quinta-feira, 3 de março de 2022

Crítica - No Ritmo do Coração (2021)

Título: No Ritmo do Coração ("CODA", Canadá / EUA / França, 2021)
Diretora: Siân Heder
Atores principaisEmilia Jones, Troy Kotsur, Daniel Durant, Marlee Matlin, Eugenio Derbez, Ferdia Walsh-Peelo, Amy Forsyth
Nota: 7,0

Misture drama, amor, comédia e música e obtenha algo muito bom para assistir em uma época tão pessimista e doente

Eu jamais iria assistir um filme com o nome brega de No Ritmo do Coração se o mesmo não chamasse a minha atenção por ter sido indicado ao Oscar de Melhor Filme. Portanto, já começo esta crítica "homenageando" aos idiotas que traduzem os nomes dos filmes aqui no Brasil com este meu texto de 2014 (clique aqui para ler). O título original desta obra cinematográfica é CODA, que na verdade é uma sigla para Child Of Deaf Adults ("filho de pais surdos" em tradução livre), que aí sim, reflete exatamente o que o filme se trata.

Afinal, No Ritmo do Coração conta a história de Ruby (Emilia Jones), uma adolescente que faz parte de em uma família estadunidense de pobres pescadores. Seu pai Frank (Troy Kotsur), sua mãe Jackie (Marlee Matlin) e seu irmão mais velho Leo (Daniel Durant) são todos surdos (e também o são na vida real), e então cabe a Ruby ser o "elo" da família com o restante do mundo, intermediando / "traduzindo" diálogos da sua família para outras pessoas e vice-versa.

Em seu início, o filme parece um típico romance adolescente dos EUA, com direito a inocente e "diferente" protagonista sofrer bullying de todos da turma (aliás, reconheço que o bullying escolar é fortíssimo na cultura estadunidense... mas uma escola inteira zoar Ruby porque seus pais - e não ela - são surdos já achei forçado). Porém, felizmente, No Ritmo do Coração muda o foco e conta outra história.

No Ritmo do Coração mostra a dificuldade e preconceito diários que toda uma família de surdos sofre, marginalizando-os na sociedade em todos os aspectos. Por outro lado, há o drama de Ruby,  que sonha em sair de casa, fazer uma faculdade, porém fica "presa" aos seus pais já que os mesmos dependem da audição dela no trabalho da família; some-se a isso episódios em o filme mostra que Ruby precisa se adaptar a condição de seus pais e irmãos, mas nunca o contrário.

E tudo isso não é contado com apenas drama. Temos também várias cenas bem engraçadas, algum romance, e... música. Quando canta, a protagonista Emilia Jones manda muito bem, bastante impressionante. Alias, que grande trabalho desta britânica de 20 anos: além de estar atuando bem, cantando muito bem, ao contrário dos demais atores ela teve que aprender a linguagem de sinais de modo acelerado (e convincente) em poucos meses.

No Ritmo do Coração não recebe nota maior minha porque não gostei da maneira com que seu desfecho é montado... tudo se resolve de maneira demasiadamente simples e bem abrupta. Ainda assim, é um final bonito, que vale a pena. Aliás, o filme todo é um filme emocionalmente belo de se ver... em uma época onde vemos tanta notícia ruim e tanta maldade em todos os lados, chega a ser uma terapia quase que obrigatória assistir No Ritmo do Coração. Ver pequenos gestos de amor, gentileza, inocência, a beleza que existe por trás do canto e da música. Chegou até a me reestabelecer um pouco de fé na humanidade por algumas horas. Nota: 7,0.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Saíram os indicados ao Oscar 2022!! Começa aqui a cobertura do Cinema Vírgula!


Ontem saiu a lista dos indicados ao Oscar 2022, e com algumas consideráveis surpresas! Segue abaixo a lista dos indicados a Melhor Filme, ordenado pelo número de total de indicações, e aonde vocês podem assisti-los:


E também com 3 indicações cada (mas sem aparecer na lista dos 10 melhores), tivemos: Apresentando os Ricardos (Prime Video), Encanto (Disney+), Flee - A Fuga (sem previsão de estréia), A Filha Perdida (Netflix), 007 - Sem Tempo Para Morrer (esteve nos cinemas) e A Tragédia de Macbeth (sem previsão de estréia).

Como pode se notar, 7 dos filmes acima já tiveram sua crítica publicada aqui no Cinema Vírgula! É só clicar nos nomes que possuem links associados. E até a cerimônia de premiação efetivamente acontecer (prevista para 27 de março), irei publicar a crítica de no mínimo mais 5 dos filmes aqui citados.

Obs.: conforme novas críticas e noticias forem surgindo, este artigo será atualizado.


E encerrando este artigo... meus breves comentários:

As duas maiores surpresas nas indicações foram a meu ver o desconhecido filme japonês Drive My Car, e a indicação de Kristen Stewart como Melhor Atriz pelo seu papel de Princesa Diana no filme Spencer. Quem diria que a mocinha tão criticada pela saga Crepúsculo estaria um dia no Oscar?

