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terça-feira, 23 de abril de 2024
Crítica - Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (2024)
domingo, 21 de abril de 2024
Crítica - Guerra Civil (2024)
Acaba de estrear no mundo todo o filme Guerra Civil, que promete causar polêmica principalmente nos EUA, afinal, ele se baseia em um fictício futuro próximo onde os Estados Unidos estão em plena guerra interna: as "Forças Ocidentais Separatistas", composta por alguns estados e lideradas pelo Texas e Califórnia, lutam para derrubar do poder o atual governo dos EUA. Não é detalhado em nenhum momento os motivos para o conflito, porém é citado que o atual Presidente age como um ditador, não respeita a democracia, e se encontra atualmente no terceiro mandato seguido.
Na história, o conflito está caminhando para o fim, e a dupla de jornalistas de guerra Lee Smith (Kirsten Dunst) e Joel (nosso brasileiro Wagner Moura) planejam se deslocar de Nova York até a capital Washington DC para conseguir uma entrevista exclusiva com o Presidente (Nick Offerman), antes que ele seja morto ou deposto. Junto a eles se juntam Sammy (Stephen McKinley Henderson) um velho jornalista do The New York Times, e Jessie (Cailee Spaeny), uma jovem e inexperiente fotógrafa que sonha ser uma fotojornalista de guerra tão famosa quanto Lee.
Porém a jornada não será fácil, primeiro, claro, por estarmos em plena guerra; mas para piorar, o exército do governo estadunidense não tem sido muito tolerante com a imprensa. Estamos então diante de um road movie bem tenso, com várias cenas de violência, e com um sentimento de angústia, urgência e tensão muito bem executados.
Para minha surpresa, mais do que focar no conflito em si, Guerra Civil foca na vida dos profissionais de imprensa que fazem a cobertura de dentro dos conflitos. É realmente chocante e surpreendente constatar como é o trabalho destas pessoas. O perigo que elas se expõe é quase igual a dos soldados em batalha, e para você também sentir isso com as ótimas sequencias de ação e imagem que temos no filme, recomendo fortemente que você vá ver Guerra Civil nos cinemas, e não na sua casa.
Vamos agora as minhas primeiras ressalvas. Claro que os jornalistas de guerra podem morrer a qualquer momento. Mas será que é mesmo como está mostrado no filme? Lee dá bronca na novata várias vezes que ela tem que se cuidar, usar capacete e colete; porém, o grupo todo faz isso poucas vezes... capacetes? Uma vez no filme todo. Aliás, em Guerra Civil não faria mesmo diferença, pois assim como em muitos filmes do gêneros, mesmo estando de colete, para qualquer soldado, basta um tiro e eles morrem instantaneamente. Outra coisa que não me convence são os soldados permitirem o pessoal de imprensa caminhar o tempo todo ao lado deles. Eles não fazem barulho? Não atrapalham movimentação? Linha de tiro? Uma coisa é, você como jornalista estar a metros da ação, ou há segundos depois da ação. Agora, estar o tempo todo dentro da ação... não faz muito sentido.
Cada local onde o grupo passa durante sua jornada rende imagens e situações bem fortes e interessantes, de fato, o filme é bom tanto quanto em roteiro quanto em imagens. A fotografia é excelente, tanto que sou obrigado a fazer outra crítica... para mim há um certo fetiche pelas cenas de guerra, armas, violência... ok, entendo que houve a tentativa do diretor de demonstrar o valor e a beleza no trabalho de um fotógrafo ao conseguir a "imagem perfeita", porém, entendo que haveria outras maneiras de se explorar isto.
Guerra Civil acaba sendo visual demais, a meu ver. Há poucos diálogos, pouco debate sobre o que realmente está acontecendo. Nas entrelinhas, a mensagem até é simples, que aquele conflito é o resultado final de tudo que a extrema direita vêm plantando ao longo de anos nos EUA e mundo... mas o roteiro é bastante cuidadoso em não levantar esse debate. Até a escolha dos estados líderes da "insurgência": Texas (tradicionalmente conservador) e Califórnia (tradicionalmente liberal) estarem do mesmo lado é proposital para não haver polarizações. É como se o filme fosse criado para trazer esse assunto à tona, mas na hora de sua entrega, saísse a francesa...
