quarta-feira, 12 de maio de 2021

Curiosidades Cinema Vírgula #002 - Tom Selleck, o Indiana Jones

Sabem aqueles casos onde um ator recusa um filme que posteriormente se tornaria um enorme sucesso? Bem, isso aconteceu com Tom Selleck. Ou melhor, não aconteceu, já que ele aceitou o papel e a culpa não foi dele. Deixem-me explicar melhor:

Quando Os Caçadores da Arca Perdida foi desenvolvido, Steven Spielberg queria originalmente Harrisson Ford para o papel de Indiana Jones, mas George Lucas era contra, alegando que o ator já havia participado de seus últimos três filmes (American Graffiti e dois Star Wars) e não queria que Ford se tornasse o "seu Robert de Niro" (em referência aos vários trabalhos de De Niro com Martin Scorsese). O primeiro nome de consenso entre Spielberg e Lucas para o papel do protagonista foi então o ator Tom Selleck.

Tom chegou a fazer testes para o papel e topou o projeto; entretanto, ele já havia assinado um contrato para estrelar o futuro seriado de TV, Magnum P.I. cujas filmagens deveriam começar no mesmo ano de Os Caçadores da Arca Perdida. O coitado até tentou cancelar o contrato, mas o estúdio que iria produzir a série recusou e o manteve "preso" em seu compromisso. Com isso, Spielberg e Lucas optaram por Harrison Ford e o resto é história. E para uma infelicidade ainda maior de Selleck, as filmagens de Magnum atrasaram meses, e quando o primeiro filme de Indiana Jones foi completado, o seriado ainda não havia sido iniciado.

Mas a história não para por aí! Saibam que as 4 fotos deste artigo são reais, não são nenhuma montagem! Esta foto aqui acima é dos testes feitos por Tom Selleck para Os Caçadores da Arca Perdida. Mas a foto do topo deste texto, mais as duas fotos abaixo, no final do artigo, vieram de outra fonte...

Nada como aprender a ri de si mesmo: em 1988, 7 anos após Indiana Jones estrear nos cinemas, eis que na 8ª e última temporada de Magnum P.I surge o episódio Legend of the Lost Art (algo como Os Caçadores da Arte Perdida). Sim! Uma paródia de Indiana Jones! Na história, Magnum é contratado para recuperar um importante manuscrito de uma civilização perdida antes que ele "caia em mãos erradas". E então Tom Selleck pega um chapéu e chicote e sai em selvas e cavernas para recuperar o artefato. Curioso, não? ;)


segunda-feira, 10 de maio de 2021

Crítica - Druk - Mais Uma Rodada (2020)

Título: Druk - Mais Uma Rodada ("Druk", Dinamarca / Holanda / Suécia, 2020)
Diretor: Thomas Vinterberg
Atores principais: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Magnus Millang, Lars Ranthe, Maria Bonnevie
Nota: 6,0

Filme provoca interessantes reflexões sobre o consumo do álcool

Dada a premissa de Druk - Mais Uma Rodada - quatro desanimados professores do ensino médio que decidem ficar durante todo o tempo levemente alcoolizados para melhorar suas performances sociais e profissionais - imaginei que o filme seguiria um dentre dois caminhos clichês: ou seria uma apologia ao consumo do álcool, ou seria um drama onde tudo começaria bem e terminaria em tragédia.

Para minha leve surpresa, o filme é uma mistura das duas opções. Traz uma história interessante, mas nem por isso inovadora. Druk é bom tecnicamente mas sem nenhum destaque em especial. Em termos de atuações, apenas o protagonista Mads Mikkelsen se sobressai.

O melhor de Druk - Mais Uma Rodada são as reflexões que ele provoca. Em especial, para mim foram duas: primeiro a crítica de como a escola atual é ultrapassada no mundo todo, mesmo em países de primeiro mundo como a Dinamarca; é um fardo tanto para professores quanto alunos. E, segundo, a importante constatação de o quanto o álcool está presente o tempo todo em nossa sociedade. O consumo de bebidas está intimamente ligado aos melhores e piores momentos do cidadão comum: usamos o álcool para festejar literalmente qualquer tipo de conquista, ou então em um clima oposto, para fugir de qualquer drama pessoal.