Já as duas maiores ausências ficam na direção: Denis Villeneuve (por Duna) e Maggie Gyllenhaal (por A Filha Perdida) para mim deveriam ser indicados, porém não foram... e a surpresa é ainda maior por uma das vagas ter sido ocupada justamente pelo diretor de Drive My Car, Ryūsuke Hamaguchi. O Oscar de Melhor Diretor 2022 já nasceu como a de maior mistério e expectativa para mim. Afinal, quem vai levar? Jane Campion (por Ataque dos Cães) - a primeira mulher com duas indicações na categoria de Direção na história - ou a lenda Steven Spielberg (por Amor, Sublime Amor)?

E o maior "perdedor" desta edição do Oscar foi o filme Casa Gucci: dirigido por Ridley Scott, e tendo no elenco nada menos que Lady Gaga, Adam Driver, Jared Leto, Jeremy Irons, Salma Hayek e Al Pacino (todos esses já indicados anteriormente)... mesmo assim a produção teve apenas uma indicação: a de Melhor Maquiagem.


Escreva nos comentários o que achou dos indicados! E acompanhe de perto a cobertura do Oscar 2022 aqui no Cinema Vírgula!

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Crítica - Matrix Resurrections (2021)

Título: Matrix Resurrections ("The Matrix Resurrections", EUA, 2021)
Diretora: Lana Wachowski
Atores principais: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Jessica Henwick, Jonathan Groff, Neil Patrick Harris, Jada Pinkett Smith, Priyanka Chopra Jonas, Toby Onwumere
Nota: 5,0

Filme corrige erro de 18 anos, mas de modo ruim e repetitivo

Enfim a crítica de Matrix Ressurrections, uma das mais solicitadas para este blog desde que o filme estreou nos cinemas nacionais, em 22 de Dezembro. Aliás ele continua nos cinemas, mas já está há poucos dias de estrear no Brasil pela HBO Max (será em 28 de Janeiro). Pelo menos o Cinema Vírgula chegou na frente dos streamings rs.

Antes de iniciar meus comentários, alerto que o texto terá enormes spoilers do filme Matrix Revolutions (2003) e spoilers moderados do filme atual em questão, o Ressurrections. Contarei algumas coisas que acontecem até o meio da trama, mas nada depois disto... não vou revelar o final. E a propósito, se você não assistiu a trilogia Matrix original, nem faz sentido assistir esse filme.

Vamos lá: voltando um pouco no tempo, Matrix Revolutions acabou da pior maneira possível: após três longos filmes e os sacrifícios derradeiros tanto de Neo (Keanu Reeves) quanto de Trinity (Carrie-Anne Moss), a saga Matrix não termina... a guerra entre humanos e máquinas não tem vencedores, nem perdedores, e nem empate... apenas uma trégua; ou seja, horas e horas de filmes para não se concluir nada. Péssimo.

O primeiro ato de Matrix Ressurrections mostra um Thomas Anderson (Reeves) como um famoso desenvolvedor de jogos... ou melhor de uma trilogia de jogos mundialmente famosa de nome "Matrix", cuja história são os filmes que conhecemos. Ele se encontra casualmente em um café com uma mulher de nome Tiffany (Moss) e se pergunta o tempo todo, confuso, se algo está errado, se aquele é mesmo o mundo real. É então que temos 50 enfadonhos minutos com Mr. Anderson tendo dezenas (literalmente) de flashbacks dos filmes anteriores misturados com muita metalinguagem.

Aparentemente Lana Wachowski achou uma idéia genial criticar seu próprio estúdio e seus próprios fãs dentro da história e cria várias cenas para misturar real e ficção, como por exemplo, uma em que o chefe de Thomas pede para que ele faça o jogo de Matrix 4, "pois a Warner decidiu que ele será feito com ou sem ele"; ou ainda, uma cena em que o time de marketing da empresa de jogos faz piadas sobre a necessidade de "um novo equivalente ao Bullet Time" para o game. Sim, essas cenas contam o que a franquia Matrix sofreu na vida real, mas não faz nenhum sentido trazê-las para o filme (leia meu PS no final do texto para mais detalhes). A última experiência similar que vi alguém fazer isso, foi o (na época) igualmente presunçoso M. Night Shyamalan com seu A Dama na Água (2006), e o resultado foi igualmente catastrófico.

Então, é revelado que Neo está mesmo em uma nova Matrix, e... olha só... se passaram 60 anos após os eventos de Matrix 3 e a trégua entre máquinas e humanos foi de fato cumprida! E isso é bom, pois minimiza o erro que foi o desfecho de 18 anos atrás. Matrix Ressurrections passa então a ter outro contexto, um em que o objetivo é bem mais simples, libertar Neo e Trinity da Matrix (e, é claro, explicar como eles estão vivos novamente). O filme melhora então a partir daí, depois de um primeiro ato horroroso? Sim, mas só um pouco.

A melhora é tímida, e basicamente porque vemos mais Neo e Trinity juntos na tela. A química entre os dois continua funcionando décadas depois e é uma das melhores coisas de Matrix Ressurrections. Já as cenas de ação, que aumentam em quantidade, são patéticas de tão mal feitas: as lutas são tão genéricas e tão mal coreografadas que os golpes dos lutadores claramente nem acertam os adversários; os tiroteios são tão absurdos e sem mira que parece que estamos vendo um filme B dos anos 80. Com exceção dos últimos 20 minutos do filme, em mais nenhum momento temos a sensação de que qualquer um dos "mocinhos" irá sequer se machucar, quanto mais morrer. Ridículo. Se pensarmos o quanto a trilogia Matrix foi revolucionária e definidora em termos de filmes de ação, chega a ser ofensivo ver esta porcaria que foi entregue.