O mais fraco de Guerra Civil é seu desfecho, a meu ver. O final é clichê e o comportamento de seus personagens um pouco incoerente. Como pontos altos, temos suas várias cenas de ação e tensão, e a atuação de Kirsten Dunst. Como ela está excelente aqui... ela parece mesmo ser a tal fotojornalista Lee, de tão convincente.
Eu estava com uma alta expectativa por Guerra Civil e talvez por isso tenha ficado um pouco decepcionado. Ele teve oportunidade de fazer algo marcante, mas na hora "h" se esquivou ou apelou para o senso comum. De qualquer forma, é uma experiência cinematográfica bem impressionante e um filme muito bom. Se não saí do cinema extremamente satisfeito, pelo menos é como dizem, mais importante que o destino é a viagem. Nota: 7,0
sexta-feira, 19 de abril de 2024
Breaking news! Golden Axe e Quentin Tarantino são as grandes surpresas da semana!
Golden Axe: o desenho!?
Uma das minhas franquias favoritas de videogame quando eu era criança era Golden Axe, um dos primeiros jogos de beat 'em up de "capa e espada" da história, feita pela SEGA. Eu até já escrevi um artigo sobre ele.
A série animada de Golden Axe será uma criação de Mike McMahan (criador e roteirista de Star Trek: Lower Decks) e Joe Chandler (roteirista de American Dad!). O tom do desenho será de comédia, e ele foi apresentado como: "acompanhe os guerreiros veteranos Axe Battler, Tyris Flare e Gilius Thunderhead enquanto eles mais uma vez lutam para salvar Yuria do gigante malvado Death Adder, que aparenta nunca se manter morto. Felizmente, desta vez eles têm o inexperiente e despreparado Hampton Squib ao seu lado.".
Então, além de confirmar os três personagens mais clássicos da franquia - o anão Gilius Thunderhead, a feiticeira Tyris Flare e o bárbaro Ax Battler - durante o anúncio também foram citados os personagens Chronos Lait, a pantera antropomórfica que apareceu apenas no jogo Golden Axe III, e um inexperiente e otimista aventureiro de nome Hampton Squib criado especificamente para esta animação.
E não teremos mais Críticas...
Estava... pois nesta quarta-feira o site Deadline anunciou com exclusividade que Tarantino desistiu oficialmente de The Movie Critic. Ainda insatisfeito com o roteiro, ao invés de reescrevê-lo (mais uma vez), o diretor / roteirista resolveu abandonar o projeto de vez e agora passa a procurar uma nova idéia para sua despedida nos cinemas...
sábado, 6 de abril de 2024
Curiosidades Cinema Vírgula #020 - O que é um filme Blockbuster? Conheça a história da origem desta expressão e outras curiosidades associadas
Filmes Blockbuster (também traduzidos no Brasil como Arrasa-quarteirão) são filmes de longa-metragem feitos por grandes estúdios que se tornam muito populares e bem-sucedidos financeiramente. Porém com o passar do tempo o termo também passou a significar filmes em que se espera ter estes resultados, ou seja, que são criados para ser um Blockbuster, contando com um enorme orçamento para sua produção e uma gigantesca campanha de marketing associada.
Como exemplos de filmes Blockbusters deste século, podemos citar os filmes da franquia Harry Potter, Star Wars, Missão: Impossível e Os Vingadores.
A origem do termo e sua associação com filmes
A origem do termo blockbuster é triste, pois foi criado como apelido para um tipo de bomba usada pelas Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial. Eram uma das bombas convencionais mais fortes até então, lançadas por aviões bombardeiros ingleses, e tinham o poder de "destruir um quarteirão inteiro", daí o seu nome / apelido.
A primeira vez que o termo blockbuster foi usado para filmes foi em 1943, para promover o filme Bombardeio (Bombardier no original), um filme de guerra sobre... bombardeiros. "O arrasa-quarteirão de todos os programas de ação e suspense!" ("The block-buster of all action-thrill-service shows!"). Em outras palavras, o termo ainda era um trocadilho, e não tinha o sentido atual.
Com o fim da guerra, a palavra blockbuster havia sumido do vocabulário das pessoas. Até que em 1948 a famosa revista Variety voltou a usar o termo em um artigo sobre filmes de grande orçamento. A partir daí, então, os estúdios passaram a usar esta palavra para promover seus filmes "épicos", ou seja, obras espetaculares, grandes em custo e escala. Como exemplos, filmes como Sansão e Dalila (1949), Quo Vadis (1951), Ben-Hur (1959) e Cleópatra (1963) foram produções propagandeadas na época como blockbusters.