Vencedor do Oscar 2021 de Melhor Filme Estrangeiro, Druk - Mais Uma Rodada é um filme interessante e agradável de se ver, porem de impacto distante dos elogios e prêmios que vem recebendo. Nota: 6,0

domingo, 2 de maio de 2021

Curiosidades Cinema Vírgula #001 - Jackie Chan e as comédias de corrida


Estréio a partir de hoje um novo formato de material dentro do meu blog. São as "Curiosidades Cinema Vírgula". A idéia é, em cada nova edição, postar um texto bem curto com alguma curiosidade relacionada ao mundo do cinema. Espero que vocês curtam, e que esta série tenha vida longa rs.


O ator chinês Jackie Chan, especialista em filmes de ação e/ou comédia de artes marciais, ficou famoso no Ocidente com o sucesso Arrebentando em Nova York (1995), onde era o protagonista. Porém o que poucas pessoas sabem, é que esta não foi a primeira tentativa do ator em fazer sucesso nos EUA.

Na verdade, Jackie Chan fez tentou fazer sucesso em Hollywood no início dos anos 80, onde foi o ator principal de dois filmes O Grande Lutador (1980) e O Protetor (1985). Com o fracasso comercial de ambos, ele voltou para a China e desistiu do ocidente por anos.

Porém entre estes dois filmes, Jackie participou de um sucesso comercial, ainda com um pequeno papel coadjuvante: se trata da franquia Cannonball Run, um dos marcos da carreira de Burt Reynolds. Foram dois filmes, Quem Não Corre, Voa (1981) e Um Rally Muito Louco (1984), cujo enredo é uma comédia pastelão de corrida, repleto de atores e atrizes famosos, onde pilotos atrapalhados do mundo inteiro correm por um prêmio. Em ambos os filmes, Jackie Chan faz parte da equipe "japonesa" que disputa a corrida.


Os filmes deste gênero começaram a fazer sucesso nos anos 60, com A Corrida do Século (1965), Esses Maravilhosos Homens e suas Máquinas Voadoras (1965) e Os Intrépidos Homens em Seus Calhambeques Maravilhosos (1969).

Quem Não Corre, Voa (1981) é um filme ruim, e a continuação Um Rally Muito Louco consegue ser péssima. Ainda assim, como um todo a franquia foi um sucesso comercial.


O elenco de Quem Não Corre, Voa (1981)

Curiosamente Jackie Chan voltaria a este tipo de filmes em pleno século XXI, com o apenas mediano Volta ao Mundo em 80 Dias: Uma Aposta Muito Louca (2004), ainda que não fosse uma corrida com apenas carros.

A capa do DVD do filme de 2004 com algumas de suas estrelas

domingo, 25 de abril de 2021

É hoje! Confira meus palpites para o Oscar 2021, que acontecerá nesta noite!


Chegou o dia! Hoje a noite termos a 93.ª cerimônia de entrega dos Academy Awards, vulgo Oscar 2021. Quem acompanha meu blog há tempos sabe que sempre faço uma cobertura para o evento. E ainda, que nos últimos anos eu tenho sempre reclamado dos filmes escolhidos, lamentando que a qualidade geral não está alta... Porém para este Oscar de plena pandemia, para minha surpresa gostei bastante dos filmes que vi! É uma "safra" muito boa, uma das melhores dos últimos anos!

Para indicados a Melhor Filme, volto a listar aqui os oito filmes. Infelizmente assisti apenas 6 dos 8, ainda que eu pretenda assistir os dois restantes nas próximas semanas. Os 6 filmes que assisti tiveram suas críticas publicadas por aqui. São os filmes listados abaixo em negrito. Clique no nome para ler minha análise sobre eles:


Quem vai levar? Quem merece levar?

Neste ano, até porque assisti um número menor de filmes, vou dar meus palpites apenas nas 6 categorias principais. E, como sempre, dou meu palpite em quem eu acho que vence, e em quem eu votaria. Confiram!


Melhor Ator Coadjuvante
- Quem vai levar: Daniel Kaluuya (Judas e o Messias Negro)
- Em quem eu votaria: Paul Raci (O Som do Silêncio)
- Comentários: quase não coloco meu voto aqui, ja que só vi 2 dos 5 indicados. Ainda assim resolvi prestigiar Paul Raci e o filme que ele participa. O vencedor da noite deve ser Daniel Kaluuya, que venceu a maioria dos prêmios deste ano até agora.