E o desleixo com a trilogia inicial acontece em outras partes... personagens (por exemplo, Morpheus está completamente descaracterizado), fotografia... vejam, nos filmes anteriores apenas pelas cores já conseguíamos diferenciar o mundo real do mundo dentro da Matrix; o que não acontece aqui em Matrix 4. A história é longa, repetitiva... vemos uma mesma cena de filmes anteriores várias vezes... tudo é cansativo e perde o impacto a cada repetição.

Matrix Ressurrections também decepciona no que ele "poderia ser" e não foi. Afinal, pensem no quanto tivemos de evolução tecnológica em 20 anos, e isso poderia ser incorporado de maneira inteligente para dentro dessa "nova" Matrix de 2021? Entretanto, admito, esta oportunidade não foi desperdiçada por completo. Ao incorporar as "redes sociais" dentro da Matrix (agora os humanos são mais "controláveis", e permitem enxames de robôs atacantes), tivemos pelo menos uma analogia interessante que valeu a pena.

Que este Matrix 4 seja realmente o fim de um ciclo, o desfecho desta franquia, pois apesar de todos os muitos defeitos deste filme citados por mim ao longo deste texto, ao menos ele trouxe um final satisfatório. Ainda é um final "aberto", que não encerra a história em definitivo... mas ainda assim, 18 anos depois, certamente é um final mais fechado e coerente do que o final de Matrix Revolutions. Por isso, e APENAS por isso, a realização de Matrix Resurrections não foi um desperdício completo. Nota: 5,0.



PS: somando as histórias contadas por Lana Wachowski e James McTeigue (co-produtor do filme), de fato a Warner já estava há vários anos tentando convencer as irmãs Wachowski a fazer novos filmes de Matrix, e ambas sempre recusavam veementemente. Em 2017 o estúdio finalmente se decidiu por um reboot sem elas e contratou Zak Penn (Os Vingadores) para escrever o roteiro. Porém, Lana perdeu os pais em 2019, e disse que a idéia de reviver Neo e Trinity (já que não poderia reviver os pais)  a ajudou a lidar com o luto, e isso a fez bolar uma história e querer fazer um filme.

Matrix Ressurrections dividiu a opinião dos críticos em visões bem opostas, sendo que parte dos que gostaram do filme, curiosamente levantam a teoria de que Lana fez o filme de maneira "ruim" de propósito, como protesto a pressão que ela sofreu pelo estúdio e fãs, e a elogiam pela coragem de fazer isso. Conhecendo as Wachowski eu confesso que não descarto completamente esta tese... mas, duvido. É só olhar as estatísticas: dentre 8 filmes dirigidos por Lana, ela só mandou bem em 2. Sem contar que um ato como esse, se descoberto, iria queimar sua reputação para sempre dentro da Indústria. E já a Warner... bem, a especialidade da Warner é ter franquias boas e fazer filmes porcarias com elas... basta ver o que fazem com os filmes da DC. Conclusão, unir Wachowski e Warner em 2021 não poderia resultar em algo muito diferente disso não...

domingo, 23 de janeiro de 2022

Crítica - Ghostbusters: Mais Além (2021)

Título: Ghostbusters: Mais Além ("Ghostbusters: Afterlife", Canadá / EUA, 2021)
Diretor: Jason Reitman
Atores principais: Carrie Coon, Paul Rudd, Finn Wolfhard, Mckenna Grace, Logan Kim, Celeste O'Connor, Olivia Wilde, Bill Murray, Dan Aykroyd, Annie Potts
Nota: 8,0

Ou também: "Como fazer um filme de homenagem do jeito certo"

Os Caça-Fantasmas (ou Ghostbusters no original) é outra dentre as minhas franquias favoritas de todos os tempos. E sua parte cinematográfica se deve totalmente a três nomes: Ivan Reitman, Harold Ramis e Dan Aykroyd. O trio sempre esteve por trás dos roteiros e produção dos filmes da franquia, e mais especificamente nos dois filmes da década de 80 também os encontramos como diretor (Reitman) e atores (Ramis como "Egon" e Aykroyd como "Raymond").

O grupo estava tentando fazer um Caça-Fantasmas 3 desde a década de 90, o que nunca aconteceu, seja por alguns pequenos problemas de direitos autorais, falta de interesse de estúdios, ou total desinteresse do ator Bill Murray em retornar a franquia. Porém em 2009 seria lançado para várias plataformas digitais o jogo Ghostbusters: The Video Game (cuja história aliás foi baseada em um roteiro de Dan Aykroyd de 1999: outra de sua várias tentativas de fazer o tão sonhado Ghostbusters 3). O grande sucesso do jogo despertou o interesse da Columbia Pictures (subsidiária da Sony) em enfim produzir um novo filme para Ghostbusters. Já nessa época a idéia era misturar os atores originais com uma nova geração de jovens atores, "passando o bastão" da série.