O primeiro Blockbuster moderno
O termo blockbuster sofreria nova atualização em 1975, com o filme Tubarão (Jaws no original), de Steven Spielberg. Agora, também se adicionava ao termo sua relevância no cotidiano das pessoas, que passavam a comentar sobre o filme em todos os lugares. E mais ainda, pela primeira vez também o termo passou a significar filas de pessoas dando volta no quarteirão para entrar nos cinemas.
Tubarão, claro, foi o filme de maior bilheteria daquele daquele ano, e dois anos depois Star Wars de George Lucas faria algo ainda muito maior, com seu filme ficando em cartaz nos cinemas por mais de um ano. Estava criada a "era do Blockbuster", ou ainda, a era dos "Blockbusters de verão", já que estes filmes eram lançados nesta época do ano, para aproveitar o maior público nas ruas. A partir de então os blockbusters passaram a ir além das telas, sendo culturais, e recebendo investimento massivo de produtos e propaganda.
Desde Tubarão e até os dias atuais os grandes estúdios tentam todo ano lançar e lucrar centenas de milhões com seu "novo blockbuster", escolhendo e reservando um grande-mega lançamento cinematográfico... embora se formos pensarmos literalmente no tempo de "hoje", a indústria do Cinema tenha sofrido um certo golpe em suas pretensões após a pandemia do Covid-19.
E houve outro...
quinta-feira, 28 de março de 2024
Jerry Seinfeld está de volta!! Saiba mais sobre seu novo filme, que esteará na Netflix em Maio
Unfrosted promete contar a história de como o Pop-Tarts foi criado pela Kellogg's, em 1964. Desconhecido para nós brasileiros, o Pop-Tarts é uma espécie de biscoito pré-cozido e recheado (geralmente seus recheios são doces e com sabores de frutas) para ser consumido como se fossem torradas, e no café da manhã.
Jerry Seinfeld já se arriscou a fazer filmes uma vez no passado, com seu Bee Movie: A História de uma Abelha (2007), onde ele foi produtor, roteirista e ator... mas não foi o diretor. Porém desta vez Seinfeld também está na direção, ou seja, estará fazendo sua estréia nesta profissão.
Além dele, o elenco conta com vários outros comediantes e/ou atores conhecidos, como por exemplo Melissa McCarthy, Jim Gaffigan, Hugh Grant, Amy Schumer, Peter Dinklage, Christian Slater e James Marsden. Unfrosted está previsto para estrear na Netflix em 3 de Maio de 2024.
Abaixo confira o trailer oficial que acabou de sair!
PS.: não sabe quem é Jerry Seinfeld? Já escrevi alguns artigos sobre ele aqui no Cinema Vírgula... o mais importante foi este aqui, onde comento que ele criou a Melhor Sitcom de todos os tempos!!
sábado, 23 de março de 2024
1670 e Poker Face - Duas séries de TV estreantes que você ainda não viu, mas deveria conhecer!
sábado, 16 de março de 2024
Você prefere explorar um calabouço (masmorra) ou um abismo (cratera)? Conheça os animes Made in Abyss e Dungeon Meshi
Dungeon Meshi |
Made in Abyss |
segunda-feira, 11 de março de 2024
Resumo, curiosidades, e meus pitacos sobre os vencedores do Oscar 2024
E tivemos ontem a noite a 96ª cerimônia de entrega dos Academy Awards, ou como foi mais popularmente divulgado, os Oscars 2024. E confirmando seu favoritismo, o grande vencedor da premiação foi Oppenheimer, não só por ter vencido o Oscar de Melhor Filme, mas também por ter levado o maior número de estatuetas: sete no total.
- Em sua terceira indicação, e agora com 58 anos, Robert Downey Jr. finalmente levou seu primeiro Oscar para casa, o de Melhor Ator Coadjuvante, como Lewis Strauss em Oppenheimer.
- Outro que demorou para ter seu talento reconhecido foi Wes Anderson, que enfim venceu seu primeiro Oscar! Porém quis a Academia que fosse via o prêmio de Melhor Curta-metragem, por seu A Maravilhosa História de Henry Sugar (mas ele não esteve na cerimônia para receber o troféu, infelizmente...).