Melhor Atriz Coadjuvante
- Quem vai levar: Yuh-Jung Youn (Minari)
- Em quem eu votaria: Glenn Close (Era Uma Vez Um Sonho)
- Comentários: de todas as candidatas, a única que ainda não vi é justamente a favorita, a coreana Yuh-Jung Youn. Entendo que esta estatueta é a maior chance de Minari, e por isso mesmo deverá levar o prêmio para casa. Todas as candidatas restantes atuaram muito bem, e pela atuação em si não tenho preferencias... porém esta é a OITAVA indicação à Glenn Close, que nunca venceu. Torço muito para que ela vença dessa vez... acho justíssimo por sua carreira.

Melhor Diretor
- Quem vai levar: Chloé Zhao (Nomadland)
- Em quem eu votaria: Chloé Zhao (Nomadland)
- Comentários: dos 5 indicados assisti apenas 3 dos filmes, e dentre o que vi meu voto vai para a chinesa Chloé Zhao, por Nomadland. Além do bom trabalho, seu filme têm muitas cenas externas, o que representa um desafio maior para a direção. Por ser mulher, e por ter vencido o prêmio de melhor diretor do Sindicato dos Diretores da América, Chloé é a franca favorita.

Melhor Atriz
- Quem vai levar: Carey Mulligan (Bela Vingança)
- Em quem eu votaria: Carey Mulligan (Bela Vingança)
- Comentários: das 5 indicadas, só vi 2 em cena: Carey Mulligan e Viola Davis (por A Voz Suprema do Blues). Ambas estão igualmente excelentes e provam sua versatilidade ao fazer personagens bem "diferentes" de seu visual "normal". Meu voto vai para Carey simplesmente por ela ainda não ter nenhuma estatueta e Viola já ter a sua, ainda que seja de Melhor Atriz Coadjuvante.
Para mim essa é a categoria mais disputada dentre os prêmios principais da noite: Carey Mulligan vem forte nas apostas, porém Viola Davis venceu o prêmio de melhor atriz via Screen Actors Guild, e Andra Day (por The United States vs. Billie Holiday) recebeu o prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro. Qualquer uma destas 3 que levasse o Oscar para casa não surpreenderia.

Melhor Ator
- Quem vai levar: Chadwick Boseman (A Voz Suprema do Blues)
- Em quem eu votaria: Anthony Hopkins (Meu Pai)
- Comentários: claro que a atuação de Boseman foi boa e uma indicação merecida, porém nem ele nem os demais candidatos que assisti chegam perto da performance de Anthony Hopkins. Infelizmente para Sir Anthony, duvido que a Academia vai perder a oportunidade de dar um prêmio póstumo ao Pantera Negra.

Melhor Filme
- Quem vai levar: Nomadland
- Em quem eu votaria: Meu Pai
- Comentários: dos 8 indicados, eu vou até colocar em ordem quem eu acho que tem mais chances de vencer: Nomadland em 1º, Minari em 2º, e Os 7 de Chicago em 3º. Entendo que estes três tem possibilidades reais de levar a estatueta máxima e ficaria muuuuito surpreso se o prêmio não ficasse entre eles. Mas Nomadland aparece como favorito por ter levado a maioria dos prêmios até agora. Eu voltaria em Meu Pai, que gostei tanto que lhe dei uma das raras notas 9,0 deste blog. Mas não o vejo com qualquer chance de ganhar aqui, infelizmente.


Não percam!
A cerimônia do Oscar é NESTE domingo dia 25/04. As imagens do famoso "tapete vermelho" começam as 20h, sendo que a premiação em si começará as 22h. A transmissão será feita pelo canal pago TNT e na Globo pela TV aberta, sendo que na Globo a transmissão só começará depois da meia-noite, após o Big Brother. A expectativa é que tanto TNT quanto Globo liberem a transmissão gratuitamente pelos seus respectivos sites de streaming.

sábado, 24 de abril de 2021

Meu Pai – Reflexões sobre cuidados e perdas


Gostei tanto do filme Meu Pai, que lhes trago uma novidade: pela primeira vez em meu blog, publico um texto que não fui em quem escreveu. Ele é de autoria da minha amiga Vanessa, psicóloga, e não é uma análise cinematográfica sobre o filme: trata-se de suas impressões e reflexões após tê-lo assistido.

O texto a seguir apresentará vários spoilers, portanto é bem melhor que você o leia apenas após ter visto o filme. Vá assistir Meu Pai e depois volte aqui para apender um bocado. Espero que vocês gostem tanto do texto da Vanessa quanto eu gostei. Abraços!