Porém Bill Murray continuava a se recusar a voltar para os Caça-Fantasmas, e então os produtores se dividiam entre três opções: trazer outro ator para interpretar o personagem de Murray, fazer seu personagem em animação por computador, ou então, abandonar a história planejada e fazer um reboot dos filmes, com os personagens originais sendo todos feitos por novos atores. E a opção que estava vencendo era a terceira... quando então, infelizmente, em Fevereiro de 2014 Harold Ramis faleceu, com 69 anos. Isto mudou tudo: Ivan Reitman perdeu para sempre o interesse de voltar a dirigir qualquer filme da franquia, e então a Sony se apressou em fazer um reboot feminino de Ghostbusters, com uma equipe criativa totalmente nova (diretor, roteirista, etc).

Conforme já escrevi aqui no blog, o filme reboot Caça-Fantasmas de 2016 é bom, mas não agradou  a uma parcela dos fãs, seja por machismo, ou pela ausência dos atores originais, ou pelo tom menos sombrio e menos aventuresco dos filmes oitentistas. Mas toda a comoção em volta do retorno dos Ghostbusters aos cinemas, somada a boa recepção dos críticos fizeram que Dan Aykroyd e Sony retomassem o desejo de fazer o anteriormente planejado Caça-Fantasmas 3 misturando o elenco original com atores jovens. Bill Murray enfim aceitou voltar, e Jason Reitman, filho de Ivan, assumiu a direção no lugar do pai, que ficou apenas como produtor. E é assim que enfim (ufa!) chegamos neste Ghostbusters: Mais Além.

Ghostbusters: Mais Além ignora completamente o filme de 2016 e é uma continuação dos eventos que ocorreram no filme Os Caça-Fantasmas de 1984. Portanto, se você ainda não assistiu este clássico, não recomendo tanto assistir este Mais Além. Claro, aqui temos uma história completa, com começo meio e fim... até dá para assistir somente esta produção de 2021, mas você perderá boa parte das referências. O filme começa com um idoso Egon Spengler, isolado em uma cidadezinha perdida no interior dos EUA, lutando contra um poderoso fantasma. Ao morrer, sua família herda a fazenda onde ele morava e se move para lá, onde começa a conhecer seu legado. Aí conhecemos sua filha Callie (Carrie Coon) e seus netos Phoebe (Mckenna Grace) e  Trevor (Finn Wolfhard).

Não demora para o grupo, liderado pela jovem e apaixonada pela ciência Phoebe, perceber que o fantasma que levou o avô ainda precisa ser derrotado, e com isso eles também contam com a ajuda dos jovens "Podcast" (Logan Kim) e Lucky (Celeste O'Connor), e do professor Gary (Paul Rudd); todos estes estão muito bem no filme, bem engraçados. Notem que com isso os "novos" Caça-Fantasmas adolescentes acabam formando um grupo de dois garotos e duas garotas; que isto ajude acabar com a boba discussão sobre gênero ocorrida em 2016.

Sendo uma "continuação" do filme de 1984, a trama também é um bocado parecida, já que o inimigo a ser derrotado é o mesmo. Mas agora contamos com efeitos especiais muito melhores (foram quase 40 anos de diferença), e temos também um importante aspecto de "homenagem" ao acrescentado no roteiro. As homenagens são várias, tanto aos filmes da década de oitenta, como também, ao falecido Harold Ramis. No fundo, o roteiro foi totalmente reescrito em sua homenagem. E é bastante emocionante. Tanto as homenagens à antiga produção como a Ramis são apresentadas da maneira orgânica, e me comovi várias vezes.

Ghostbusters: Mais Além é tão bem sucedido em homenagear o auge da franquia nos anos 80, que também consegue recuperar o sentimento dos filmes daquela época. Havia muito tempo que eu não via um filme de "aventura de adolescentes" que me divertisse, e este conseguiu... algo que não acontecia comigo talvez desde os anos 80 rs. Se houve a reclamação de que o filme de 2016 não conseguiu copiar o "espírito" dos filmes de 84 e 89, isto não pode ser falado deste novo Ghostbusters. Tudo está aqui: aventura, terror e humor misturados como antes.

Ghostbusters: Mais Além trouxe para pequenas aparições quase todo o elenco principal: Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Sigourney Weaver e Annie Potts repetem seus respectivos papéis. Até o fantasma Geléia retorna; só o aposentado Rick Moranis que não quis voltar. Já Harold Ramis... este aparece das mais variadas formas... seja como a neta vivida pela atriz Mckenna Grace, ou então por outras maneiras que não contarei aqui para não dar spoilers. Mas uma coisa é clara: Harold Ramis e os Caça-Fantasmas ainda estão bem vivos, felizmente! Nota: 8,0



PS: Ghostbusters: Mais Além possui duas cenas pós créditos, ambas importantes. Não as percam!

Bônus. Da esquerda para a direita: Ivan Reitman, Carrie Coon, Mckenna Grace, Finn Wolfhard e Jason Reitman

sábado, 22 de janeiro de 2022

Especial: DEZ filmes dos últimos DEZ anos que não tiveram crítica no Cinema Vírgula


Comemorando os 10 anos do meu blog, nada melhor do que falar sobre Cinema, e de quebra trazer um assunto dos que vocês mais me pedem: recomendações de filmes.

Como assisto em média uns 60 filmes "lançamento" por ano, não tenho a menor condição de escrever a crítica de todos eles por aqui. Portanto, muita coisa boa fica de fora. Então, resolvi fazer esta lista... 10 filmes que gostei bastante (ou seja, têm minha recomendação), e que foram lançados nos cinemas de 2012 em diante, mas que acabei não escrevendo sobre eles aqui no Cinema Vírgula... até agora.

