console até então, e que só foi possível graças a tecnologia do CD. A Sony estava certa, afinal.



PlayStation 2 (Japão, 2000, 6ª geração)


Embora eu tenha jogado bastante - e gostado - o PlayStation 1, em geral eu não curto a 5ª geração de videogames, repleta de jogos 3D "quadradões". Mas quando o PlayStation 2 chegou, não somente resolveu de vez esta limitação gráfica como trouxe uma evolução incrível em relação ao seu modelo anterior.

Fica até difícil explicar o quanto o PS2 é bom... mas saibam que ele é até hoje o console mais vendido de todos os tempos, teve mais de 3800 jogos lançados, e também costuma ser eleito "o" melhor console de todos os tempos pela crítica especializada. E deixando claro que não se trata apenas de quantidade, mas também qualidade, o PS2 é o único console que possui mais de 50 jogos com nota 90+ no Metacritic.

PlayStation 2 foi o primeiro console a rodar jogos em DVD, o que foi um enorme atrativo na época, já que ele também permita rodar DVDs de filmes e música. E ainda funcionava com os jogos em CD do PlayStation anterior, sendo o primeiro console de mesa "famoso" a ter retrocompatibilidade sem depender de algum acessório externo extra para isto (o único console a fazer isto antes dele foi o obscuro Atari 7800).

Final Fantasy VII, do PS1 (1997) versus o Final Fantasy X, do PS2 (2001), exemplificando a evolução gráfica entre eles

E por falar em jogar jogos "antigos", o PlayStation 2 foi o primeiro console de mesa a lançar grandes clássicos arcades exclusivos da SEGA (isso sem contar os próprios consoles da SEGA, claro), via série SEGA Ages 2500. O nome 2500 vem do preço dos jogos no Japão, lançados a 2500 Ienes. Alguns jogos são cópias do arcade original, mas a maioria das versões são remakes exclusivos atualizando-os para os gráficos da época. Foram 33 títulos no total, sendo alguns deles coletâneas. É verdade que alguns destes remakes não ficaram bons, mas outros ficaram bem aceitáveis... e digo mais, só a intenção e bom gosto de relançar os jogos da SEGA já vale muitos elogios para este console!!!

Franquias famosas e exclusivas como Grand Theft Auto, Final Fantasy e Metal Gear Solid alcançaram uma qualidade gráfica inimaginável com o PS2. O irônico é que jogos bons surgiram mesmo sem precisar de um espetáculo visual. É o caso da franquia Guitar Hero, que iniciou sua vida no PS2, simulava tocar uma guitarra, e foi um dos maiores sucessos de venda do console.

Ainda foi nele que surgiriam outras franquias excelentes, como God of War e Kingdom Hearts. Aliás, depois que eu vi rodando jogos como God of War (I e II), Shadow Of The Colossus e Okami, a conclusão que cheguei na época é que não seria mais necessário um videogame mais potente do que o PlayStation 2: graficamente ele já conseguiu atingir tudo o que eu desejava. Porém minha visão mudou com o avanço da tecnologia: a chegada das TVs planas em HD criou a necessidade para novas evoluções gráficas.



Xbox 360 (EUA, 2005, 7ª geração)


O Xbox 360 foi o primeiro console da 7ª geração, revolucionando o mercado de games ao ser o primeiro console com gráficos HD (480 pixels verticais), e também, pelo enorme avanço que trouxe em sua rede Xbox Live (que já existia desde 2002): pela primeira vez na história os usuários podiam "de fato" comprar jogos e jogar contra outros jogadores pela internet com ótima qualidade. Sim... jogar pela internet via consoles caseiros começou a decolar na geração anterior, inicialmente com o Dreamcast; porém foi só nesta geração que isto virou uma febre, e não é exagero dizer que o primeiro "culpado" foi o Xbox 360. Ele foi o primeiro videogame a conseguir rodar jogos de última geração para múltiplos jogadores online a nível global, além de trazer conceitos competitivos inovadores como as Conquistas e o GamerScore. Agora os jogadores poderiam ir atrás dos mais variados desafios - ao invés de apenas vencer os jogos - e se comparar com adversários do mundo inteiro.

Outro ponto que merece destaque é que a 7ª geração deu um salto de processamento de pelo menos 10x mais em relação à geração anterior. E o mais impressionante sobre todas as qualidades que disse sobre o Xbox 360 até aqui, é que ele fez tudo isso 1 ano antes de seu concorrente PlayStation 3 ser lançado! E, outra novidade: o Xbox 360 foi o primeiro console a vender controles sem fio junto com a versão padrão do videogame, embora também houvesse para venda a versão com controles de fios USB.

À direita, Kinect Adventures!, o jogo mais vendido do console. À esquerda, Halo 4, um de seus exclusivos mais bem sucedidos

E mesmo já sendo um baita console por si só, ele também entrou na minha lista de melhores devido sua importância mercadológica: ele foi o primeiro (e até hoje único) videogame a se equiparar em vendas com o da rival Sony. Se o Xbox 360 não tivesse sido um sucesso de vendas e um real concorrente ao PlayStation 3, talvez hoje veríamos um completo monopólio da Sony no mercado, o que seria muito ruim para todo mundo.

Xbox 360 também entra na minha lista por ter trazido o Kinect, o melhor controlador de movimentos  de sua época. Mesmo que longe de ter respostas de movimentos perfeitas, ele foi superior aos seus concorrentes diretos de mesma geração - Wii Remote (Nintendo Wii) e PlayStation Move (PlayStation 3) - por dispensar o uso de qualquer controle físico, sendo necessário apenas o próprio corpo do usuário. Ironicamente o grande ponto positivo do Kinect é também seu principal ponto negativo, já que qualquer jogo mais avançado necessita pelo menos de um "botão" para funcionar melhor. Na prática, o Kinect foi o melhor aparelho porém com os jogos mais simplórios. Ainda assim, foi um marco tecnológico muito impressionante.