- Já a cantora Billie Eilish precisou esperar bem menos, pois quando venceu o Oscar de Melhor Canção Original junto com seu irmão Finneas, por "What Was I Made For?" de Barbie, ela se tornou aos 22 anos pessoa mais jovem a ganhar duas estatuetas, superando o recorde da atriz Luise Rainer, que aos 28 anos ganhou em 1938 seu segundo Oscar como Melhor Atriz.
- Os cinco indicados ao Oscar de Melhor Fotografia (e quem venceu foi Oppenheimer) misturaram cenas coloridas com preto-e-branco.
- Fiquei bastante satisfeito com os vencedores de Melhor Roteiro Original (Anatomia de uma Queda) e Melhor Roteiro Adaptado (Ficção Americana). O primeiro por ser bom, inovador e de várias camadas; e o segundo, pois conforme antecipei na minha crítica, exigiu bastante adaptação da obra original.
- O Oscar de Melhores Efeitos Visuais foi para o japonês Godzilla Minus One, o primeiro Oscar da história da franquia. Independente de ser justo ou não (eu nem vi o filme ainda para ter uma opinião), achei um "tapa na cara" dos funcionários do ramo. Afinal, em uma época em que vemos notícias frequentes onde os funcionários de efeitos especiais dos grandes estúdios são explorados e obrigados a cumprir prazos absurdos e inumanos, ver que os velhinhos da sua categoria ainda por cima resolvem premiar um filme estrangeiro de baixo orçamento...
- O anfitrião Jimmy Kimmel vinha fazendo uma noite morna e esquecível... até que no final do programa trouxe dois momentos memoráveis... o primeiro foi colocar no palco o ator John Cena praticamente pelado para anunciar o prêmio de Melhor Figurino, e o segundo, foi retrucar ao vivo um tweet do ex-presidente Donald Trump, que o criticava pela sua performance daquela noite com um "I’m surprised you’re still up - isn’t it past your jail time?" (algo como, estou surpreso que você ainda está acordado... já não passou da sua hora de dormir? Porém ele troca a palavra "bed" (cama) por "jail" (cela, de prisão)... ficando como "já não passou da sua hora de ir preso?), para aplausos da maioria do público.
- Um dos melhores momentos da noite foi Emma Stone recebendo o Oscar de Melhor atriz por Bella Baxter em Pobres Criaturas. Bastante emocionada, é legal ver que apesar de excelente atriz, a fama não subiu em sua cabeça.
- Por outro lado, um dos piores momentos foi a maneira com que Al Pacino anunciou o Oscar de Melhor Filme. Ok que a Academia queira dar a honra a grandes nomes do passado para ser o anunciante do "premio máximo"... mas custa ensaiar esse momento antes? E ver se o escolhido pode seguir um roteiro a risca? O critério pra apresentar tem que ser um "bom apresentador" e não um "merecedor de homenagem", pois se tem um momento em que não deveria abrir espaços para erros ou improvisos, é esse...
- E para encerrar, o vencedor do Oscar de Melhor ator foi Cillian Murphy como Oppenheimer. Ele atuou bem sim, mas o melhor do ano pra mim foi Leonardo DiCaprio em Assassinos da Lua das Flores e ele sequer estava entre os indicados! Só que mais justo e importante de que Cillian Murphy ganhar, foi ver o egocêntrico Bradley Cooper perder. E melhor ainda, seu filme Maestro não levou NENHUM Oscar pra casa. Choooooooooooora Bradley Cooper!
sexta-feira, 8 de março de 2024
Especial Dia Internacional da Mulher: Atriz e inventora, conheça a incrível (e conturbada) história de Hedy Lamarr
Hedy Lamarr (Hedwig Eva Maria Kiesler) nasceu em Viena (Áustria) no dia 9 de novembro de 1914. Curiosa por natureza, e também incentivada pelo pai, já criança costumava desmontar as coisas para ver como funcionavam. De família judia, por ser filha de um banqueiro pôde receber educação particular, sendo que com cerca de 10 anos já era uma boa bailarina, pianista e falava quatro idiomas. Aos 16 anos ela começou a atuar em filmes pela Europa, mas seria dois anos depois, aos 18, onde ganharia fama graças ao polêmico filme checo Ecstasy (1933).