Confira, e caso você conheça algum deles comente o que achou... do filme e da lista! Ela se encontra em ordem alfabética, e não em ordem "do melhor pro pior" ou algo do tipo:


Bird Box (idem, EUA, 2018)
Bird Box é um filme de suspense / terror / ficção científica muito bom, porém acabei não dando atenção para ele aqui no bloq por um único motivo: ele é muito parecido (e levemente inferior) a Um Lugar Silencioso, que por sua vez estreou alguns meses antes. Não se engane: mesmo sendo filmes similares, ambos valem a pena serem assistidos caso você goste deste tipo de produção.


Com Amor, Van Gogh ("Loving Vincent", EUA / Polônia / Reino Unido, 2017)
Van Gogh foi um dos pintores mais geniais e mais problemáticos da História, e este filme é uma realização simplesmente fantástica, uma obra de arte memorável digna de homenageá-lo: trata-se de uma animação contando a vida do famoso pintor holandês usando apenas pinturas a óleo sobre tela, todas imitando a técnica de Van Gogh. Ou seja, cada um dos 65.000 quadros do filme é uma pintura real diferente. Simplesmente sensacional!!! Fica o alerta de que nunca se soube com 100% de certeza quem realmente atirou em Van Gogh e consequentemente causou sua morte; portanto o que Com Amor, Van Gogh conta não é o fato "real", e sim apenas uma das hipóteses.


Doutor Sono ("Doctor Sleep", EUA / Reino Unido, 2019)
Filme que sofreu bastante injustiça por ser a aguardada continuação de O Iluminado (1980) e não correspondeu ao que os fãs esperavam. Eles queriam que o filme imitasse em tudo o clássico de Stanley Kubrick; Doutor Sono se aproximou de sua fotografia mas ficou apenas nisso. Só que por mim está tudo bem, pois a história é interessante, explica muita coisa do filme anterior, e curiosamente é mais fiel ao respectivo livro original do que O Iluminado foi. Inclusive, as partes em que Doutor Sono difere bastante do livro de Stephen King foram alteradas justamente para manter coerência com o filme antecessor.


À Espera dos Bárbaros ("Waiting for the Barbarians", EUA / Itália, 2019)
Recentemente eu citei À Espera dos Bárbaros (ou Esperando os Bárbaros, dependendo em que lugar você o encontra) na lista dos melhores filmes que vi em 2021. Um filme contemplativo e lento sobre como as guerras são violentas e desprovidas de qualquer sentido. Filmes sobre guerra existem aos montes, mas achei este bem diferente. Sua ambientação lembra a Legião Estrangeira Francesa, embora em nenhum momento qualquer país ou data seja citada no filme, com o provável objetivo que ele seja universal e atemporal.


Eu, Tonya ("I, Tonya", EUA, 2017)
O primeiro filme de sucesso de Margot Robbie como protagonista, que mesmo recebendo 3 indicações ao Oscar não teve repercussão aqui no Brasil. Se trata de um filme biográfico que conta a história da patinadora artística olímpica Tonya Harding, acusada de participar de um caso de agressão física contra sua principal rival. Além de ser obviamente interessante por ser uma história real, não deixa de ser chocante acompanhar toda a carreira da Tonya, e ver como ela foi antecipadamente tratada por todos como "vilã" por não atender os padrões da sociedade... isso bem antes de cometer qualquer ato "criminoso". Ou seja... uma história meio bizarramente Minority Report que nos faz refletir.


O Impossível ("Lo imposible", Espanha, 2012)
Ok, este é mais um dentre centenas daqueles "filmes catástrofes", onde um grupo de pessoas tenta sobreviver perante uma grande tragédia. Porém o primeiro diferencial de O Impossível é que se trata de uma história real, de uma família espanhola que sobreviveu a um tsunami ocorrido em 2004 quando passavam férias na Tailândia. Ainda que o filme tenha seus exageros e melodramas, em geral ele foge desses "clichês" e há várias cenas tocantes, reforçada por grandes atuações. Não tem como não se emocionar.


Maus Momentos no Hotel Royale ("Bad Times at the El Royale", EUA, 2018)
Um de meus diretores favoritos é Quentin Tarantino, e esse Maus Momentos no Hotel Royale, dirigido e escrito por Drew Goddard, surpreendentemente é como se fosse um filme feito por ele. Tirando a trilha sonora "variada e inspirada", todo o resto está lá: dezenas de personagens bizarros, uma trama que mistura muitos diálogos, violência, humor e reviravoltas. No elenco temos, dentre outros: Jeff Bridges, Dakota Johnson, Jon Hamm, Chris Hemsworth, Nick Offerman e Cynthia Erivo. Se você curte Tarantino, não tem erro.


Moonrise Kingdom ("Moonrise Kingdom", EUA, 2012)
Um filme de outro de meus diretores favoritos: Wes Anderson. Assim como Tarantino, os filmes de Wes são bem autorais e característicos; ambos usam dezenas de personagens bizarros, trilha sonora marcante, humor, porém ao invés dos muitos diálogos e violência, Anderson deixa como marca nos seus filmes um enquadramento estático centralizado e a "redenção" de personagens marginalizados. E em Moonrise Kingdom a fórmula não é diferente: duas crianças "estranhas" que não são compreendidas por ninguém se apaixonam e fogem de casa, naquele que é um dos melhores e mais tocantes filmes deste diretor. Fazem parte do elenco estrelado: Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray, Frances McDormand, Tilda Swinton, Jason Schwartzman e Harvey Keitel dentre outros.