O Kinect

Este incrível console poderia ter sido ainda mais bem vendido, e estar mais presente na lista dos "melhores consoles de todos os tempos" dos especialistas se não fosse o lamentável problema do Red Ring of Death, onde o aparelho "travava" e 3/4 do anel de Led que envolve o botão de liga/desliga do console ficavam permanentemente acesos em vermelho, indicando um erro de hardware (em geral devido a superaquecimento), deixando como única opção desligá-lo. Oficialmente a Microsoft fez de tudo para "minimizar" o problema, mas nunca dizendo a porcentagem real de consoles com defeito, limitando a dizer que era próximo da taxa de falha aceita pela indústria. De qualquer forma, eles estenderam a garantia do produto e trocavam os consoles com problemas. Pela falta de dados oficiais, até hoje é difícil mensurar as falhas de hardware do Xbox 360. Porém as revistas especializadas citam números que entre 30 a 60% dos consoles fabricados nos dois primeiros anos apresentaram algum defeito de hardware... um valor assustador! A Microsoft chegaria a resolver o problema lançando posteriormente outros 2 novos modelos corrigidos/melhorados do próprio Xbox 360, mas sua reputação ficou irremediavelmente manchada.



PlayStation 4 (EUA, 2013, 8
ª geração)

Embora os antecessores Xbox 360 e PlayStation 3 tivessem entregado em seus últimos anos alguns jogos que possuíam trechos com imagens em Full HD (1080 pixels, também conhecido com 2K), foi apenas nesta geração que os consoles rodaram 100% nesta qualidade gráfica.

Com os consoles da Sony e Microsoft cada vez mais parecidos entre eles (tanto em capacidade quanto em biblioteca de jogos), eu optei pelo PlayStation 4 ao invés do Xbox One pois o PS4 é levemente superior em hardware, e geralmente considerado vencedor entre eles numa comparação direta pela crítica especializada. Outro fato que me faz escolher esse console são seus jogos exclusivos; não apenas os jogos "novos" (nos quais me chamam a atenção principalmente as franquias The Last of UsGod of War), mas principalmente pelos remakes de clássicos do passado, como por exemplo Final Fantasy VII (PS1) e Shadow of the Colossus (PS2): para mim uma ideia excelente, esta, de adaptar estes grandes jogos para os gráficos excepcionais atuais.

Final Fantasy VII remasterizado no PS4

Alguns anos depois, tanto a Sony quanto a Microsoft lançaram novas versões ainda mais potentes de seus consoles, dentro da própria geração (algo inédito na indústria de videogames): surgiram então o PlayStation 4 Pro e Xbox One X para rodar jogos na resolução 4k. Sinceramente? Para mim, este "velho saudoso" que escreve estas linhas, é algo desnecessário. Assim como eu já considerei o Playstation 2 como o "videogame definitivo", que não precisava de mais evoluções e só mudei de ideia após o lançamento das TVs HD, o mesmo acontece aqui: o mercado não precisava ter evoluído os consoles iniciais da 8ª geração e sequer ter criado a 9ª geração. E só vou mudar de ideia quando novamente surgir uma tecnologia totalmente diferente... seriam elas as máquinas de Realidade Virtual (VR)? Só o futuro dirá.

Assassin's Creed Origins no PS4 Pro. Sério que a indústria precisa evoluir ainda mais a imagem dos jogos??




PS: no começo do artigo eu "fugi" da responsabilidade de ranquear o Top 10 dos videogames. Mas se você chegou até aqui, agora saberá qual é o meu Top 5 dos melhores consoles de todos os tempos: em quinto lugar fica o Master System (ainda que ele seja meu console "número 1" afetivamente); depois, em quarto lugar eu coloco o SNES, pra mim ainda o melhor console "de mesa" da história da Nintendo; o terceiro lugar vai para o Neo Geo, por ser o verdadeiro pioneiro a realizar o sonho de todo gamer da época, que era ter um fliperama de verdade em casa; a "prata" fica com o PlayStation 2 pelo seu inigualável sucesso de vendas, quantidade e evolução de jogos, e a primeira posição fica com o Mega Drive / Genesis, espetacular console da SEGA que continuo jogando seus jogos com prazer até hoje!

PS2: este artigo originalmente publicado em 2021 começou como um "Top 7"; porém, ao longo de 2024 ele foi recebendo algumas revisões e ampliações, novas imagens, e acabou se transformando em algo mais: uma breve jornada repassando por toda a evolução dos consoles de videogames, da década de 70 até os dias atuais. Minha última edição deste texto, em Novembro de 2024, pretende ser sua versão "final".

domingo, 3 de janeiro de 2021

Retrospectiva Cinema Vírgula 2020: O melhor e o pior do Cinema e da TV, e a lista de filmes assistidos


Feliz ano novo! Deixamos o problemático ano da pandemia de Covid-19 para trás, e entramos em 2021 esperando por uma vacina. A pandemia impactou diretamente todo mundo do entretenimento, principalmente o Cinema, cuja produção de novos filmes foi congelada e a exibição dos títulos já produzidos foi em sua grande maioria adiada para 2021, já que as salas de cinemas passaram meses fechadas.

O impacto na TV e nas empresas de streaming foi menor, mas ocorreu. Produções de novos programas também foram interrompidos; entretanto, com o mundo inteiro dentro de casa, o público total assistindo séries aumentou, o que reduziu muito o impacto financeiro para eles.

Em resumo, a retrospectiva deste ano também foi afetada, porque tive bem menos opções de filmes novos para assistir. Mas vamos lá, ainda teve bastante material para ser relembrado, pro bem e pro mal.


Melhores e piores da TV - Seriados
Pra mim o evento mais importante do ano em termos de séries foi a conclusão do seriado alemão Dark, da Netflix. Embora eu não tenha gostado muito do final, o seriado como um todo foi bastante interessante e corajoso. Outras duas obras que gostei bastante foram minisséries relacionadas a esporte: Arremesso Final (documentário de Michael Jordan) e O Gambito da Rainha (ficção).