O filme é muito comovente. Mostra o demenciamento a partir da vivência de Anthony, o mesmo nome do ator (Anthony Hopkins), e isso no decorrer do filme nos confunde e nos faz questionar se é a perspectiva do ator ou apenas uma coincidência com o nome do personagem. A sensação de confusão é uma característica importante na forma como a história é narrada, o que nos leva a ficar mais próximo da experiência emocional da senilidade.

Nos sentimos perdidos e vulneráveis frente ao processo de desrealização que a demência provoca. Alucinações visuais, auditivas, perda da noção de tempo e espaço são sintomas psicóticos da demência, muito bem representada no filme. A regressão das capacidades mentais de Anthony é uma decorrência da senilidade, ou seja, um processo de desligamento "natural" do cérebro.

Pensando nos vínculos é possível perceber que foi uma família com uma história marcada por conflitos e perdas, ou seja, uma família comum. Não temos a oportunidade de conhecer mais a fundo tais relações familiares, mas vemos um contexto de cuidado e amor. Anne é o vínculo real, aquele que Anthony busca para saber que está seguro no fim da vida, assim como a mãe e o bebê, no início de tudo. Está com medo, não aceita outras cuidadoras, recusa-as assim como à doença.

De maneira geral, a constatação da vulnerabilidade da vida, do não controle e da impotência frente às perdas e ao envelhecimento, gera sentimentos ambivalentes que são demonstrados, por exemplo, através da agressividade e carinho de Anthony à filha. Já Anne se dedica ao pai até o limite de suas possibilidades e os seus sentimentos naturais de ambivalência aparecem também: amor, raiva, medo, coragem, desejo de morte, acolhimento, etc. Ela sofre pelo paradoxo de lidar com sua impotência frente à doença e pelo desejo de viver uma nova vida. Decide por trata-lo numa instituição e isso em nossa sociedade é uma decisão muito difícil e passível de julgamento. 

É inevitável pensar nas diferenças entre a elaboração da morte como um processo natural da vida e na dificuldade de elaboração do luto no caso de morte acidental. Anthony perdeu a outra filha vítima de um acidente que deixou marcas de difícil assimilação para ele. Por fim, o filme nos mostra o processo triste e irreversível da constatação do envelhecimento e da morte como um processo solitário, frente à demência. Sim, as folhas caem, os galhos secam, o tronco enfraquece, perde-se a sensação do vento!!

Em relação aos detalhes cenográficos que me chamam a atenção, o primeiro que me deixa intrigada são as várias portas que aparecem no apartamento, em todas as cenas, e que nos aproxima da vivência de Anthony, nos deixando meio perdidos, com muitas entradas e saídas que levam ao mesmo lugar; os vários objetos no apartamento, que podem indicar uma vida cheia de histórias e vão saindo de cena no decorrer do filme e os dois homens que trazem um clima de rivalidade masculina às cenas. Em relação aos objetos e aos homens a confusão fica por conta de não sabermos ao certo se é pelo impacto da notícia da mudança da filha ou se são parte do delírio. Nem sabemos se a mudança da filha para Paris é real. As roupas de Anne se tornam um marcador temporal e espacial, como se cada roupa indicasse um dia específico. Outro objeto importante e central é o relógio, pela referência ao tempo, controle e claro, realidade. A desorientação temporal é um dos sintomas psicóticos, na demência. 

Ao final, já no quarto da instituição, existe apenas uma porta, ou seja, uma possibilidade de acessar a realidade o que leva Anthony a um momento de lucidez (sustentada por pouco tempo) e então, ele sente!  Essa cena é para mim a mais comovente, marcada pela constatação da perda da onipotência. Ele 'desmonta' nos braços da enfermeira, chora (e nós também) como uma criança pequena pedindo pela mãe. Na última cena com as árvores cheias de folhas do lado de fora mostra que a vida segue acontecendo e que a morte pelo envelhecimento é um processo, não um acidente.

Vanessa T. Calderelli Winkler

Crítica - Meu Pai (2020)

Título: Meu Pai ("The Father", França / Reino Unido, 2020)
Diretor: Florian Zeller
Atores principais: Olivia Colman, Anthony Hopkins, Mark Gatiss, Olivia Williams, Imogen Poots, Rufus Sewell
Nota: 9,0

Com performance genial de Anthony Hopkins, produção faz o espectador experimentar a demência

Meu Pai é a adaptação para os cinemas da aclamada peça teatral de mesmo nome escrita pelo francês Florian Zeller, que também é diretor e co-roteirista deste filme. A produção recebeu 6 indicações ao Oscar, incluindo a de Melhor Filme.