A Pele de Vênus ("La Vénus à La Fourrure", França / Polônia, 2013)
Um filme diferente, com apenas dois atores dentro de um teatro. Nele temos um diretor e uma atriz tentando ser contratada para uma peça. Porém a tal peça possui várias referências sadomasoquistas, e ao perceber que o interesse do diretor no assunto vai além do profissional, ela tenta seduzi-lo para obter o papel. O filme é basicamente composto de diálogos, e mesmo sem nenhuma cena "imprópria" ou "explícita", é impressionante como a atriz Emmanuelle Seigner consegue ser incrivelmente sedutora e dominadora. Boa pedida para quem quer ver uma grande atuação, ou gosta de filmes incomuns, ou simplesmente tem interesse pelo tema. Emmanuelle é casada na vida real com Roman Polanski, o diretor deste filme.


Sete Minutos Depois da Meia-Noite ("A Monster Calls", Espanha / EUA / Reino Unido, 2016)
Um filme bem bonito e emocionante que mistura fantasia com drama real, lembrando outros clássicos que fazem essa junção, como por exemplo Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas, ou O Labirinto do Fauno. Ele é menos complexo e menos "adulto" do que as duas obras que citei anteriormente, mas não deixa de ser um ótimo filme por isso.

É hoje! DEZ anos de Cinema Vírgula!!


"Parece que foi ontem!". Há exatos 10 anos, no dia 22 de janeiro de 2012, publiquei neste mesmo endereço o primeiro artigo do Cinema Vírgula.

Até o momento deste texto foram 484 posts, sendo que destes publiquei 368 críticas de filmes (que podem ser todas conferidas aqui). Sim, as críticas são o pilar principal deste blog, entretanto há outros dois tipos de conteúdo aqui dos quais quero destacar.

O primeiro deles são as "Curiosidades Cinema Vírgula", que ainda estão engatinhando já que iniciei esta série apenas ano passado. A idéia é trazer textos rápidos e curiosos sobre a cultura pop. Você pode ler todos eles clicando aqui, mas saibam que o artigo mais lido até o momento foi #006 - O genial e Olímpico italiano Bud Spencer, de Julho de 2021.

Já o segundo tipo de conteúdo são os que mais me orgulho, aqueles artigos que classifico com o marcador "Exclusivo": ou seja, são artigos que vocês só vão encontrar aqui e que não são "opiniões", mas sim uma breve aula sobre algo que considero muito bacana e que queria apresentar a todos vocês. São textos que geralmente envolvem vários dias de minha pesquisa, ou até mais. Para ver meus posts deste tipo, pode-se clicar aqui. O mais lido deles até agora foi essa matéria de 2016 sobre os livros "spin-off" da franquia de Game of Thrones, para não termos que ficar esperando George R. R. Martin lançar material novo, porque afinal de contas, estes outros livros já estão nas livrarias há tempos.


Começando as comemorações dos 10 anos do Cinema Vírgula, algumas horas após a publicação deste artigo vou publicar uma lista com um tema bem especial indicando 10 filmes deste século para vocês assistirem. ;)

E tem mais. Na seqüência, duas críticas de lançamentos de grandes franquias: amanhã, dia 23, será a vez do filme Ghostbusters: Mais Além. E dois dias depois, dia 25, a esperada crítica de Matrix Resurrections


Ah... MUITO OBRIGADO a todos vocês que leram algo do Cinema Vírgula nestes 10 anos!


E para encerrar de forma marcante este texto dos 10 anos, deixo aqui neste artigo 10 cenas de filmes celebrando com um bolo de aniversário. A foto do título deste artigo vêm do filme Entre Facas e Segredos (2019). E agora, segue em ordem cronológica mais 9 cenas para completar as 10 fotos. Abraços e até mais!


...E o Vento Levou (1939)


Os Pássaros (1963)


Karatê Kid: A Hora da Verdade (1984)


Quero ser Grande (1988)


Júnior (1994)


O Mentiroso (1997)


Encontro Marcado (1998)


O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001)


As Horas (2002)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Crítica Amazon Prime - Apresentando os Ricardos (2021)

Título: Apresentando os Ricardos ("Being the Ricardos", EUA, 2021)
Diretor: Aaron Sorkin
Atores principais: Nicole Kidman, Javier Bardem, J.K. Simmons, Nina Arianda, Tony Hale, Alia Shawkat, Jake Lacy
Nota: 7,0

Lucille Ball recebe uma boa homenagem, mas poderia ser melhor

Apresentando os Ricardos, produção original Amazon Prime, conta a história dos casal de artistas Desi Arnaz (Javier Bardem) e Lucille Ball (Nicole Kidman), um dos maiores fenômenos da TV estadunidense de todos os tempos. O nome vêm dos personagens que ambos tinham na sitcom que atuavam, I Love Lucy, onde formavam o casal Ricky e Lucy Ricardo.

O filme se apresenta no formato de documentário - ainda que de documentário não tenha nada já que 100% das cenas são com atores - e conta sobre a suposta semana "mais importante da vida de Desi e Lucille", ocorrida em 1952, onde a dupla tem que resolver nada menos que três enormes crises pessoais com reflexos imediatos em suas carreiras.