Já no Amazon Prime, que pouco assisti, o destaque ficou para a segunda temporada de The Boys, que embora tenha sido inferior a temporada inicial, se mantém empolgante. Também no Prime eu assisti a temporada de estréia do apenas mediano Star Trek: Picard; restando como grande recomendação para os fãs de Jornada nas Estrelas o também estreante Star Trek: Lower Decks, que gostei bastante, mas que ainda não chegou ao Brasil.

Aliás, ainda sobre o Amazon Prime, que passei a assinar só em 2020, tem dois seriados que não são novos, já tem alguns anos de idade, mas ainda assim gostei bastante e quero recomendar a vocês: tratam-se de Philip K. Dick's Electric Dreams (seriado no mesmo estilo de Black Mirror, baseado em contos do mesmo autor dos livros de Blade Runner e The Man in the High Castle) e Fleabag (premiadíssima comédia + drama sobre a vida de uma solteira de 33 anos).

Em termos de "piores", só teve um seriado que me decepcionou, The Playbook: Estratégias para Vencer (Netflix). Não teve nenhum outro seriado que não tenha gostado, e aproveito para fazer um alerta: apesar da crítica em geral ter falado muito mal da nova comédia de Steve Carell, Space Force (Netflix), eu achei ela bem legalzinha, vale a pena lhe dar alguma chance. E não, ainda não assisti O Mandaloriano, mas pretendo fazê-lo no primeiro semestre deste ano.


Melhores e piores da TV - Filmes
Meu Top 3 de filmes deste ano na TV vai para o espanhol O Poço (Netflix) em primeiro lugar, o segundo lugar para a diferente ficção científica A Vastidão da Noite (Amazon Prime), e o meloso Milagre na Cela 7 (Netflix) em terceiro.

E como sempre, os canais de streaming tentam nos ganhar pela quantidade, não pela qualidade... portanto a lista de filmes ruins ou no máximo razoáveis é considerável, embora eu tenha conseguido evitar a maioria deles. Com isso, minha relação de filmes de 2020 pra se evitar vai apenas para: Ava e Coffee & Kareem, ambos da Netflix.

Também acho relevante comentar que assisti a trilogia de filmes "Baztán", baseada em uma série de livros policiais espanhola. Apesar de apenas o último filme ter sido feito em 2020, todos só chegaram no Brasil este ano. Como um todo, é uma série interessante... porém ela começa com um filme muito bom e se encerra com um bem ruim.


Melhores e piores dos Cinemas
Com a pandemia fechando os cinemas por meses, este foi de longe o ano em que menos assisti filmes na "tela grande" desde o início do meu blog. Os melhores filmes são todos do começo do ano, pré-Covid no Brasil, e múltiplos indicados ao Oscar: 1917, O Farol e Jojo Rabbit

Já falando dos piores do ano, começo com duas super produções bem ruins, porém cuja baixa qualidade eu já esperava. Estou falando de Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, e o novo filme de Christopher Nolan, Tenet. Curiosamente, há duas animações que agradaram a crítica especializada em geral, mas que eu particularmente achei bem mais ou menos: Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica e Frozen 2.

A indústria do cinema ainda não sabe como se portar no mundo em pandemia, e no mundo pós-pandemia. A queda total de arrecadação nos cinemas mundiais (em números absolutos) foi de cerca de 70% em relação a 2019, porém, quando a Warner resolveu lançar no final do ano seu Mulher-Maravilha 1984 simultaneamente nos cinemas e em streaming (no caso, na HBO Max estadunidense), gerou grande revolta nos estúdios, cineastas e donos de cinema.

Se por um lado os estúdios tiveram um ano péssimo, reitero que para as empresas de streaming o ano não foi ruim. Por exemplo, a Netflix bateu seu recorde de mini série mais assistida de todos os tempos com O Gambito da Rainha, e tem grandes chances de bater seu próprio recorde em filmes, com o bem fraco O Céu da Meia Noite.


Top 5: os mais lidos do Cinema Vírgula em 2020
Os artigos mais acessados deste ano são listas de filmes e obras da Netflix. Confiram, do mais para o menos clicado, e clique para ver caso tenha perdido:

Lista dos filmes que assisti em 2020
Finalizando, segue a lista de todos os filmes que assisti em 2020; novos ou antigos, sendo a primeira vez que os vi ou não. Este ano foram 105 filmes, superando em 1 a minha meta anual de 104 filmes (que significaria 2 filmes por semana).

Abaixo segue a lista. Os filmes em laranja negrito e com um (*) são aqueles a que dou uma nota de no mínimo 8,0 e portanto, recomendo fortemente.