Na história, Anthony (Anthony Hopkins) mora sozinho em seu apartamento, e recebe visitas diárias de sua filha Anne (Olivia Colman). Porém a mente de seu pai está se degradando rapidamente e Anne não quer ficar totalmente presa a ele. É então que ela tenta alternativas, como trazer uma cuidadora, ou talvez colocá-lo em uma casa de repouso: medidas interpretadas por Anthony como uma tentativa da filha de lhe roubar a posse do apartamento.

O trailer do filme vende esta dúvida: estaria Anthony correto de suas desconfianças? Felizmente depois de uma meia hora de projeção já temos esta resposta, e o filme segue com coerência até o final em relação a opção escolhida.

A verdade é que Meu Pai é um filme muito bom, excepcional. E como "prova" disto, afirmo que as seis indicações ao Oscar recebidas são merecidíssimas: Melhor Filme, Melhor Ator Principal, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte e Melhor Edição/Montagem. Tirando os prêmios de Melhor Atriz e Direção de Arte (e ambos são excelentes!), eu daria facilmente o prêmio máximo ao filme nas 4 outras categorias.

Se Meu Pai é brilhante em muitos quesitos, ainda assim a atuação de Anthony Hopkins esta acima de qualquer coisa. Ele, que é um dos melhores atores vivos, com seus atuais 83 anos entrega uma de suas melhores performances. Independentemente das intenções da filha, o pai sofre mesmo de demência, e Hopkins atua tão bem que seu comportamento errático parece assombrosamente real. Suas expressões faciais, movimentação corporal... tudo dá uma impressionante sensação de realismo em seus atos de confusão e esquecimento. Simplesmente fantástico.

E, claro, esta atuação magnifica só pôde atingir este altíssimo nível com o suporte do igualmente excelente roteiro: detalhes como a fixação de Anthony pelo seu relógio de pulso (que representa algo "estável" que ele pode controlar) são muito precisos em relação aos sintomas da demência real.

E tem algo ainda mais genial no roteiro, juntamente com montagem e direção de arte: mesmo mostrando o ponto de vista de Anthony, conseguimos nos sentir "na pele" de ambos os personagens, pai e filha. As confusões do pai são sentidas igualmente por nós, os confusos espectadores; e ao mesmo tempo, sofremos como Anne sofre ao ver o pai naquele estado.

Meu Pai é um filme que nos faz refletir - e principalmente sentir - sobre a velhice, a passagem do tempo, família, amor, e como a sociedade trata os idosos. E são assuntos que todos nós já enfrentamos, ou iremos inevitavelmente enfrentar. Se você quer entender "de verdade" os efeitos de envelhecer, ou ainda, assistir uma aula de atuação, Meu Pai é obrigatório. Nota: 9,0

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Crítica - Bela Vingança (2020)

Título: Bela Vingança ("Promising Young Woman", EUA / Reino Unido, 2020)
Diretor: Emerald Fennell
Atores principais: Carey Mulligan, Bo Burnham, Alison Brie, Clancy Brown, Jennifer Coolidge, Connie Britton, Laverne Cox
Nota: 7,0

Mais do que filme de vingança, é uma triste e pesada história sobre abusos contra a mulher

Indicado a 5 Oscares, dentre eles o de Melhor Filme de 2020, Bela Vingança é outro filme que explora duras realidades da sociedade atual. A história apresentada é fictícia, entretanto trata de situações que acontecem diariamente em todos os lugares do mundo.

Na história, Cassandra (Carey Mulligan) era uma estudante de Medicina, até o episódio em que sua melhor amiga é vitima de um estupro coletivo. O evento a fez abandonar a faculdade e toda sua vida social; e após algum tempo ela resolve ser uma espécie de "justiceira", que caça homens abusadores nas noites da cidade onde mora.
 
Vendido como um filme de "suspense", Bela Vingança tem algumas poucas cenas de humor, outras poucas cenas "fofas" e românticas, mas na maioria do tempo temos cenas de drama bem fortes. Com exceção de uma cena (longa, em que eu me contorci na poltrona de angústia e desespero), o filme não mostra nada de violência física. Mas mostra muitas cena de abusos verbais e psicológicos.