Traumático para a atriz, Ecstasy ficou famoso com Hedy interpretando aquela que é considerada a primeira cena de orgasmo da história do Cinema mundial, além de trazer algumas cenas de nudez. Em entrevistas posteriores, Lamarr contou que foi duplamente enganada. Ingênua e ansiosa para fazer o filme, acabou assinando contrato sem o ler direito, e quando ela se recusou a tirar a roupa a pedido do diretor Gustav Machatý, ele disse que então ela teria que pagar por todas as filmagens até então se fosse desistir da produção. E mais ainda, para "tranquilizá-la", prometeu que as filmagens seriam de longe, o que não permitiriam o espectador perceber muitos detalhes. Foi apenas depois que as tomadas foram feitas que Hedy viu que as cenas foram filmadas em close.
No mesmo ano de 1933, Hedy iniciaria o primeiro de seus seis casamentos, com Friedrich Mandl, um rico austríaco fabricante de munições e armas. Seu marido, absurdamente controlador, acabou com sua carreira de atriz e praticamente a mantinha presa em casa, em cativeiro (além de tentar infrutiferamente destruir as cópias do filme Ecstasy). E ainda piora: sendo simpatizante de Mussolini e Hitler, seus clientes, Mandl frequentemente a levava para reuniões nazistas. Lamarr só sairia deste pesadelo em 1937, através de um plano engenhoso e quase "cinematográfico".
Foram meses de planejamento: primeiro ela pediu ao marido para ter uma criada à sua disposição, criada esta que Hedy escolheu especificamente para ter o mesmo porte, altura e cor de cabelo. A fuga aconteceu na noite de um jantar importante, onde Lamarr aproveitou para colocar em seu corpo todas as jóias que possuía. Em dado momento, fingiu passar mal, e junto com a criada se retirou para descansar. Então Hedy colocou a criada para dormir com um sonífero, roubou e vestiu seu uniforme, e assumindo o "papel" de sua empregada, saiu da casa sem despertar suspeitas. Ela então fugiria de lá de bicicleta com suas jóias, deixando a Áustria para a França, e posteriormente, para a Inglaterra.
O tempo sem atuar não fez o mundo esquecê-la. Tanto que a maior inspiração para o visual de Branca de Neve, na inovadora animação de 1937 da Walt Disney, foi justamente ela. Hedy Lamarr inspirou não apenas a aparência, como também os estilos de maquiagem e penteado da personagem. Em 1938 ela se mudaria para os EUA, e já com um contrato assinado com a MGM para ser atriz em Hollywood.
Hedy Lamarr chegou aos Estados Unidos sendo promovida como a "mais bela mulher do mundo", alcunha que a acompanhou por muitos anos da carreira. Apesar dos esforços da MGM em transformá-la em uma grande estrela, o plano não deu tão certo. As bilheterias de seus filmes acabaram alternando entre desempenhos bons e ruins. Hedy não era uma atriz excepcional, mas ela também era prejudicada por ser escalada apenas para o mesmo papel de mulher bela e sedutora, além de ser colocada propositalmente em alguns filmes menores por Louis B. Mayer. Insatisfeita, Lamarr deixou a MGM e em 1946 produziu o primeiro dos seus filmes, Flor do Mal (The Strange Woman no original), em um movimento bem ousado para a época, especialmente em se tratando de mulheres.
Em seus últimos trabalhos ela se alternou entre filmes independentes (alguns produzidos por ela mesma) e filmes de grandes estúdios, sendo um destes o seu maior sucesso de público, o épico Sansão e Dalila de 1949, da Paramount Pictures, onde ela fazia o papel da Dalila, claro (ver foto abaixo). No total foram quase 30 filmes em solo estadunidense, no período entre as décadas de 30 a 50.
Se durante o dia Hedy era a bela atriz, a noite ela era a inventora, e passava parte do seu tempo em sua casa, se distraindo com as invenções mais diversas. A maioria de suas criações eram soluções práticas para problemas cotidianos, como por exemplo uma caixa de lenços de papel para depositar lenços usados, uma coleira de cachorro que brilhava no escuro, ou uma cadeira para ser acoplada no chuveiro, para que as pessoas que não conseguissem ficar em pé pudessem tomar banho e depois girar para se secar.