1917 (idem, EUA / Reino Unido, 2019)   (*)
Advantageous (idem, EUA, 2015)
Agatha and the Curse of Ishtar (idem, Reino Unido, 2019)
O Apostador ("The Gambler", EUA, 2014)
Asterix e o Segredo da Poção Mágica ("Astérix: Le Secret de la Potion Magique", Bélgica / França, 2018)
Ava (idem, EUA, 2020)
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa ("Birds of Prey: And the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn", EUA, 2020)
Bagdad Café ("Out of Rosenheim", Alemanha Ocidental, 1987)
Bob Esponja: O Incrível Resgate ("The SpongeBob Movie: Sponge on the Run", Coréia do Sul / EUA, 2020)
A Caminho da Lua ("Over the Moon", China / EUA, 2020)
The Carter Effect (idem, EUA, 2017)
O Centenário Que Saiu Sem Pagar a Conta e Sumiu ("Hundraettåringen som smet från notan och försvann", Suécia, 2016)
O Céu da Meia-Noite ("The Midnight Sky", EUA, 2020)
Champs: nas carreiras de Tyson, Holyfield e Hopkins ("Champs", EUA, 2014)
Coffee & Kareem (idem, EUA, 2020)
Curtindo a Vida Adoidado ("Ferris Bueller's Day Off", EUA, 1986)
Despedida em Grande Estilo ("Going in Style", EUA, 2017)
Destacamento Blood ("Da 5 Bloods", EUA, 2020)
O Dilema das Redes ("The Social Dilemma", EUA, 2020) 6
Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica ("Onward", EUA, 2020)
O Durão ("Get Hard", EUA, 2015)
Duro de Matar ("Die Hard", EUA, 1988)   (*)
Duro de Matar 2 ("Die Hard 2", EUA, 1990)
Elizabeth (idem, Reino Unido, 1998)
Elizabeth: A Era de Ouro ("Elizabeth: The Golden Age", Alemanha / EUA / França / Reino Unido, 2007)
O Enigma de Outro Mundo ("The Thing", EUA, 1982)
Enola Holmes (idem, Reino Unido, 2020) 6
Entre Facas e Segredos ("Knives Out", EUA, 2019)
A Era do Peixinho (idem, Brasil, 2018)
Era uma Vez em Tóquio ("Tôkyô monogatari", Japão, 1953)
Era Uma Vez um Sonho ("Hillbilly Elegy", EUA, 2020)
O Escândalo ("Bombshell", Canadá / EUA, 2019)
O Estranho ("The Stranger", EUA, 1946)
Um Estranho no Ninho ("One Flew Over the Cuckoo's Nest", EUA, 1975)   (*)
Eu Não Sou um Homem Fácil ("Je Ne Suis Pas un Homme Facile", França, 2018)
Fangio O Rei das Pistas (Fangio: El hombre que domaba las máquinas, Argentina, 2020)
O Farol ("The Lighthouse", Canadá / EUA, 2019)   (*)
Fita de Cinema Seguinte de Borat ("Borat: Subsequent Moviefilm", EUA / Reino Unido, 2020)
Fogo no Céu ("Fire in the Sky", EUA, 1993)
Frozen 2 ("Frozen II", EUA, 2019)
No Gogó do Paulinho (idem, Brasil, 2020)
G.O.R.A. (idem, Turquia, 2004)
Guillermo Vilas: Esta Vitória é Sua ("Vilas: Serás lo que debas ser o no serás nada", Argentina, 2020)
O Guardião Invisível ("El Guardián Invisible", Alemanha / Espanha, 2017)
Hamlet (idem, EUA / França / Reino Unido, 1990)
Holy Hell (idem, EUA, 2016)
O Homem que Ri ("The Man Who Laughs", EUA, 1928)
A Incrível História da Ilha das Rosas ("L'incredibile storia dell'Isola delle Rose", Itália, 2020)
Inferno de Dante: Uma Animação Épica ("Dante's Inferno: An Animated Epic", Coréia do Sul / EUA / Japão / Singapura, 2010)
Inconceivable (idem, EUA / Reino Unido, 2017)
Indústria Americana ("American Factory", EUA, 2019)
The Jesus Rolls (idem, EUA, 2019)
Joias Brutas ("Uncut Gems", EUA, 2019)
Jojo Rabbit (idem, EUA / Nova Zelândia / República Checa, 2019)   (*)
Judy: Muito Além do Arco-Íris ("Judy", EUA / Reino Unido, 2019)
Klaus (idem, Espanha / Reino Unido, 2019)
Legado nos Ossos ("Legado en los Huesos", Alemanha / Espanha, 2019)
O Limite da Traição ("A Fall from Grace", EUA, 2020)
Lionheart (idem, Nigeria, 2018)
Milagre na Cela 7 ("Yedinci Kogustaki Mucize", Turquia, 2019)
As Minas do Rei Salomão ("King Solomon's Mines", EUA, 1985)
Ninguém sabe que estou aqui ("Nadie Sabe Que Estoy Aquí", Chile, 2020)
O Nome da Rosa ("Der Name der Rose", Alemanha Ocidental / França / Itália, 1986)
Nós ("Us", EUA, 2019)
A Origem dos Guardiões ("Rise of the Guardians", EUA, 2012)
Perdi Meu Corpo ("J'ai perdu mon corps", França, 2019)
Oferenda à Tempestade ("Ofrenda a la Tormenta", Alemanha / Espanha, 2020)
O Poço ("El Hoyo", Espanha, 2019)   (*)
Miss Fisher and the Crypt of Tears (idem, Australia, 2020)
Nina - No Palco e Na Vida ("All About Nina", EUA, 2018)
No Coração do Mar ("In the Heart of the Sea", Austrália / Espanha / EUA, 2015)
No Portal da Eternidade ("At Eternity's Gate", EUA / França / Irlanda / Reino Unido / Suiça, 2018)
Um Príncipe em Nova York ("Coming to America", EUA, 1988)
Privacidade Hackeada ("The Great Hack", EUA, 2019)
À Prova de Morte ("Death Proof", EUA, 2007)
Queen + Adam Lambert Story: O Show Deve Continuar ("The Show Must Go On: The Queen + Adam Lambert Story", EUA / Reino Unido, 2019)
Quem Com Ferro Fere ("Quien a Hierro Mata" Espanha / EUA / França, 2019)
Radioactive (idem, China / EUA / França / Hungria / Reino Unido, 2019)
Rambo - Programado Para Matar ("First Blood", EUA, 1982)
Rambo II: A Missão ("Rambo: First Blood Part II", EUA / México, 1985)
Rambo III (idem, EUA, 1988)
O Rei da Comédia ("The King of Comedy", EUA, 1982)
Resgate ("Extraction", EUA, 2020)
Rio Bravo ("Rio Grande", EUA, 1950)
Rua Cloverfield, 10 ("10 Cloverfield Lane", EUA, 2016)   (*)
O Segredo da Cabana ("The Cabin in the Woods", EUA, 2011)
Os Segredos de Saqqara ("Secrets of the Saqqara Tomb", Egito / EUA, 2020)
Selvagem ("The Wild", Canadá / EUA, 2006)
Os Selvagens da Noite ("The Warriors", EUA, 1979)
Sete Homens e um Destino ("The Magnificent Seven", Austrália / EUA, 2016)
Os Sete Samurais ("Shichinin no Samurai", Japão, 1954)
Sonic: O Filme ("Sonic the Hedgehog", Canadá / EUA / Japão, 2020)
Taylor Swift: Miss Americana ("Miss Americana", EUA, 2020)
Tempos Modernos ("Modern Times", EUA, 1936)
Tenet (idem, EUA / Reino Unido, 2020)
The Old Guard (idem, EUA, 2020)
The VelociPastor (idem, China / EUA, 2018)
Turma da Mônica: Laços (idem, Brasil, 2019)
A Vastidão da Noite ("The Vast of Night", EUA, 2019)
E o Vento Levou ("Gone with the Wind", EUA, 1939)
Virunga (idem, Congo / Reino Unido, 2014)   (*)
Visita ao Inferno ("Into the Inferno", Alemanha / Canadá / Reino Unido, 2016)
As Vozes ("The Voices", Alemanha / EUA, 2014)
A Voz Suprema do Blues ("Ma Rainey's Black Bottom", 2020)
What Happened, Miss Simone? (idem, EUA, 2015)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Crítica - Tenet (2020)