Apresentando os Ricardos conta com direção e roteiros de Aaron Sorkin, e como sempre vemos em seus roteiros temos um filme com muitos diálogos inteligentes, rápidos e bem humorados. A escolha de Javier Bardem e Nicole Kidman receberam críticas nos EUA pois ambos não lembram fisicamente o Desi e Lucy reais (e eu concordo com estas críticas), porém o carisma e as ótimas atuações de ambos são um ponto muito forte do filme, e é prazeroso vê-los na tela.

Além das "três crises" o filme traz alguns flashbacks sobre a vida do casal, e assim conhecemos outros momentos de sua história. Algumas (poucas) cenas clássicas de I Love Lucy são regravadas em preto-e-branco, com considerável perfeição, e é outra adição bem vinda. Seja no ano de 1952, ou nos flashbacks, o design de produção é muito bem feito, ainda que não seja algo especialmente impressionante.

Claro que a grande maioria dos diálogos do filme são inventados, mas os fatos trazidos pelo filme não... eles são bem reais (com exceção da ligação de J. Edgar Hoover, essa é uma enorme mentira). Porém o grande problema de Apresentando os Ricardos é seu desleixo com a cronologia: embora as "3 crises" enfrentadas pelo casal tenham acontecido, elas não aconteceram ao mesmo tempo, tiveram intervalo de anos entre elas. Até mesmo o letreiro com as explicações finais, citando a data de 1960, é muito mal interligado ao filme já que ele não cita data nenhuma além desta, tornando seu acréscimo algo confuso e inútil.

Como tributo a Desi Arnaz e Lucille Ball, o filme consegue mostrar o quanto ambos foram grandes, talentosos e revolucionários, e isso é muito bom. E não esqueceram de ressaltar que Lucille não era a "ingênua" que víamos em I Love Lucy, mas sim uma mulher que participava ativamente do processo criativo e dos negócios de sua empresa; e isso é muito bom também. Porém o filme também falha ao ignorar completamente as conquistas de Lucille Ball após se separar do marido... e não foram poucas. Eu já comentei sobre todas elas neste texto aqui, que vale muito a pena ler.

Em resumo, Desi Arnaz e Lucille Ball enfim receberam um filme para serem reapresentados para a geração atual. É um filme bom, divertido e agradável. Mas poderia ter sido maior e melhor. Nota: 7,0

sábado, 15 de janeiro de 2022

Crítica - King Richard: Criando Campeãs (2021)

Título: King Richard: Criando Campeãs ("King Richard", EUA, 2021)
Diretor: Reinaldo Marcus Green
Atores principais: Will Smith, Aunjanue Ellis, Jon Bernthal, Saniyya Sidney, Demi Singleton, Tony Goldwyn, Mikayla Lashae Bartholomew, Daniele Lawson, Layla Crawford
Nota: 7,0

História da "família Williams" é inspiradora e real, porém maquiada

King Richard: Criando Campeãs estreou nos cinemas brasileiros em Dezembro de 2021, e cerca de um mês depois estreou em nosso país via HBO Max. Como o título do filme não esconde, trata-se da história de como Richard Williams (Will Smith) moldou as suas filhas Venus (Demi Singleton) e Serena Williams (Demi Singleton) de uma infância pobre para duas das melhores tenistas de todos os tempos.

A história mostra a vida da família Williams, dando foco em primeiro lugar em Richard, em segundo lugar em Venus, em terceiro lugar na mãe Oracene (Aunjanue Ellis), e só em quarto lugar, com pouco destaque, à Serena. Em linhas gerais, vemos um Richard que sofreu muito ao longo da vida, devido ao racismo e a pobreza, a se transformar em alguém muito obcecado em transformar suas duas filhas com Oracene na salvação financeira da família.

Muitas vezes filmes que contam histórias de personagens reais costumam ser um pouco fantasiosas... e no caso de King Richard: Criando Campeãs isso não acontece. Aqui, felizmente, a história contada é bastante real. Cada evento, em linhas gerais, aconteceram como descrito, o que apenas reforça como a história da família Williams é emocionante e inspiradora.

Há apenas duas "distorções" nos fatos que considero relevante citar... o episódio em que Richard pega uma arma para se vingar dos jovens que o surraram é exagerada (mas aconteceu), e o discurso dele de que Venus e Serena seriam inspiração para as jovens afrodescendentes do mundo. Não é verdade: Richard entrou nisso apenas pelo dinheiro.

Mas o que realmente prejudica a história de King Richard: Criando Campeãs não é o que ela conta, e sim, o que ela não conta. Se tudo o que vimos é "verdade", ao mesmo tempo só vemos o lado "bom" de Richard e de seu relacionamento com suas filhas. O pai Williams era absurdamente duro com Venus e Serena (elas não tinham direito a ter namorados, por exemplo), mas nenhum momento a vemos sofrer ou reclamar com os excessos do pai... parecem estarem felizes o tempo todo. Além disso, Richard tinha vários problemas de humor e de comportamento; possuía várias relações extraconjugais e com isso chegou a ter mais de uma dezena de filhos... sendo que só se importava com Venus e Serena. O filme não mostra nada disso... e em dado momento há um diálogo em que Oracene diz que só não abandonou Richard por causa das filhas. Oras, pelo que o filme mostrou o diálogo nem faz sentido... mas pelo que não é mostrado, tudo ganha novo significado.