Hedy conheceu - e até teve um breve relacionamento - com Howard Hughes: aviador, engenheiro e empresário. Ele lhe deu de presente um "mini laboratório", que Lamarr instalou em seu trailer e com isso também podia se entreter durante o intervalo das gravações dos filmes. Quando Hughes reclamou a Hedy que achava que os aviões ainda eram lentos, ela estudou a respeito e baseando-se na aerodinâmica de peixes e aves, devolveu a ele um projeto para novas asas, à qual Howard replicou que ela era um gênio. Durante a guerra, com objetivo de fazer chegar refrigerantes aos combatentes, com a ajuda de dois químicos emprestados por Hughes, Hedy tentou compactar e transformar a Coca-Cola em pastilha, para ser consumida após dissolvida em água. Porém, ela não conseguiu contornar o problema de que a composição da água que as pessoas bebiam variava de região em região, e então sua tentativa fracassou, como ela mesmo admitiria aos risos.
Porém a grande invenção de Hedy Lamarr, a qual ela desenvolveu junto com seu amigo e compositor musical George Antheil, foi o sistema que seria batizado de “salto em freqüência”. Estávamos em plena Segunda Guerra Mundial, e Hedy pensava em... torpedos. Ela estava bastante chocada com um episódio onde um torpedo alemão afundou um navio britânico com refugiados, matando 77 crianças.
Na época se tentava controlar a direção dos torpedos via rádio, e se a (única) frequência da transmissão fosse detectada, a arma era facilmente interceptada. Conta a história que em uma noite, Hedy e George "brincavam" de dueto em frente a um piano, com ela repetindo em outra escala as notas que ele tocava. Então, Lamarr teve o "estalo" de que poderia fazer o mesmo com transmissões de rádio: se o emissor e o receptor mudassem constantemente de frequência, os dois poderiam se comunicar sem medo de serem interceptados.
Os infelizes anos ao lado Friedrich Mandl permitiram que Hedy Lamarr também aprendesse sobre tecnologias relacionadas a armamentos, e isto ajudou no desenvolvimento de sua nova invenção, algo que iria permitir o disparo de torpedos com mais precisão e sem aparecer nos radares dos inimigos. A criação de Hedy e George Antheil foi patenteada e eles a levaram para a Marinha estadunidense, para que fosse usada na Guerra o quanto antes. Porém, por preconceito e machismo não apenas sua idéia foi recusada, como também lhe disseram que se ela quisesse mesmo contribuir na Guerra, que usasse sua beleza para fazer campanhas e propagandas para vender bônus de guerra. E mesmo recebendo este tratamento, assim ela o fez, sendo que Lamarr ajudou a vender quase 25 milhões de dólares dos tais bônus.
A tal invenção de Hedy Lamarr foi ignorada completamente pela Marinha até 1962, quando foi usada por eles na Crise dos Mísseis em Cuba. E somente nos anos 80 os militares liberaram a tecnologia para ser utilizada comercialmente. Desta forma, o tal sistema de “salto em freqüência” foi a base para tecnologias de hoje como WiFi, Bluetooth, e GPS.
Hedy Lamarr passou as duas últimas décadas de sua vida cada vez mais reclusa, em sua casa na Flórida, vivendo apenas com uma pequena aposentadoria e de uma pensão do Sindicato dos Atores. Com as pessoas comentando sobre o declínio de sua beleza, Lamarr realizou algumas cirurgias plásticas, porém não teve bons resultados e isto aumentou ainda mais sua reclusão. Em seus últimos anos, seu contato com o mundo exterior era basicamente via telefone, onde ela passava horas diárias conversando com familiares e amigos.
Em 2017 tivemos o lançamento do filme-documentário estadunidense Bombástica: A História de Hedy Lamarr (Bombshell: The Hedy Lamarr Story), que passou com sucesso por alguns festivais importantes (sendo o de Tribeca o maior deles). Mas ele teve exibições modestas em cinemas e nem chegou ao Brasil. O documentário também chegou a ser exibido nos EUA via canais PBS e Netflix.
Eu assisti Bombástica, e posso afirmar que é muito bom, recomendo! Ainda assim, como se pode notar, não tivemos um filme realmente "grande" sobre Hedy Lamarr, sendo adequadamente divulgado e lançado nas Telonas do mundo todo. Porém, vídeos e textos como este meu, resgatando sua história e contribuições felizmente estão ficando mais frequentes. Então quem sabe... que um dia ela tenha na própria Hollywood uma produção digna em reconhecimento pela sua inteligência e contribuições. Até lá, divulguem este artigo! ;)
PS: já leu os outros artigos especiais aqui do Cinema Vírgula sobre o Dia Internacional da Mulher? Se ainda não, aproveite e clique nos links abaixo!
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