Título
Tenet (idem, EUA / Reino Unido, 2020)
DiretorChristopher Nolan
Atores principais: John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki, Kenneth Branagh, Dimple Kapadia, Michael Caine
Lamento Nolanzetes, o dia que eu mais temia chegou

Ocasionalmente vemos surgir grandes diretores, que fazem obras autorais bem diferente do padrão, tanto em termos de roteiro quanto visuais. E sou grande admirador destes realizadores, como por exemplo posso citar Darren Aronofsky e Christopher Nolan. Ambos têm filmes em meu Top 10 de todos os tempos: O Grande Truque (Nolan) e Fonte da Vida (Aronofsky), que curiosamente foram lançados no mesmo ano, 2006; e ambos também estiveram presentes na minha lista de "diretores que mais gosto atualmente", que escrevi em 2014 (clique aqui pra rever).

Mas de 2014 pra cá algumas coisas aconteceram... as vezes diretores se perdem no próprio ego e fama. Aconteceu em 2017 com Darren Aronofsky, com seu filme Mãe; e agora em 2020 aconteceu com Christopher Nolan, com seu novo lançamento Tenet. Aliás, o resultado final de Tenet é bem pior que de Mãe, pois pelo menos no segundo eu passei por uma experiência interessante. Se auto-alimentando da própria mística em fazer filmes cada vez mais ambiciosos e complexos, e piorando filme a filme justamente por isso, eu temia que um dia Nolan fizesse algo tão complexo que se tornaria bem ruim. Pois é, Nolanzetes, este dia chegou.

O conceito de Tenet é o seguinte: assim como tudo na nossa realidade se move em um sentido temporal (para o futuro), uma agência secreta começa a descobrir objetos que se movem no sentido temporal contrário (para o passado). Como se vê no trailer (recomendo você assisti-lo clicando no link do começo do texto), imagine uma pistola "invertida" no tempo: quando você dispara o gatilho, o que acontece é que uma bala que estava incrustada em algum lugar volta para o cano do revólver. Pois é... Isso já é um conceito bem complicado para pequenos objetos, porém quando Nolan resolve ampliá-lo para pessoas, veículos, prédios... aí ele se perde de vez: o filme mostra literalmente CENTENAS de pequenas inconsistências, sejam visuais, sejam lógicas ou temporais, ao longo das intermináveis 2h30min de projeção.

Junto a este conceito, está uma trama clichê e sem sentido de espionagem onde um vilão quer destruir o mundo com este novo poder (Kenneth Branagh) e um herói quer salvá-lo (John David Washington). O diretor/roteirista Christopher Nolan aproveita para "homenagear" (ou seria reciclar?) vários de seus filmes em um só, tornando-o ainda mais caótico. Em Tenet podemos ver elementos dos roteiros de O Grande Truque, Batman, A Origem, Amnésia e Interestelar.

Claro, Tenet também possui algumas qualidades. Como sempre nos filmes deste diretor, a fotografia e os movimentos de câmera estão impecáveis, excelentes. E no meio de tanta confusão temporal, onde pessoas que se movem pro passado se encontram com pessoas que se movem normalmente (!!!???), há algumas cenas de ação plasticamente bem diferentes e belas. Mas as qualidades param aí.

Até no som Nolan perde a mão como nunca: o filme tem uma trilha sonora pesada (de novo), muito barulhenta, repleta de marchas pesadas e agitadas. Com isso Tenet fica com um "clímax" gigante de 2h30min... é um martírio assistir. Fora que todos seus personagens falam de maneira rápida, curta e grossa. É pro espectador não conseguir respirar e entender o que está acontecendo. Aliás, faz sentido: se nem mesmo o próprio diretor/roteirista conseguiu dar coerência nas regras que criou (e ao longo do filme novas regras são apresentadas constantemente, até chegar a um ponto que eu simplesmente resolvi não me esforçar mais pra entender), claro que ele vai tentar esconder seus erros do público!

Tenet é tranquilamente o pior filme de toda a carreira de Christopher Nolan. E sei que se já desagradei os Nolanzetes em críticas passadas, estou desagradando mais uma vez neste momento. Afinal, não há limites para os fanáticos defenderem seus ídolos. Nota: 4,0

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Não se despeça de 2020 antes de saber de grandes novidades no universo de Asterix!


O genial Asterix está entre minhas franquias de quadrinhos favoritas, e certamente é uma das melhores obras escritas "para todas as idades" de todos os tempos. Se você tem criança, apresente Asterix a ela. Os intrépidos gauleses foram importantíssimos para eu adquirir o gosto na leitura que perdura até hoje.