Uma ótima escolha do filme foi focar em um tipo especial de "predadores": homens de boa aparência, educados, bem financeiramente... mas que propositalmente embebedam ou drogam mulheres, para posteriormente abusá-las sem restrições. O filme mostra de maneira bem realista como sociedade e  a Justiça (?) costumam ignorar este tipo de abusadores e sempre culpar o comportamento da vítima. Ver isso acontecendo uma vez já é uma experiência bem incômoda; porém ver isto acontecer muitas vezes ao longo do filme o torna bem tenso de ser assistido. Mas, que ótimo que seja assim! Pois em uma sociedade machista e corrupta como a nossa, é muito importante que todos vejam esta história, se choquem, e quem sabe aprendam uma lição importante.

Tecnicamente o filme é bom, a fotografia é excelente, o filme é visualmente bem bonito e colorido. Aliás, sua trilha sonora é alegre e vibrante... e isto não vem por acaso: som e imagem são propositalmente um oposto para a tristeza da história apresentada. Mas o que mais me encantou em Bela Vingança é a atuação de Carey Mulligan. É impressionante como essa (ainda não tão conhecida do grande público) atriz britânica consegue alternar com tanta facilidade entre uma moça "delicada e inocente" e uma pessoa "séria e vingativa".

Bela Vingança receberia uma nota ainda maior minha se o roteiro não tivesse alguns furos que considero relevantes. Um exemplo: em poucos minutos constatamos que Cassandra "eliminou" literalmente dezenas de homens, isso atuando em uma área restrita e sem cuidados demasiados para esconder sua atividade criminosa. É impossível que ela não seria pega pela polícia desta maneira... acho que na vida real ela já estaria presa com menos de 5% das vitimas que fez.

Mesmo com os problemas do roteiro, não se engane: ainda assim ele é bom e definitivamente bem realista. O texto foi escrito por Emerald Fennell, que também é diretora do filme e é uma atriz de TV consideravelmente conhecida (ela está em The Crown, por exemplo). Bela Vingança traz uma história forte, interessante, mas bem "pesada". Gostei bastante do filme, e foi o que mais me "chocou" até agora nesta safra do Oscar deste ano. Mas independente de você gostar ou não deste tipo de filme, recomendo a qualquer adulto do mundo assisti-lo. Sua mensagem precisa chegar a todos. Nota: 7,0



PS: sei que estou me repetindo, porém MAIS uma vez venho aqui criticar a péssima tradução de um título de filme. "Jovem Promissora" (em tradução livre do nome original) representa muito mais o drama de Cassandra do que Bela Vingança, até pois como já disse, o filme não é bem sobre isso...

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Crítica - Nomadland (2020)


Título: Nomadland (idem, Alemanha / EUA, 2020)
Diretora: Chloé Zhao
Atores principais: Frances McDormand, David Strathairn, Bob Wells, Peter Spears, Derek Enders, Linda May, Charlene Swankie
Nota: 8,0

Impressionante relato sobre os "nômades" gerados pela economia estadunidense

Com 6 indicações ao Oscar, e um dos favoritos a receber o prêmio máximo de Melhor Filme, Nomadland é uma adaptação do livro Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century, de 2017. E o subtítulo da obra original descreve muito bem a trama do filme: mostrar a vida de pessoas "nômades", que moram em seus próprios veículos, e passam a vida se deslocando sazonalmente pelos EUA em busca de empregos temporários.

Estamos diante (e muito literalmente) de um road movie, e vemos o mundo através dos olhos de Fern (interpretado pela sempre excelente Frances McDormand), uma viúva de 60 anos que perdeu praticamente tudo após sua cidade Empire ter sido abandonada após o fechamento da indústria de gesso que sustentava toda aquela comunidade. Em busca de sobrevivência, e ao mesmo tempo sem nenhuma vontade de ter novo relacionamento amoroso, Fern mora dentro de sua Van e percorre o país em busca do próximo emprego de alguns meses.

Sendo "novata" na sua aventura, Fern acaba conhecendo toda uma comunidade de "nômades". Alguns poucos jovens levam essa vida por opção... mas em geral a maioria destas pessoas são idosos que não conseguem se fixar em mais nenhum lugar, ou porquê não têm aposentadoria (e aí precisam viajar até encontrar algum emprego qualquer), ou porquê não tem mais família, ou pela mistura dos dois.