Essa "passada de pano" no lado ruim de Richard tem dupla explicação... a primeira é que as irmãs Venus e Serena são produtoras do filme; e a segunda é que isto torna King Richard: Criando Campeãs uma obra bem mais agradável para assistir e para todos os públicos. Soma-se a isso o já famoso grande carisma de Will Smith e mais uma de suas grandes atuações (pela qual ele acaba de receber o Globo de Ouro), e o resultado é um filme que irá divertir uma grande variedade de público. Nota: 7,0

domingo, 9 de janeiro de 2022

Crítica Netflix - A Filha Perdida (2021)

Título: A Filha Perdida ("The Lost Daughter", EUA / Grécia, 2021)
Diretora: Maggie Gyllenhaal
Atores principais: Olivia Colman, Jessie Buckley, Dakota Johnson, Ed Harris, Peter Sarsgaard, Paul Mescal, Dagmara Dominczyk, Jack Farthing, Oliver Jackson-Cohen
Nota: 7,0

Suspense sobre maternidade e relacionamentos é uma boa estréia de Maggie Gyllenhaal

Atriz famosa e conhecida por dezenas de filmes, dentre eles Donnie Darko, Secretária, Batman: O Cavaleiro das Trevas e FrankMaggie Gyllenhaal faz uma dupla estréia em cinemas como roteirista e diretora com o filme A Filha Perdida, que adapta o livro de mesmo nome da escritora italiana Elena Ferrante.

E Maggie vai muito bem: em termos de direção, ela consegue com sucesso montar um clima de suspense e drama que prende o espectador; suas opções para enquadramento e trilha sonora fogem do óbvio e também chamam a atenção. Já em termos de roteiro, é dito que o livro (que não li) ser muito psicológico, com muito das ações passando na mente da protagonista; portanto, ela fez um bom trabalho de adaptação, já que conseguimos entender de maneira natural e eficiente o que a protagonista está pensando através de suas ações e imagens.

Na história, acompanhamos Leda Caruso (Olivia Colman), uma professora de meia idade que resolve passar as férias na Grécia. Ao conhecer na viagem a jovem mãe Nina (Dakota Johnson) e sua filha pequena de 3 anos Elena, Leda começa a se comportar de maneira errática, ao mesmo tempo que começa a lembrar de vários momentos tensos de seu passado. Trata-se de uma história bem diferente sobre a maternidade, pois além de mostrar o lado belo e maravilhoso de ser mãe, também mostra o quanto isto pode ser uma verdadeira prisão. E a conclusão de Leda sobre tudo isso, após seus quase 50 anos de experiência de vida, também foge dos clichês.

Há uma segunda parte da história que foca em relacionamentos, casamentos. O fato dela se envolver com uma família "perigosa", e o próprio nome do filme (quem é a "filha perdida"?) aumentam o elemento suspense, indo além dos traumas psicológicos de Leda.

Olivia Colman, como ótima atriz que é, está muito bem no filme, assim como sua contraparte mais jovem, a atriz Jessie Buckley, que faz Leda nos vários flashbacks. As duas certamente ajudaram Maggie Gyllenhaal a tornar A Filha Perdida uma adaptação bem interessante e bem sucedida.

E por falar em adaptação, é ainda neste assunto que cito a única coisa que não gostei nesse A Filha Perdida: embora seja bastante fiel ao livro, o desfecho do filme é um bocado dúbio, o que não acontece na obra original. Para mim, isto foi uma escolha errada, e se quiserem mais detalhes, leiam o PS no final deste artigo. De qualquer forma, A Filha Perdida é um ótimo filme de drama e suspense, bem acima da média dos filmes originais Netflix. Nota: 7,0.


PS: Sobre o final de A Filha Perdida (a partir daqui teremos um grande spoiler, leia por conta e risco): tanto o livro quanto o filme são parecidos, porém o que faz a grande diferença entre eles é o seu começo. Tanto o filme quanto o livro começam com uma Leda deixando o carro ferida e caindo desmaiada à beira da praia; porém se no filme já pulamos para o começo da história da viagem dela na Grécia, no livro imediatamente após o desmaio ela acorda em um hospital, sã e salva, e aí sim passa a contar a historia de sua viagem, que a levou até ali. Isto faz toda a diferença: no livro, então, temos a certeza de que Leda está viva; mas no filme isto é inconclusivo. Há muitos elementos dizendo que ela está bem na vida real, mas há alguns poucos outros que não... como por exemplo, a laranja que brota magicamente entre suas mãos: isso pode ser um delírio, uma metáfora, ou simplesmente, algo "provando" que ela está já no pós-morte. O filme é, portanto, inconclusivo... não há resposta correta se Leda terminou o mesmo viva ou não.

PS 2: Como curiosidade, Maggie Gyllenhaal é a irmã mais velha de Jake Gyllenhaal, e Peter Sarsgaard, que faz no filme o Professor amante de Leda, é seu esposo na vida real, com quem tem duas filhas.

Crítica - Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

Título : Indiana Jones e a Relíquia do Destino ("Indiana Jones and the Dial of Destiny", EUA, 2023) Diretor : James Mangold Atores...