Sem publicações no Brasil há alguns anos (a Panini obteve os direitos de publicação para o Brasil na metade de 2019 mas até hoje não publicou nada... aliás sequer fez comunicado oficial a respeito), é assustador perceber que Asterix sumiu também da mídia nacional. Cabe então ao Cinema Vírgula deixar os brasileiros atualizados sobre o tema (e não custa relembrar que eu publiquei um artigo com 3 novidades de Asterix também no ano passado. Clique aqui para rever).


E o meu "resumão" de notícias de Asterix para 2020 também conta com três itens.

O primeiro dele, muito triste, é que em Março o desenhista de quadrinhos Albert Uderzo nos deixou após um ataque cardíaco enquanto dormia, aos 92 anos, e se juntou no Céu com grande amigo, o escritor René Goscinny, falecido em 1977.

A dupla, mundialmente famosa pela criação e publicação de Asterix o Gaulês, teve seu último trabalho conjunto publicado em 2009, naquele que seria o 34º álbum da série, intitulado O Aniversário de Astérix e Obélix - O Livro de Ouro. Uma obra, aliás, bem diferente de todas as outras edições, já que mal tinha uma história em quadrinhos, era mais uma grande homenagem e resumo de todos os principais personagens das aventuras anteriores. Tudo indicava que não veríamos mais nada de novo da dupla... o que nos leva a segunda notícia:


Em Outubro de 2020 foi publicado na Europa o livro Le Menhir d' Or (O Menir de Ouro, em tradução livre). Não se trata de uma quadrinização, e sim de um livro ilustrado, assim como já aconteceu em outras obras de Asterix, como Os 12 Trabalhos de Asterix (1976) e O Segredo da Poção Mágica (2019).

Se trata da transcrição de um áudio-livro de 1967 (em disco de vinil), cuja foto se encontra lá em cima, abrindo o artigo. Na trama, o bardo Chatotorix resolve participar do concurso anual dos músicos gauleses, cujo prêmio principal se chama "Menir de Ouro" e cuja cerimônia será na Floresta dos Carnutes. Chatotorix é acompanhado por Asterix e Obelix e, após sua apresentação, é sequestrado pelos romanos, pois eles têm um general que gostaria de ouvir músicas gaulesas. Ou seja, de certa forma temos uma história que mistura elementos de HQs anteriores: Asterix e os Godos (1963) e Asterix Gladiador (1964). Mas mesmo sendo uma trama "reciclada", não importa: são textos de Goscinny e desenhos de Uderzo que ninguém tem contato há mais de 50 anos, e isso merece ser comemorado pelos os fãs!

Ah, e a experiência planejada pelos autores em 1967 pode ser revivida em 2020: no site oficial de Asterix você pode baixar e ouvir o áudio-livro (em Francês). Só clicar aqui.


A terceira e última novidade é que Ideiafix, o simpático cachorrinho de Obelix, foi um dos assuntos da revista Asterix Max! deste mês de Dezembro (revista que é publicada de maneira semestral na França desde 2016 pela editora Hachette).

A revista contém uma historia de quadrinhos inédita, com Ideiafix como protagonista! O conto é escrito por Matthieu Choquet e desenhado por Jean Bastide (este último é o atual desenhista de Bill, o cachorrinho de Boule & Bill, que já apresentei e recomendei por aqui). Ah: e a história é sobre uma epidemia de soluços(!??) que está acontecendo na Lutécia (como Paris se chamava na época dos gauleses).

E tem mais: o quadrinho surgiu para promover Idéfix et les Irréductibles, uma animação em 3D que irá estrear em 2021 em algum dos canais públicos de TV da France Télévisions. Já existem 52 episódios programados, e surpreendentemente o programa promete mostrar as aventuras de Ideiafix antes de conhecer Obelix... o desenho começará 2 anos antes do primeiro encontro da dupla!

Não sei quando (e se) os desenhos de Ideiafix serão distribuídos para o Brasil e o restante do mundo. Mas seria uma excelente maneira de fazer as pessoas de fora da Europa (re-)conhecerem Asterix, e também se divertirem com um cachorrinho bem inteligente que chora desesperadamente cada vez que vê uma árvore derrubada. Querem um símbolo melhor que esse para os tempos atuais?

 




Atualização 03/01: o atual escritor de Asterix, Jean-Yves Ferri, anunciou hoje mesmo a data para o novo álbum, que será o 39ª da coleção: 21 de Outubro de 2021. O nome da futura edição não foi revelado, mas sabemos que será uma aventura de "viagens", ou seja, não se passará na aldeia.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Crítica Netflix - Era Uma Vez Um Sonho (2020)

Título:
 Era Uma Vez Um Sonho (Hillbilly Elegy, EUA, 2020)
Diretor: Ron Howard
Atores principais: Amy Adams, Glenn Close, Gabriel Basso, Haley Bennett, Freida Pinto, Bo Hopkins, Owen Asztalos
Nota: 6,0

Massacrado pela crítica especializada devido motivos políticos

Em um mundo ocidental atual extremamente dividido entre conservadores e liberais, o livro Hillbilly Elegy no qual se baseia o filme Era Uma Vez Um Sonho é um prato cheio para polêmicas e brigas. Publicado em 2016, e ficando entre os livros mais vendidos dos EUA por dois anos (sendo bem quisto especialmente pelos eleitores do Trump), ele se trata de um livro de memórias do hoje advogado e investidor J. D. Vance. Vance, que teve uma infância bem pobre em uma cidade pequena de Ohio, e repassa sua vida difícil até chegar ao "sucesso".