Chega a ser um pouco surpreendente e chocante a grande quantidade de pessoas que levam esta vida em um país tão rico como os EUA. O filme não chega a incomodar pelas imagens em si, afinal, não há também uma grande pobreza... eles possuem roupas, conseguem se alimentar... o que realmente entristece é ver idosos tantos idosos solitários, e tendo que trabalhar "para sempre".

Nomadland possui várias semelhanças com filme que descrevi no meu artigo passado, O Som do Silêncio (2020). Ambos mostram personagens protagonistas fictícios, porém a maioria dos coadjuvantes são pessoas que vivem o drama na vida real: Linda May e Charlene Swankie são "nômades" de verdade, assim como Bob Wells é de fato um influente líder para estas pessoas. Ainda que as histórias mostradas em Nomadland misturem ficção e realidade, o filme se mostra bastante realista.

Tecnicamente Nomadland também vai muito bem, com boa fotografia nos mostrando as mais diversas paisagens, boa edição, e um roteiro ainda melhor do que em O Som do Silêncio. Não podemos deixar de destacar que direção e roteiro (ambas indicadas ao Oscar) são da chinesa Chloé Zhao, e são indicações históricas.

E finalmente, terminando minha comparação com O Som do Silêncio, há um ponto em que os filmes são radicalmente diferentes: enquanto o primeiro é bem agitado, "nervoso", Nomadland é contemplativo, mais sábio... reflexo da experiência de sua protagonista.

Nomadland é um grande filme e uma grande história porque vai além da jornada física pelas cidades dos EUA; é também uma jornada sobre o envelhecimento, sobre perdas, e uma leve crítica ao mundo totalmente insano que vivemos hoje. Não deixa de ser marcante constatar que em seus anos finais de vida, estas pessoas só encontram um pouco conforto no contato com a natureza e por viver em partilha em pequenas comunidades. Não foi assim que a humanidade passou a maior parte de sua existência? Para quem está disposto a refletir sobre a vida, Nomadland é uma ótima indicação. Nota: 8,0



PS: a história da cidade de Empire (no estado de Nevada, EUA) é real, mas a partir de 2016 sua situação melhorou "levemente", ao ser comprada por uma mineradora. Hoje a cidade possui cerca de 200 habitantes.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Várias notícias sobre o futuro Indiana Jones 5!!!


Após quase um ano de silêncio, este mês tivemos várias novas notícias sobre o futuro filme de Indiana Jones (que é minha franquia de cinemas favorita), e que será o 5º filme da série.

Antes relembrando o que já sabemos há um bom tempo, este novo filme será o primeiro de Indiana Jones em que Steven Spielberg NÃO será o diretor. Conforme anunciado ainda em 2020, o filme será dirigido por James Mangold (de Logan e Ford vs Ferrari).

As notícias dos últimos dias foram:
  • A data de estréia foi para 29 de julho de 2022, e por enquanto, o lançamento será exclusivo dos cinemas.
  • A atriz Phoebe Waller-Bridge (Fleabag) e o ator Mads Mikkelsen (Hannibal, A Caça) foram anunciados entre os papéis principais.
  • Outro ator anunciado foi Thomas Kretschmann (Vingadores: Era de Ultron), embora dele não se saiba mais detalhes. Mas não deixa de ser curioso que todos as anúncios são de atores europeus: Phoebe é inglesa, Mads é dinamarquês, e Thomas é alemão. Será que o filme se passará na Europa??
  • O genial compositor John Williams foi reconfirmado na produção.
  • Roteiro: primeiro feito por David Koepp (Jurassic Park, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal), e depois por Jonathan Kasdan (Han Solo: Uma História Star Wars), agora ele está sendo criado por James Mangold e os irmãos roteiristas Jez e John-Henry Butterworth (Ford vs FerrariNo Limite do Amanhã).
  • Os planos são de iniciar as filmagens nos próximos meses, mais provavelmente em Agosto.
E aí? Animados como as notícias? Confesso que eu estou! Escrevam nos comentários!

Juntos: Harrison Ford, Mads Mikkelsen e Phoebe Waller-Bridge


Crítica - Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

Título : Indiana Jones e a Relíquia do Destino ("Indiana Jones and the Dial of Destiny", EUA, 2023) Diretor : James Mangold Atores...