Antes de prosseguir, é necessário explicar o título do livro/filme, cuja tradução feita para o Brasil (Era Uma Vez Um Sonho) é uma das piores dos últimos tempos... simplesmente deplorável... um título genérico que ignora completamente o sentido original da obra. Hillbilly é um termo pejorativo para descrever as pessoas que moram na região dos Apalaches, sudeste dos EUA: são pessoas brancas, boa parte pobres, de vida rural, e de estereótipo violento e ignorante. Já "elegia" significa um poema ou canção triste, melancólica. Então pelo nome, o livro/filme deveria ser uma narrativa triste e contemplativa da cultura dos hillbillies. Mas embora esse seja certamente o objetivo do autor, de certa forma a obra entregue faz com que o título seja mais uma propaganda enganosa, como veremos a seguir.

O problema é que história de Era Uma Vez Um Sonho pouco conta sobre a cultura Hillbilly... a menos que ela signifique se viciar em entorpecentes, ter explosões irracionais de fúria a qualquer momento, ou ainda, ter como lema "família acima de tudo". Esta descrição está longe de representar todo estadunidense rural, e ao mesmo tempo, são características que podem ser encontradas em diversos grupos sociais bem diferentes do deles. Na verdade a história está mais preocupada em mostrar a visão de J. D. Vance, e nela, de maneira sutil, há a crença em que o "sistema" funciona (no que inclui a polícia estadunidense) e também, já de maneira bem explícita, há a mensagem de que não importa se você é pobre: se você se dedicar, se você se esforçar, você vai melhorar de vida. A própria definição da "meritocracia".

Era Uma Vez Um Sonho foi outra produção original que a Netflix certamente investiu para ganhar prêmios no Oscar. Com um orçamento alto para o tipo de produção (US$ 45 milhões), roteiro contando uma história de superação (coisa que a Academia adora), duas atrizes de peso (Glenn Close e Amy Adams) e um diretor renomado (Ron Howard), a empresa de streaming só esqueceu de um fato: que a crítica especializada é em sua maioria liberal. Resultado, o filme foi enormemente rejeitado pelos críticos. Em um mundo tão politizado como o atual, dificilmente Hollywood se permitirá aprovar um filme com este tipo de mensagem.

E embora eu também não goste muito da mensagem política que o filme traz (ou sendo mais explícito: que colocaram nele), mais uma vez temos algo tratado com visões extremistas, sendo que como quase tudo na vida, não deveria ser nem 8 nem 80. Vejam: a "meritocracia" é a visão de Vance, e faz sentido ele acreditar nisso porque é a sua história real, ela aconteceu. Certamente o mundo não dá as mesmas oportunidades para todos (ainda mais quando você é negro, sendo que J.D. é branco), mas não vejo porque criticar uma história que reforça que você precisa se esforçar para vencer, que você precisa abandonar álcool e drogas para vencer. E mais ainda: tanto a avó quanto a mãe do protagonista, mesmo ambas sendo hillbillies, educam seus filhos para a direção da educação, de abandonar a "ignorância".

Sem abrir mão da postura política, a crítica especializada deixa de reconhecer que Era Uma Vez Um Sonho traz um drama humano contado de maneira emocionante, que certamente agradará e interessará o espectador imparcial. Tecnicamente o filme também merece vários elogios, com boa fotografia, bom design de produção, e boa maquiagem (impressiona ver alguns atores "engordando e emagrecendo" de maneira tão crível ao longo das cenas exibidas em décadas distintas). E principalmente, é outro filme que traz ótimas atuações, em especial do trio de atrizes que aparece na foto acima, e que justamente por isso a escolhi para ilustrar este artigo.

Longe de ser algo diferente ou de grande qualidade, Era Uma Vez Um Sonho entretanto merece um reconhecimento maior, e foi injustiçado pela crítica. Sua história é sim interessante a ponto de valer a pena assistí-la. Em um mundo que quer ditar o que você deve ver, continua sendo muito importante você assistir e chegar a suas próprias conclusões e pensamentos... ou simplesmente lembrar que nem tudo na vida é discussão política. Nota: 6,0

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Crítica Netflix - O Céu da Meia-Noite (2020)

Título
O Céu da Meia-Noite ("The Midnight Sky", EUA, 2020)
Diretor: George Clooney
Atores principais: George Clooney, Felicity Jones, David Oyelowo, Tiffany Boone, Demián Bichir, Kyle Chandler, Caoilinn Springall
Tom emocional é a melhor parte deste filme mediano

Desta vez foi George Clooney, que seguindo a moda de diversos atores e atrizes famosos, fechou com a Netflix para dirigir e estrelar um filme. A produção Netflix da vez é O Céu da Meia-Noite, lançado no Brasil no dia 23 especialmente para aproveitar o clima Natalino. Embora de Natal o filme não tenha nada, a data do lançamento foi apropriada, já que o tom emocional do filme é seu ponto forte.

Baseado em um livro de mesmo nome escrito em 2016 por Lily Brooks-Dalton, na história de O Céu da Meia-Noite estamos em 2049, e diversas naves já saíram para o espaço para "testar" a colonização da lua K-23 de Júpiter (que é fictícia), cujas condições para abrigar a vida humana foi descoberta pelo cientista Augustine Lofthouse (George Clooney). Porém algo deu muito errado na Terra e o ar do planeta todo virou veneno. Ao descobrir que uma das naves que estava em Júpiter está retornando para nosso planeta, Augustine faz seus últimos esforços para alertar os astronautas a não descerem mais aqui.

A trama já de cara não faz muito sentido... como o próprio filme mostra em sua parte final, assim que a nave visualiza a Terra eles já percebem que não conseguirão voltar. A história se divide em 3 partes, cuja montagem também não é muito boa e as vezes confunde, que são a vida dos astronautas dentro da nave, flashbacks do passado de Augustine, e a situação presente do cientista, que já bastante velho e debilitado ainda tem que tomar conta de uma criança, Iris (Caoilinn Springall). As atuações de Clooney e da garota Springall são muito boas, e é mais impressionante ao sabermos que é a estréia da menina em filmes.

O Céu da Meia-Noite é repleto de clichês do gênero e nem tenta fugir deles. Como já aconteceu em milhares de filmes, claro que tanto a viagem dos astronautas como a vida do cientista na Terra serão repletas de desastres e dificuldades. Apenas o desfecho da trama é um pouco diferente. Ainda que um pouco piegas, o final é bonito e salva a produção.

Em termos técnicos temos uma trilha sonora genérica, uma boa fotografia, bons efeitos de computador, e um design de produção com altos e baixos. Por exemplo, embora estamos em 2049, não há praticamente nada nos cenários e figurinos da Terra que mostrem se tratar do "futuro"... parece os tempos de hoje. Por outro lado, reforçado pelos bons efeitos especiais, a nave Æther (onde estão os 5 astronautas voltando pra casa) é bem bacana, sendo bonita, futurista na maneira adequada, e convencendo em ser "funcional".

Em resumo O Céu da Meia-Noite acaba sendo um filme mediano, que pode agradar quem gosta de filmes com finais emotivos, ou quem seja fã de George Clooney ou Felicity Jones. Se fosse mais curto (ele tem 2h de duração mas poderia facilmente ser reduzido pra menos de 1h30) e tivesse se dedicado um pouco mais nas explicações da trama, receberia uma nota maior. Como não o fez, leva Nota 5,0

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Dupla Crítica Filmes Netflix - Ava (2020) e A Voz Suprema do Blues (2020)

Duas críticas. Dois filmes que estrearam em Dezembro na Netflix brasileira e que têm como protagonista uma atriz famosa e mega-talentosa. Ah, e de quebra um destes filmes é o último trabalho em vida do ator Chadwick Boseman, o eterno Pantera Negra, que faleceu em Agosto deste ano vítima de um câncer no cólon.

Soa promissor? Confira o que eu achei de cada um destes dois lançamentos:



Ava (2020)
Diretor: Tate Taylor
Atores principais: Jessica Chastain, John Malkovich, Common, Geena Davis, Colin Farrell, Joan Chen

Filme de ação sobre espionagem, Ava não deixa de ser um pequeno fenômeno. Afinal, reunir na tela vários atores famosos com um diretor que até já teve filme indicado ao Oscar, e sair essa porcaria, não é algo esperado.

Na história, Ava (Jessica Chastain) trabalha como matadora profissional para uma agência mundial de assassinos. Após alguns incidentes, ela passa a ser alvo de seus próprios empregadores. As cenas de ação até são boas, embora muitas vezes bem exageradas (Ava é mais letal que Rambo).

Porém não há muito mais o que elogiar no filme. Ele começa bem, mas depois de uns 15 minutos vira uma tragédia enfadonha. O roteiro é fraquíssimo, sem nenhum sentido, os personagens não convencem com suas motivações. Clichês do gênero estão aos montes, e tudo misturado em uma infeliz salada: abandono da mãe, vício em drogas, vício em apostas, amor mal correspondido, mestre e aprendiz, máfias... é de chorar. Soma-se à isso uma trilha sonora de música eletrônica que não tem nada a ver com o que é exibido na tela e acaba de vez com qualquer esperança das cenas causarem alguma emoção.

Gosto muito da Jessica Chastain, ela inclusive tem a única atuação que se salva em Ava, mas esse é facilmente o pior filme dela que já vi. Ava é um filme tão picareta que não tem a decência de encerrar completamente a história em seu final. Nota: 4,0.



A Voz Suprema do Blues (2020)
Diretor: George C. Wolfe
Atores principaisViola Davis, Chadwick Boseman, Colman Domingo, Glynn Turman, Michael Potts, Jeremy Shamos, Jonny Coyne, Taylour Paige

A Voz Suprema do Blues foca nos eventos da conturbada passagem da lendária "Mãe do Blues" Ma Rainey (Viola Davis) em Chicago, 1927, onde ela se reuniu com sua banda em um estúdio para gravar músicas para uma gravadora. O filme, co-produzido por Denzel Washington, teve sua produção anunciada vários anos atrás, junto com a do filme Um Limite Entre Nós (2016), sendo que ambos filmes são baseados em peças escritas para o teatro e foram vencedoras do Prêmio Pulitzer.

Fazendo jus ao fato de vir do teatro e falar sobre Blues, o filme tem muuuuitos diálogos e um bocado de música. Apesar do personagem de Viola estar até no título do filme (Ma Rainey’s Black Bottom, no original), o maior destaque é para o drama do personagem de Chadwick Boseman, o trompetista de nome Levee.

Boseman, que não me impressionou em Pantera Negra, faz aqui provavelmente sua maior atuação, realmente excelente. Visivelmente mais magro e abatido devido a doença que só foi revelada para o público no dia de sua morte, a aparência do falecido ator impressiona um pouco.

Até podemos dizer que o melhor de A Voz Suprema do Blues são as atuações de Viola Davis e Chadwick Boseman, e de fato o são (Boseman, inclusive, é forte candidato a levar o Oscar de Melhor Ator em 2021). Porém o filme tem outra grande qualidade, seu roteiro. Misturando fatos e pessoas reais com fictícias (o personagem de Chadwick é 100% fictício), a história retrata com precisão como os músicos negros eram explorados naquela época. E os "causos" contados pelos integrantes da banda ao longo da trama também acrescentam bastante, sendo fortes e marcantes.

A Voz Suprema do Blues é um bom filme, e outro que deveria ser visto por todos, em tempos onde inacreditavelmente (e muito infelizmente) o racismo ainda ocorre diariamente. E se Chadwick Boseman já tinha deixado sua marca na história como um símbolo da cultura negra, agora também acrescenta a ela uma memorável atuação. Nota: 7,0

Crítica - Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

Título : Indiana Jones e a Relíquia do Destino ("Indiana Jones and the Dial of Destiny", EUA, 2023) Diretor : James Mangold Atores...